|
Fly: Sérgio Bürger
Gianfranco Beting, nosso editor, entrevistou Sérgio
André Bürger, 36 anos, Vice-Presidente de Planejamento
da Fly Linhas Aéreas. Ex-corredor de carros, Sérgio fala
com entusiasmo da empresa que ajuda a dirigir.
jetsite: A Fly é uma empresa administrada por sua
família, certo?
Sim, a Fly tem por presidente meu pai, Brigadeiro Sérgio
Luiz Bürger, que foi diretor do DAC e adido militar do
Brasil em Washington, entre vários cargos em sua longa
carreira na FAB. Como piloto, vôou de tudo, dos
Bandeirantes e Buffalos aos C-130. Meu irmão, Ricardo
Luiz Bürger, é Vice-Presidente Comercial e
Administrativo e, junto com o Brigadeiro, cuida do
dia-a-dia da empresa.
jetsite: Qual o sonho do Brigadeiro Bürger ao lançar
a Fly?
Desde o princípio, foi o de fazer uma empresa que fosse
reconhecida pela excelência operacional e qualidade de
seus serviços. A idéia era e continua sendo de fazer da
Fly uma empresa que seja escolhida pelo passageiro.
jetsite: Fale um pouco sobre o começo da Fly.
Meu irmão Ricardo tinha uma empresa de Consultoria de
Assuntos Aeronáuticos, e esta sua atividade lhe rendeu
contatos e conhecimentos valiosos. O Brigadeiro Bürger
há muito acalentava o sonho de ter sua própria empresa
aérea. Ele nunca foi um homem de Gabinete, sempre
preferiu a ação a ficar atrás de uma escrivaninha. É a
natureza dele. Com todo esse pique, Junto com Ricardo,
começou a estudar algumas alternativas para poder entrar
no mercado.
jetsite: Que era ainda bastante fechado...
Exato. Estávamos em 1993, 94. A Air Vias era a única
empresa aérea não regular do Brasil, um segmento que só
foi desbravado em princípios dos anos 90. Mesmo assim,
as empresas não podiam vender diretamente sua oferta.
Era sempre através de pacotes, de fretamentos. A Fly
teve que começar assim.
jetsite: E foi difícil?
E como! Veja, não podíamos fazer nossos preços. Tudo
tinha de ser negociado com as operadoras. Muitas vezes
decolávamos com contratos que não pagavam nossos custos,
mas que serviam para nos tornar mais conhecidos no
mercado, para nos dar experiência e reconhecimento.
jetsite: Quando se deu o primeiro vôo?
Foi em 25 de agosto de 1995. Nossa primeira aeronave, o
PP-LBF, um 727-200 arrendado e que voara na Royal Air
Maroc, fez seu primeiro vôo entre Guarulhos, Natal e
Fortaleza. A Fly finalmente estava "flying"!
jetsite: Vocês escolheram o 727 porquê?
Era uma das melhores aeronaves disponíveis naquela
época. Fomos até o Marrocos inspecionar o avião e o
trouxemos ao Brasil. A princípio, para reduzir custos,
adotamos a pintura básica da RAM, modificada para nossas
cores de então, azul e amarelo.
jetsite: E quem tripulava o Boeing?
As primeiras tripulações eram de ex-Fabianos, colegas de
meu pai. Depois começamos a contratar pilotos de outras
empresas, com experiência no 727. No começo eram três
tripulações completas para a aeronave e a Fly tinha no
total 40 funcionários. Hoje tem aproximadamente 170
colaboradores.
jetsite: E a Fly está feliz com o 727?
Muito. Ele, apesar de não ser extremamente moderno, é
uma aeronave confortável, segura e mais rápida do que os
Boeings 737 e Airbus. E em nossos vôos longos, isso faz
diferença. Nossos pilotos adoram voar o 727.
jetsite: E nessa fase, já dava para ter lucro?
De forma alguma. Só passamos a ter resultados positivos
quando, entre 1996 e 1997, começamos a vender
diretamente os bilhetes aos passageiros, além de pacotes
aos operadores.
jetsite: Aí a empresa começou a se expandir?
Exato. Recebemos o segundo e o terceiro 727-200 e
começamos a voar também para Recife.
jetsite: Bons tempos aqueles, o dólar a um para um
com o Real, combustível mais barato...
Nem me fale! Logo estávamos voando 3 vezes pos semana na
rota GRU-GIG-FOR-NAT-GIG-GRU, com excelente utilização
diária do equipamento. Nosso crescimento foi lento e
gradual, seguro, incorporando na média um 727 a cada
seis meses.
jetsite: E vocês faziam charters internacionais
também, não?
Sim, com o mercado aquecido e uma taxa de câmbio
favorável, havia procura para vôos ao exterior, ao
Caribe. Voávamos todos os domingos entre Guarulhos,
Manaus, St. Maarten e Isla Margarita.
jetsite: Hoje qual é a frota da Fly e para onde voam
os aviões?
São quatro Boeings 727-200, matriculados PP-LBF, o
PP-BLS, PP-JUB e PP-BLR. Voamos diariamente entre São
Paulo, Rio, Natal, Fortaleza, Rio, São Paulo. E três
vezes por semana entre São Paulo, Rio, Recife e João
Pessoa. A aeronave pernoita lá e retorna pelas mesmas
cidades, na manhã seguinte.
jetsite: E há planos de expandir os serviços?
Sim, embora estejamos cautelosos com a capacidade de
reação do mercado, estagnado. Há , mesmo assim, planos
de começar a voar para o sul do Brasil.
jetsite: Uma coisa me desperta curiosidade: os
prefixos dos Boeings têm algum significado?
Sim. O PP-LBF, queríamos inicialmente que fosse PP-FLB,
a sigla da empresa, mas esta matrícula já estava
ocupada. Então trocamos as letras de lugar. O seguinte,
usa as três letras do nome do Brigadeiro, Sérgio Luiz
Bürger. O terceiro, é uma homenagem à nossa "Chefa",
Jurema Bürger. O quarto, PP-BLR, usa as três letras de
Ricardo Luiz Bürger.
jetsite: E você vai ficar sem o seu Boeing?
Vou, estamos para receber nossa quinta aeronave nas
próximas semanas. Deverá ser o SAB, de Sérgio André
Bürger.
jetsite: Você que SAB!
(risos)
jetsite: E esse verde da Fly, qual a história por
detrás da identidade visual da empresa?
Quando começamos, as cores eram azul e amarelo, por
causa da cor do sol, que estava em nossa identidade e
logomarca inicial. Depois, resolvemos modernizar a
imagem da empresa, e queríamos uma cor que nos
identificasse e nos fizesse diferentes dos "azuis"
onipresentes nos aeroportos brasileiros. Escolhemos o
verde e não nos arrependemos: os aviões da Fly são
reconhecidos mesmo de longe.
jetsite: Os aviões da Fly são arrendados?
Não, ao contrário. Apenas o LBF é arrendado. Os outros
foram comprados do antigo operador, a Continental
Airlines. Eles estão configurados para 161 assentos,
sendo que 10 deles são da Fly Class.
jetsite: É a Classe Executiva de vocês, não? Quais os
diferenciais?
Bem, para começar, maior espaço nas poltronas, dispostas
2 + 2. É um serviço diferenciado, com opções de pratos
quentes servidos em louça, open-bar com vinhos, whiskies,
que, a despeito de apresentar todas essas vantagens,
custa menos que uma tarifa "full-fare" na concorrência.
jetsite: Como a Fly se posiciona hoje no mercado?
Bem, a Fly deseja ser reconhecida pela qualidade de seus
serviços e não por apresentar tarifas baratas. Nossa
empresa não é uma Low-cost / Low-fare. Ao contrário, ela
é uma empresa que presta um serviço esmerado, com
pontualidade e eficiência operacionais em excelentes
níveis, acima dos 95%. Prefiro definir a Fly como uma
empresa "fair-fare": ela tem bons serviços, boa
qualidade a preço justo. E isso só é possível porque é
administrada de forma enxuta, o que diminui seus custos
e permite praticar preços competitivos.
jetsite: E o que dizem os passageiros?
Eles estão bastante satisfeitos com a qualidade e a
relação custo-benefício. Recebemos cartas de elogio,
comentando sobre a pontualidade e qualidade dos
serviços, das refeições. E não menos importante, pelo
preço das tarifas. Eles desembarcam favoravelmente
surpresos.
jetsite: E as vendas por internet, são importantes
para a Fly?
Por enquanto, fazemos apenas revervas on-line. A compra
tem que ser finalizada em nossas lojas ou por nossos
parceiros, os Agentes de Viagens. Mesmo assim, a
importância da internet em nosso mix de vendas tende a
crescer.
jetsite: Do ponto de vista operacional, como está
estruturada a Fly?
Nossa base de tripulações e engenharia de manutenção,
com 45 engenheiros e mecânicos, é em Guarulhos. Nossa
administração é no Rio. Nosso piloto chefe é o Cmte.
Móes, nosso diretor de operações é o Cmte. Cascardo e
nosso VP de operações é Paulo Roberto Bonifacio, recém
integrado ao time, que trará toda a sua experiência como
empresário de sucesso para nos ajudar a fazer a empresa
continuar crescendo.
jetsite: A manutenção é feita por vocês?
Line-maintenance sim. Os checks maiores são contratados
externamente, e normalmente feitos pela Varig. Os
motores são inspecionados e revisados pela CELMA.
jetsite: Para concluir: onde você vê a Fly em dez
anos?
Boa pergunta. Vejo a Fly cobrindo todo o território
nacional, prestando um serviço de qualidade a preços
justos, sendo comprada pelo passageiro, sendo escolhida
por opção e não apenas por preço. Vejo a Fly voando
alto, para continuar dando sentido ao slogan que
adotamos: "Fly, realizando os seus desejos".