Tupolev Tu-104

Após a Primeira Guerra Mundial, ficou evidente que a aviação seria crucial para a guerra moderna. Nesse período a Rússia passava por grandes transformações, com o fim do Império Russo e o estabelecimento do regime bolchevique, seguida de uma guerra civil e a criação da União Soviética, em 1922. Um dos pontos-chave para a reconstrução e recuperação do país era a aviação. Em outubro de 1922 foi fundada a Tupolev, pelo engenheiro aeroespacial Andrei Nikolaevich Tupolev. Antes de fundar sua própria empresa, ele liderava o Instituto Central de Aerodinâmica (TsAGI) e em 1921 Andrei já havia começado a projetar os seus primeiros planadores.
Com o surgimento das primeiras aeronaves de metal, como o Junkers F-13, a Tupolev ficou incumbida de realizar pesquisas para a criação de aeronaves de metal na URSS. A primeira aeronave da Tupolev foi o ANT-1, um monoplano para 1 passageiros, feito de metal, madeira e alumínio, que realizou o primeiro voo em outubro de 2023. A primeira aeronave totalmente feita em emtal foi o ANT-2, monoplano para 2 passageiros, que fez a sua primeira decolagem em maio de 1924. Ao longo das décadas de 1920 e 1930 a Tupolev foi evoluindo os seus modelos, com a construção de bimotores, trimotores e hidroaviões. Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, a Tupolev voltou a sua atenção para a fabricação de aeronaves militares. Nesse período a sua aeronave mais bem-sucedida foi o Tu-2, um bombardeiro de alta velocidade, que provou ser uma aeronave de combate eficaz e desempenhou um papel fundamental nas ofensivas do Exército Vermelho. O Tu-2 realizou o seu primeiro voo em janeiro de 1941 e serviu como base para a criação de outras aeronaves militares como o Tu-1, Tu-6, Tu-8, Tu-10 e Tu-12, Tu-22 e Tu-24. Um fato curioso é que Andrei Nikolaevich Tupolev desenvolveu o Tu-2 dentro da prisão, pois ele e outros executivos da TsAGI haviam sido presos em 1937, sob acusações de atividades contra o Estado. Andrei foi condenado com uma sentença de dez anos de prisão, mas acabou sendo solto em julho de 1941, para ajudar no esforço de guerra.
Após a Segunda Guerra Mundial, a aviação entrou em uma nova era, com o desenvolvimento de motores a jato que permitiram maiores velocidades, maior altitudes de cruzeiro e maior alcance. Embora a URSS estivesse isolada do Ocidente, conseguiu capturar e estudar aeronaves alemãs avançadas durante e após a guerra. Esses estudos, aliados à engenharia local, ajudaram a criar as primeiras bases para a tecnologia a jato soviética. Andrei Nikolaevich Tupolev sabia que dominar a tecnologia do motor a jato era essencial para a URSS e conseguiu o apoio do governo para iniciar o projeto do seu primeiro jato. Em 1950 a Tupolev começou a trabalhar no projeto de um bombardeiro pesado bimotor, movido por motores a jato. Em abril de 1952 o Tupolev Tu-16 decolou pela primeira vez, marcando o inicio da produção de jatos pela Tupolev.

Com o lançamento do De Havilland Comet, em 1952, a Tupolev foi incumbida de criar uma aeronave semelhante. Para isso a fabricante usou como base o Tu-16, utilizando o layout da cabine, asas, cauda e trem de pouso. Ainda em 1952 o projeto do primeiro jato comercial de passageiros produzido pela União Soviética foi iniciado. Denominado Tupolev Tu-104, a aeronave foi projetada com uma fuselagem mais larga que o Tu-16 e pressurizada. Para garantir que a aeronave fosse capaz de pousar em pistas curtas, foi instalado um paraquedas - aberto durante a aterrissagem para auxiliar na frenagem. Outra mudança em relação ao Tu-16 foi a posição das asas, movidas para a parte inferior da fuselagem. Com o inicio da série de acidentes com o Comet, a Tupolev deu atenção especial à resistência necessária das juntas da fuselagem e ao reforço das bordas das janelas e portas, garantindo assim que sua aeronave não sofresse os mesmo problemas enfrentados pela aeronaves da De Havilland.
Em junho de 1955 o Tu-104 surpreendeu o "mundo ocidental" como o segundo avião comercial a jato do mundo, lançado na frente das fabricantes americanas Douglas e Boeing. Para conseguir tal feito a Tupolev aproveitou o máximo possível do Tu-16, fazendo poucas modificações. Até mesmo o motor utilizado pelo Tu-104 era o mesmo do Tu-16 (AM-3), apesar do Tu-104 ser mais pesado. O resultado foi uma menor relação empuxo-peso, necessidade de uma pista mais longa para decolar, menor peso máximo de decolagem e menor alcance.
O Tu-104 começou a voar comercialmente pela Aeroflot, na rota Moscou - Omsk - Irkutsk, em setembro de 1956. Essas operações chamaram atenção internacional, pois, após os problemas do Comet, o Tu-104 tornou-se o único jato comercial em serviço. Mas o Tu-104 tinha os seus pontos fracos: era muito pesado, seus motores tinham pouca potência e gastavam muito combustível e a aeronave tinha pouca capacidade de passageiros. A Tupolev tentou corrigir, ou pelo menos diminuir, as falhas com novas versões. O Tu-104A veio em 1957 e levava vinte passageiros a mais. O Tu-104B (1959) tinha novos motores, AM-3M, e levava cem passageiros.

 


Petr Popelar

 

Origem: URSS
Produção: 1956-1960
Comprimento: 40,05 m
Envergadura:
34,54 m
Altura:
11,90 m
Peso:
43 toneladas
Peso máximo de decolagem/pouso: 75/58 toneladas
Motores:
2x Mikulin AM-3M-500
Velocidade de cruzeiro:
800 km/h
Velocidade máxima:
950 km/h
Altitude de Cruzeiro: 12 km (39 mil ft)
Pista mínima para decolagem: 1,9 km
Passageiros:
50 a 100
Primeiro voo: 17 de junho de 1955
Entregues: 201
Alcance: 2650 km
Concorrentes:
De Haviland Comet, Boeing 707, Douglas DC-8, Convair 990
Companhia Lançadora: Aeroflot

 

 

 

Tupolev Tu-124

Atendendo aos pedidos da Aeroflot e para fazer frente ao lançamento do Caravelle, a Tupolev projetou uma versão menor do Tu-104, o Tupolev Tu-124. De longe era difícil distinguir as duas aeronaves, entretanto o Tu-124 incorporou algumas melhorias aerodinâmicas, além de ser o primeiro avião comercial do mundo movido a motores turbofan. Os motores inovadores do Tu-124 foram resultado de motores para aviões militares e experimentais que a União Soviética vinha desenvolvendo desde a década de 1940. Novamente a URSS foi estratégica para conseguir lançar o um jato comercial com turbofan antes dos EUA e Europa. No contexto da Guerra Fria, a aviação era um símbolo de poder e progresso tecnológico. A URSS investiu significativamente no setor como forma de mostrar superioridade em relação ao Ocidente. Enquanto as fabricantes americanas estavam focadas em jatos maiores com o Boeing 707 e DC-8, a URSS se priorizou um jato menor, justamente a única opção para que os motores turbofan pudessem ser implementados de forma tão rápida. Apesar dos motores turbofan apresentarem maior eficiência de combustível em relação aos motores turbojato, a tecnologia ainda não estava completamente dominada na época. Por isso os motores utilizados pelo Tu-124 tinham baixo índice de bypass, o que resultava em menor eficiência de combustível e maior ruído.
O Tu-124 entrou em serviço comercial pela Aeroflot em 1962. Embora mais eficiente que o Tu-104, os motores do Tu-124 ainda apresentavam consumo elevado de combustível, tornando a operação cara para rotas curtas. Além disso, o Tu-124 sofreu alguns incidentes durante sua vida operacional, principalmente devido à confiabilidade limitada de seus motores, que eram uma tecnologia muito recente na época. Para diminuir o problema, a Tupolev começou a trabalhar em melhorias para o Tu-124, porém o resultado foi a criação de uma nova versão, denominada Tu-134.

 


Tom Edvardsson

 

Origem: URSS
Produção: 1960-1975
Comprimento: 30,58 m
Envergadura:
25,55 m
Altura:
8,08 m
Peso:
22 toneladas
Peso máximo de decolagem/pouso:
37/31 toneladas
Motores:
2x Soloviev D-20P
Velocidade de cruzeiro:
870 km/h
Velocidade máxima:
907 km/h
Passageiros: 44 a 52 (56 na versão Tu-124V)
Altitude de Cruzeiro: 11,7 km (38 mil ft)
Pista mínima para decolagem: 1,0 km
Primeiro voo:
29 de março de 1960
Entregues:
165
Alcance: 2100 km
Concorrentes:
BAC 1-11, Sud Caravelle
Companhia Lançadora: Aeroflot

 

 

 

Tupolev Tu-134

Enquanto a Tupolev trabalhava em melhorias para o Tu-124, o líder soviético Nikita Khrushchev ficou impressionado com a cabine silenciosa do Caravelle quando fez uma viagem na França. Ao retornar para Moscou, Khrushchev conversou pessoalmente com com Andrei Nikolaevich Tupolev sobre a possibilidade de criar uma aeronave semelhante, com os motores na parte de trás da fuselagem. Andrei aliou o pedido de Nikita com os projetos de melhoria do Tu-124 para criar o Tu-134. Para isso a fuselagem do Tu-124 foi alongada e a cauda foi substituída por uma nova, em formato de "T". As primeiras unidades do Tu-134 incluíam um nariz de vidro, onde ficava o navegador, e também tinham alguns assentos semelhantes a um vagão de trem, com uma mesa entre duas fileiras voltadas uma para a outra. O Tu-134 também incorporou novos motores, com maior potência, o que permitiu maior capacidade de passageiros e maior alcance.
O Tu-134 entrou em serviço comercial em 1967 e fez bastante sucesso fora da Rússia, passando por quarenta e dois países ao redor do mundo. A Tupolev produziu mais de oitocentas unidades, fazendo do Tu-134 um dos jatos comerciais soviéticos mais vendidos de todos os tempos.
Em 1970 foi lançada a versão Tu-134A, com novos motores, com empuxo reverso, que finalmente eliminaram a necessidade da aeronave ter um paraquedas, e fuselagem esticada, permitindo mais assentos. Em 1980 foi lançado o Tu-134B, com menor peso, novo layout da cabine e maior capacidade de passageiros.
Com o surgimento de aeronaves mais modernas e eficientes, a produção foi encerrada em 1984.

 


Christian Waser

 

Origem: URSS
Produção: 1966-1984
Comprimento: 37,10 m
Envergadura:
29,00 m
Altura:
9,02 m
Capacidade de combustível:
13,2 mil litros
Peso:
27 toneladas
Peso máximo de decolagem/pouso: 4
7/43 toneladas
Motores:
2x Soloviev D-30-I/II/III
Velocidade de cruzeiro:
850 km/h
Velocidade máxima:
950 km/h
Altitude de Cruzeiro: 12,1 km (39 mil ft)
Pista mínima para decolagem: 2,2 km
Passageiros:
Tu-134:
64 a 72
Tu-134A: 68 a 76
Tu-134B: 74 a 84
Primeiro voo:
29 de julho de 1963
Entregues:
854
Alcance: 1900 a 3000 km
Concorrentes:
BAC 1-11, Caravelle, DC-9

 

 

 

Tupolev Tu-114

O projeto do Tu-114 começou em 1955. A Aeroflot precisava de uma aeronave capaz de realizar longos voos intercontinentais sem escalas. Apesar dos jatos já serem uma realidade, a necessidade nesse caso era de uma aeronave capaz de voar longas distâncias, algo que os jatos produzidos na URSS ainda não eram capazes. Além disso o governo tinha pressa e o desenvolvimento de um jato totalmente novo demandaria muito tempo e muitos recursos financeiros. A solução encontrada foi utilizar um projeto de uma aeronave militar já existente e converte-la para o transporte comercial de passageiros. A aeronave escolhida foi o bombardeiro Tupolev Tu-95, que, apesar de ser um turboélice, podia alcançar velocidades próximas a um jato. Isso era possível graças ao motores Kuznetsov NK-12, o motor turboélice mais poderosos já produzido. A grande potência desse motor permitiu que o Tu-114 alcançasse uma velocidades máxima de cerca de 880 km/h, tornando-o o turboélice mais rápido da história. Além disso os motores do Tu-114 chamam atenção por sua aparência incomum. Cada motor NK-12 impulsionava dois conjuntos de hélices contrarrotativas, ou seja, duas hélices montadas no mesmo eixo, mas girando em direções opostas. Esse design elimina o torque gerado por hélices tradicionais, garantindo estabilidade e permite maior eficiência aerodinâmica ao capturar mais energia do fluxo de ar, aumentando o empuxo e oferecendo maior potência sem a necessidade de hélices maiores, que poderiam gerar arrasto e vibração. Apesar da eficiência, o sistema de hélices contrarrotativas gerava níveis extremos de ruído, tanto dentro quanto fora da cabine.
Apesar de muito semelhante ao Tu-95, algumas modificações foram necessárias no Tu-114 como as asas que ficaram mais para baixo na fuselagem, o que forçou os projetistas a aumentar a altura do trem de pouso.
O Tu-114 era capaz de transportar mais de 200 passageiros, porém normalmente era configurado com cerca de 170 assentos em voos transcontinentais de longa distância, permitindo que aeronave fosse equipada com beliches, restaurante ou sala de jantar e berços para bebês. Além disso a aeronave era equipada com cozinha e banheiro na parte inferior da fuselagem, onde também haviam os compartimentos de bagagem. Para se conectar com os passageiros, a cozinha tinha um escada e um elevador por onde eram enviados os alimentos e bebidas.
Em 1959 o premiê soviético Nikita Khrushchev usou o Tu-114 em sua visita aos Estados Unidos, impressionando o mundo com o alcance e o tamanho do avião. A aeronave entrou em operação comercial em 1961, operando as rotas de longa distância da Aeroflot. O Tu-114 também foi utilizado pela JAL, na rota entre Moscou e Tokyo, em um acordo com a Aeroflot. Um dos voos mais longos operados pelo Tu-114 era entre Moscou e Cuba. Apesar do longo alcance da aeronave, o voo até Cuba precisava realizar uma escala técnica. A rota foi lançada seguindo o trajeto Moscou - Conacri (na Guiné) - Cuba. Porém, por pressão do governo dos EUA, a Guiné proibiu a operação do Tu-114 em seu aeroporto. A escala então foi alterada para Dakar (Senegal), onde novamente os EUA interveio, forçando a mudança para Argel (Argélia). Os EUA mais uma vez intervieram e a saída encontrada pela URSS foi a criação de uma nova versão. Em 1962 foi lançada a versão de longo alcance Tu-114D, com tanques de combustível extra e menor quantidade de assentos. Com eles a Aeroflot foi capaz de lançar voos para Cuba na rota Moscou - Olenya (URSS) - Cuba.
Também houveram dois Tu-95 que foram convertidos para o que ficou conhecido como Tu-116. Essas duas únicas aeronaves foram convertidas devido a um atraso imprevisto na produção do primeiro Tu-114 e a necessidade de ter um aeronave de longo alcance para transportar o chefe de estado junto com sua comitiva em visitas em outros países. Essa versão recebeu o código interno Tu-114D "Diplomático", o que gerou confusão com a versão de longo alcance, também chamada de Tu-114D.
 O Tu-114 voou regularmente pouco tempo, de 1962 a 1976. A chegada de novos jatos soviéticos, capazes de realizar voos de longa distância, como o Il-62, tornaram o Tu-114 obsoleto rapidamente.

 


Dmitry Avdeev

 

Origem: URSS
Produção: 1958-1963
Comprimento: 54,10 m
Envergadura: 51,10
m
Altura: 15,44 m
Peso: 88 toneladas
Peso máximo de decolagem:
175 toneladas
Motores: 4x Kuznetsov NK-12MV
Velocidade de cruzeiro: 770 km/h
Velocidade máxima: 880 km/h
Altitude de cruzeiro: 12 km (39 mil pés)
Pista mínima para decolagem: 2,5 km
Passageiros: 120 a 224
Primeiro voo: 15 de novembro de 1957
Alcance: 6200 a 9720 km
Entregues: 32
Companhia Lançadora: Aeroflot
Concorrentes: Bristol Britannia, Vickers Vanguard


 

Tupolev Tu-144

Em novembro de 1956 o Reino Unido criou o Comitê de Aeronaves de Transporte Supersônico, com objetivo de criar aeronaves comerciais supersônicas. O projeto acabou ganhando a parceria da França e culminando na criação do Concorde. Não demorou muito para os EUA começarem a investir pesado na criação de suas próprias aeronaves supersônicas. Nessa época a aviação supersônica começou a ser vista como o futuro inevitável do transporte aéreo comercial. Tanto o Ocidente quanto a União Soviética acreditavam que no final dos anos 1980, o transporte supersônico já estria dominando as rotas intercontinentais. Por esse ponto de vista, ser capaz de produzir jatos comerciais supersônicos era visto como uma questão estratégica pelas grandes potencias. Sob ordens diretas do governo, a Tupolev recebeu a missão de projetar e construir um avião supersônico comercial que pudesse voar antes do Concorde. Mais do que uma aeronave funcional, o Tu-144 era visto como uma peça de propaganda, destinada a demonstrar a capacidade da URSS de superar o Ocidente. Isso resultou em prazos extremamente apertados, que comprometiam a eficiência. Para produzir o Tu-144, além de uma volumosa quantia de recursos financeiros, a URSS utilizou a experiência adquirida com aeronaves militares supersônicas. Os motores do Tu-144 são baseados justamente nos motores de aeronaves militares supersônicas soviéticas. A URSS inclusive sofreu acusações de espionagem industrial, onde agentes soviéticos teriam tido acesso a informações técnicas confidenciais sobre o Concorde.
O Tu-144 utiliza um design de asa em formato delta, otimizada para velocidades supersônicas. No entanto as asas não eram tão eficientes em baixas velocidades, o que geravam problemas de estabilidade e controle. Para resolver isso, o Tu-144 incorporou canards retráteis (pequenas asas na frente da fuselagem), que podem ser recolhidas ou estendidas conforme necessário. Quando estendidos, os canards aumentavam o momento de sustentação na frente da aeronave, melhorando o controle longitudinal e ajudando a evitar que o nariz caísse. Os canards retráteis também ajudavam na manobrabilidade e no controle do ângulo de ataque.
Uma curiosidade é que o Tu-144 não tinha capacidade de empuxo reverso e para ajudar na frenagem, foram instalados paraquedas. Durante a decolagem e e na transição para o voo supersônico, o Tu-144 precisava acionar pós-combustores (afterburners), um processo que injeta combustível adicional em um combustor atrás da turbina, aumentando significativamente o empuxo sem precisar utilizar um motor maior. Na decolagem, os pós-combustores eram necessários para gerar empuxo suficiente para que o Tu-144 atingisse a velocidade necessária para decolar com segurança. Os pós-combustores eram acionados novamente durante a transição para o voo supersônico, no momento em que a aeronave esta ultrapassndo a barreira do som (Mach 1.0). Nesse momento a resistência aerodinâmica aumenta significativamente e é necessário maior empuxo do motor para que a aeronave continue acelerando.
No dia 31 de dezembro de 1968 o mundo viu voar o primeiro avião comercial supersônico do mundo. A URSS havia alcançado o seu objetivo e o Tu-144 realizou seu primeiro voo cerca de dois meses antes do Concorde. Além de ter sido lançado antes, o Tu-144 era capaz de levar mais passageiros e de voar mais rápido que o Concorde, o que reforçou seu simbolismo como um ícone do poder tecnológico soviético.
Em junho de 1973 um Tu-144 sofreu um acidente fatal durante um voo de demonstração no show aéreo de Le Bourget. O acidente afetou permanentemente a reputação da aeronave. As causas do desastre foram mantidas em segredo, o que gerou uma onda de especulações sobre o assunto, incluindo as consequências do desenvolvimento acelerado, que poderiam ter afetado a segurança e a confiabilidade do avião.  O acidente atrasou o programa de certificação e adiou o início das operações comerciais do Tu-144. A Tupolev realizou modificações substanciais na aeronave tais como aprimoramento dos sistemas de controle e alterações estruturais, culminando em uma nova versão denominada Tu-144S.
O primeiro voo operacional só ocorreu em dezembro de 1975, na rota Moscou - Alma-Ata. Porém a aeronave ainda não transportava passageiros, apenas carga. Foi só em novembro de 1977 que o Tu-144 realizou o seu primeiro voo comercial com passageiros, na mesma rota Moscou-Alma-Ata, operado uma vez por semana. Para garantir maior segurança, o voos eram limitados a no máximo 80 passageiros e uma velocidade de cruzeiro de no máximo 2000 km/h.
Os motores Kuznetsov NK-144, embora poderosos, eram extremamente ineficientes no consumo de combustível e geravam muito ruído. O alto consumo de combustível gerava um alcance extremamente limitado para o Tu-144, de menos de 3000 km. Na tentativa de atenuar esse problema, a Tupolveu iniciou o desenvolvimento de um novo motor. Em 1974 foi lançada a versão Tu-144D, com novos motores Kolesov RD-36-51, mais eficientes, que garantiram o aumento do alcance para até 6.500 km. Apesar de mais eficiente do que os motores anteriores, os RD-36-51 ainda tinham um consumo de combustível extremamente elevado se comparado aos jatos subsônicos. Com o passar do tempo ficou claro que aquela ideia de que os transporte supersônico seria o futuro da aviação estava errada. A chegada dos grandes wide-bodies, como o Boeing 747, provaram que os jatos subsonicos utilizando a tecnologia turbofan é que representavam o futuro. Eles não eram tão rápidos quantos os supersônicos, mas a sua economia de combustível e eficiência falaram mais alto, ainda mais depois do Choque do Petróleo, em 1973, que elevou o preço do combustível para patamares antes impensáveis. Se os supersônicos já eram extremamente caros de operar, após o Choque do Petróleo, era praticamente impossível lucrar com eles. Os projetos de aeronaves comerciais supersônicas nos EUA foram cancelados, restando apenas o Concorde.
Um incidente, em janeiro de 1978, contribuiu para a uma decisão que já vinha sendo discutida: a aposentadoria do Tu-144. Em maio de 1978 foi realizado o último voo comercial de passageiros do Tu-144. Em seu curtíssimo período de operação, o Tu-144 realizou apenas 55 voos comerciais regulares. Após o fim das operações de passageiros, a Aeroflot ainda utilizou o Tu-144 em alguns voos cargueiros por um breve período. O programa Tu-144 foi oficialmente cancelado em julho de 1983 e o governo da URSS passou a focar no wide-body Il-86.


Aris Pappas

 

Origem: URSS
Produção: 1967-1983
Comprimento: 65,50 m
Envergadura:
28,80 m
Altura: 12,50 m
Peso: 99 toneladas
Peso máximo de decolagem/pouso:
207/125 ton
Motores: 4x
Kuznetsov NK-144A ou Kolesov RD-36-51
Velocidade de cruzeiro: 2120 km/h (mach 2.17)
Velocidade máxima: 2500
 km/h (mach 2.35)
Altitude de cruzeiro: 20 km (65 mil pés)
Pista mínima para decolagem: 2,9 km
Passageiros: 120 a 150
Primeiro voo: 31 de dezembro de 1968
Concorrentes: Concorde
Alcance: 2920 a 6500 km
Entregues: 16
Companhia Lançadora: Aeroflot

 

 

 

Tupolev Tu-154

Nos anos 1960 a Aeroflot precisava de um jato moderno para substituir seus aviões mais antigos. Na época o mundo acompanhava o sucesso do trijato Boeing 727 e a Tupolev foi encarregada de criar uma aeronave de passageiros semelhante. O projeto do Tupolev Tu-154 começou a ser desenvolvido em 1963, usando como base o Tu-104. A fuselagem ficou mais larga e a cauda ganhou o formato em "T", com três motores na parte traseira. Além de ser mais moderno e eficiente que as aeronaves anteriores, o Tu-154 precisava ser capaz de operar em aeroportos com pistas curtas e mal preparadas, comuns na URSS, além de ter alcance suficiente para operar rotas de média distância. Semelhante a solução encontrada pela Boeing com o 727, o uso de três motores fez com que o Tu-154 conseguisse ter alta relação empuxo-peso, garantindo que a aeronave fosse capaz de decolar e pousar em pistas curtas e despreparadas e tivesse boa performance em regiões altas e de clima quente. A desvantagem de três motores é o maior consumo de combustível em relação a uma aeronave de mesma capacidade com apenas dois motores. A grande potência de seus motores, também garantiu ao Tu-154 uma velocidade de cruzeiro superior a maioria dos outros jatos. A cabine de passageiros tinha o mesmo layout do Boeing 727, com seis assentos por fileiras, distribuídos da forma 3+3. Uma curiosidade é que no inverno, alguns assentos eram retirados para dar lugar a um armário para que os passageiros pudessem guardar os seus casacos.
O Tu-154 também previa uma economia com relação a redução do tamanho da tripulação na cabine, normalmente era necessário 4 ou 5 pessoas nas aeronaves soviéticas. Já o Tu-154 foi planejado para ser operado por uma tripulação de três membros (piloto, copiloto e engenheiro de voo). Entretanto, após alguns incidentes de perda de orientação da tripulação, foi necessário introduzir mais um membro, o navegador, aumentando o número para quatro tripulantes.
O Tu-154 entrou em serviço comercial em fevereiro de 1972, pela Aeroflot, sendo o primeiro voo regular com passageiros na rota Moscou - Mineralnye Vody. O Tu-154 se tornou bastante popular no "mundo socialista", chegando a transportar a metade dos passageiros da Aeroflot e ser operado por dezessete companhias fora da Rússia.
Em 1974 foi lançada uma nova versão, denominada Tu-154A, com tanques de combustível adicional, novos motores, maior peso máximo de decolagem e refinamentos aerodinâmicos nas asas. No ano seguinte a versão Tu-154B foi apresentada, com novas asas, piloto automático aprimorado, tanques de combustível adicional, maior peso máximo de decolagem e maior capacidade de passageiros. A maior parte dos Tu-154 produzidos anteriormente acabaram sendo convertidos para Tu-154B.
Em 1982 a Tupolev também disponibilizou a versão cargueira conhecida como Tu-154T ou Tu-154S.
Em 1984 voou pela primeira vez a versão Tu-154M, com novos motores mais econômicos, melhorias aerodinâmicas, modificações nos flaps e maior peso máximo de decolagem.
Após o fim da URSS, em 1991, a demanda pelo Tu-154 diminuiu significativamente, uma vez que as companhias aéreas russas passaram a ter acesso a aeronaves mais eficientes como o A320 e B737. A partir dos anos 2000 as companhias começaram a substituir e/ou aposentar os seus Tu-154.


Georgy Zavarykin



 

Origem: URSS/Rússia
Produção: 1968-2013
Comprimento: 48,00 m
Envergadura: 37,55 m
Altura: 11,40 m
Capacidade de combustível: 47 a 49,7 mil litros
Peso: 50 a 55 toneladas
Peso máximo de decolagem: 98 a 102 toneladas
Motores: 3x Kuznetsov NK-8-2/U ou Solovyov D-30KU-154-II (Tu-154M)
Empuxo: 27-30 (3x 9-10) tonf
Velocidade de cruzeiro: 950 km/h
Velocidade máxima: 975 km/h
Altitude de cruzeiro: 12,1 km (39 mil pés)
Pista mínima para decolagem: 2,3 km
Passageiros: 114 a 180
2 Classes: 114 a 128
1 Classe: 164 a 180
Primeiro voo: 4 de outubro de 1968
Alcance: 2500 a 6600 km
Concorrentes: Boeing 727, Hawker Siddeley Trident
Companhia Lançadora: Aeroflot
Entregues: 1026

 

 

 

Tupolev Tu-204 / Tu-214

Com a frota de jatos soviéticos envelhecendo e o lançamento de novas aeronaves da Airbus e Boeing, a Tupolev ficou encarregada de criar um novo jato comercial, mais moderno e eficiente, com capacidade entre o Airbus A320 e Boeing 757. O Tu-164 foi renomeado como Tu-154M, enquanto o Tu-184 e Tu-194 foram propostas de versões maiores e menores, respectivamente, do Tu-154, que foram descartadas em favor de um avião totalmente novo, o Tu-204. O desenvolvimento começou em 1983, para uma aeronave eficiente e flexível, equipada com motores turbofan. O Tu-204 manteve a mesma configuração interna do Tu-154, com seis assentos por fileira, distribuídos da forma 3+3. Para reduzir o peso, a Tupolev introduziu materiais compósitos, fibra de vidro e materiais híbridos na fuselagem. O isolamento térmico e acústico da cabine foi melhorado e a aeronave ganhou sistemas digitais. As asas do Tu-204 incorporaram winglets, que ajudam a reduzir o consumo de combustível.
O fim da União Soviética, em 1991, teve um impacto profundo no Tupolev Tu-204. Apesar de já estar em fase de produção, o fim da URSS significou o corte do financiamento estatal e de um mercado cativo. Com a abertura econômica da Rússia, as companhias aéreas locais passaram a ter acesso às aeronaves de fabricantes como Airbus e Boeing, mais avançadas tecnologicamente e eficientes, o que prejudicou as vendas do modelo. Por outro lado o Tu-204 se beneficiou da maior cooperação e da adoção de tecnologias mais avanças como por exemplo a introdução do Fly-by-wire e glass cockpit. A adoção dessas novas tecnologia permitiu que o Tu-204 precisasse de uma tripulação de apenas dois pilotos, sem a necessidade de um engenheiro de voo ou navegador. Mesmo assim a cabine do Tu-204 era preparada para ter um engenheiro de voo.
Apesar de ter realizado o seu primeiro voo em 1989, o Tu-204 só entrou em operação comercial em 1996. O fim da URSS casou uma crise econômica que afetou em cheio a indústria aeronáutica russa. As fábricas enfrentaram dificuldades para manter suas operações e a cadeia de suprimentos foi desarticulada. Além disso a realidade do mercado havia mudado drasticamente. A Tupolev não podia mais contar com vendas "certas" para companhias aéreas da URSS. Agora o Tu-204 iria competir diretamente com as aeronaves da Airbus e Boeing. Para isso a Tupolev precisava que suas aeronaves fossem mais competitivas e também atender aos padrões de certificação internacionais, mais rigorosos. Além do maior tempo necessário para a certificação da aeronave, a Tupolev também realizou modificações no Tu-204 antes dele entrar em operação. O Tu-204-100 passou a ser o modelo base e apresentava maior peso máximo de decolagem e tanques de combustível adicional. Ao mesmo tempo a Tupolev também desenvolveu uma versão com aviônicos e motores não russos, denominado Tu-204-120.
Em 1995 a Tupolev também lançou uma versão encurtada do Tu-204, porém com maior alcance, denominada Tu-204-300 (também conhecida como Tu-234). Com o Tu-204-300 a Tupolev estava criando uma "família de jatos" de forma semelhante ao Boeing 737 e Airbus A320.
Em 1996 foi lançada versão Tu-204-200, baseada na versão 100, com maior peso máximo de decolagem. Além disso todas as versões do Tu-204 ganham uma versão cargueira, identificada pela letra S ou SE após o número da versão.
Em fevereiro de 1996 ocorreu o primeiro voo com passageiros do Tu-204, na rota Moscou - Mineralnye Vody. Era esperado que o Tu-204 tivesse no mínimo o mesmo sucesso do Tu-154. No entanto, com o colapso da URSS, a frota de aeronaves comerciais russas e dos outros países do bloco soviético começaram a ser substituídas em sua maioria por aeronaves da Airbus e Boeing.
Apesar de avanços tecnológicos, o Tu-204 ainda era mais caro de operar e manter do que suas contrapartes ocidentais, devido aos motores menos eficientes e à menor confiabilidade da cadeia logística. O fim da URSS gerou deficiências no suporte técnico e baixas taxas de produção de aeronaves e peças.
A partir de 1996 também começou a ser produzido o Tu-214, que é basicamente o Tu-204-200, porém produzido em uma fabrica diferente.
Em 2011 iniciou-se um projeto para uma versão atualizada, denominada Tu-204SM, porém as negociações não foram adiante e o projeto foi cancelado.
Em 2006 o
Decreto Presidencial nº 140 determinou a fusão das fabricantes de aeronaves russas sob uma mesma entidade: United Aircraft Corporation (UAC), que passou a ficar responsável pela produção das aeronaves. Com a imposição de sanções contra a Rússia após os conflitos na Ucrânia, está sendo considerada pela UAC a possibilidade de retomar a produção do Tu-204/Tu-214 em larga escala.


Sergei Tsvetkov
 


 

Origem: URSS/Rússia
Produção: 1990 - hoje
Comprimento: 46,14 m (40,19 m Tu-204-300)
Envergadura: 41,89 m
Altura: 13,88 m
Capacidade de combustível: 40,7 mil litros
Peso: 60 toneladas
Peso máximo de decolagem/pouso:
Tu-204-100/120: 103/88 toneladas
Tu-204-200/Tu-214: 110/88 toneladas
Tu-204-300: 107/88 toneladas
Motores: 2x Aviadvigatel PS-90A ou Rolls-Royce RB211-535E4
Empuxo: 32 (2x 16) ou 38 (2x 19) tonf
Velocidade de cruzeiro: 850 km/h
Velocidade máxima: 900 km/h
Altitude de cruzeiro: 12 km (39 mil pés)
Pista mínima para decolagem: 1,8 a 2,5 km
Passageiros: 172 a 210 (142 a 156 Tu-204-300)
Primeiro voo: 2 de janeiro de 1989
Alcance: 4300 a 7900 km (5800 a 8200 km Tu-204-300)
Concorrentes: Família A320, Boeing 737, Boeing 757
Companhia Lançadora: Vnukovo Airlines
Entregues: 86

 

 

 

Tupolev Tu-334

O Tupolev Tu-334 foi um projeto para um avião regional de curto alcance. A aeronave adota uma cauda em "T" e dos motores na traseira da fuselagem e tinha como objetivo substituir aeronaves russas mais antigas e competir com os Bombardier CRJs e Embraer E-Jets. O projeto começou em 1990 e avançou muito lentamente, devido aos problemas financeiros com o fim da URSS. Finalmente, em dezembro de 2006, houveram pedidos firmes para o Tu-334 de sete companhias aéreas. Porém até 2009 apenas dois exemplares haviam sido produzidos.
Em 2006 a Tupolev havia sido absorvida pela  United Aircraft Corporation (UAC), que passou a ficar responsável pela produção todas as aeronaves russas. Os pedidos de encomenda acabaram não se confirmando e a UAC decidiu cancelar o programa do Tu-334 para focar seus esforços no Sukhoi Superjet 100.

 
 


Vala

 

Origem: Rússia
Produção: 1999-2009
Comprimento: 31,26 m
Envergadura: 29,77 m
Altura: 9,38 m
Peso: 30 toneladas
Peso máximo de decolagem: 47 toneladas
Motores: 2x
Progress D-436T1 ou Rolls Royce BR715-56
Velocidade de cruzeiro: 850 km/h
Velocidade máxima: 860 km/h
Altitude de cruzeiro: 11,1 km (36 mil pés)
Passageiros: 102
Primeiro voo: 1999
Alcance: 3150 km
Entregues: 2


 

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