|
Winglets
DESTACANDO Winglets De alguns anos para cá, quase todos
os projetos de novos aviões, desde os menores e mais
leves utilizados para o lazer ou o treinamento, até os
maiores, usados pelas companhias aéreas, incorporam nas
pontas das suas asas umas extensões conhecidas - no seu
nome em inglês - como winglets, algo assim como
"asinhas".
O que é interessante é que elas não são usadas apenas
por aviões novos; apesar do seu alto custo, algumas
empresas desenvolveram esses dispositivos para aviões
antigos que, inicialmente, não as incorporavam.
Vamos ver, do ponto de vista físico, qual é a sua função
e as vantagens que trouxeram, para terem virado moda. O
que é que elas têm de especial para que compense o
investimento nos aviões mais antigos?
Um inimigo a ser vencido: a resistência induzida
O mecanismo físico que gera a sustentação em uma asa é a
existência de alta pressão do ar na sua superfície
inferior e de baixa pressão na superfície superior. Essa
diferença de pressão gera a sustentação, porém, um
subproduto dessa distribuição de pressão, é um
desequilíbrio da mesma, o que faz com que o fluxo de ar
próximo à ponta da asa tenda a se enrolar na forma de
espirais em torno da sua ponta, forçado pela zona de
alta pressão sob a ponta do aerofólio à zona de baixa
pressão na parte superior.
Como resultado, na superfície superior da asa há um
componente de fluxo ao longo da sua envergadura, da
ponta em direção à raiz. Já na superfície inferior do
aerofólio há um componente de fluxo de ar da raiz para a
ponta. Essa tendência a se "espalhar" que tem o fluxo de
ar, tem o efeito de estabelecer um movimento
circulatório do ar em ambas as pontas da asa, o que
deixa uma esteira de vórtices.
Dos seis tipos diferentes de resistência ao avanço (drag)
que afetam uma aeronave, a resistência induzida (induced
drag) é a que mais afeta a eficiência aerodinâmica do
vôo. A resistência é uma força aerodinâmica paralela ao
vento relativo contrária ao empuxo dos motores.
Quando uma superfície aerodinâmica avança produzindo
sustentação, existe um gradiente de pressão entre a
superfície superior e a inferior. A tendência do ar é
igualar qualquer diferença de pressão, pois ela é uma
função contínua. O ar na parte superior da asa flui mais
rápido e com menos pressão que o ar da parte inferior,
portanto, o ar com maior pressão sob a asa tende a fluir
para sua parte superior, onde a pressão é menor. É
justamente lá, quando o avião avança, que são gerados os
vórtices de ponta de asa, criando a resistência induzida
pela geração de sustentação.
O resultado disso é mais resistência, maior consumo de
combustível e uma redução considerável da sustentação da
asa. A resistência induzida pela sustentação (lift-induced
drag) é responsável pelo 40% da resistência total em
cruzeiro.
A solução... na teoria e na prática
De acordo com a teoria aerodinâmica clássica, a solução
para a resistência induzida é aumentar a envergadura e
diminuir a largura da asa (High Aspect Ratio = asa longa
e estreita. Low Aspect Ratio = asa curta e larga;
lembrando que Aspect Ratio não quer dizer "relação de
aspecto", mas alongamento).
Uma asa longa e estreita gera menor resistência induzida
e, portanto, vórtices menores e fracos, mas, para um
avião comercial, as considerações estruturais e
operacionais descartam totalmente esta alternativa. A
solução foi aumentar o alongamento com o desenvolvimento
de uma idéia inovadora: as winglets.
Estes dispositivos podem ser descritos como extensões
quase verticais da ponta da asa que, sem aumentar
excessivamente a sua envergadura, aumentam a eficiência
do aerofólio reduzindo o vórtice de ponta de asa e
diminuindo a resistência, o que por sua vez, se traduz
em diminuição do consumo de combustível.
O princípio básico é reduzir a força da esteira dos
vórtices e, em conseqüência, a resistência induzida. O
efeito aerodinâmico das winglets é semelhante à
resultante produzida pela vela de um barco, ou seja, o
vetor da força lateral gerada por elas, tem de se
dirigir para frente. Se as winglets forem projetadas de
forma adequada e estiverem bem configuradas, podem
oferecer benefícios significativos em termos de economia
de combustível e alcance.
O uso de winglets não apenas diminui a resistência
induzida, contribui para aumentar o alcance do avião e
diminui o consumo de combustível em cruzeiro, mas também
melhoram a sustentação e diminuem a resistência em baixa
velocidade.
As winglets oferecem também benefícios operacionais
como, por exemplo, melhores características de vôo na
decolagem, subida, cruzeiro e pouso. Elas ajudam a
reduzir a resistência induzida aumentando a envergadura
da superfície aerodinâmica, aumentando o comprimento do
bordo de fuga e criando maior sustentação na ponta da
asa. Os testes de vôo desenvolvidos pela NASA mostraram
que as winglets contribuem para maiores estabilidades
longitudinal, direcional e lateral, e em geral uma
melhora nas características de manobra da aeronave.
Significativas reduções de resistência induzida são
obtidas em diferentes fases de vôo, em cruzeiro, em vôo
a baixa velocidade e em regime de alta sustentação (slats
e flaps extendidos).
Considerações estruturais
Para maior resistência e flexibilidade, as winglets são
feitas de uma mistura de ligas de alumínio e materiais
compostos. Os aviões que não foram projetados com
winglets necessitam de uma considerável modificação
estrutural, antes da sua instalação, para suportar as
cargas estáticas e dinâmicas que surgem durante o vôo,
assim como os que já saem de fábrica com elas, mas os
primeiros necessitam de reforços nas longarinas
principais e cálculos precisos da sua inércia e rigidez.
A resposta da estrutura do avião a rajadas e
turbulências afeta as cargas dinâmicas de vôo e elas,
por sua vez, afetam as asas. As winglets aumentam as
cargas de ar, e seu próprio peso e localização aumentam
a carga total na parte externa das asas. Os painéis
exteriores dos aerofólios experimentam maiores cargas
aerodinâmicas com o uso das winglets e, portanto, o
risco de sofrer flutter (perigosa instabilidade
aeroelástica), motivo pelo qual se pensou, no início da
pesquisa, sobre os méritos de usar winglets ou aumentar
a envergadura para reduzir a resistência induzida. Ela
pode ser reduzida aumentando a envergadura da asa ou o
seu alongamento. Entretanto, o aumento da envergadura
também aumenta o momento de flexão da asa, a resistência
parasita e isso, por sua vez, implica em aumentar e
reforçar a estrutura da asa, o que por sua vez resulta
em maior peso do avião e, portanto, em maior consumo de
combustível, mas chega uma hora em que aumentar a
envergadura não produz nenhum tipo de benefícios
adicionais.
Obviamente, a solução aportada pelo uso das winglets foi
a adotada pela equipe de pesquisadores da NASA, em
Langley, Virgínia (EUA) no início dos ano 1970, dirigida
pelo Dr. Richard Whitcomb, quem contribuiu para o
desenvolvimento do conceito desses dispositivos.
As winglets devem ser instaladas na parte posterior da
ponta do aerofólio, perto do bordo de fuga, para
minimizar os efeitos adversos da interferência dos
fluxos de ar da asa e da superfície aerodinâmica da
winglet.
Para maior eficiência, o bordo de fuga da asa deve
coincidir com o bordo de fuga da winglet. Além disso,
seu projeto deve evitar a separação do fluxo de ar na
união asa-winglet em condições de baixa velocidade e
durante o uso de superfícies sustentadoras (slats e
flaps). O bordo de ataque de muitas winglets estão
inclinados para fora com um ângulo oblíquo, o que faz
com que tenham um ângulo de ataque positivo,
contribuindo assim para gerar sustentação cuja
resultante age na direção do empuxo do avião; outros têm
maior inclinação e contribuem com sustentação adicional
e aumentam a eficiência aerodinâmica.