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Identidade
Visual das Linhas Aéreas
Primórdios: antes
da "invenção" do marketing
"Você pode comprar um Ford de qualquer cor, desde que
seja preta." A famosa frase de Henry Ford ilustra bem o
começo da nossa história. Nos anos iniciais da aviação
comercial, a imagem corporativa das empresas aéreas era
um conceito tão remoto quanto o vôo supersônico. Muitas
vezes, a única maneira de diferenciar um operador de
outro era simplesmente chegando perto da aeronave e
observando discretos logotipos ou logomarcas na cauda da
aeronaves ou próximos à cabine de pilotagem. Os aviões
voavam exatamente apenas, no mais das vezes, com a
adição de enormes prefixos nas asas e nas fuselagens.
Estes sim, eram visíveis à distância, e identificavam
não só o operador como, principalmente, naqueles tempos
da aviação de linha e lona, o país do proprietário.
Diferenciação é um dos segredos principais do marketing,
talvez sua regra Número 1. Para ser bem sucedido, um
produto tem que se destacar, se diferenciar do
concorrente. E numa época em que praticamente não havia
concorrência entre companhias aéreas, não havia
necessidade de investir na imagem. O simples fato do
avião estar no aeroporto já era novidade bastante.
Assim, nos anos 20 e princípio dos anos 30, pouca coisa
mudou. Os aviões eram colocados para trabalhar nas cores
do fabricante, como se fossem carros particulares.
Muitos eram pintados com cores chamativas (vermelho,
amarelo, preto) pois ainda eram feitos de madeira e
lona, e a pintura, mais do que um capricho, era uma
necessidade, pois protegia as asas e fuselagens.
O DC-3 (sempre ele) muda tudo
Surge no céu, na segunda metade da década de 30, o
lendário DC-3. Este foi o primeiro avião a conhecer
grande sucesso mundial, em larga escala, especialmente
depois da Segunda Grande Guerra. Só aí a Regra Nº 1 do
marketing começou a ser colocada em prática.
Depois do conflito, a aviação mundial explodiu. Onde
antes havia um ou dois operadores, agora tínhamos 3, 6,
10 companhias competindo pela atenção do consumidor. O
passageiro chegava num terminal e se deparava com 20
Douglas DC-3 estacionados. O consumidor tinha escolha,
mas... escolher entre qual companhia? Nesta época
começam, para valer, as campanhas publicitárias,
fundamentais para a formação da imagem de uma empresa. E
nesta época, no pós guerra, começam as inovações nas
imagens corporativas das companhias aéreas.
Até então, as poucas empresas que efetivamente
identificavam seus aviões de forma mais distinta,
limitavem-se a aplicavar discretas faixas ao longo da
fuselagem, normalmente sobre as janelas e em cores mais
escuras, de forma a tentar fazer com que as janelinhas
"desaparecessem" no desenho lateral da aeronave. Com
este efeito, as companhias tentavam dar uma aparência de
maior velocidade aos aviões, tornando seu perfil mais
esguio. A estas faixas, a indústria logo deu o nome de "Cheatlines".
Assim, via de regra, os aviões, até o final da Guerra,
eram todos mantidos no alumínio original das fuselagens,
com uma marca discreta na cauda, uma faixa pintada sobre
as janelas e o nome sobre a cheatline. Ah! E os enormes
prefixos.
Ares de mudança
A primeira a mudar foi a Pan Am, seguida de perto pela
TWA. As duas empresas perceberam que a adição da cor
branca na parte superior da fuselagem destacava suas
aeronaves. Além disso, o branco é a cor que mais reflete
a luz, e portanto, que menos esquenta sob o sol. Assim,
os pioneiros Constellation da Pan Am e da TWA passaram a
ter a parte superior das fuselagens pintadas de branco,o
que ficou conhecido como "whitetops" (topos brancos).
Mais uma que você aprende.
Com os whitetops da PAA e da TWA chamando atenção, as
concorrentes logo perceberam que não poderiam ficar para
trás, e que pintar os aviões era uma maneira de buscar
maior identidade, de fazer a exposição da marca crescer.
Logo, quase todas as empresas passaram a adotar os
whitetops como padrão, ao mesmo tempo que incorporavam
faixas sobre as janelas: nascia aí a nova norma da
indústria, que vigorou pelos 30 anos seguintes: topo da
fuselagem branco, cheatline sobre as janelas e nome da
empresa sobre a cheatline. Nesta época, os prefixos
também começaram a diminuir de tamanho.
Em meados dos anos 50, houve outra mudança: a cauda das
aeronaves, até então desprovida de maiores
identificações, começa a ganhar importância e atenção no
conjunto visual. A princípio timidamente, o grande
espaço das empenagens começou a ser "decorado",
inicialmente com a adoção das bandeiras nacionais (como
faziam Varig e Panair) e, logo depois, com a adoção dos
logotipos das empresas. Quem primeiro adotou a cauda
para colocar uma logomarca com força foi novamente a Pan
Am, ao estampar nas caudas em enormes letras a sigla PAA.
A Era Dourada das cheatlines
Então, desde o final dos anos 40 e por todos os
gloriosos anos 50, o mundo das companhias aéreas viveu a
fase dourada das cheatlines. Novamente buscando
diferenciar-se, as companhias tentavam todas as
variações sobre o tema. Algumas, como a Alitália ou a
Trans Canadá, tinham mais de 10 faixas finíssimas, um
pesadelo para o pessoal da manutenção. Outras
estilizavam bicos de pássaros, asas, inovavam nas cores.
A Continental usava a cor ouro nos seus "Golden Jets".
As européias e as poucas asiáticas eram mais
conservadoras. A festa ficava mesmo nos céus das
Américas. Pinturas de faixas complexas eram cada vez
mais comuns. A vistosa Panagra, a LAV da Venezuela, a
Real com as faixas na cauda... todo mundo deixando voar
a imaginação.
O que se nota desde então, é que a indústria, do ponto
de vista de marketing, sempre foi conservadora. Alguns
exemplos, alguns caminhos são simplesmente copiados pela
indústria, quase se transformando num "padrão de
etiqueta": a Pan Am inaugurou os whitetops e cheatlines,
o mundo seguiu. Este comportamento só parece ceder nos
dias hoje, o que veremos depois.
Mudanças a jato
Foi mesmo com a entrada dos jatos em operação pela Pan
Am, com a chegada de seu primeiro Boeing 707, que a
companhia lançou uma nova tendência: a de dar destaque à
logomarca. O famoso globo terrestre na cauda,
carinhosamente conhecido como almôndega azul (Blue
Meatball). Estampado na enorme cauda dos 707, a marca se
tornaria uma das mais famosas em todo o mundo, e
seguramente, a mais famosa na aviação. Tanto é assim que
foi comprada anos depois da falência da Pan Am (1991),
por nada modestos US$ 1,5 milhão de dólares e ainda hoje
é utilizada numa nova empresa, que não tem, além do nome
e da marca, nenhuma relação com a Pan Am original.
Este exemplo mostra que nos anos 60, o marketing já não
mais engatinhava, voava alto como os jatos. Nesta
década, a imagem corporativa das empresas começou a
ganhar cada vez mais importância, e consequentemente, a
sua aplicação nas fuselagens foi um passo lógico.
Tomemos o exemplo da Varig. Até a chegada dos Boeings
707, a logomarca oficial da empresa era apenas o famoso
Ícaro, figura mitológica que, conta a lenda, grudou
penas de aves aos braços com cera e decolou tentando
alcançar o sol. O calor do Astro Rei derreteu a cera e
Ícaro caiu antes de chegar ao seu destino. Visto assim,
convenhamos, é um estranho símbolo para uma empresa
aérea. Mas Ruben Berta, idealizador da marca, tinha uma
visão mais romântica: a da busca incessante de voar cada
vez mais alto. Coisa que a empresa, sob seu comando,
sempre conseguiu. Mas voltemos ao tema.
Pois então: Berta, que havia escolhido o Ícaro como
símbolo, foi certamente influenciado pela força da Blue
Meatball nos aeroportos do mundo. E logo em seguida à
introdução de seus próprios Boeing 707, criou a sua
versão: a famosa Rosa-dos-Ventos, muitas vezes chamada
erroneamente de "Estrela da Varig", pois de estrela não
tem nada: são os pontos cardeais. Assim, a Varig, sem
abandonar o Ícaro, passou a ter duas logomarcas,
provavelmente a única empresa a fazê-lo. E por um bom
tempo.
Outro exemplo brasileiro: a Cruzeiro do Sul, que nesta
época, usava na cauda apenas as duas cores nacionais em
faixas diagonais, também evoluiu e colocou suas caudas
em maior evidência, ao pintá-las de azul e colocar sobre
este "céu" as cinco estrelas que formam a constelação.
Ficou bonito e atingiu o objetivo: diferenciar-se. E com
a constelação na cauda, aposentou a gaivota que até
então era a sua mascote.
Entram em cena os profissionais
Nesta mesma época, segunda metade dos anos 60, a imagem
corporativa das empresas já era percebida como tendo
grande importância no que se costuma chamar em "marquetês"
de construção de imagem da marca. Surgiram então os
primeiros trabalhos realmente profissionais, executados
por empresas ou profissionais de comunicação
corporativa, contratados pelas grandes companhias
aéreas. O primeiro e espetacular exemplo é da Braniff
Airways.
Até então, a companhia usava uma patriótica combinação
de cores (azul, vermelho e branco) nas suas aeronaves,
como 99% de seus concorrentes. Recém empossado na
plotrona da presidência da Braniff, Harding Lawrence
contratou um escritório de design, Jack Tinkler &
Partners, e deflagrou uma revolução nos céus. O
resultado não poderia ter sido mais espetacular: nasciam
aí as aeronaves coloridas da Braniff, que trouxeram
imediato reconhecimento à empresa. O slogan
publicitário, "The end of the plain plane", traduzido
livremente como "o fim do avião sem graça" não poderia
ser mais acertado. Em meio à dezenas de whitetops e
cheatlines, as aeronaves roxas, azuis, turquesas,
vermelhas, verdes, ocres e amarelas da Braniff se
destacavam. O objetivo, tornar-se reconhecido e
diferenciado por onde passassem os jatos, foi plenamente
alcançado.
O projeto despertou a atenção dos concorrentes. É desta
época que começam a surgir os trabalhos mais
profissionais de identidade visual. Neste período,
surgiram muitas das marcas e logotipos que até hoje
cruzam os céus. Boa parte deles, feitos por uma empresa
de San Francisco, a Walter Landor & Associates,
responsável por muitos dos melhores trabalhos até hoje.
Foi nesta época, por exemplo, que a Landor criou a
imagem corporativa da Alitalia, virtualmente a mesma
desde 1969. Ou então, que Saul Bass, um dos melhores
designers gráficos do mundo, criou a marca famosa da
United, as quatro faixas que se transformam numa letra
"U" estilizada, imagem usada igualmente até hoje.
Anos 70: o fim das cheatlines
Os anos 60 terminavam com as psicodélicas cores da
Braniff nos céus e com imagens mais modernas,
especialmente nas logomarcas e logotipos, quase todos
retrabalhados. Mas algo permanecia quase imutável: a
faixa sobre as janelinhas, a cheatline. Por mais que se
tentasse, as companhias ainda resistiam à ideia de voar
sem uma faixa na fuselagem, como se isto fosse tão
fundamental à oepração das aeronaves como as asas. As
companhias que passavam por mudanças em suas
identidades, acabavam na verdade incorporando novas
logomarcas e logotipos, ou então, fazendo ligeiras
modificações nas pinturas, mas sempre mantendo a bendita
cheatline.
Vive la Differénce!
Em 1976, entra em cena o Concorde. Com sua esguia forma,
a máquina rasgava os céus duas vezes mais rápido que o
som. O atrito com o ar exigia uma camada de tinta
especial, que dissipasse parte desta energia: a aeronave
tinha de ser obrigatoriamente pintada de branco. Talvez
isto tenha colaborado para a grande mudança que a Air
France promoveu então: sem saber, com sua nova
identidade corporativa criada, a Air France decretava o
início do fim da cheatline, ao mostrar ao mundo o que
seria a "nouvelle vague" da imagem corporativa das
empresas aéreas: um avião (quase) todo branco.
No começo foi um choque: tudo branco, só a cauda e um
logo? Nada mais? O fato é que ficou muito bom, e
naqueles anos, muito diferente do resto. Um avião da Air
France se destacava nos aeroportos. Até porque a empresa
também foi a primeira a pintar a parte inferior das
fuselagens de branco, decretando o fim das cheatlines
Edos whitetops. Os aviões franceses passaram a ser "allwhites".
A idéia fez sucesso e começou a fazer seguidores. Um dos
primeiros a entrar no "allwhite" foi a nossa
Transbrasil, ao adotar uma nova identidade visual em
1979. Com o famosos arco-íris na cauda, os jatos da
Transbrasil, que desde 1973 eram coloridos como os da
Braniff, passaram a trazer as fuselagens pintadas
totalmente de branco e o "rainbow" na cauda. Detalhe: as
asas, estas sim, ainda eram coloridas, em sete das seis
cores do arco-íris (menos o amarelo).
Eurowhite
A fuselagem branca começou a ser adotada em outras
empresas, sobretudo na Europa. Na segunda metade da
década de 80, a criatura escapa ao controle do criador:
virtualmente quase toda empresa aérea renova sua
identidade visual adotando o padrão
"logo-na-cauda-e-fuselagem-branca", o que acabou ficando
conhecido como padrão Eurowhite em reconhecimento ao
entusiasmo, sobretudo no Velho Continente, com que a
idéia foi recebida. A praga espalhou-se com a velocidade
de uma SARS. Por grande parte da Ásia, pelas Américas,
até no Brasil, as empresas partiram para o Eurowhite com
gosto. Explica-se o fenômeno em parte por uma questão de
custos: pintar uma aeronave inteirinha de branco é mais
barato e mais rápido: pinta de branco, tasca um logo na
cauda e bota pra voar!
Mas... e a Regra Número 1 do Marketing, a velha e boa
diferenciação? Ela foi solenemente ignorada em muitas
destas empresas. Vejamos, fazendo uma lista rápida de
companhias que adotaram o padrão Eurowhite, temos, além
da pioneira Air France, a Garuda, Air New Zealand, Swiss,
Lufthansa, JAL, Mexicana, Air Canada, Aerolineas
Argentinas, Qantas... Aqui no Brasil não é diferente:
hoje em dia, então, é quase obrigatório lançar uma nova
identidade que seja Eurowhite: Total, Gol, TAF, a finada
Transbrasil, Interbrasil, Aerobrasil, ABSA, todas elas
entraram nesta mania.
Billboard Titles
Mais uma vez a Pan Am fez escola e inaugurou uma outra
modalidade de imagem corporativa que foi e é
extensamente copiada: as imagens corporativas com
enormes logotipos nas fuselagens, conhecidos como "Billboard
Titles", a palavra que designa os grandes cartazes de
rua nos Estados Unidos. Em 1985, a empresa inaugurou a
moda ao receber seu primeiro A310-200 com um enorme
logotipo na fuselagem. A idéia logo ganhou seguidores em
todo o mundo, e virou uma praga à exemplo do Eurowhite:
TAM e agora a Varig, Frontier, Sabena, apenas para citar
algumas, todas elas embarcaram neste padrão. De novo, a
diferenciação começou a se perder.
Vale um desvio: logotipo é a identificação que usa
letras elogomarca é o que costumeiramente chamamos de
"símbolo" ou "distintivo". Por exemplo: o logotipo da
Varig é o "Varig Brasil" na fuselagem e a logomarca da
Varig é a Rosa-dos-Ventos na cauda. E no caso da TAM? A
empresa não tem logomarca, apenas o logotipo, usado
tanto na cauda como na fuselagem. Entendido?
Novas tendências e tecnologias
Eurowhite, Billboard Titles... a indústria de novo caiu
num padrão. Ainda bem que algumas empresas resolveram
agir e pensar diferente, buscando diferenciar-se.
Algumas foram extremamente bem-sucedidas, outras nem
tanto. Vamos ver alguns casos.
A Lan Chile é um dos exemplos mais espetaculares de
história com final feliz. Desenvolvida pelo escritório
londrino Newell & Partners, a nova imagem corporativa da
companhia, apresentada em 1998, é simplesmente
espetacular. Seu sucesso deve-se a dois fatores. O
primeiro é que a imagem se destaca, se diferencia das
outras. O outro, muitas vezes é esquecido, é que ele
reflete muito bem o espírito do país e da empresa. O
Chile hoje é um país moderno, progressista, que pensa
adiante. E os valores patrióticos, de levar as cores e
elementos gráficos da bandeira chilena para fora do
país, estão traduzidos com elegância e sobriedade,
adjetivos que são também características do povo
chileno. Um resultado, portanto, perfeito.
Vai uma crítica. Dá pra falar o mesmo da imagem
corporativa de nossas empresas aéreas, sobretudo aquelas
que nos representam lá fora? São elas facilmente
identificáveis com nossas cores, nossa exuberância,
nossa alegria, nosso povo e nossa terra? Evidentemente
que não. Uma tem por nome algo que mais parece uma
onomatopéia, a outra tem uma imagem corporativa e um
nome que parecem ter saído de algum país Báltico,
sóbrios demais. A hora de mudar isto pode ser agora, que
tal?
Mas, felizmente, há vários exemplos nos céus de
resultados felizes, de idéias novas. A combinação da
busca de diferenciação aliada à respresentação de
atributos únicos se faz presente em outras empresas
aéreas que recentemente passaram por mudanças. Dois
exemplos acabados disto são a Air Jamaica e a BWIA West
Indies: suas imagens corporativas são únicas e
excelentes espelhos da exuberância natural de seus
países. Elas, em última análise, representam bem suas
nações perante o mundo. Outro exemplo de sucesso: a Air
Tahiti Nui, que já começou com o pé direito e inaugurou
seus serviços com sua única e maravilhosa imagem
corporativa.
Outras companhias aéreas, como a Frontier e a Virgin
Atlantic, estão utilizando novas tecnologias na pintura
das aeronaves. Uma nova geração de tintas metálicas, de
alta durabilidade, está sendo adotada por algumas
empresas, como a própria Virgin, a Air Dolomiti e mais
recentemente, a Northwest. A Frontier usa uma nova
tecnologia na forma de decalques de alta resistência,
que permite a adoção de imagens fotográficas, usadas na
cauda de suas aeronaves. Estes são exemplos de empresas
que ousaram com resultados positivos. Mas nem sempre as
coisas dão certo.
Uh, oh
Representar o país no estrangeiro é obrigação de toda
empresa aérea de bandeira que se preza. E foi, portanto,
um choque para todos, especialmente para os bretões,
quando sua companhia aérea, a British Airways, resolveu
mudar sua imagem e adotar uma identidade corporativa que
traduziria seu posicionamento de "Empresa Aérea Favorita
no Mundo".
Foi com grande alarde que a companhia, em 10 de junho de
1997, a BA anunciou o programa que estamparia nas caudas
das aeronaves imagens representando 50 povos ou regiões
do planeta. Apresentados simultaneamente em 60 cidades,
em cerimônias interligadas via satélite, a British
Airways mostrava ao mundo a sua nova identidade visual,
batizada de "World Images".
No catálogo que acompanhava o lançamento da nova imagem,
a empresa explicava: "Vamos refletir a diversidade
cultural de nossos próprios funcionários, atuando com as
novas cores como uma promessa visível do que iremos
oferecer. A nova padronização abrirá uma nova distância,
colocando um lindo céu azul entre nós e nossos
concorrentes".
O tiro saiu pela culatra. A diluição da imagem britânica
foi um choque, especialmente para os súditos da rainha.
Inconformada, Margaret Thatcher, convidada de honra à
cerimônia, saiu antes da hora, não sem antes cobrir uma
das maquetes usadas na apresentação com um lenço, de tão
contrariada que ficou. Ao tomar conhecimento da nova
imagem, o arqui-rival da BA, Sir Richard Branson, agiu
rapidamente, bem ao seu estilo: convocou a imprensa e
anunciou que a partir daquele momento sua Virgin
Atlantic seria a "empresa aérea de bandeira da
Grã-Bretanha", e anunciou queincorporaria à pintura de
suas aeronaves a Union Flag, a bandeira da Grã-Bretanha.
A nova imagem da empresa gerou tamanha controvérsia que,
pouco antes de ser defenestrado pelos acionistas, o CEO
da empresa e responsável pela idéia, Bob Ayling,
declarou que o programa World Images seria abandonado.
Este episódio serve para ilustrar perfeitamente uma
realidade muitas vezes não compreendida por algumas
empresas aéreas: a imagem corporativa é absolutamente
crucial para o sucesso (ou fracasso) de uma companhia. A
British ousou demais e pagou por isso. Há tembém o caso
reverso, aquelas conservadoras demais, empresas que
passam décadas sem modificar sua imagem. Vamos ver
alguns casos.
As Tradicionais
Neste aspecto, poucas batem a Varig. A empresa pode se
orgulhar de ter tido uma das mais duradouras imagens
corporativa da história, no período que vai de meados
dos anos 50 a meados dos anos 90. Mais precisamente,
somente em 1997 a companhia mudou sua imagem
corporativa, que era praticamente a mesma desde o tempo
dos Constellation. A única mudança mesmo foi a
introdução da Rosa dos Ventos na cauda, como já vimos.
De resto, os 747-400 saíram de fábrica com a mesma
imagem corporativa que os Connies nos anos 50.
Mas a Varig não está só. A KLM é outra que não mudava de
imagem desde os anos 70. No começo de 2003, apresentou
sua nova identidade, mais simplificada, mas retendo o
tradicional azul-céu nas fuselagens. A Air France é
outra que praticamente não mudou desde 1975, com apenas
algumas alterações mínimas. Outra assim é a American
Airlines, desde 1969 com sua já tradicional fuselagem em
alumínio polido e as três cheatlines patrióticas. No
clube do "Não se mexe em time que está ganhando" temos
ainda a Air India, que apesar de ter criado uma nova
identidade visual em meados dos anos 80, aplicada a um
par de aeronaves, encontrou uma resistência tão feroz
que teve de voltar atrás. Mas niguém repreenta o clube
das empresas que não mudam melhor do que a Ethiopian
Airlines: esta não mudou nem uma faixinha sequer desde
que recebeu seus Boeings 720 no começo dos anos 60. E
diga-se de passagem: é uma pintura de muita
personalidade mesmo.
Seja como for, o assunto é apaixonante e inesgotável.
Poderíamos ficar horas, dias, semanas falando sobre o
tema, mas uma coisa é certa. Descuidar da imagem é algo
inconcebível para uma empresa que se pretende vencedora.
E agora que o Brasil parece estar no limiar de uma nova
era, com a formação de uma nova empresa aérea de
bandeira, que tal cuidar com mais carinho do assunto,
hem?
Gianfranco Beting