Airbus A380

Na década de 1990 a Airbus enfrentou a Boeing em todos os níveis. A Família A320 atacou em cheio a aeronave mais vendida da concorrente, o Boeing 737. O sucesso do A320 fez com que a Boeing lançasse uma nova versão conhecida como Boeing 737NG (Next Generation). Depois veio a Família A330, afetando as vendas dos 767, e a Família A340, que consagrou o fim da soberania da Boeing nos voos transatlânticos. Mas a Boeing ainda era soberana na categoria "Jumbo". O seu Boeing 747 era o maior avião comercial já produzido. Em 2001 a Airbus lançou o A340-600 para competir com o 747, mas o Boeing 747-400 ainda transportava mais passageiros.
Em 1994 a Airbus lançou o programa do A3XX, uma aeronave maior que o 747. A Boeing não levou muita fé e, para dar uma resposta, anunciou o lançamento de novas versões do 747. No entanto o A3XX recebia cada vez mais encomendas, enquanto o novo 747 não recebeu nenhuma. A Boeing não estava tão disposta a investir uma quantidade grande de dinheiro em um novo Jumbo, pois acreditava que o risco seria muito alto e o retorno incerto. Apesar de serem maiores e receberem melhorias, as novas versões propostas do 747 eram baseadas em um projeto antigo, da década de 1960. Em contrapartida a Airbus apostou alto no A3XX, com um projeto completamente novo, aproveitando novas tecnologias para reduzir os custos e o consumo de combustível.
No dia 19 de dezembro de 2000 o A3XX foi renomeado para A380 ou A380-800. Mais longo, mais alto e com uma envergadura maior que o 747-400, o A380 desbancou o Jumbo. O Airbus A380 agora era o maior avião comercial do mundo, com dois andares completos. A Airbus apostou tudo no A380 (apelidado de SuperJumbo), supondo que o mercado precisaria de aeronaves cada vez maiores e o Boeing 747 ficaria pequeno para determinadas rotas. Já a Boeing apostou na direção oposta, em aeronaves menores que o 747, porém muito mais econômicas, criando voos sem escalas entre cidades que antes não eram atendidas e lançou o Boeing 787. A Airbus prontamente respondeu com o A350, mas todas as atenções da Airbus eram para o seu gigante A380.

O Airbus A380 pode transportar mais de quinhentos passageiros em configuração de três classes e apresenta custos de operação de 15% a 20% inferiores por passageiro transportado em relação ao Boeing 747-400. Além disso voa mais longe, é 3 metros mais longo e possui uma área de piso 49% maior. Embora a maior parte da fuselagem seja feita de ligas de alumínio, mais de 20% da fuselagem são feitos de materiais compostos, reduzindo o peso total da aeronave.
As asas do A380 são as maiores já produzidas para um avião comercial. A incorporação de uma quantidade maior de materiais compostos torna as asas mais flexíveis, melhorando a eficiência em voo de cruzeiro. O A380 também incorpora wingtip fences para reduzir o arrasto e melhorar a economia de combustível.
O trem de pouso possuí nada menos que 22 rodas, sendo quatro conjuntos principais (dois com 4 rotas e dois com 6 rodas) e mais duas rodas no nariz da aeronave. O maior número de rodas ajuda a distribuir melhor o peso da aeronave e reduz o desgaste da pista.
O Airbus A380 pode ser equipado com dois tipos de motores: Rolls-Royce Trent 900 ou Engine Alliance GP7000. Cada motor ganhou sua própria subvariante: A380-841 para Rolls-Royce e A380-861 para Engine Alliance. Posteriormente a Rolls-Royce lançou uma versão atualizada do motor, com maior empuxo. As aeronave equipadas com essa versão foram denominadas A380-842. Ambos foram desenvolvidos especificamente para atender aos requisitos do superjumbo, combinando alta potência, eficiência de combustível e níveis de ruído reduzidos. Os motores do A380 produzem cerca da metade do ruído do Boeing 747-200. Embora tecnologicamente avançados para sua época, esses motores foram superados em pouco tempo. Os motores projetados para o Boeing 787 e Airbus A350 introduziram melhorias significativas na eficiência de combustível, o que contribuiu para o desinteresse das companhias aéreas no A380 após o lançamento dessas aeronaves.
O cockpit do A380 possuí oito telas de cristal líquido interativos e incorpora avanços em tecnologia para displays, sistemas de gerenciamento de voo e navegação. Esses displays fornecem uma área de tela maior e informações mais claras. A cabine de comando também pode ser equipada com HUD (Head-Up Display), aumentando a consciência situacional do piloto, especialmente durante as fases de aproximação e pouso. Adicionalmente o A380 preserva grande comunalidade com as outras aeronaves da Airbus, reduzindo o tempo e os custos de treinamento para pilotos já habilitados par outros modelos da fabricante.
Para os passageiros, o A380 apresenta uma cabine mais espaçosa, mais silenciosa e com maior pressurização do que as aeronaves da geração anterior. Os decks superior e inferior são conectados por duas escadas, uma na proa e outra na popa, ambas largas o suficiente para acomodar dois passageiros lado a lado. Outra novidade foram as luzes da cabine, que simulam a luz do dia e da noite, ajudando a reduzir os efeitos do jet lag.
O tamanho colossal do A380 inspirou companhias aéreas como a Singapore e Virgin a criar inovações como bar, sala de ginástica, spa, cama de casal, suíte, lojas e cassino, tudo a bordo da gigantesca aeronave. Entretanto a realidade foi outra, as companhias aéreas preferiram dar prioridade para os assentos. Mesmo assim algumas companhias aéreas personalizaram o interior dos seus A380 com bares, lounge, área de estar, chuveiro e lanches self-service.

A produção do A380 envolveu uma das cadeias de suprimentos mais complexas da história da aviação, com grandes seções da aeronave sendo fabricadas em diferentes países da Europa e depois transportadas para a montagem final em Toulouse, na França. Para isso a Airbus criou uma logística sofisticada envolvendo barcos, trens e aviões especiais para mover as enormes partes do A380. Embora essa abordagem tenha permitido a participação de diversos países no programa, o custo e a complexidade da logística aumentaram os desafios do projeto. Como a empresa é resultado de uma colaboração multinacional, cada país queria uma parte da produção para garantir empregos e desenvolvimento tecnológico local. Construir uma fábrica única e centralizada teria sido extremamente caro e demorado, enquanto utilizar instalações já operacionais parecia mais econômico no início. Devido ao tamanho gigantesco das peças do A380, a Airbus não podia simplesmente enviá-las por meios convencionais como fazia com outros modelos. Esse processo exigiu grandes investimentos em logística, incluindo a criação de um modelo de avião especifico para o transporte de partes da aeronave, o A300-600ST "Beluga".
Devido ao seu tamanho sem precedentes, o Airbus A380 exigiu que muitos aeroportos ao redor do mundo realizassem modificações estruturais para acomodar sua operação. Essas mudanças incluíram reforçar a pavimentação (devido ao maior peso do avião), as taxiways e pistas precisaram ser alargadas para garantir a separação segura entre o A380 e outras aeronaves, os terminais precisaram contar com pontes de embarque duplas, para conseguir embarcar e desembarcar os passageiros dentro de um tempo razoável, e salas de espera foram ampliadas, para lidar com um volume maior de passageiros. Todas essas mudanças representaram um custo para as autoridades aeroportuárias e alguns aeroportos optaram por não fazer esse investimento, limitando as opções de rotas para o A380.

Ainda na fase de desenvolvimento, a Airbus lançou uma versão cargueira, denominada A380-800F, capaz de transportar cerca de 150 toneladas. Algumas companhias aéreas cargueiras, como a FedEx e UPS, demonstraram interesse inicial, fazendo encomendas para algumas unidades. No entanto programa do A380 enfrentou problemas técnicos, atrasando a entrada em serviço de todas as versões. Todas as companhias que haviam encomendado a versão cargueira acabaram cancelando e optando por aviões disponíveis no mercado naquele momento. O fato de não ter uma versão cargueira foi uma motivação a mais para a Boeing finalmente lançar um concorrente para o A380, o Boeing 747-8. A nova versão é maior que o 747-400, porém menor que o A380, e incorpora várias melhorias como novas asas e novos motores. Porém, diferente do A380, o foco do Boeing 747-8 foi o mercado cargueiro. O Boeing 747-8F oferece uma capacidade de carga próxima do que seria a do A380F, com custo operacional mais baixo e a possibilidade de operar na estrutura existente de todos os aeroportos (sem precisar de adaptações e modificações). Ao mesmo tempo a Boeing também garantiu um competidor na versão de passageiros, Boeing 747-8I.

O primeiro A380 foi entregue com quase dois anos de atraso para Singapore Airlines, no dia 15 de outubro de 2007 e entrou em operação na rota Cingapura - Sydney dez dias depois. Desde o inicio das operações, o A380 rapidamente se tornou uma lenda da aviação, conquistando o fascínio de passageiros e entusiastas. O tamanho de sua cabine proporcionava aos passageiros uma experiência mais agradável, com mais espaço do que qualquer outro avião comercial. Apesar da popularidade com os passageiros, o A380 não encontrou muitos clientes. A aeronave deu certo em um nicho específico do mercado: rotas de altíssima demanda e aeroportos com escassez de slots. Além disso o A380 foi escolhido majoritariamente por companhias aéreas com um sistema forte de hub-and-spoke, como por exemplo Emirates e Singapore, que possuem um grande hub onde são conectados passageiros de todas as partes do mundo. Esse era justamente a aposta da Airbus para o mercado de aviação, num cenário onde os aeroportos principais estariam cada vez mais congestionados e a demanda por aeronaves maiores iria aumentar. No entanto o mercado seguiu em outra direção, favorecendo o modelo point-to-point, onde aeronaves menores e mais eficientes operam voos diretos entre mais pares de cidades. Utilizando o Brasil como exemplo, a adoção de um sistema de hub-and-spoke significaria que praticamente todos os voos internacionais seriam feitos a partir de um hub, como por exemplo São Paulo. Voos regionais levariam os passageiros de outras cidades do país até São Paulo e de lá eles fariam uma conexão para seguir para seus destinos finais. Como todos os passageiros se concentrariam em São Paulo, isso demandaria aeronaves maiores, como o A380, para realizar os voos. De outro lado a adoção de um sistema point-to-point significaria que em vez de passar pelo hub em São Paulo, os passageiros viajariam diretamente entre dois destinos. São Paulo continuaria tento voos internacionais, mas agora a demanda de passageiros seria menor, uma vez que não há mais os passageiros em conexão. Dessa forma não é mais necessário uma aeronave tão grande. Apesar haver no mercado uma mistura os dois modelos, há uma tendência crescente para o point-to-point, devido a chegada de aviões mais eficientes e a maior concorrência. A tendência das políticas de céus abertos significou que mais companhias aéreas entrassem em mercados anteriormente dominados por poucas empresas, aumentando as frequências e o número de rotas. Para concorrer nessa nova realidade, as companhias aéreas priorizaram aeronaves menores, porém mais eficientes e econômicas, no sentido contrário ao A380.
A chegada dos novos bimotores A350 e Boeing 777X, maiores e bem mais econômicos, tornaram o A380 ineficiente, fazendo as companhias aéreas perderem o interesse nesse modelo. A Airbus tentou reverter a situação com o lançamento de melhorias para o A380 como o aumento no peso máximo de decolagem. A fabricante também iniciou estudos para o lançamento de uma versão ainda maior, conhecida como A380-900. Porém não houve interesse de nenhuma companhia aérea e os planos foram cancelados.
Sem novas encomendas, o futuro do Airbus A380 começou a ser ameaçado. Em uma nova tentativa de realavancar as vendas, a Airbus lançou, em junho de 2017, o A380plus, com custo operacional por assento 13% menor, consumo de combustível 4% menor, maior peso de decolagem e capaz de levar mais passageiros. O A380plus também incorporou novos winglets, que permitem a redução do consumo de combustível e o aumento do alcance máximo. Outro ponto importante foi a redução da exigência de manutenção, o que diminui o período de inatividade da aeronave. Porém o lançamento do A380plus não surtiu efeito. Os poucos clientes ainda interessados no A380, como a Emirates, demandavam uma redução de custo mais agressiva, o que também necessitaria de investimentos mais pesados. Entretanto a Airbus não estava disposta a injetar uma quantidade grande de capital em um programa que já acumulava alto prejuízo. Embora tenha vendido mais unidades do que o seu concorrente mais próximo, Boeing 747-8, a Airbus esperava que haveria demanda para mais de mil A380. No entanto o número total de encomendas não alcançou sequer 300 unidades.
Sem novas encomendas, a Airbus anunciou o fim da produção em 2021. A última unidade do A380 começou a ser fabricada em 2020 e ficou pronta em março de 2021, encerrando a produção do SuperJumbo.
No Brasil,
a Emirates foi a primeira companhia aérea a operar regularmente com o A380, em março de 2017, na rota Dubai - São Paulo.



Pierre Cester



Origem: Europa
Produção: 2007 - 2021
Comprimento:
72,72 m
Envergadura: 79,75 m
Altura: 24,09 m
Peso da aeronave: 276 toneladas
Peso máximo decolagem/pouso: 560/386 toneladas
Motores:
4x GP7270 ou Trent 970/B ou Trent 972/B
Empuxo: 132-144 (4x 33-36) tonf
Capacidade de combustível: 320 mil litros
Velocidade de cruzeiro: 945 km/h (mach 0.89)
Velocidade máxima:
1020 km/h (mach 0.96)
Altitude de Cruzeiro: 13,1 km (43 mil ft)
Pista mínima para decolagem: 2,7 km
Alcance: 15.400 km
Passageiros: 480 a 530
4 Classes: 379 a 520
3 Classes: 399 a 538
2 Classes: 615 a 644
1 Classe: 853
Largura da cabine de passageiros: 6,54 metros (primeiro andar) e 5,80 metros (segundo andar)
Disposição de assentos (classe econômica): 3+4+3 no 1º andar e 2+4+2 no 2º andar com 18,5'' (47,0 cm)

Primeiro voo: 27 de abril de 2005
Concorrentes:
Boeing 747-400, Boeing 747-8
Companhias Lançadoras: Singapore e Emirates
Maior operador (encomendas diretamente do fabricante): Emirates
Comparar com outras aeronaves

Construídos: 254
Ativos:
170
Acidentes:
0

 

 

 

 

atualizado em 2024

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