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Apesar de não existir mais, a Pan Am continua sendo uma das companhias aéreas mais conhecidas do mundo devido à sua importância na história da aviação mundial. A empresa foi pioneira em diversos momentos e lançou muitas inovações como sistemas informatizados, classe econômica, reservas pelo computador, terminais exclusivos e jatos wide-bodies. A Pan Am foi apenas a principal empresa de um grupo internacional colossal, que possuía companhias aéreas em todo o mundo.
O INICIO: CONQUISTANDO
A AMÉRICA LATINA
A Pan American Airways
Incorporated (também conhecida como PAA ou Pan Am) foi
fundada no dia 14 de março de 1927, pelo oficiais do Exército americano Henry "Hap" Arnold, Carl Spaatz e John Jouett. A criação da companhia aérea foi motivada por preocupações geopolíticas e
estratégicas relacionadas à crescente influência da transportadora aérea
colombiana SCADTA (posteriormente conhecida como
Avianca). A SCADTA era a
subsidiária mais impressionante da
Deutsche Luft Hansa, sendo capaz de conectar as
Américas do Sul, Central e do Norte. Na década de 1920, o governo dos
Estados Unidos estava preocupado com a influencia alemã na aviação comercial
da América Latina e a expansão acelerada da
SCADTA era vista como uma ameaça à segurança
nacional, dado o seu controle por alemães. A grande malha da
SCADTA na América Central e do Sul poderia
permitir que a Alemanha estabelecesse uma rede de transporte aéreo que
facilitasse espionagem ou operações militares, especialmente em uma época de
crescente rivalidade internacional após a Primeira Guerra Mundial. Essa
preocupação com a influência estrangeira nas Américas fazia
parte da política externa dos EUA conhecida como Doutrina
Monroe, que visava limitar a erferência de potências europeias
no hemisfério ocidental. Para
neutralizar essa influência e garantir que os Estados Unidos tivessem uma
posição dominante no transporte aéreo nas Américas, esses oficiais do
Exército foram designados a criar uma companhia aérea americana com o
propósito de assegurar o controle americano sobre rotas estratégicas de
correio aéreo e transporte de passageiros na região. Isso acabou gerando uma
situação inusitada. O Serviço Postal concedeu à Pan Am o contrato de entrega de
correspondência dos EUA para Cuba, mas a companhia aérea não tinha nenhuma
aeronave para realizar os voos e também não tinha direitos de pouso em Cuba.
A solução veio poucos dias antes do prazo espirar. A Pan Am se uniu com outras
três empresas: Aviation Corporation of the Americas (ACA), American
International Airways e Atlantic, Gulf and Caribbean Airways. Com a união a
Pan Am conseguiu tudo o que precisava para começar a operar: aeronave, diretos
de pouso em Cuba e capital.
A rota inaugural da Pan Am ocorreu no dia 19 de outubro de 1927, ligando Key
West (na Flórida) e Havana (em Cuba), com um hidroavião Fairchild FC-2,
transportando correio aéreo. A Pan Am foi a primeira companhia aérea a
oferecer um serviço regular de correio aéreo internacional entre
os Estados Unidos e um país estrangeiro. O governo dos Estados Unidos
desempenhou um papel fundamental no crescimento da Pan Am, tratando a companhia
aérea como o "instrumento escolhido" para as rotas internacionais dos EUA,
especialmente nas primeiras décadas de sua existência. Nesse conceito o
governo americano apoiou a Pan Am como única transportadora aérea internacional
do país, isolando-a de concorrentes internos no mercado de rotas
internacionais. Através de contratos lucrativos de correio aéreo, a Pan Am
ganhou o direito exclusivo de voar em várias rotas internacionais,
especialmente para a América Latina. A solução de uma
companhia aérea internacional americana única, tornava-a mais forte e
preparada para competir com as potências europeias como a
Imperial Airways,
Air France e
Deutsche Luft Hansa. Com o aval do governo, a
Pan Am expandiu rapidamente a
sua malha internacional, cobrindo toda a América. Além disso
a Pan Am começou a comprar outras companhias aéreas empresas nas Américas e
a criar subsidiárias, da mesma forma que
a Air France e
Deutsche Luft Hansa fizeram.
Em abril de 1930 a Pan Am adquiriu a New York - Rio de Janeiro - Buenos Aires
Line (NYRBA), expandindo a sua malha para a América
do Sul, incluindo o Brasil. A subsidiária brasileira da NYRBA
foi renomeada para Panair do Brasil, que passou a
ser a subsidiária da Pan Am no Brasil. Os voos para a América do Sul partiam de
Miami e seguiam para o sul passando por Havana, México, os países da América
Central e Colômbia. A partir de Havana os voos também seguiam pelas ilhas do
Caribe até chegar na Venezuela. Os voos seguiam da Colômbia para Equador,
Peru e Chile, enquanto os voos que chegavam na Venezuela seguiam para as
Guianas e chegavam no Brasil, em Belém. A partir de Belém os voos eram
compartilhados com a Panair do Brasil, seguindo
toda a costa brasileira e fazendo escalas nas principais cidades litorâneas
como Fortaleza, Natal, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e Santos (São
Paulo), seguindo depois para Porto Alegre, Uruguai, Argentina e Chile.
Inicialmente os voos eram operados pelos hidroaviões Consolidated Commodore
e Sikorsky S-38.
Em 1934 o Sikorsky S-42 foi introduzido nos
voos para a América do Sul. O hidroavião era considerado um gigante para a
época, capaz de transportar até 37 passageiros.
Em setembro de 1928 foi fundada, no Peru, a Pan American Grace Airways (mais
conhecida como Panagra), uma joint venture entre a Pan Am e a W. R. Grace and
Company, uma importante empresa de navegação. A malha da subsidiária da Pan
Am
no Peru cobria rotas domésticas no Peru, além de voos internacionais para o
Chile, Bolívia, Equador e EUA.
Em fevereiro de 1929 a Pan Am adquiriu a
Mexicana, passando a ter uma
subsidiária também no México.
Em fevereiro de 1930 a Pan Am comprou 84,4% da sua principal
rival inicial, a SCADTA.
Em maio de 1932 a Pan Am comprou a Cubana de Aviación.
Ao final dos anos 1930, a Pan American Airways
Incorporated estabeleceu uma hegemonia quase absoluta sobre
o transporte aéreo na América Latina, resultado de uma combinação de
estratégia empresarial agressiva e apoio do governo dos Estados Unidos. A
Pan Am não era apenas uma companhia aérea comercial, mas também desempenhava
um papel estratégico na política e diplomacia dos Estados Unidos. A empresa
era vista como um "braço da diplomacia americana", ajudando a promover os
interesses comerciais e políticos dos EUA na América Latina durante uma
época de crescente influência estrangeira, especialmente da Alemanha e da
Itália, que também tentavam estabelecer laços econômicos na região. A
empresa investiu fortemente na construção de bases e aeroportos em locais
estratégicos ao longo da América Latina, desde as ilhas do Caribe até as
cidades costeiras da América do Sul. Essa infraestrutura foi essencial tanto
para a expansão da companhia, quanto para os interesses políticos e
econômicos dos EUA nos países da região. Mesmo com um crescimento tão
rápido, a empresa ficou
mundialmente famosa pela qualidade de seus serviços e
funcionários, principalmente seus pilotos que eram muito bem treinados. Uma
das marcas registradas da Pan Am era o batismo de
aeronaves com o nome
"Clipper", que vem do verbo inglês "to clip" (avançar
rapidamente). A origem vem dos navios que eram conhecidos
por sua velocidade e eficiência, sendo utilizados em rotas comerciais de
longa distância. As primeiras aeronaves operadas pela companhia eram
hidroaviões, ou seja aeronaves projetados para pousar e decolar na água, uma
característica essencial para operar em regiões onde aeroportos ainda não
estavam bem estabelecidos. A conexão com os clippers fazia sentido, a imagem
de um hidroavião pousando na água reforçava essa associação com os navios.
Além disso a empresa buscava construir uma imagem de luxo, inovação e
exclusividade com o nome "Clipper", considerado um símbolo de velocidade,
elegância e tecnologia de ponta.
EXPANSÃO PARA ÁSIA E EUROPA
Após consolidar sua liderança em toda a América Latina, a
Pan Am se voltou para a Ásia. Em novembro de 1935 ocorreu o primeiro voo
transpacífico, entre o estado da Califórnia e Manila, nas Filipinas. O voo
foi operado com o Martin M-130, especialmente projetado para esse voo
específico. O M130 percorreu cerca de 13 mil km, com escalas em estratégicas no
Pacífico, como Honolulu, Midway, Wake Island e Guam. Esse voo pioneiro
marcou o início dos voos transpacíficos regulares e fez da Pan Am a primeira
companhia aérea a conectar os Estados Unidos à Ásia. Em 1937 a rota foi
estendida para Hong Kong.
Em 1933 a Pan Am havia comprado a China National Aviation Corporation (CNAC),
que se tornou sua subsidiária na região. Em 1941 a Pan Am lançou o seu
voo entre São Francisco e Cingapura.
Em junho de 1939 a Pan Am iniciou voos para a
Europa. A aeronave utilizada para o voo inaugural foram os "Clippers"
Boeing 314, desenvolvido
especificamente para os voos transatlânticos da Pan Am. Além de ser capaz
de realizar voos de longa distância sobre oceanos, de forma segura e
confortável, o
Boeing 314 podia pousar e ficar flutuando na água
até que o salvamento chegasse, caso tivesse alguma pane. Ele foi também um dos aviões
comerciais mais luxuosos de sua época, seu interior era comparado ao de um
navio transatlântico, com cabines privativas para dormir, lounges e sala
jantar. Na época, a travessia do atlântico demorava cerca de 24 horas. As
duas primeira rotas para Europa foram: Nova York - Horta - Lisboa - Marselha
e Nova York - Shediac - Botwood - Foynes - Southampton.
Em 1940 a Pan Am e a
TWA
foram as primeiras companhias aéreas
do mundo a utilizar uma aeronave pressurizada, o
Boeing 307. Essa aeronave
foi introduzida na rota para o Brasil em 1940, sendo o primeiro avião pressurizado a operar no país.
Em janeiro de 1942 o
Boeing 314, batizado de
Pacific Clipper, foi o primeiro avião comercial a dar a volta ao mundo.
Porém nessa altura os EUA haviam entrado na Segunda Guerra Mundial,
impactando diretamente as operações da Pan Am. Muitas das aeronaves foram
requisitadas pelo governo dos EUA para serem usadas no apoio ao esforço de
guerra. A Pan Am tinha o diferencial de ter vasta experiência em voos de
longa distância e infraestrutura em locais estratégicos, como ilhas do
Pacífico. A companhia ajudou a estabelecer e manter rotas vitais para apoiar as
operações dos Aliados. Apesar de sua participação no esforço de guerra, a
Pan Am experimentou uma interrupção significativa de suas operações
comerciais regulares. Muitas de suas rotas internacionais foram suspensas ou
redirecionadas devido ao perigo representado pelos combates e pela
necessidade de usar suas aeronaves para fins militares. No entanto, a Pan Am
manteve algumas rotas comerciais estratégicas, garantindo que o transporte
aéreo internacional não fosse completamente interrompido. Após a guerra, a
Pan Am estava em uma posição privilegiada para aproveitar a explosão do
transporte aéreo comercial que viria a seguir. Durante a guerra, a empresa
havia expandido sua infraestrutura global e criado novas rotas de longa
distância.
A TROCA DOS HIDROAVIÕES POR LITOPLANOS
Durante a Segunda Guerra Mundial, houve avanços significativos no design e
na engenharia de aeronaves, particularmente com a introdução de aviões
terrestres de longa distância. Essas aeronaves possuíam maior capacidade de
passageiros e carga, maior alcance e melhor eficiência de combustível do que
os hidroaviões. No pós-guerra houve uma expansão global da infraestrutura
aeroportuária. Países que antes dependiam de hidroaviões devido à falta de
pistas adequadas, começaram a construir aeroportos, muitos deles construídos
pela Pan Am e suas subsidiárias. No Brasil, através da Panair,
a Pan Am construiu e/ou melhorou aeroportos em toda a costa norte-nordeste.
Esses aeroportos ficavam em uma posição estratégica, servindo como base para
os aviões militares dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial.
Logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, a frota da Pan Am começou a
receber dezenas de aeronaves DC-3 e
DC-4. Os DC-3 chegaram a ser
colocados na rota para o Brasil e Argentina desde Miami. Já o
DC-4 foi o responsável por inaugurar a rota entre
Nova York e Rio de Janeiro, em 1945.
Em 1946 foram introduzidos o
Constellation, mais velozes e pressurizados.
No mesmo ano eles também passaram a operar para o Brasil.
Uma grande mudança foi o fim do monopólio nos voos internacionais. Após a
Segunda Guerra Mundial, outras grandes companhias aéreas americanas
começaram a pressionar o governo para obter acesso às lucrativas rotas
internacionais que, até então, eram dominadas pela Pan Am. A
TWA, liderada por Howard Hughes, foi uma das primeiras
a desafiar diretamente a Pan Am, conquistando direitos para operar para
Paris, em 1946. No Brasil, a Pan Am teve a concorrência da
Braniff, que iniciou voos internacionais para a
América do Sul em 1949. Mesmo assim a Pan Am se manteve isolada na liderança
em voos internacionais de longa distância, uma vez que já tinha uma malha
global muito antes de qualquer outra companhia aérea americana iniciar voos
internacionais. O pós Segunda Guerra Mundial também alterou as subsidiárias
que a Pan Am tinha em outros países. Muitos governos locais, incluindo o
Brasil, começaram a se preocupar com a influencia dos EUA, através da Pan Am,
em seus mercados locais de aviação e a incentivar a nacionalização dessas
empresas. Durante a década de 1940 a Pan Am havia expandido suas
subsidiárias com a criação da Aerovías de Guatemala (1940) e Aerovías
Venezolanas (1943) e a compra de participação na
Aeromexico e MEA. Porém no mesmo período a
companhia começou a vender participação de suas subsidiárias para
investidores locais.
Em junho de 1947 a Pan Am iniciou o primeiro voo regular de volta ao mundo.
Operado pelo
DC-4, um voo partia de São Francisco e fazia
diversas escalas, entre elas em Honolulu, Tokyo, Hong Kong, Bangkok e
Manila, chegando em Calcutá. Outro voo, operado pelo
Constellation, saía de Nova York, com
escalas em Londres, Frankfurt, Istambul, Beirute e Nova Deli, chegando
também em Calcutá, completando assim a volta ao mundo.
Em 1949 a Pan Am começou a operar com o Boeing 377
"Stratocruiser", que representava o auge das viagens aéreas antes da chegada
dos jatos. Sua cabine tinha dois andares, onde a cabine principal
ficava no nível superior, enquanto o nível inferior abrigava um lounge de
coquetéis. A experiência a bordo incluía refeições sofisticadas, preparadas
e servidas de maneira comparável à de um restaurante de alta classe. Os voos do Boeing 377
foram apelidados de "President", representando o que havia de mais luxuoso
na época. Por outro lado, Pan Am também começava a enfrentar a competição de
outras companhias aéreas internacionais, que começaram a explorar tarifas
mais baixas. Para manter sua posição dominante, a Pan Am precisava de uma
oferta competitiva. Mais uma vez pioneira, a Pan Am criou a classe
econômica, que na época se chamava classe turística, um conceito que
transformou as viagens aéreas e ajudou a popularizar o transporte aéreo para
um público muito mais amplo. Em 1954 foi lançado os voos "Rainbow". Enquanto
os voos "President", operados pelos Boeing 377,
ofereciam apenas assentos de primeira classe, com o máximo de luxo e
conforto e voos sem escalas, os voos Rainbow, operados pelos
DC-6, ofereciam apenas assentos de classe
turística, com tarifas mais baratas e os chamados "voos pinga-pinga", que
faziam diversas escalas. Nos voos para o Brasil, por exemplo, o voo
President era Nova York - Port of Spain - Rio de Janeiro, já o voo Rainbow
era Nova York - San Juan - Port of Spain - Georgetown - Paramaribo - Caiena
- Belém - Rio de Janeiro. Os Boeing 377
passaram a voar na rota para o Brasil em 1950, enquanto os
DC-6 foram introduzidos em 1954, sendo depois
substituídos pelo DC-7 em 1957.
Em janeiro de 1950 o nome da empresa foi alterado para Pan American World Airways
Inc. No mesmo ano a Pan Am criou sua subsidiária na Alemanha. Após a Segunda
Guerra Mundial, a Alemanha foi dividida em quatro zonas de ocupação pelos
Aliados. Devido ao acordo entre as potências ocupantes, as operações aéreas
comerciais em Berlim Ocidental só podiam ser realizadas por companhias
aéreas dos Estados Unidos, Reino Unido e França. Como resultado, a Pan Am
foi designada como a companhia aérea americana exclusiva para operar voos
entre Berlim Ocidental e outros destinos internacionais. A Pan Am era, na
prática, uma das poucas formas de transporte direto entre Berlim Ocidental e
o resto do mundo ocidental, já que o transporte terrestre para o oeste era
limitado e politicamente complicado, e se tornou rapidamente a principal
operadora de voos comerciais da cidade.
Em 1956 a
companhia passou a ligar Los Angeles ao Rio de Janeiro, em voos Rainbow,
operados pelo DC-6.
A ERA DO JATO E DO JUMBO
Na década de 1950 começaram a surgir os primeiros projetos
para jatos comerciais de passageiros. A Pan Am sabia que para manter sua
liderança, precisava estar um passo a frente das concorrentes, investindo
pesado em novas tecnologias. Em 1955 a companhia
chocou o mercado encomendando mais de quarenta jatos de uma vez:
vinte
Boeing 707 e vinte e cinco
DC-8.
As duas aeronaves eram novidades na época e apresentavam
custos bem maiores por serem jatos, fazendo com que as
companhias aéreas ficassem receosas se iriam conseguir gerar lucro. Aproveitando sua vantagem, a Pan Am fez o primeiro voo
transatlântico com um jato no dia 26 de outubro de 1958, na rota Nova York -
Paris, operada pelo Boeing 707. A aposta da Pan
Am estava certa e os jatos logo se tornaram os preferidos dos passageiros e
também das companhias aéreas. A introdução dos jatos reduziu
significativamente o tempo de viagem. O maior
alcance dos jatos também permitiu mais rotas sem escalas. Por fim a maior
capacidade de passageiros, reduziu o custo por assento, tornando as
passagens mais acessíveis.
Em agosto de 1960 a Pan Am introduziu o Boeing 707
para o Brasil, na rota entre Nova York e Rio de Janeiro.
Em 1962 a Pan Am inovou mais uma vez quando pediu para a IBM construir um
imenso computador, batizado de PANAMAC, para arquivar as
reservas de passagem e hotéis. O computador ocupava todo o
quarto andar do prédio da Pan Am, que chegou a ser o maior
prédio comercial do mundo. O PANAMAC foi um dos primeiros
sistemas de reservas computadorizados do mundo, permitindo processar
automaticamente reservas e gerenciar voos com maior eficiência. Na mesma
época a Pan Am construiu o seu próprio terminal de passageiros no aeroporto
Aeroporto Internacional John F. Kennedy, em Nova York, denominado Worldport.
Nos anos 1960 as viagens aéreas comerciais experimentaram um crescimento
explosivo, tanto em rotas internacionais quanto em rotas domésticas. Os
jatos, mesmo capazes de transportar cerca de 50% mais passageiros, rapidamente começaram a
ficar pequenos para a demanda cada vez maior. Juan Trippe, executivo da Pan Am, tinha uma visão clara de que um avião maior seria o futuro da aviação. O
pensamento era simples: se uma aeronave maior pudesse transportar mais
passageiros em um único voo, os custos operacionais (combustível,
tripulação, manutenção) seriam distribuídos por um número maior de assentos,
reduzindo o custo por passageiro. Essa economia de escala permitiria à Pan
Am reduzir as tarifas, o que seria crucial em um mercado cada vez mais
competitivo. Trippe já havia liderado a democratização das viagens aéreas
com a introdução da classe econômica, e ele acreditava que o próximo passo
seria usar aeronaves maiores para continuar a tendência de tornar as viagens
aéreas acessíveis a uma parcela ainda maior da população. No início da
década de 1960, Trippe se aproximou de Bill Allen, então presidente da
Boeing, e desafiou a empresa a construir uma aeronave com o dobro do tamanho
do Boeing 707.
Em setembro de 1968 a Boeing mostrou ao mundo o colossal
Boeing 747, o maior jato
comercial construído até então. A Pan Am
logicamente foi a primeira a encomendar a aeronave, vinte e
cindo 747s, em abril de 1966.
Em 15 de janeiro de 1970 a Primeira Dama dos EUA batizou o
primeiro Boeing 747-100 da Pan Am. Nos dias seguintes a Pan
Am voou com o seu 747 pelo mundo
para mostrá-lo às
companhias aéreas interessadas e para as pessoas poderem
visitá-lo por dentro. Somente em 21 de janeiro o
Boeing 747
fez o seu primeiro voo comercial, entre Nova York e Londres.
O
Boeing 747 veio para o Brasil
em 1971. O próximo passo da companhia seriam os voos supersônicos. Ainda
nos anos 1960 a Pan Am foi uma das três primeiras companhias aéreas a
encomendar o
Concorde. Porém atrasos, crise do
petróleo, questões ambientais e políticas, fizeram com que a encomenda fosse
cancelada.
A Pan Am chegou na década de 1970 em seu auge, com voos para mais de 100
destinos e 80 países, em todos os continentes do mundo com exceção da
Antártida, uma frota de mais de 180 aeronaves, mais de 40 mil funcionários e
transportando mais de 11 milhões de passageiros por ano. Foi nessa época que
a empresa lançou o slogan "World's Most
Experienced Airline" (a companhia aérea mais experiente do
mundo).
DESAFIOS E DECLÍNIO
Em 1973, a crise do petróleo, teve um impacto devastador na Pan Am. O
impacto mais imediato foi o aumento acentuado do preço do combustível de
aviação, que subiu drasticamente em um curto período. Só isso já é um grande
desafio para qualquer companhia aérea. Porém a Pan Am tinha um problema
tamanho "Jumbo". A companhia tinha encomendado uma enorme frota de
Boeing 747, apostando suas
fichas em um grande crescimento da demanda de passageiros. E o que aconteceu
foi justamente o contrário. O aumento dos preços do petróleo resultou em
tarifas aéreas mais altas, em pleno período de recessão econômica global, o
que levou a uma queda brusca na demanda por viagens aéreas, especialmente em
rotas internacionais de longa distância, o foco da Pan Am. Seus
B747 eram da primeira versão, o
747-100, que gastavam mais combustível e tinham
maior custo operacional. Da noite para o dia os lucrativos
Boeing 747 se tornaram um peso
financeiro para a Pan Am, que não conseguia mais lucrar com eles e tinha que
bancar o enorme custo de uma frota de dezenas de unidades. Ao contrário das
outras grandes companhias aéreas americanas, a Pan Am operava quase
exclusivamente rotas internacionais, com muito poucas operações no mercado
doméstico dos EUA. Isso significava que a Pan Am não tinha uma rede
doméstica para subsidiar suas operações internacionais ou para compensar a
queda de receita nas rotas de longa distância. As rotas internacionais foram
duramente atingidas pela crise do petróleo, o que deixou a Pan Am
particularmente vulnerável em comparação com suas concorrentes que podiam
contar com o mercado doméstico. Em resposta à crise, a Pan Am começou a
adotar medidas para reduzir custos. A companhia cortou voos e reduziu a
capacidade e a frota. Porém todas essas medidas não foram o suficiente para
reverter o prejuízo. Em 1976 a dívida da Pan Am alcançou 1 bilhão de
dólares.
Em 1976 a Pan Am começou a receber o
Boeing 747SP (Special
Performance), uma variante modificada do
Boeing 747, mais curto e com
maior alcance, projetada especialmente para operar voos sem escalas em rotas
muito longas. O
747SP permitiu que a Pan Am
operasse rotas inéditas sem escalas como Nova York - Tokyo, Nova York - Hong
Kong e Los Angeles - Sydney. Além do B747SP, a
Pan Am também adquiriu algumas unidades do
Boeing 747-200, versão mais
moderna, com menor consumo de combustível. Porém as 10 unidades adquiridas pela
companhia eram poucas se comparadas aos 44 B747-100
que a Pan Am havia comprado anteriormente.
Outra parte importante do plano de recuperação da empresa incluía a expansão
da sua presença
no mercado doméstico dos Estados Unidos. Nesse sentido, a Pan Am decidiu
investir em uma grande frota de Boeing 727-200
a partir de 1979. Outro ponto considerado essencial do plano era a aquisição
da National Airlines, permitindo que a Pan Am finalmente tivesse acesso a
uma malha considerável no mercado doméstico dos EUA. As negociações no
entanto se estenderam durante anos e a Pan Am só conseguiu finalizar a
compra em 1980, pagando um preço considerado caro pelo mercado. Para piorar
a situação, em setembro de 1978, o Congresso dos EUA havia aprovado a
desregulamentação do setor. A desregulamentação criou um novo ambiente de
liberdade para que as companhias aéreas escolhessem suas próprias rotas,
tarifas e estratégias de expansão, sem a intervenção governamental, que
anteriormente restringia suas operações. Isso significava que a Pan Am não
precisava ter comprado a National Airlines para entrar no mercado
doméstico, poderia simplesmente expandir suas operações para rotas
domésticas diretamente. A desregulamentação do setor em 1978 trouxe impactos
profundos no mercado. Ao remover as restrições governamentais, outras
grandes companhias como a American Airlines,
United Airlines e Delta Air
Lines começassem a expandir suas operações internacionais, colocando a
Pan Am em um mercado muito mais competitivo e dinâmico. Sem uma malha doméstica
robusta, a Pan Am ficou em clara desvantagem em relação as outras grandes
companhias aéreas, que agora também tinham voos internacionais e podiam
alimentar suas rotas internacionais com passageiros vindos de diferentes
partes dos Estados Unidos. Além disso a desregulamentação trouxe novas
companhias aéreas no mercado, especialmente companhias aéreas com o conceito
low cost, low fare, resultando em uma maior competição por passageiros. Como
resultado, as tarifas aéreas começaram a cair, beneficiando os consumidores,
mas exercendo uma enorme pressão sobre as margens de lucro das companhias
aéreas.
Em 1980 a companhia começou a operar wide-bodies menores,
DC-10 e Lockheed Tristar, numa tentativa de
adequar a oferta de assentos a uma demanda menor. Porém uma frota mais
diversa, com modelos da Boeing, Douglas e Lockheed, se mostrou onerosa para
a Pan Am. Cada uma das aeronaves exigia diferentes requisitos de manutenção,
treinamento para a tripulação e peças de reposição, o que aumentava os
custos operacionais. A partir de 1980 a Pan Am começou a operar no Brasil
com o
Boeing 747SP e Lockheed Tristar.
A companhia também inaugurou a rota Nova York - São Paulo sem escalas, em
1989.
Em 1981 a Pan Am começou a vender parte de seus ativos para gerar liquidez,
como o icônico Pan Am Building, em Nova York, e a rede de hotéis InterContinental.
No mesmo ano a empresa criou sua subsidiária regional, operada por companhias aéreas regionais
terceirizadas operando sob marca Pan Am Express. Para renovar a frota, a
empresa escolheu aeronaves Airbus A300 e
A310, que começaram a ser recebidos em 1985. A
companhia também chegou a negociar a aquisição de aeronaves
A320, mas acabou desistindo.
Em 1985 a Pan Am vendeu para a United as rotas suas
rotas para o Pacífico, juntamente com uma frota de wide-bodies para operar
as rotas. Quando se achava que a situação não podia piorar, um
Boeing 747 da Pan Am explodiu no ar em 21 de
dezembro de 1988. O
avião foi alvo de um ataque terrorista e explodiu por causa
de uma bomba à bordo. Muitas pessoas ficaram com
medo de voar pela Pan Am e as aeronaves ficaram ainda mais vazias.
Em 1989 a empresa tentou uma fusão com a Northwest Airlines,
mas não conseguiu.
Em 1990 a demanda diminuiu mais ainda com a Guerra do Golfo.
Nessa altura a empresa estava desesperada e quase não tinha
dinheiro para se manter. Com isso vendeu quase todas as
rotas transatlânticas para a United e
Delta. A
Delta chegou a cogitar comprar a empresa, mas desistiu
quando viu o tamanho da dívida. Também em 1990 a empresa
passou a operar o A310-300 na rota para São
Paulo. Ainda em 1990 a subsidiária na Alemanha foi comprada pela
Lufthansa.
A Pan Am foi forçada a pedir proteção contra falência em 8
de janeiro de 1991. A Delta comprou o restante dos ativos
rentáveis da companhia e injetou 100 milhões de dólares,
ficando com 45% da empresa. A Pan Am passou a atender
somente os EUA, Caribe e América Latina e a sede foi
transferida para Miami. Mas a empresa continuava perdendo
dinheiro.
Em 4 de dezembro de 1991 a Pan Am voou pela última vez e a
sua falência foi decretada. O voo derradeiro foi o PA 436,
operado por um Boeing 727, na rota Barbados
- Miami.
O nome Pan Am se tornou tão icônico, que houveram pelo menos
quatro tentativas frustradas de criar outras companhia aéreas com o nome Pan Am.
Nenhuma delas tem qualquer tipo de relação com a Pan Am original, apesar do
nome. Também nenhuma dessas tentativas obtiveram sucesso no longo prazo.
Evolução da empresa:
Logos: Propagandas no Brasil: |
Fundação: 1927
Encerrou atividades: 1991
País: Estados Unidos
Principais Aeroportos: Aeroporto Internacional John F.
Kennedy
(Nova York), Aeroporto Internacional de Miami (Miami),
Aeroporto Internacional de Heathrow (Londres), Aeroporto
Internacional
Flughafen Frankfurt am Main
(Frankfurt), Aeroporto Internacional
Haneda
(Tokyo)
Sede:
Nova York
Códigos: PAA / PA
Destinos operados no Brasil:
Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, Belém, Brasília
> Frota:
> Frota/Ano:
|
> Histórico da frota:
Aeronaves: | Período operado: | Total operado: | Passageiros: |
1984-1991 | 13 | 254 (24+230) | |
1985-1991 | 7 | 225 (18+207) | |
1987-1991 | 14 | 196 (12+30+154) | |
1940-1948 | 3 | 33 | |
1939-1946 | 6 | 40 ou 74 | |
1949-1961 | 29 | 86 | |
1958-1974 | 8 | 124 | |
1959-1981 | 120 | 135 | |
1963-1974 | 9 | 127 | |
1965-1991 | 46 | 94 | |
1979-1991 | 105 | 145 | |
1982-1991 | 16 | 116 (21+95) | |
1969-1991 | 44 | 377 (39+52+286) ou 392 (31+32+329) | |
1974-1991 | 10 | 412 (21+44+347) | |
1976-1986 | 11 | 233 (47+100+86) | |
1941-1946 | 3 | ||
1930-1943 | 14 | 14 a 22 | |
1948-1957 | 20 | 40 | |
1953-1955 | 6 | 42 | |
1948-1956 | 12 | 40 | |
1934-1941 | 9 | 14 | |
1937-1966 | 87 | 21 | |
1947-1963 | 88 | 44 | |
1953-1968 | 45 | 88 | |
1955-1966 | 33 | 84 | |
1960-1970 | 19 | 127 | |
1980-1984 | 11 | 270 | |
1980-1985 | 5 | ||
1942-1952 | 6 | 4 a 8 | |
1947-1961 | 2 | 4 a 8 | |
1930-1940 | 3 | ||
1936-1937 | 2 | ||
Fairchild FC-2 |
1928-1933 | 5 | 6 |
1929-1935 | 12 | 12 | |
1927-1930 | 3 | 8 | |
1929-1940 | 11 | 10 a 12 | |
1934-1938 | 4 | 7 a 10 | |
Lockheed 9 Orion |
1935-1936 | 2 | |
1980-1986 | 12 | 280 | |
1946-1957 | 29 | 54 | |
1955-1955 | 1 | ||
1947-1950 | 4 | ||
Loening C-2C Air Yacht |
1928-1929 |
4 | |
Martin M-130 |
1935-1945 | 3 | 41 |
1928-1943 | 24 | 6 a 8 | |
Sikorsky S-40 |
1931-1944 | 3 | 39 |
Sikorsky S-41 |
1930-1940 | 2 | 10 |
1934-1946 | 10 | 32 | |
1936-1945 | 10 | 14 | |
Stearman C3B |
1932-1937 | 1 |
ANO: 1928
ANO: 1931
ANO: 1936
ANO: 1946
ANO: 1955
ANO: 1963
ANO: 1973
ANO: 1984
ANO: 1991
Atualizado em setembro de 2009