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Boeing 747: o
rei dos céus
- Se você construir o avião, eu compro.
- Se você comprar o avião, eu construo.
O diálogo acima acabou entrando para os anais da aviação
comercial. Essa troca de gentilezas resume bem toda a
tensão que marcou o desenvolvimento, gestação e
nascimento de uma aeronave que estava fadada a não
apenas mudar a história da aviação, mas sem sombra de
dúvida, mudar o mundo em que vivemos.
Esse diálogo marcou o climax de meses de sondagens, idas
e vindas entre dois gigantes da aviação. De um lado,
Juan Terry Trippe, presidente da então poderosa Pan Am.
Do outro, William "Bill" Allen, presidente da Boeing.
Ele comprova que, desde sua concepção, o Boeing 747 não
tem nada em comum com outros aviões. Nem quando foi
projetado, em meados da década de 60. E mesmo nos dias
de hoje, o Jumbo 747 continua sem rivais. Ele só perderá
o posto de reiu dos ares com a entrada em serviço, após
2006, do Airbus A380. Até lá, e por nada menos que 36
anos, recorde absoluto na aviação, o Jumbo, como também
é conhecido, será o rei Dos Céus. The King Jumbo.
Gigantes por trás do Gigante
Juan Trippe foi o mais visionário presidente de uma
companhia aérea em todos os tempos. Em meio século, ele
não apenas criou a Pan Am: ele criou a aviação comercial
como nós a conhecemos. Dentre as várias decisões e
atitudes pioneiras que tomou ao longo de sua vida, seu
desejo de lançar o Boeing 747 talvez seja a que maior
impacto causou. Na própria Pan Am. Nas outras empresas
aéreas. Nos aeroportos por onde esse gigante passou. Em
todos nós, passageiros. E, em última análise, em todo o
planeta.
Sim, porquê efetivamente, o 747 encolheu o mundo em que
vivemos. Foi com sua entrada em serviço, em 1970, que
finalmente as viagens transcontinentais passaram a se
tornar acessíveis a centenas de milhões de pessoas em
todos os continentes. Até então, a equação econômica das
aeronaves de fuselagem estreita, da classe 707 / DC-8 /
VC-10 não permitia aos seus operadores cobrar tarifas
acessíveis ao grande público. A entrada em serviço do
747, nas asas da Pan Am, mudou isso para sempre. O Jumbo
deu asas ao mundo e uma liderança de décadas a Boeing.
A aposta de seu presidente Bill Allen mais do que foi
paga. Sabe-se hoje que o 747 foi, nas últimas décadas, o
"cash-cow", a Galinha dos Ovos de Ouro da Boeing. Mas em
1966, a empresa ainda não posssuia a hegemonia dos anos
posteriores, e lutava contra a outra gigante de seu
tempo, a poderosa Douglas. As finanças da empresa
estavam no limite, e seus projetos 707, 727 e 737 ainda
não estavam na curva positiva de geração de lucros, com
exceção talvez do 707, que já voava comercialmente há
quase 8 anos. Allen apostou tudo, a própria
sobrevivência da Boeing, e venceu.
Foi uma vitória sofrida: meses antes a Boeing havia
perdido a concorrência da Força Aérea Americana para uma
aeronave de transporte pesado, conhecida então como
CX-HLS. A vencedra foi a Lockheed com sua aeronave que
viria a ser conhecida como Galaxy. Os desenhos,
experiências, sistemas e idéias dos engenheiros da
Boeing para a aeronave militar formaram a origem do
projeto, que após extensas modificações (ex.:
originalmente, o 747 tinha a asa alta) deram origem ao
jumbo.
No ar
Após chegarem a termo, Allen e Trippe anunciaram em 13
de Abril de 1966 a encomenda da Pan Am para 25 aeronaves
por US$ 500 milhões, na maior transação da história da
aviação comercial até então.
Depois de uma programa de desenvolvimento e construção
acelerado, o protótipo, registrado N7470, fez seu
roll-out (cerimônia de apresentação) em 30 de Setembro
de 1968. Em seguida, em 9 de Fevereiro de 1969, fez seu
vôo inaugural desde Everett, cidade ao norte de Seattle,
escolhida para abrigar a nova e gigantesca fábrica da
Boeing, construída especialmente para abrigar a linha de
produção dos 747. Depois de um programa de testes e
certificações que enfrentou alguns percalços, a Boeing
finalmente teve a alegria de entregar os primeiros 747
para sua cliente Pan Am.
Preparativos feitos, convidados a bordo, tudo pronto
para o vôo inaugural entre New York e Londres, estimado
para decolar de JFK as 19:00 do dia 21 de Janeiro de
1970. Os motores Pratt and Whitney JT9D, os maiores e
mais possantes até então, apresentavam problemas
continuamente. Depois de taxiar até a cabeceira, o 747
Batizado de Clipper Young America apresentou sinais de
superaquecimento num dos motores e voltou ao terminal. A
aeronave (N735PA) foi substituída por uma outra que
estava de reserva (N736PA, Clipper Victor). Finalmente,
o vôo inaugural decolou, mas com grande atraso: somente
a uma hora da manhã do dia 22 de Fevereiro. A aeronave
estava lotada, com 362 passageiros pagantes que entraram
para a história como os primeiros da era Wide-Body.
Logo, o espaço e carisma do 747 fizeram com que operá-lo
fosse quase uma questão de honra nacional. Muitos países
subdesenvolvidos, por exemplo, possuem em suas empresas
aéreas apenas um 747, o que muitas vezes não é
necessário nem economicamente viável. E foi por contar
com tanto apelo assim, que o 747 ajudou a Boeing a
conquistar o primeiro lugar do ranking dos fabricantes
de aeronaves.
Um sucesso em várias versões
Ao longo dos anos, com o surgimento de novas versões, os
primeiros 747 das séries 100 e 200 foram sendo
gradativamente retirados das missões de transporte de
passageiros e acabaram sendo desmantelados, reduzidos a
pilhas de metal ou lingotes de alumínio fundido. Muitos
outros aguardam o inglório final, em verdadeiros
cemitérios de aviões, localizados nos desertos da
California e do Arizona.
Cinco versões básicas do Boeing 747 foram construídas. A
original, e ainda em serviço, foi a Série 100. Depois,
em 1970, a versão 200, com maior autonomia e capacidade
de carga. Em 1975, foi a vez da Série SP, Special
Performance, de fuselagem encurtada para longas
distâncias. A quarta versão básica foi a Série 300,
reconhecível externamente pelo deck superior alongado. E
finalmente, em 1988 foi a vez da versão em produção
atualmente, a Série 400.