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Lufthansa: 75 anos de excelência
Nasce um gigante
A aviação comercial alemã começa em 1909 com a criação
da primeira "companhia aérea" do mundo, a DELAG,
Deutsche Luftschiffahrts AG, que em 28.06.1910 colocou
em operação o LZ7 "Deutschland", um dirigível capaz de
transportar 24 passageiros. Até eclodir a Guerra em
1914, 10.088 passageiros foram transportados.
Reconhecendo 1926 como ano de sua fundação, as origens
da Lufthansa podem ser datadas de 13 de dezembro de
1917, quando foi criada a DLR - Deutsche Luft-Reederei,
uma pequena empresa transportando jornais entre Berlim e
Weimar, realizando seu primeiro vôo em 5 de fevereiro de
1919.
Naquele mesmo 1919, juntamente com empresas da
Dinamarca, Reino Unido, Holanda, Suécia e Noruega foi
fundadora da IATA, mas as restrições impostas pelas
forças de ocupação (a Primeira Guerra Mundial mal tinha
acabado) impediram um desenvolvimento mais imediato de
sua malha.
Em 3 de agosto de 1920, começaram os vôos entre Malmö-
Kopenhagen- Hamburg- Bremen- Amsterdam, em colaboração
coma KLM e a dinamarquesa DDL. Durante a primeira metade
da década de 20, a empresa passou por diversas mãos. Em
1925, com o nome de DAL - Deutsche Aero Lloyd, fazia
parte de um grupo de empresas de transporte naval.
A Alemanha possuía então duas grandes empresas, a DAL e
a Junkers Luftverkehr. Pouco rentáveis, dependiam de
subsídios para continuar operando. O Reich decidiu-se
pelo fim dos subsídios levando à fusão das duas: em
janeiro de 1926 nascia a Deutsche Luft Hansa.
A marca que se tornaria símbolo de excelência nas
próximas décadas foi então criada, combinando elementos
herdados de suas antecessoras. Da AeroLloyd a empresa
herda o seu símbolo, o grou. Da Junkers, as cores azul e
amarela. Em 6 de abril de 1926 começaram os serviços
regulares de carga e passageiros. em pouco tempo, já
eram 15 destinos internacionais e 57 domésticos,
operados pelos Junkers F-13, W-24, Dornier Komet III,
Wal e Fokker F II.
Ao final do primeiro ano, os 1.527 funcionários da
empresa comemoraram os 56.268 passageiros transportados
e os 6.537.434 km voados. Vôos por instrumentos e
noturnos, por exemplo, começaram entre Berlim e
Königsberg, grandes novidades para as recém testadas e
incipientes tecnologias de então, colocando a Lufthansa
numa posição de pioneira nos serviços aéreos europeus.
Em 1927, Praga entrou na malha de rotas, bem como Roma,
Veneza e Oslo. A empresa crescia e jea mostrava sua
capacidade técnica. Por exemplo, com ajuda da Lufthansa,
a Ibéria na Espanha iniciou seus primeiros vôos. Em
05.01.1928, vôos para Marselha e Barcelona foram
iniciados. Em abril, vôos exclusivos de carga ligaram
Berlim a Paris e Londres. Vôos non-stop entre Berlim e
Zürich foram inaugurados, realizados em 5h15 min de vôo,
um avanço para a época. Em junho, nova rota:
Berlim-Viena-Roma. Antes do ano acabar, foram publicados
os horários dos primeiros vôos noturnos ligando Berlim à
Londres e Paris.
Em 1930, começam os vôos para Istambul. Também o
München-Roma non-stop, em 5h30min de vôo transalpino,
começa a ser voado regularmente. Em 1932, os Junkers Ju
52 começaram a formar a base da frota da empresa. Um
outro tipo, menores porém mais veloz, entrou em operação
no ano seguinte. Eram os Heinkel He70, com velocidade
máxima de 350km/h, logo estabelecendo as
"rotas-relâmpago" entre as principais cidades alemãs. Em
1934, o milionésimo passageiro da Lufthansa foi
transportado. No ano seguinte, em fevereiro, o Cairo
começou a ser servido. Em 1938 chegaram os dois gigantes
quadrimotores; os Junkers Ju90 e Focke Wulf FW 200
Condor.
Crescimento interrompido: a tragédia da Segunda Guerra
Em 1939, antes do início da Segunda Guerra, a malha de
rotas já era extremamente densa na Europa, chegando,
através de empresas coligadas, até Beijing e a América
do Sul, percorrendo rotas de mais de 80.000 km com 162
aeronaves. Era a maior empresa aérea da Europa: detinha
7.5% de TODO o tráfego aéreo mundial!
Explodiu a Segunda Guerra. A Lufthansa foi obrigada a
interromper sua expansão. Aeronaves promissoras, como o
Ju 90 e o FW 200 Condor - que voara em 1938 sem escalas
para Nova York - foram requisitadas no esforço de guerra
ou simplesmete destruídas nos raids aéreos. A Lufthansa
concentrou-se em vôos intra-germânicos e nas ligações
com os poucos países neutros. Mas sua frota foi sendo
reduzida gradativamente, reflexo da lenta derrocada
imposta ao Terceiro Reich.
Finalmente, em 20 de abril de 1945, pousou em Berlim o
último vôo regular da empresa: procedente de Barcelona,
o derradeiro Ju 90 aterrissou no aeroporto Tempelhof. Na
noite de 22 para 23 de abril, outro Ju 90 ainda decolou
para Warnemünde, num serviço não-regular que seria, de
toda maneira, a última operação da primeira parte da
história da Lufthansa. Ao final do conflito, sua frota
fora reduzida a 5 aeronaves.
Céus vazios
A Alemanha, destroçada na guerra, ficou no chão. De asas
cortadas, a antiga Lufthansa - ou qualquer outra empresa
aérea de capital germânico - realizando quaisquer vôos
domésticos seriam vetados pelos vitoriosos aliados. Vôos
na Alemanha, apenas pelas asas da belga SABENA e da
escandinava SAS.
A partir de 1953, o antrigo diretor de tráfego da
Lufthansa, Hans Bongers, estabeleceu em Köln o Büro
Bongers, um escritório onde ensaiava os primeiros passos
de uma reorganização que levaria, eventualmente, ao
renascimento da Lufthansa. Em agosto, 4 modernos
Lockheed Constellation foram encomendados.
Nascia a Luftag, com base em Hamburgo. A empresa começou
a selecionar, entre os funcionários remanescentes da
antiga Lufthansa, o pessoal que iria dar novamente asas
à uma empresa aérea alemã. Quatro comandantes da antiga
Lufthansa foram escolhidos para comandar as novas e
modernas aeronaves: os "Flugkapitän" Blume, Rathje, Mayr
e Topp. Em 6 de agosto de 1954 a empresa mudou sua razão
social, passando a chamar-se Lufthansa AG. Em janeiro
seguinte, pousaram nas instalações de Fuhslbüttel
equipamentos comprados novos de fábrica: quatro Convair
340.
Renascimento e expansão
Finalmente, interrompendo um longo hiato de quase dez
anos, ganharam os céus em primeiro de abril de 1955 os
Convair da Lufthansa, cumprindo vôos entre Hamburg,
Düsseldorf, Frankfurt, Köln/Bonn e München. As rotas
totalizavam 8.000km. As aeronaves da empresa eram ainda
comandadas por pilotos norte-americanos ou ingleses, e
tinham por co-pilotos os primeiros alemães. Em maio de
1955 chegaram os primeiros Lockheed Constellation. Em 8
de junho foi inaugurada a primeira rota transatlântica,
com destino à New York. Em 23 de março de 1956, decolou
o primeiro vôo internacional com tripulação técnica 100%
alemã, também com destino à New York.
Vôos para a América do Sul foram retomados em 15 de
agosto de 1956. Começando em Hamburg, os Constellations
faziam escalas em Düsseldorf, Frankfurt, Paris, Dakar,
Rio de Janeiro, São Paulo e Buenos Aires. Em setembro
seguinte, o Oriente recebeu as asas da Lufthansa:
Istambul, Beirut, Bagdad e Teheran.
O ano de 1957 começou bem: cinco novos Convair 440 foram
incorporados. As cidades servidas aumentaram: Zürich,
Damasco, Viena, Copenhagen, Montevidéu. Os primeiros
quatro Starliner, Lockheed L1649A foram recebidos. No
ano seguinte, a expansão de serviços e tráfego emplacou
60% de crescimento sobre os números de 1957. Em 9 de
abril, Santiago do Chile entrou na malha de rotas. Em
outubro o primeiro de 9 Vickers Viscount V814 foi
recebido. Ao final do ano, a frota totalizava 32
aeronaves: 11 Constellations, 9 Viscounts e 9 Convairs.
Em 11 de janeiro de 1959, ocorreu uma tragédia, o
primeiro acidente fatal da empresa. O Constellation
D-ALAK bateu nas águas da Baía da Guanabara e acabou
caindo a algumas dezenas de metros da cabeceira,
segundos antes do pouso no Rio De Janeiro. No total, 35
ocupantes perderam a vida. Passado o trauma pela
tragédia, a expansão prosseguiu. No mesmo ano, novas
cidades foram servidas: Estocolmo, Cairo, Genebra, Nice,
Atenas, Karachi, Calcutá e Bangkok. Eram agora 44
cidades em 28 países.
Os anos 60 chegam à jato
O mundo entrara definitivamente, em larga escala, na era
da aviação a jato, pelas asas dos Boeings 707 e Douglas
DC-8, os mais bem-sucedidos jatos transcontinentais de
primeira geração. As grandes companhias aéreas mundiais,
com exceção das empresas britânicas e do bloco
socialista - que prestigiavam seus produtos locais-
escolhiam entre um ou outro jato para equipar suas
frotas de longo curso. A Lufthansa escolheu a Boeing,
num casamento marcado por sucessos.
As 12:00 do dia 2 de março de 1960 pousou em Hamburg o
primeiro Boeing 707-430 da Lufthansa, matriculado
D-ABOB. Trazido pelos comandantes Rudolph Mayr e Werner
Utter, o 707 transformou da noite para o dia a maneira
de viajar na empresa. Vinte e sete dias depois foi
inaugurado o primeiro dos gigantescos hangares da
Lufthansa em Frankfurt, que desde então converteu-se em
sua principal sede operacional. Vôos para San Francisco,
com escalas em Paris e Montreal foram inaugurados, bem
como as ligações Hamburg-Dhahran. Os anos 60 começaram a
jato.
Novos jatos, novos destinos
Em 1961, Tokyo entrou no mapa, num vôo de 25 horas desde
Frankfurt. Em 20 de maio, os 707 decolaram pela primeira
vez com destino à América do Sul. Chegaram 4 Boeings
720B para etapas médias, usados então nos vôos para a
Ásia. No ano seguinte, a empresa iniciou vôos para a
África, ligando Frankfurt a Lagos, Khartoum, Nairobi,
Salisbury e Johannesburg. Em 1963, New Delhi e Palma de
Majorca passaram a contar com os vôos.
Em 1964, aterrissaram na empresa seus primeiros jatos
exclusivamente destinados a vôos de média etapa: os
Boeing 727-100 "Europa Jet" de um total de 12
encomendados. Chegou também uma grande novidade para a
época: o primeiro simulador de vôo de 727.
Amsterdam, Trípoli e vôos transpolares para Tokyo, via
Copenhagen e Anchorage, foram iniciados. Transportando
dez milhões de passageiros (desde 1955), a empresa pela
primeira vez em sua história apresentou lucro
operacional. Hans Bongers e Wolfgang Kittel passaram o
comando da empresa para Herbert Cullmann.
Em 1965 a empresa encomendou um novo jato junto a
Boeing, que sem exageros, ajudou a construir: nada menos
que o modelo mais vendido da história, o Boeing 737.
Em abril, a Austrália recebeu os primeiros vôos com os
Boeing 707. Em novembro, foi entregue o primeiro 707
"Full-cargo" da empresa, presságio do que viria a ser
uma das maiores transportadoras de carga do mundo,
impulsionada pelo "Milagre Alemão", o prodigioso
crescimento econômico da nação.
Em 28 de janeiro de 1966, a empresa perdeu seu segundo
avião em acidentes fatais: um Convair 440, D-ACAT, caiu
na aproximação para Bremen sem deixar sobreviventes.
Neste ano, a Lufthansa ultrapassou a barreira da Cortina
de Ferro: iniciou vôos para Praga. também foi criada uma
nova divisão, a Lufthansa service G.m.b.H, constituída
para oferecer serviços de catering.
Em 1967, Bogotá, Cingapura e Jacarta passaram a contar
com os vôos da empresa. Nova expansão sobre a Cortina de
Ferro ligava a Alemanha às cidades de Belgrado, Zagreb,
Bucarest e Budapest. Eram agora 76 cidades em 53 países.
Os últimos Constellation foram aposentados, após 83
milhões de km voados ou 108 idas e voltas à lua.
Em 1968, os 737-100 finalmente começaram a operar na
empresa, a primeira no mundo a colocá-los em serviço. O
avião foi um sucesso imediato. Helsinki, Gênova, Nápoles
e Tel-Aviv receberam os jatos da "LH" pela primeira vez.
Em 1969, Osaka, Jeddah e Addis Abeba. A década passou
voando, prenúncio da nova era dos Jumbos.
Entrando na era dos Jumbos
Trinta de março de 1970 marca a chegada dos 747 nas
cores da empresa. O D-ABYA, primeiro de seis 747-130
recebidos, foi entregue em Hamburg. Iniciou vôos
regulares nas rotas norte-americanas em 26 de abril,
configurado para 361 assentos. Em um ano, a empresa
aumentou em 18,5% o número de pasasageiros
transportados, dobro da média mundial. Novos escritórios
em Köln foram inaugurados.
Em 1971, a Lufthansa retirou seu último Viscount de vôo,
tornando-se uma das primeiras empresas voando somente
jato puro. Em 1972, Varsóvia, Casablanca, Bombaim,
Assunción, Caracas e Kinshasa entraram nas rotas do
grou. Eram então 75 jatos compondo uma das mais modernas
frotas do mundo.
Entre eles, entregue em 10 de março, o primeiro 747-130F
na versão Full-Cargo no mundo. Este foi mais um
pioneirismo da empresa, que imediatamente colocou o 747
para voar entre Frankfurt e New York. Em 20 de dezembro,
a Lufthansa encomendou seu primeiro avião europeu desde
os Viscount: os Airbus A300B2.
Em 1973, no dia 10 de dezembro, chegou o primeiro de
nove DC-10-30, que começaram a substituir os Boeings
707. Estes só deixariam a LH e suas subsidiárias
definitivamente em 1984, após 24 anos de ótimos
serviços.
Em janeiro de 1974, o DC-10 comeca a ser utilizado nas
rotas para o Brasil, Extremo Oriente e Austrália. Ainda
em 1974, deixa a empresa o primeiro 727-100, trocado por
um novo 727-230. O ano não termina bem. A Lufthansa
enfrenta seu terceiro acidente fatal, perdendo o 747-130
D-ABYB, que estolou após tentar decolar de Nairobi sem a
configuração correta de slats. Dos 140 passageiros, 85
sobrevivem. Dos 17 tripulantes, 4 perdem a vida.
Em 9 de abril de 1975, o conselho fiscal da empresa
aprovou a compra dos 747-230. Entregues no ano seguinte
e inicialmente chamados pela empresa de 747-200SL (Special
Long-Range), os 747-200 começaram serviços regulares na
Lufthansa em 14 de dezembro nas rotas para Sydney. Em
primeiro de abril de 1976, os Airbus começam a servir as
rotas européias de maior demanda.
Em 14 de julho de 1977, a maior encomenda até então: por
US$ 1bilhão, 6 Boeings 747-230 e mais 6 Boeings 727-230
são encomendados. Em 29 de setembro, o primeiro A300B4
começa sua carreira na Lufthansa. Empolgada com o
desempenho dos Airbus, a empresa encomenda 25 A310 para
entregas a partir de 1983.
Crescimento regional e turístico
A Lufthansa percebeu a importância das ligações
regionais desde cedo. Associou-se a diversas empresas
alemãs regionais, de uma forma ou de outra, com maior ou
menor ingerência e participação acionária. Seu braço
regional mais forte foi a DLT, comprada finalmente e
transformada em Lufthansa CityLine. Com esta empresa,
inaugurou novas rotas regionais e secundárias, ligando
novos pares de cidades por toda a Europa. Trouxe os EMB
120 Brasília para esta missão, depois substituídos por
Fokker 50, BAe Avro RJ100 e Bombardier CRJ200 e CRJ700.
Esta expansão prossegue até hoje.
Não menos importante é a participação no gigantesco
mercado turístico alemão, o povo que mais viaja no
mundo. O braço charter da Lufthansa, desde os anos 60 é
a Condor Flugdienst. Com as aeronaves da empresa a
Lufthansa oferece tarifas mais baratas e vôos para
praticamente qualquer destino no planeta com potencial
turístico - desde que ensolarado. Caribe, África,
Mediterrâneo, Extremo Oriente, Índico... escolha seu
destino, pegue seu protetor solar e a Condor o levará
até lá.
Airbus e Lufthansa: um casamento prolífico.
O bom desempenho dos jatos europeus fez da Lufthansa a
maior cliente individual da Airbus. Colaborou também o
fato de serem aeronaves com grande participação alemã em
sua construção. Assim, hoje praticamente todos os
modelos da Airbus voam para a Lufthansa, com exceção do
A330. Dos A319 até os gigantescos A340-600 e futuramente
os novos A380, o fabricante europeu não pode se queixar
da empresa alemã.
Em 1990, chegaram os primeiros jumbos 747-400, a maior
aeronave na frota. Em 1992, chegaram os A340-200 e
A340-300, usados extensivamente pela empresa nas suas
rotas de longo curso e média/alta densidade. A
subsidiária Condor deu preferência aos Boeings, operando
com os 757-200, 757-300 e 767-300.
Formando estreita parceria com a United Airlines, a LH
estabeleceu a Star Alliance, a mais completa e poderosa
aliança de empresas aéreas no mundo. Servindo mais
destinos internacionais no mundo do que qualquer outra
empresa aérea, em 47 anos de serviços ininterruptos, a
Lufthansa só pode olhar para trás com justificável
orgulho.
Sua excelência, segurança, rigor técnico e seriedade,
como vimos, são fruto de décadas de trabalho duro,
muitas vezes tendo de enfrentar cenários politicamente
desfavoráveis. Suas conquistas não caíram do céu: foram
duramente conquistadas. A Lufthansa merece, portanto,
sua invejável posição de liderança na aviação comercial
internacional.
Parabéns, Lufthansa, por seus primeiros 75 anos de
excelência.
Gianfranco Beting