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Airbus: Triunfo Europeu
Quando em 28 de outubro de 1972 o primeiro A300 decolou
em seu vôo inicial de testes, os seus concorrentes
norte-americanos, Boeing, Douglas e Lockheed deram de
ombros. Afinal, eles já haviam visto esse mesmo filme
antes,e muitas vezes. Foram os vários projetos de aviões
feitos pela indústria européia que fracassaram. A longa
lista incluia insucessos que iam desde o primeiro jato
puro, o britânico de Havilland Comet 1, que tragicamente
desintegrava-se em pleno vôo. Ou ainda o de Havilland
Trident, comprado por apenas meia dúzia de empresas. Sem
falar no Bristol Britannia, ou no Vickers Vanguard, que
venderam menos ainda. Ou o Dassault Mercure, que vendeu
apenas 10, isso mesmo, 10 unidades. E agora mais essa, o
Air Bus, o Ônibus Aéreo. A começar pelo inglório nome:
afinal, quem se imagina viajando em um ônibus pelos
céus? Enfim, a Airbus tinha tudo para fracassar,
pensavam os yankees.
O que eles não sabiam é que no Velho Continente, todas
estas amargas lições haviam sido aprendidas. O novo A300
representava um avanço em relação ao que existia até
então. E, a despeito dos fabricantes norte-americanos
desdenharem de seu novo concorrente, o mercado percebeu
que os Airbus eram aeronaves de qualidade. Lentamente, o
que antes parecia um sonho, aos poucos foi se
transformando em realidade.
Ao final, a Airbus triunfou, vencendo nesta guerra seus
inimigos norte-americanos: a Lockheed desapareceu do
mercado de grandes aeronaves civis em 1991. A McDonnell
Douglas, outrora um gigante, foi reduzida até ser
engolida pela Boeing. A história desta verdadeira saga
aeronáutica é o que você vai ver agora, contada pelos
aviões que hoje fazem sucesso em todas as partes do
mundo.
Nasce a Airbus
Paris, 18 de dezembro de 1970. Roger Berteille e Henri
Ziegler abrem uma garrafa de Champagne e comemoram,
junto a uma dúzia de funcionários, o estabelecimento
formal da Airbus Industrie. Uma empresa que não possuía
hangares, aviões, clientes. Apenas o sonho na cabeça
destes experientes homens da aviação francesa. Um sonho
que começou a tomar forma em 1964, quando a Sud Aviation,
fabricante do Caravelle, aproximou-se da British
Aircraft Corporation, fabricante do One-Eleven, propondo
que juntassem esforços para produzir uma aeronave de
180-200 lugares e dois motores. Estudos foram iniciados,
e no Salão de Le Bourget, no ano seguinte, os alemães
foram convidados a participar.
Com os engenheiros alemães no grupo, os estudos
prosseguiram aceleradamente. Em setembro de 1967, um
memorando de entendimento foi assinado em Londres,
formalizando a criação de um "Grupo de Estudos". Os
ingleses, ocupados com outros projetos comerciais,
abandonaram o programa em 1969, apesar dos cinco milhões
de libras que já haviam sido investidos no projeto das
asas do novo avião. Um mau começo para os bretões e para
o consórcio.
Foi quando Franz-Josef Strauss, o enérgico político
alemão, costurou um acordo pelo qual o governo alemão
financiaria diretamente a produção das asas junto à
Hawker Siddeley. Isto salvou o programa, que então já
era chamado de Airbus. Em 1972, a Fokker holandesa e a
CASA espanhola também entraram para o time, cujo
primeiro produto, o A300, já se encontrava definido.
Seria uma aeronave com dois motores, com configuração
típica para 266 passageiros, mas podendo levar até 300
(daí o seu nome, A300) e 4.150 milhas de autonomia.
Uma revolução para a época: tanta gente voando em apenas
dois motores? Para as empresas americanas consultadas
preliminarmente, tratava-se de mais um sonho europeu,
que tinha tudo para virar um pesadelo. Afinal, a
história da aviação comercial estava cheia de exemplos
de aviões europeus que fracassaram. Como exemplos, os
jatos Mercure, com apenas dez vendidos. Ou o ainda o VC-10,
o Comet, o Vanguard... enfim, a lista era grande.
Pior ainda para um consórcio formado por 5 países, com 5
línguas diferentes, sistemas de pesos e medidas
distintos, diferentes moedas... Não, não se tratava de
algo sério. Era assim que os americanos pensavam. E foi
sem muito alarde que o primeiro protótipo fez seu vôo
inaugural em 28 de Outubro de 1972. Também sem muito
entusiasmo, e tendo sido "convidada" pelo governo
francês a compra a aeronave, a Air France lançou o
Airbus em 23 de maio de 1974, voando de Paris para
Londres. Lembremo-nos que o mundo vivia em plena
recessão do "oil-shock" de 1973: faltavam passageiros.
A alemã Lufthansa esperou até 1973 para encomendar os
seus: no total, foram 9 encomendas firmes e 10 opções,
bem menos que os 360 aviões que seriam necessários para
cobrir os investimentos feitos até então. Mas o avião
era de fato muito bom: econômico, espaçoso, silencioso.
No entanto, as vendas prosseguiam lentamente. Até o fim
de 1975, somente mais quatro empresas compraram o A300:
A Korean, a Air Inter, a South African e a Indian
Airlines. Era pouco, muito pouco. O ano de 1976 passou
sem uma única aeronave ser vendida. Os aviões iam sendo
produzidos, e na falta de compradores, eram pintados de
branco. Daí surgiu a expressão "white-tail" que designa
aviões sem comprador.
Quando tudo parecia perdido, foi justamente uma empresa
americana que mudou a sorte do programa. A Eastern
concordou em investir 7 milhões de dólares treinando
seus pilotos. Em contrapartida, a Airbus pagaria por
toda a manutenção e certificação do tipo. Mas sem
comprar mesmo um parafuso sequer da Airbus. O programa
ficou conhecido nos Estados Unidos como "fly before you
buy". E deu certo. Em 2 de maio de 1977, o presidente da
Empresa, o ex-astronauta Frank Borman, anunciou a compra
de 23 firmes mais 34 opções, num investimento de 778
milhões de dólares. O programa estava salvo: nos dois
anos seguintes, a Airbus vendeu nada menos que 256
aeronaves para 32 empresas. E assim, em questão de
poucos anos, a Airbus deixou de ser mais uma fracasso
europeu para se transformar numa empresa, no mínimo, a
ser respeitada.
O A300 prosseguiu vendendo bem, sendo comecializado
também no Brasil. A Varig/Cruzeiro comprou quatro, o
primeiro chegando ao Brasil em Julho de 1980. A Vasp,
recebeu três em 1983, estes ainda em operação. O que
pouca gente sabe é que a finada Transbrasil tentou
comprar duas aeronaves ainda em 1973, mas teve o pedido
de financiamento negado pelo governo e pelo Eximbank.
Desenvolvendo uma família
A Airbus, sempre atenta aos bons exemplos do mercado,
percebeu desde o princípio que para sobreviver
precisaria desenvolver uma família de jatos, a exemplo
da Boeing. Se isto hoje soa óbvio, pergunte às falecidas
Douglas e Lockheed porque não o fizeram...
Assim, o A310 foi o segundo modelo da família da Airbus.
Concebido para complementar a operação do A300, foi
encomendado inicialmente pela Lufthansa e Swissair. A
primeira versão desenvolvida foi a 200, de médio
alcance. Tendo realizado seu primeiro vôo em 3 de abril
de 1982, iniciou serviços regulares com a Lufthansa em
1983.
Em seguida, veio a versão melhorada do A300 básico. Em 8
de julho de 1983, a Airbus lançou o A300-600. Hoje, é o
único modelo do tipo em produção, tendo incorporado
vários avanços tecnológicos e aerodinâmicos em relação
ao modelo original. É difícil distinguir um A300-600 de
um modelo B2 ou B4 originais. A maneira mais fácil é
olhando para a ponta das asas: no A300-600, elas possuem
wing fences, superfícies que melhoram o escoamento do
ar, reduzindo o consumo.
Em seguida, o consórcio europeu entrou num novo nicho: o
de operações de média/longa distância. Valendo-se da
alta confiabilidade dos motores aeronáuticos, surgiu uma
nova categoria, a ETOPS (Extended Twin Operations) que
permitia vôos prolongados sobre os oceanos. Para estes
mercados, em 8 de julho de 1985 deu-se o primeiro vôo do
modelo A310-300, de longo alcance. Este acabou por
substituir a versão 200. Com a versão 300, o A310 passou
a competir frontalmente com o 767, ampliando a briga com
a Boeing para mais uma faixa do mercado.
Com sua entrada em serviço, efetivamente a Airbus
melhorou suas vendas, não apenas do A310, mas também do
A300. A lição fora aprendida: para ter sucesso no
mercado de aviação comercial, desenvolver uma família de
produtos é fundamental. Várias empresas aéreas
tornaram-se clientes da Airbus com a entrada em serviço
dos A310. Foi, de fato, o início da grande virada que a
Airbus deu no mercado, quando partiu com tudo atrás da
líder Boeing.
Pau pra toda obra: surge a família A320
Até a entrada em serviço do A320, a Airbus competia com
a Boeing e a McDonnell Douglas em apenas dois segmentos
de mercado: média etapa/média capacidade e longa
etapa/média capacidade. A Airbus não possuia nenhum
produto de grande capacidade de passageiros com grande
autonomia e nenhum produto na categoria abaixo de 180
assentos e fuselagem estreita, onde tanto o Boeing 737
como o MD-80 dividiam o mercado.
Foi então que uma linda princesa, ninguém menos que a
saudosa Diana, em 14 de fevereiro de 1987, perante
milhares de convidadados da Airbus na fábrica de
Toulouse, derramou champagne no nariz do primeiro A320
construído. Era o consórcio europeu mandando claramente
um recado para o outro lado do Atlântico: a Airbus veio
para ficar. Para se ter uma idéia do estado de ânimos,
em seu discurso na ocasião, o Primeiro-Ministro Jacques
Chirac afirmou textualmente que "O Consórcio Airbus não
será ameaçado pelos americanos, que mataram o Concorde.
O A320 já se constitui num espetacular sucesso. Nós
iremos lutar nesta guerra comercial, batalha por
batalha, golpe por golpe, pois é o futuro da industria
aeronáutica e os empregos que ela gera que estão em
jogo".
Com os ânimos exaltados, os presentes assistiram ao
lançamento do mais moderno jato até então construído.
Para se ter uma idéia, ele não possuia manche: apenas um
joystick, que como nos caças a jato e nos video-games,
era utilizado para pilotar o avião. E mais: dependendo
dos comandos efetuados pelo piloto, se o computador
considerasse a manobra indevida ou arriscada, (por
exemplo, aproximando-se demais do terreno, voando lento
demais, enfim, voando fora dos limites de uma operação
segura), o computador simplesmenteassumia para sí o
controle da aeronave, cancelando a atuação dos pilotos.
Espantoso: nunca se vira nada assim. Um computador que
"rouba" o comando da aeronave do próprio piloto. Que dá
a última palavra à bordo? Que ousadia. Colocando lenha
na fogueira da eterna batalha de relações públicas, a
piada da vez na América do Norte é de que os aviões da
Airbus, no futuro, só teriam como tripulantes um
comandante e um cachorro: o comandante para dar água e
comida ao cão. E este, para morder o comandante caso o
mesmo quisesse assumir os controles.
Efeito sanfona
O sucesso sem precedentes do A320 deu imediatamente
origem à mais dois modelos. O primeiro foi o A321, que
basicamente é um A320 espichado, com capacidade média de
180 lugares.
A Airbus é realmente uma empresa de inconteste
excelência na qualidade de seus projetos: utilizando-se
das asas, cauda, e outros sistemas e partes do A320,
criaram o A321. Para a fábrica, isto significa milhões
de dólares economizados em pesquisa, desenvolvimento e
manufatura. Estes benefícios são repassados aos clientes
da Airbus, através de um produto mais barato, e
finalmente, ao consumidor, com a gradativa e inexorável
queda nos custos das passagens.
O A321, que fez seu vôo inaugural em 11 de março de
1993, 1 foi também o primeiro Airbus a não ser montado
em Toulouse. Com a crescente importância da Deutsche
Airbus como parceira no consórcio, os alemães iniciaram
uma batalha interna para dividir com os franceses a
responsabilidade da montagem final e programa de testes
de vôo. A Deutsche Airbus chegou a ameaçar sair do
consórcio, caso os A321 não fossem montados na Alemanha.
Os franceses capitularam: hoje, as principais linhas de
montagem de aeronaves de fuselagem estreita da Airbus
estão situadas em Finkenwehrder, próxima a Hamburgo, na
Alemanha. Lá é feita a montagem final dos A321 e A319,
que foram também as primeiras grandes aeronaves a serem
construídas na Alemanha após a Segunda Guerra Mundial
(por determinação dos aliados, a Alemanha esteve
proibida por vários anos de construir grandes aviões).
Assim, é com redobrado orgulho que os alemães vêem os
A321 e A319 deixarem as linhas de montagem.
E como fazer para montar aeronaves em dois países, sendo
que as peças são provenientes de até 8 nações? A solução
foi trazê-las pelo ar, inicialmente através dos Super
Guppies, que ironicamente são Boeings 377 dos anos 50
bastante modificados. Mas era necessário aposentá-los.
Surgiu então uma nova aeronave: o A300-600ST (Super
Transporter), mais conhecido como Beluga, na verdade um
A300-600 altamente modificado. Seu estranho formato tem
um objetivo: com seu grande volume interno, é capaz de
transportar, de uma só vez, conjuntos completos de asas
para as linhas de montagens finais da empresa de
Toulouse e Hamburgo. Apenas quatro Belugas foram
construídos inicialmente, mas eles são o melhor
testemunho da engenhosidade e ousadia do consórcio
europeu, capaz de proezas como esta para enfrentar os
gigantes norte-americanos.
Sem dar trégua à Boeing, a Airbus desenvolveu o A319,
para competir diretamente com os 737-300 e 500. O A319 é
um A320 "light": têm o peso reduzido, motores menos
potentes, estrutura mais leve e transporta
aproximadamente 130 passageiros. Entrou em serviço em
março de 1996 através da Swissair. A tecnologia da
Airbus permitiu algo inédito, conhecido como CCQ (Cross
Crew Qualification). Com uma pequena adaptação que não
leva mais do que um dia, as tripulações dos A319/320/321
tornam-se qualificadas a pilotar não apenas estes três
tipos, como também os A330 e A340.
É um fato assombroso, se pensarmos que o mesmo piloto
pode sair da cabine de um A319 para 130 passageiros
direto para comandar um A340-300 com 440 assentos. O
segredo é que os computadores fazem com que a operação
dos diferentes tipos tenha um "feeling" para o piloto
praticamente idêntico. Milhões e milhões de dólares são
economizados desta forma em treinamento, com maior
flexibilidade operacional.
Com essa agressividade e tecnologia, desbancou a
McDonnell Douglas da segunda posição no ranking mundial
de construtores, fazendo a participação desta no mercado
despencar para pouco menos de 5%. Com isto, a outrora
gigante de Long Beach, que com o DC-3 e seus sucessores
dominara os céus, desapareceu. Uma prova de que a
indústria de construção de aeronaves comerciais é uma
das competitivas que existe.
Big Buses
A Airbus, embalada pelo sucesso dos A320/21 e A319
queria ir mais alto e mais longe. Literalmente.
Os programas do A330 e A340 foram lançados
simultaneamente, num dos mais ambiciosos lances da
ousada trajetória da Airbus. Disposta, segundo o seu
presidente Jean Pierson, a se tornar a "líder mundial
dos fabricantes de aeronaves civis", a Airbus partiu
para os nichos de mercado até então não disputados: os
vôos de longo alcance e de alta capacidade. A entrada da
Airbus neste segmento foi em grande estilo: logo de
saída, não apenas um, mas dois novos aviões.
O segredo deste lance ousado foi que os europeus
desenvolveram um projeto de asa excepcional. Com a mesma
estrutura básica, a Airbus pode instalar um ou dois
motores em cada asa. Com praticamente a mesma fuselagem,
caudas, sistemas, cabines de comando, etc, a Airbus foi
capaz de oferecer ao mercado o bi-reator A330-300, para
até 420 passageiros ou os quadri-reatores A340-200 e
A340-300. Estes dois, para vôos de longa duração.
Quanto ao A330, descobriu-se que ele, em vôo de
cruzeiro, consome por passageiro menos combustível por
quilometro voado do que um carro médio, rodando numa
estrada. Um feito prodigioso para a aviação e mais uma
mostra de todo o engenho da Airbus. É por esta razão
que, a despeito de um avião como estes novo custar algo
em torno de 150 milhões de dólares, com sua economia de
combustível, operação e manutenção ele praticamente se
paga sozinho.
O desenvolvimento do A330 não parou por aí: em 13 de
agosto de 1997, a mais nova versão do A330, o modelo 200
fez seu primeiro vôo. Esta é uma versão de longo
alcance, capaz de voar 6.450 milhas (12.000 km). Com
fuselagem encurtada em relação ao A330-300, acomoda em
média 270 passageiros. No Brasil, é operado pela TAM.
Mas foi com seu primeiro quadri-reator, a Airbus de
fato, voou longe. De início, duas versões do A340 foram
construídas: a 200, de fuselagem mais curta, para 263
lugares em média e a versão 300 com 295 assentos
divididos em três classes de serviço. A Air France e a
Lufthansa foram as primeiras a encomendar e receber os
aviões: Um série 200 para a Lufthansa em 29 de janeiro
de 93 e um Série 300 para a Air France em 26 de
fevereiro do mesmo ano.
O A340 começou a bater recordes: no Salão de Le Bourget
de 1995, a Airbus conseguiu um grande feito: um A340-200
partiu de Paris, fez uma escala em Auckland, Nova
Zelândia, e retornou no dia seguinte, dando a volta ao
mundo com apenas uma escala. O fato serviu para aguçar
as espectativas dos clientes, que apostam nas novas
versões de ultra-longo alcance. Mas antes que isso
acontecesse, era preciso rever alguns conceitos. Até
porque a briga esquentou de vez com a Boeing, quando
esta adquiriu o controle da McDonnell Douglas. A
pricípio, a empresa européia entrou com uma ação contra
a medida. Depois a razão falou mais alto. Até porque
antes, a própria Airbus precisava arrumar sua casa: anos
de um consórcio multinacional, com 5 línguas diferentes
atrasavam processos e encareciam os produtos. a Airbus
finalment se reorganizou, deixando de ser um consórcio e
transformando-se numa "identidade única", agora sob o
comando de Noël Forgeard, que veio substituir Jean
Pierson.
Com a casa em ordem, era hora de voltar aos novos
produtos. Foram lançados os novos A340, conhecidas como
modelos A340-500 e A340-600: maiores, voam mais longe e
têm a fuselagem mais longa, capazes de transportar até
400 passageiros em três classes. Partindo da célula
básica do Airbus A340-300, foram concebidos dois
modelos: o A340-500 e o A340-600, este com 9,07 metros a
mais de comprimento que um A340-300, com capacidade para
380 passageiros numa configuração de três classes.
O A340-500 é um pouco menor que o -600, sendo 3.19
metros mais longo que o A340-300. Leva até 316
passageiros em três classes, mas, por ter a mesma
capacidade de combustível do modelo -600, é capaz de
realizar vôos de ultra-longo alcance, como Cingapura-Los
Angeles. O alcance máximo projetado do A340-500
ultrapassa os 15.500km. Nos dois modelos, outras
mudanças importantes são um maior estabilizador vertical
e maior envergadura da asa. A grande novidade porém fica
por conta dos motores. As versões -200 e -300 dos A340
são consideradas por muitos especialistas como
sub-motorizadas, o que lhes valeu o nada honroso apelido
de "rolhas de aerovia" nas rodinhas de pilotos.
Os novos modelos trataram de corrigir esta
característica de seus antecessores: são equipados com
motores Rolls Royce Trent 500, desenvolvendo 56.000lb de
empuxo cada um, permitindo velocidades de cruzeiro ao
redor de Mach 0.85. O lançamento oficial do programa foi
feito em 1997 durante o Salão Aéreo de Le Bourget. O
primeiro vôo do A340-600 foi realizado em abril de 2001
e as entregas começam em julho de 2002 para a Virgin
Atlantic (-600) e dezembro de 2002 para a Singapore
(-500).
Crescendo nas duas pontas
Finalmente, para completar a linha de produção, ficaram
faltando as duas pontas do mercado: a faixa de larga
capacidade/longo alcance, até então ocupada apenas pelo
747. E finalmente o mercado de 100 assentos, que já se
aproxima mais da aviação regional.
Na faixa inferior, surgiu o verdadeiro "babybus", o
A318. Em meados da década de 90 a Airbus lançou sua
primeira iniciativa no desenvolvimento de uma aeronave
com capacidade próxima a 100 passageiros. Naquele
momento a idéia seria o desenvolvimento da família
AE31X, em parceria com a Alenia, AVIC(China) e Singapore
Technologies, comercializados nas versões AE316 e AE317
e com capacidades indo de 95 a 125 passageiros. Um
Memorando de Intendimento chegou a ser assinado entre as
partes porém em 1998 a Airbus abandonou o projeto
alegando que ele não seria economicamente viável. Caso
tivesse sido levado adiante, o protótipo realizaria seu
primeiro vôo em 2002 e a entrada em serviço em 2003.
Por outro lado, a Airbus não abandonou o conceito pois
mesmo antes do cancelamento do AE31X realizava estudos
sobre a viabilidade de um encurtamento do A319, e
efetivamente lançou o novo modelo, com o nome de A318,
no salão de Farnborough de 1998. A capacidade do novo
avião ficou entre 107 e 127 passageiros, com a fuselagem
quatro seções e meia menor, porém com a mesma asa do
A319. Devido ao menor comprimento um pequeno aumento da
deriva vertical foi feito, mantendo a estabilidade
horizontal. Ao contrário dos seus outros aviões de
fuselagem estreita, o A318 é impulsionado por dois
motores PW6124, desenvolvidos especialmente para ele.
Totalizando 108 encomendas, incluíndo-se aí 25 feitas
pela TAM, a Airbus tem tudo para fazer dele mais um best
seller.
Mas o que mais chama a atenção na história do consórcio
é a ousadia do fabricante ao desenhar o maior jato de
todos os tempos. Trata-se do A380, a resposta da Airbus
ao domínio da Boeing neste segmento. O mais novo membro
da família Airbus nasceu da constatação de que, dentro
de um período de tempo bastante curto, aeroportos de
cidades como Tokyo, Londres e New York não poderão
receber um número maior de vôos. Daí a necessidade de
transportar mais passageiros em cada aeronave, em cada
slot de tráfego. Até mesmo os 747 se tornarão pequenos
para algumas rotas de alta densidade. Tanto a Boeing
como a Airbus devotaram anos de estudos, chegando até a
unir forças para criar um projeto conjunto, entre 1990 e
1993. Não deu certo e a Airbus, que tinha no A340 sua
maior aeronave, resolveu que partiria para um projeto
totalmente novo. A Boeing, por sua vez, criaria novas
versões do 747. Os custos de desenvolvimento seriam,
respectivamente, 13 e 6 bilhões de dólares.
O fato é que a Airbus apostou tudo no seu gigante. Os
programas foram anunciados quase simultâneamente. O A380
venceu todas as disputas, e o "novo" 747 foi cancelado.
Custando US$ 230 milhões, o novo megajato será o
primeiro a ter dois andares em toda a extensão da
fuselagem, acomodando seus passageiros na configuração
2-2-2 (deck superior para a primeira classe e business
class) e 3-4-3 no deck principal. O acesso ao deck
superior será feito por escadas nas duas extremidades do
deck principal. Com capacidade para 555 passageiros em
configuração de 3 classes, deverá apresentar custos de
operação 20% inferiores por passageiro transportado em
relação ao 747. Vai voar longe: terá 7,650 nm de
autonomia com peso máximo de 540 toneladas. Apesar de
sua capacidade, será pouco maior em área ocupada que um
747-400, sendo apenas 3 metros mais longo que o Boeing.
Este tamanho foi ditado pela necessidade de utilizar a
infraestrutura aeroportuária existente.
O A380 será montado em novas instalações da Airbus em
Toulouse, que receberá partes do avião vindas das outras
fábricas. A montagem final, pintura e instalação de
interiores será em Hamburgo. Além da Virgin Atlantic, a
Singapore, Air France, Emirates, Fedex, Qatar Airways,
Qantas, Lufthansa e ILFC já colocaram 97 encomendas
firmes. Outras empresas como a Ibéria, JAL e United
estão sendo cotadas para entrar logo no time de
compradores. A Fedex é a empresa lançadora do modelo em
versão cargueira, batizada de -800F. Dez unidades com
capacidade de 150t de carga paga foram encomendadas,
principalmente para os vôos transpacíficos da empresa.
Os motores do A380 podem ser tanto Rolls Royce Trent 900
ou Engine Alliance GP 7200, ambos na casa de 70.000 lb
de empuxo.
O protótipo fará seu vôo inaugural em 2005. Quando alçar
os ares, o novo leviatã talvez faça com que um ou dois
executivos da Boeing pensem com seus botões: "puxa, e eu
que desdenhei daquele "Air Bus" em 1972..."
Gianfranco Beting