A
Revolução Russa, em 1917, marcou a transição do regime
imperial czarista para um sistema socialista. A
revolução aconteceu em plena Primeira Guerra Mundial,
porém a Rússia tinha os seus próprios problemas
internos. Entre 2018 e 2021 a Rússia enfrentou uma
guerra civil, onde os bolcheviques saíram vitoriosos e
formaram a União Soviética, em dezembro de 1922. A
partir daí iniciou-se um período de reconstrução da
infraestrutura e recuperação econômica. O governo viu o
transporte aéreo como uma ferramenta para integrar vasto
território da União Soviética. Nesse sentido foi
fundada, em 17 de março de 1923, a Dobrolet - a primeira
companhia aérea soviética. A rota inaugural foi lançada
no dia 15 de julho de 1923, entre Moscou e Nizhny
Novgorod. A frota inicial era composta por aeronaves
alemãs Junkers F-13 e
Junkers W33. Durante os anos
1920 a Alemanha estava limitada pelo Tratado de
Versalhes e encontrou na URSS um parceiro estratégico
para o desenvolvimento de sua indústria aeronáutica. A
companhia aérea alemã e russa, Deruluft, fundada em
novembro de 1921, simbolizava a parceria entre os dois
países na aviação. A Deruluft realizava voos regulares
entre a Alemanha e a União Soviética, com aeronaves
Junkers F-13 e
Dornier Merkur. Com a
ascensão do nazismo na Alemanha e o aumento das tensões
políticas nos anos 1930, a parceria entre Alemanha e
União Soviética começou a se deteriorar, culminando no
fim da Deruluft em março de 1937. Nesse período a
Dobrolet focou na expansão da malha aérea dentro da
URSS, expandindo sua operação por toda a Rússia e
alcançando destinos como Tashkent (no Uzbequistão), Kiev
(na Ucrânia), Minsk (na Bielorrússia) e Tbilisi (na
Geórgia).
A deterioração da relação com a Alemanha e o inicio da
Segunda Guerra Mundial fez com que a URSS buscasse
desenvolver sua própria indústria aeronáutica. Com isso
a frota da Dobrolet começou a ser renovada com aeronaves
produzidas localmente, como o monomotor para 4
passageiros AK-1 e o monomotor para 10 passageiros K-5.
Em fevereiro de 1932 a Dobrolet passou a se chamar
Aeroflot, que uniu todas companhias aéreas da URSS em
uma única empresa. Diferente de uma companhia aérea
convencional, a Aeroflot foi estabelecida como o sistema
abrangente de aviação civil da União Soviética,
controlando todas as atividades relacionadas à aviação
no país. Além do transporte de passageiros e carga, a
Aeroflot também era responsável por realizar missões
governamentais, ajuda humanitária, expedições
científicas, exploração do Ártico e pesquisa
meteorológica. A Aeroflot também gerenciava escolas de
aviação e programas de treinamento. Tanto os pilotos
quanto a frota da Aeroflot podia ser convertida
rapidamente para uso militar. No contexto da Guerra
Fria, a Aeroflot era frequentemente vista pelo Ocidente
como disfarce para missões militares. A Aeroflot era
também uma ferramenta de propaganda soviética. Com a
centralização, ao final da década de 1930 a Aeroflot já
era a maior companhia aérea do mundo, com mais de 60 mil
funcionários e 3 mil aeronaves! Isso foi possível porque
simplesmente todas as aeronaves registradas na URSS eram
de propriedade da Aeroflot. Apesar do número grandioso,
cerca de 70% dessas aeronaves eram obsoletas. Para
renovar e modernizar essa gigantesca frota, a URSS
investiu pesado na produção de aeronaves locais. Ainda
no contexto da Segunda Guerra Mundial, a URSS e os EUA
estavam cooperando contra um inimigo comum. A URSS soube
aproveitar esse momento para licenciar a fabricação do Douglas
DC-3
na URSS. A versão soviética do DC-3
ficou conhecida como Lisunov Li-2
e sua produção começou em 1939. O Li-2
se tornou a
espinha dorsal da frota da Aeroflot durante toda a
década de 1940. A produção local do DC-3
também contribuiu para acelerar o desenvolvimento da
indústria aeronáutica soviética.
A exemplo de sua frota, a Aeroflot também criou uma
gigantesca malha aérea. A prioridade inicial foi
conectar as diversas regiões da URSS, ligando Moscou a
cidades importantes. O próximo passo foi conectar
regiões remotas, com o lançamento de rotas para o Ártico
e a Sibéria. Já na década de 1940 a Aeroflot chegou em
países como Alemanha, Polônia, Tchecoslováquia e
Romênia. Na década de 1950 a malha foi expandida para
Finlândia, Escandinávia, China e Paquistão.
No final dos anos 1940 e inicio dos anos 1950 a frota da
Aeroflot começou a ser renovada com aeronaves
An-2,
Il-12 e
Il-14.
Em 15 de setembro de 1956 a Aeroflot começou a operar o
seu primeiro jato, o
Tupolev Tu-104 (segundo jato
comercial do mundo), na rota Moscou - Omsk - Irkutsk. O
primeiro destino internacional servido pelo
Tu-104 foi na rota para Praga.
No final da década foram introduzidos na frota o
Il-18 e
An-10.
Em abril de 1961 foram inaugurados os voos com o
Tu-114. O grande alcance da
aeronave permitiu que a Aeroflot expandisse sua malha de
longa distância, incluindo o lançamento dos voos para
Cuba, Coréia do Norte e Tokyo. Até dezembro de 1961 a
malha da Aeroflot já cobria cidades como Delhi, Kabul,
Cairo, Sofia, Budapeste, Viena, Paris, Bruxelas,
Belgrado, Warsaw, Amsterdam, Londres e Copenhagen. Nos
anos seguintes a companhia expandiu sua malha no
continente africano, com o inicio dos voos para Algiers,
Rabat, Accra, Brazzaville e Mogadíscio.
Em setembro de 1967 entrou em operação o jato de grande
porte
Il-62, que no mesmo mês inaugurou
voos para Montreal. No ano seguinte essa aeronave foi
responsável por inaugurar os voos para os EUA, na rota
Moscou - Nova York. Ainda na década de 1960 a Aeroflot
introduziu em sua frota os jatos
Yak 40,
Tu-124 e
Tu-134 e o popular turboélice An-24.
A Aeroflot entrou na década de 1970 com uma malha aérea
com mais de 600 mil quilômetros de extensão, atendendo
54 países, nas Américas, Europa, África e Ásia. A sua
malha doméstica na URSS atendia mais de 3 mil cidades.
Foi nessa década que a companhia ampliou sua presença na
América Latina. Como uma extensão da rota para Cuba, a
Aeroflot passou a voar para
Lima e Santiago. No final dos anos 1970 mais uma
extensão da rota para Cuba levou a companhia até a Cidade do México.
Já nos anos 1980, Buenos Aires também ganhou um voo da
companhia.
Em 1972 entrou em operação a nova geração de jatos
russos
Tu-154,
de tamanho semelhante ao Boeing
727.
Em 1975 a Aeroflot foi uma das três companhias aéreas no
mundo a ter voos regulares supersônicos, com o
Tu-144. Porém os voos
regulares não duraram muito tempo, sendo os voos com
passageiros operados apenas entre 1977 e 1978.
Em fevereiro de 1981 a Aeroflot iniciou voos regulares
com o seu primeiro wide-body,
Il-86.
Em 15 de setembro de 1983 a Aeroflot foi proibida de
voar para os Estados Unidos, após um voo da
Korean Air ser abatido pela
Força Aérea Soviética. Os voos para os EUA foram
retomados em abril de 1986.
No final dos anos 1980 a Aeroflot alcançou uma frota de
mais de 11 mil aeronaves. No entanto a URSS não duraria
muito mais tempo. Em 1991 a URSS entrou em colapso e a
Aeroflot enfrentou uma série de dificuldades e mudanças.
A desvalorização da moeda, instabilidade econômica e
política e a crise financeira enfrentada pela Rússia
pós-soviética afetaram não só a Aeroflot, mas toda a
indústria de aviação do país.
Em 1992 a Aeroflot foi dividia em várias empresas
ligadas a aviação. A maior parte continuou com o nome Aeroflot,
operando como uma companhia aérea, com foco nas
rotas internacionais. A sua frota passou a ser composta
por pouco mais de cem aeronaves
Il-62,
Il-76,
Il-86,
Tu-134 e
Tu-154. A partir de então a
Aeroflot perdeu seu monopólio sobre o transporte aéreo e
passou a sofrer uma concorrência interna.
Para se adaptar às mudanças a Aeroflot lançou uma nova
identidade visual e realizou uma profunda reorganização.
Ainda em 1992 começou a operar
a sua primeira aeronave não Russa, o Airbus A310-300 e,
em 1993, o
Boeing 767-300.
Em outubro de 1993 a Aeroflot iniciou operações para o
Brasil com o Ilyushin IL-62, para São Paulo e Salvador.
Também em 1993 a Aeroflot iniciou operações com o
IL-96-300, que substituiu
o o IL-62 em novembro na
rota para o Brasil e a escala em Salvador foi cancelada.
Em 1994 a Aeroflot foi parcialmente privatizada, depois
que o governo
russo vendeu 49% das suas ações.
Em 1995 a empresa esteve envolvida em um escândalo de
corrupção que afetou a sua imagem. Apesar de alguns
esforços de expansão e modernização, a década de 1990
foi bastante turbulenta para a Aeroflot, que sofreu com
uma frota envelhecida, instabilidade cambial, queda na
demanda de passageiros e maior concorrência. A companhia
iniciou uma renovação da frota com dois
Boeing 777 (em 1998) e dez Boeing 737-400,
sendo o primeiro recebido em 1999. Porém essas aeronaves
ficaram pouco tempo na frota e foram substituídas por
aviões da Airbus.
Em 2000 os voos para o Brasil foram cancelados. Porém
foi também nos anos 2000 que a Rússia começou a mostrar
uma recuperação mais forte da economia, com a
estabilização da moeda local, aumento do poder de compra
da população e o aumento da demanda de passageiros, o
que beneficiou
a Aeroflot.
Em 2003 a Aeroflot anunciou uma nova identidade visual e
começou a receber aeronaves Airbus A319
e A320, substituindo as aeronaves
soviéticas
Tu-134 e
Tu-154, além dos Boeing 737-400.
Em abril de 2006 a companhia entrou na
SkyTeam e no mesmo
ano criou a subsidiária cargueira, Aeroflot Cargo.
Em 2008 começou a operar com aeronaves
A330, que substituíram os IL-62,
IL-96 e
Boeing 777-200. A primeira rota foi entre Moscou e São
Petersburgo. Além da renovação da frota com aeronaves
Airbus, a Aeroflot acelerou sua expansão com a aquisição
de outras companhias aéreas russas, tais como Donavia
(em 2000), Nordavia (2004) e Rossiya (2010).
Em 2011 a Aeroflot inicou operações com o
Sukhoi Superjet,
que em pouco tempo se tornou a única aeronave de origem
russa na frota, após a aposentadoria do
IL-96
em 2014.
Em 2013 a frota da Aeroflot ultrapassou 150
aeronaves e a empresa voltou a operar aeronaves da
Boeing, com a introdução dos primeiros
Boeing 737-800 e
Boeing 777-300ER.
Em 2015 a Aeroflot foi a principal beneficiada com o fim
da segunda maior companhia aérea russa, a Transaero.
Em 2018 recebeu o seu primeiro
A350-900 e, em 2021, o primeiro
A320neo.
Em março de 2020 o governo russo adquiriu 51% da empresa
para salvá-la da crise do COVID-19.
Em fevereiro de 2022 a Aeroflot foi duramente afetada
pelas consequências da invasão russa na Ucrânia. A
companhia foi banida do espaço aéreo de vários países,
forçando a empresa a suspender praticamente todos os
voos internacionais. Em abril a empresa foi suspensa da
SkyTeam. Ao longo do ano, a
Aeroflot retomou parte dos voos internacionais, que
ficaram restritos a alguns destinos na África, Oriente
Médio e Ásia. A frota, que havia ultrapassado a marca de
250 aeronaves em 2022, começou a ser reduzida, a medida que as empresas de
leasing requisitaram o retorno das aeronaves. Embora a
Rússia tenha conseguido reter grande parte das
aeronaves, a Aeroflot começou a enfrentar dificuldades
para realizar a manutenção, uma vez que as fabricantes
como Airbus e Boeing interromperam o fornecimento de
peças de reposição e o suporte técnico na Rússia. No
curto prazo a companhia conseguiu manter sua frota de
aeronaves Airbus e Boeing operando, embora isso não seja
sustentável no longo prazo. A saída encontrada pelo
governo foi a transição para aeronaves fabricadas
localmente, como o
Sukhoi Superjet
e o MC-21.