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Transbrasil e seus jatos coloridos / As cores da Transbrasil
Os jatos da Transbrasil foram coloridos como um
arco-íris. A empresa de Omar Fontana foi sempre
inovadora. Além de novidades no serviço de bordo, teve
no vistoso padrão de pintura adotado pelas aeronaves sua
manifestação mais aparente.
Com a mudança do nome da empresa, em junho de 1972, de
Sadia Transportes Aéreos para Transbrasil SA Linhas
Aéreas, Omar achou por bem mudar também o visual. Assim,
a primeira aeronave pintada foi o então recém
incorporado PP-SDS, um BAC One-Eleven.
O esquema inicial contemplava uma amadorística logotipia
em branco sob as janelas. A posição não mudou mais até
os anos 90, mas logo tanto a logomarca quanto o logotipo
foram cuidadosamente retrabalhados. Com pequenas
variações, permaneceram os mesmos nos 25 anos seguintes.
Com a chegada dos primeiros Bandeirante em abril e do
One-Eleven PP-SDT em maio de 1973, o esquema de duas
cores mostrou todo o seu vigor. Não apenas eram os
aviões coloridos, como cada um apresentava diferentes
combinações de cores, em dois tons.
Com esse padrão, Omar Fontana resolveu homenagear as
riquezas naturais do Brasil.
Assim, as aeronaves que foram sendo incorporadas e
repintadas, passaram a representar os oceanos
brasileiros e suas recém conquistadas 500 milhas
territoriais (PP-SDU, PT-TCB e PT-TBD), nosso café (PP-SDQ
e PT-TBC), o verde de nossas matas (PP-SDT, PT-TBB), o
trigo de nossos campos (PT-TCA, PT-TBE e PP-SDR).
Forçando um pouco a imaginação, as uvas do sul do Brasil
(PP-SDV e PT-TBF) e finalmente, o sol que aqui brilha
foi representado na pintura do PP-SDS e do PT-TBA.
Por sua combinação de amarelo-mostarda e vermelho, estes
rapidamente foram apelidados de "salsichão". Da Sadia, é
claro.
Esse esquema de pintura tornava a então pequena frota da
Transbrasil visível em qualquer aeroporto, e muito
ajudou a difundir a imagem da empresa.
Outros dois BAC-One-Elevens foram recebidos em caráter
de arrendamento temporário, em 1974. Vieram da britânica
Court Line, que também operava seus aviões em cores
chamativas. Como os dois eram pintados em tons de rosa,
logo foram apelidados de "Pantera Cor-de-Rosa.
Apenas um dart Herald foi pintado nessas cores, uma
pena. O Jetsite logo irá publicar como ficariam os
Heralds em outras combinações dessa pintura.
Chegamos ao ano de 1975: Omar
Fontana resolveu inovar novamente na identidade visual
de sua empresa.
Com a chegada do terceiro 727-100, inaugurou o último e
mais chamativo padrão de pintura. Batizado de "Energia
Colorida", cada aeronave representava diferentes
modalidades de obtenção de energia. Assim, tivemos o
PT-TYU Energia Petrolífera, PT-TYT Energia Solar, PT-TYR
Energia Solar II, PT-TCA Energia Eólica, PT-TYS Energia
Cinética.
Não satisfeito, Omar ainda mudava de tempos em tempos os
tons e combinações de cores. O PT-TCA teve nada mais
nada menos que 5 pinturas diferentes nos 8 anos em que
voou para a empresa, provavelmente um recorde mundial.
Bom para os amantes da aviação, que sempre tinham
novidades nos aeroportos.
Em 1978, Omar percebe que era hora de mudar. As cores
chamativas, que tanto seucesso - e algumas controvérsias
- fizeram nos anos 70, começaram a desaparecer,
substituídas pelo arco-Íris.
Com a chegada de mais um 727 em setembro de 1978 (de
prefixo PT-TYM), Omar resolveu colocar "todo o espectro
solar" em cada avião. Encomendou à sua house-agency,
Intermarket, o novo visual.
Inicialmente, a pintura contemplava uma fuselagem bege
(escolha do próprio Omar) e as cores do arco-íris na
cauda. Aplicadas pelos pintores da empresa, estes
tentaram, sem sucesso, misturá-las em suaves passagens
umas às outras, utilizando somente a pistola de pintura.
Esta pintura acabou tendo um caráter experimental: o
resultado deixou muito a desejar.
Voltando às pranchetas, os designers da Intermarket
encontradram uma solução: a aplicação de listas
claramente definidas, com diferentes larguras, criando
de longe um efeito de fusão cromática-exatamente como
fizera a Air France alguns anos antes. Embora de maior
complexidade na aplicação, o desenho podia ser
normatizado e aplicado sem problemas. E, ora bolas,
ficou espetacular.
A fuselagem também sofreu uma sensível alteração: passou
a ser pintada num tom quente de branco, ao invés de
bege.
Outro detalhe deste padrão é que as asas também eram
pintadas, em 6 das 7 cores encontradas na cauda, à
exceção do amarelo, que não apresentava contraste
suficiente com o branco para ter a logomarca visualizada
na fuselagem. Essa pintura, com pequenas variações, foi
utilizada até o ano de 1998, quando entrou em vigor o
esquema atual.
Essas pequenas variações ocorreram a partir de 1986,
quando do recebimento dos primeiros 737-300: as asas
deixaram de ser pintadas, diminuindo os custos de
manutenção. Mesmo assim, as logomarcas, prefixos, portas
e saídas de emergência eram pintadas nas seis variações
de cores citadas anteriormente.
Em 1990, outra mudança: o azul médio (no jargão da
empresa, "azul Índigo" foi escolhido como cor oficial da
logomarca, encerrando definitivamente as variações,
mesmo que sutis, de pintura entre as diferentes
aeronaves. Todos os 737 e 707 passaram a ter logos,
portas e matrículas pintadas no azul médio. Permaneceram
no padrão anterior apenas os Boeings 767-200 originais (TAA,
TAB, TAC). Omar decidiu não arcar com os custos de
re-pintura das asas do TAB (laranja) e TAC (verde). O
TAA já era azul médio desde seu primeiro vôo.
Em 1995, mais uma mudança: o branco da fuselagem passou
à um tom bem mais frio, no padrão de cor branco
Lufthansa (a Boeing possui mais de 30 matizes de branco
à disposição de seus clientes). Esta foi uma briga
pessoal minha, que insisti junto à Omar Fontana. Ele
concedeu, em caráter provisório, para que fizéssemos um
teste. O 737-300 PT-TEQ foi o primeiro a ser pintado no
novo branco, que refletia muito mais a luz e parecia
estar sempre mais "limpo" que o antigo. Quando o avião
ficou pronto, foi rebocado para fora do hangar e
estacionado ao lado de outro 737 no branco "velho". Omar
desceu de sua sala, olhou por dois minutos e abriu um
sorriso. Enfim, virou-se para mim e disse: "Tinha razão:
pode considerar aprovado, rapaz".
Em 1995, também por sugestão minha, o logotipo aumentou
de tamanho e mudou de lugar, passando para cima da linha
da janela. Esta mudança permitia melhor visualização da
marca se as aeronaves estivessem estacionadas nas
passarelas telescópicas dos aeroportos.
Finalmente, em 1998 a empresa apresentou sua última
identidade visual, uma variação do tema do arco-íris,
desenvolvida por uma empresa de design gráfico
norte-americana.
Hoje, os aviões da Transbrasil ficaram na saudade. Nas
páginas do jetsite, fica o registro da mais colorida
empresa aérea do Brasil. Um triste fim, especialmente
para aqueles que amam a aviação, que vibravam ao ver nos
aeroportos as cores ousadas e alegres de uma empresa que
tinha, então, um futuro colorido pela frente.
Gianfranco Beting