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Rolim Adolfo Amaro: uma vida com tapete vermelho
2001 marca o início de um novo milênio. Mas por ironia
do destino - ou talvez, por trágica coincidência - em
menos de 7 meses a aviação brasileira perdeu seus
últimos gigantes: Omar Fontana e Rolim Adolfo Amaro.
Tive o privilégio de conhecê-los bem, trabalhando em
diferentes fases com ambos. Cada um ao seu estilo,
marcaram época e escreveram brilhantes páginas em nossa
aviação. Muito se falou de suas perdas. A mídia já
cobriu todos os aspectos de suas brilhantes vidas.
Portanto vou escrever um pouco de casos e passagens que
tive a honra de vivenciar junto à eles.
Rolim Amaro, a vida com tapete vermelho.
Edward Kennedy, em sua eulogia ao sobrinho morto,
John-John, em determinado momento disse: "quiz Deus,
dentre todos os bens que te deu, negar-lhe um: o da
longevidade. Não saberemos nunca de seus cabelos
grisalhos, de quantos possibilidades lhe reservaria o
futuro".
Começo minha homenagem ao grande Rolim Adolfo Amaro
assim. Embora tenha partido aos 59 anos de vida, me
parece, como no acidente que vitimou John Kennedy Jr.,
que ele partiu cedo demais. Que falta ele faz e fará
para todos aqueles que com ele tiveram contato. Tive o
prazer de trabalhar para a TAM e conviver com o
Comandante Rolim, como gostava de ser chamado.
Nossa relação começou em 1983, quando fizemos parte de
um grupo gentilmente convidado pelo Comandante Omar
Fontana para "escoltar" o primeiro 767 adquirido pela
Transbrasil desde a fábrica da Boeing até São Paulo.
Rolim e sua esposa Noemi estavam no grupo. No ônibus
fretado pela Transbrasil, em que fizemos alguns passeios
pelas cercanias de Seattle, Rolim deixava sua esposa lá
na frente e ia para o "fundão", onde à sua volta se
reuniam pessoas que se deliciavam com seu jeito simples
e afável, pelo seu impagável bom humor: emendava uma
piada atrás da outra.
Quem diria, menos de 15 anos depois, o Rolim do fundão
do ônibus, um entre tantos convidados, estaria em
Toulouse, trazendo o primeiro de uma reluzente frota de
moderníssimos Airbus para a sua TAM, já então a segunda
maior empresa aérea nacional, e de longe, a mais
respeitada empresa de aviação do país?
Rolim tinha o que todo verdadeiro líder tem: uma
capacidade incrível de extrair o melhor das pessoas.
Sabia lidar com a raça humana. E essa é, senão a única,
a mais forte das características que o levou, e junto
consigo sua TAM, a chegar onde hoje a empresa se
encontra: no topo da aviação brasileira, querida pelos
seus funcionários e passageiros. E temida pelos seus
concorrentes.
Rolim entendeu desde cedo que aviões e empresas aéreas
são muito parecidas no básico: equipamentos e rotas,
velocidades e escalas, autonômia e características
técnicas pouco variam entre concorrentes. O que faz toda
diferença é o ser humano. O sorriso da comissária, o
empenho da equipe de terra em diminuir um tempo de
trânsito, o piloto que capricha no speech, o diretor de
marketing que ousa, estes são os verdadeiros heróis que
transformam um monte de aviões numa verdadeira empresa
aérea. Sim, porque na outra ponta do tapete vermelho,
está à sua espera sua majestade, o Consumidor.
Rolim não foi apenas o mais brilhante executivo de
aviação de sua geração: foi o mais brilhante executivo
de marketing do Brasil. Pegou uns Bandeirantes e Fokkers
e com eles chegou à Paris, Frankfurt, Miami. Mas
principalmente, com eles atingiu o destino que as
empresas concorrentes não percebem ser o mais
importante: voou non-stop ao coração dos seus
passageiros e colaboradores.
Se o comandante tivesse uma empresa fabricante de pneus
de bicicleta ou chaveiros, essa empresa seria líder de
mercado. Mas sua irrefreável paixão pela aviação foi,
para nossa sorte, o que fez com que um único homem
mudasse todo o setor em que atuou. A aviação brasileira
mudou para melhor, e o único responsável foi Rolim.
Cabe uma passagem. Certa vez, trabalhei junto ao
comandante numa campanha publicitária qua anunciava a
compra da BR Central pela TAM. Terminadas as filmagens
em Viracopos, ele me convidou para voltar para Congonhas
no jump seat do F-27. Era 1987, e após o curto vôo,
conversamos por mais de uma hora. Ao final da conversa,
fiquei tão impressionado com seus planos, com sua visão,
que no dia seguinte, comentei com alguns amigos: no ano
2000, a TAM vai ser a maior empresa aérea do Brasil.
Eles se entreolharam, estranharam mas nada disseram.
Errei por pouco.
Quis o destino que, justamente no mês dessa grande
virada, em que pela primeira vez em 40 anos a Varig
perdeu a liderança no Brasil, Rolim embarcasse naquele
helicóptero. Nesta hora a TAM perdeu seu bem mais
precioso. Não um homem apenas, mas um líder, um guru de
marketing, um visionário de jeito simples, um caipira
internacional. A empresa continua, firme e forte. Mas
sem a mesma aura, sem aquela figura ímpar dando bom dia
no embarque dos Airbus e Fokkers.
Comandante, ficamos aqui embaixo, todos um pouco órfãos.
Mas com certeza, lá no alto, você foi recebido com
tapete vermelho.
(Gianfranco Beting)