|
Galeão: tempos
dourados
Como és mejor el
verso aquel
Que no podemos recordar
Homero e Virgilio Exposito in "Vete de Mi" - 1958
Não, o verso do famoso bolero não faz jus às minhas
memórias: a semana passada fotografando no Galeão, em
janeiro de 1986, "és una de las mejores" para mim - e
posso recordá-la.
Naqueles anos distantes, a paixão pela aviação era
correspondida aos que fossem ao Galeão: toda a parte
superior do novo terminal era aberta num terraço que
ocupava todo esse último andar. Era um dos melhores
aeroportos do mundo para spotting. Com um
bar/restaurante em cada extremidade e uma cobertura que
abrigava dos rigores do sol carioca, as manhãs lá eram
espetaculares. Até porquê Cumbica ainda era novidade:
boa parte do tráfego internacional ainda tinha no Galeão
seu hub principal na América do Sul.
Assim, ao final de 1985, combinamos de passar uma semana
fotografando lá: fomos eu e meus amigos Fernando
Iervolino e Christian Jafet. Decolamos em 1º de janeiro
de Congonhas, a bordo do Electra PP-VLA, ainda curtindo
a ressaca do reveillon. Pousamos em Santos Dumont e
chegamos as 14:00 no Galeão. Antes de saírmos escrevemos
à ARSA, Aeroportos do Rio de janeiro S.A., solicitando
autorização para entrarmos nos pátios e fotografarmos.
Concedida sem problemas.
Assim, pelos próximos dias, alternamo-nos no terraço,
nas pistas, no pátio. Foi uma festa fotográfica. Até
porquê naquela época, o tráfego era mais variado do que
hoje: neste aspecto, andamos pra trás.
Ou não? veja:
Da Europa, vinham com DC-10 a Ibéria, KLM, Swissair, SAS.
Com o 747: Air France, Lufthansa e Alitalia. Com o
Tristar L1011-500 a British Airways e a TAP Air
Portugal, esta também trazendo os 707.
Da África: a SAA com o 747, a TAAG Angola com o 707 e a
Royal Air Maroc com o 747-SP(!).
Do Oriente Médio: a Iraqui Airways com 707 e às vezes
com o 747!
Da América do Sul: Viasa com DC-10, LAP, Pluna e Lan
Chile com 707, Avianca e LAB com 727, AeroPerú com DC-8
e Aerolineas Argentinas com 707, 727 e 747.
Da América do Norte a Pan Am trazia dois 747 por dia.
Da Ásia os 747 da JAL. Isso fora os cargueiros e
charters. É pouco?
No Brasil, a Transbrasil estava bastante ativa e trazia
seus 727, 707 e 767 com freqüência. A Vasp apenas os
737-200 e A300. A Varig/Cruzeiro dava banho: 747, DC-10
aos cachos, 707, 727, 737 e A300... parecia um aeroporto
exclusivo.
Bem, no total foram quase 40 rolos de filmes. As fotos
ficaram ótimas e até hoje são lembradas como uma das
melhores sessões da vida. Escoltados pelo pessoal da
ARSA, tínhamos acesso aos aviões parados nas posições
remotas, podendo entrar dentro deles. Era bárbaro passar
as tardes nas cabines vazias dos 747 da Pan Am,
imaginando que horas depois o gigante estaria cruzando
os oceanos.
Outro passeio bárbaro foi aos hangares da Varig. O
PP-VNI, 747-300 da Varig tinha acabado de chegar da
fábrica e estava sendo preparado para fazer seus
primeiros vôos. Estava absolutamente impecável, com sua
barriga em alumínio polido refletindo como um espelho.
O tempo ajudou: o sol bateu forte todos os dias, um
calor senegalesco de derreter. Fotografávamos das 06:00
até às 23:00. Pegávamos um taxi para o hotel no Rio,
comíamos qualquer coisa e nos atirávamos na cama por
volta das 01:00. O despertador tocava às 04:30 e às
06:00 estávamos de novo nos terraços ou na pista... uma
verdadeira maratona.
Por fim, no dia 5 de janeiro embarcamos no vôo RG 1160,
um 707 da Varig de prefixo PP-VLN, voltando para casa.
Foi uma semana maravilhosa, inesquecível e que agora
posso dividir com você leitor do jetsite. Para ver mais
fotos desta jornada, vá até a seção "galeria de fotos" e
clique GIG, o código do Galeão na janela de busca. Está
tudo lá. Aproveite e mate a saudade.
Gianfranco Beting