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Por onde andam os Electras da Varig?
Desde janeiro de 1992, devo ter ouvido esta pergunta um
zilhão de vezes. Mas nunca me canso de responder sobre
minha aeronave predileta: a memória logo traz a saudade
dos elegantes quadrimotores da Lockheed, que com seus
quatro Allison produziam uma música única, que jamais
esquecerei. Suas linhas elegantes, suas enormes janelas
e poltronas, seu espaço interno e até seus cheiros estão
para sempre marcados em mim. Pode parecer estranho para
aqueles que não viveram a época do Electra, mas quem
viveu sabe do que estou falando.
Para quem teve essa sorte, o privilégio de poder voar
nos 15 quadrimotores operados pela Varig entre 1962 e
1992, lembrar do Electra nunca é demais. Para os
novatos, pode parecer incompreensível ainda haver
interesse por um avião que deixou de voar no Brasil há
12 anos. Pode parecer incrível ainda falarem num avião
"a hélice," como se costuma dizer na época, implicitando
o interlocutor que o Electra talvez fosse ultrapassado.
Claro, moderno não era. Mas se o preço da modernidade é
andar espremido num antisséptico Boeing ou Airbus, bem,
então devo ser a pessoa mais retrógrada do mundo.
Mas veja que não estou só. Ainda hoje o Electra é citado
em rodinhas de aficcionados, sempre acompanhado por um
suspiro de saudade. Por falar em saudade, ela cresceu a
tal ponto que em 1997 fui para o Alaska especialmente
para voar nos últimos dos 169 Electras construídos que
ainda transportavam passageiros em serviços regulares em
todo o mundo. Três máquinas da Reeve Aleutian ainda
voavam por lá. E esta é outra história que você pode ver
aqui no Jetsite.
Mas o fato é que em 6 de janeiro de 1992, uma segunda
feira de muito sol, os últimos vôos (especiais, para
convidados) com os majestosos quadrimotores foram
realizados, celebrando quase 30 anos de serviços
ininterruptos, exemplares. Nesta data, com grandes
comemorações, a Varig aposentou os seus últimos Electras,
substituídos pelos Boeing 737-300, desde então o
principal equipamento da companhia na prestigiosa Ponte
Aérea Rio-São Paulo.
Electra: o avião mais seguro de nossa aviação
A frota de 15 Electras que serviram na Varig bateu
muitos recordes em nossa aviação. Se não foi o tipo mais
longevo, foi certamente o mais seguro. Em toda a sua
vida operacional em nosso país, apenas um, o PP-VJP,
acidentou-se: foi em 5 de fevereiro de 1970 durante um
vôo de treinamento em Porto Alegre. Fora isso, apenas
panes ou incidentes como pousos de emergência sem a
bequilha, fato que ocorreu com o PP-VLA e com o PP-VJM.
E nada mais.
Assim, nos seus 30 anos em serviço, a frota de 15
aeronaves da Varig voou nada menos que 777.140 horas, ou
o equivalente a 88.7 anos sem sofrer nenhum acidente
fatal! Neste período, foram nada menos que 736.806
pousos, numa média de 55.510 horas de vôo por aeronave e
52.629 ciclos por avião. Isto dá em média 4.93 pousos
por dia, durante todos os 10.675 dias deste longo
período.
Os números impressionam mesmo: foram 217 milhões de
quilômetros voados, ou 17.500 vezes a volta completa ao
redor do mundo. Mas... o que aconteceu com cada um
deles? Muita gente acredita que foram vendidos para os
Estados Unidos, outros pensam que não há mais nenhum
Electra em operação.
Para desfazer tantas especulações, o Jetsite agora se
encarrega de contar o paradeiro de cada um dos 14
Electras que serviram a Varig até 1992. Com o rigor de
praxe, com a paixão de costume, listados por ordem
cronológica, ou seja, a partir de seus primeiros vôos.
PP-VJL - S/N 1024
O PP-VJL foi o segundo Electra recebido pela Varig,
parte de um lote de cinco originalmente encomendados
pela Real Aerovias - compra que Ruben Martin Berta
tentou desfazer a todo custo. Quem diria... Seu primeiro
vôo foi em 28/12 de 1958, e apenas para colocar em
perspectiva, no mesmo ano em que o Brasil sagrou-se
campeão mundial de futebol pela primeira vez, na Suécia!
Este foi também o terceiro Electra entregue à American
Airlines, no dia 4 de janeiro de 1959, e entrou em
serviço batizado de "Flagship Detroit" dias após.
Chegou ao Brasil em 10 de setembro de 1962 e voou
regularmente até 30/12/1991, fazendo seu último trecho
com passageros pagos entre Congonhas e Santos Dumont.
Dias depois, foi trasladado para os vôos comemorativos
de despedida e então ficou parado nos pátios de
Congonhas até julho de 1993. Voou até se aposentar na
Varig, nada menos que 56.576 horas em 57.875 ciclos.
Comprado pela empresa Blue Airlines, da República
Democrática do Congo, partiu de nosso país em 29 de
julho de 1993 para seu destino final na África, onde
recebeu o nome de batismo "Lodja Putu" e o prefixo 9Q-CDK.
Operou por mais dois anos sem qualquer manutenção,
quando então, colecionando sucessivas panes, foi
encostado no aeroporto de Kinshasa, para ser
canibalizado e permitir que os outros Electras da
empresa continuassem voando. Foi totalmente desmantelado
em 1999.
PP-VJM - S/N 1025
O PP-VJM era o segundo mais "experiente" de todos os
Electras a voar pela Varig, mas o foi o primeiro a
chegar ao Brasil. Fez se primeiro vôo em 31/12/1958 e
foi entregue à American Airlines em 9 de janeiro
seguinte, recebendo a matrícula N6104A e o nome de
batismo "Flagship Washington". Estacionado pela AA em
sua base de Tulsa, foi o primeiro a chegar ao país, em
30 de agosto de 1962. Ao completar sua carreira na
Varig, voando entre SDU e CGH em 28 de dezembro de 1991,
havia completado 58.347 ciclos, num total de 57.179
horas.
O VJM então ficou estacionado nos pátios em frente aos
hangares da companhia até 26 de maio de 1992, quando
realizou uma série de vôos locais: foram nada menos que
4 pousos e arremetidas e uma magnífico rasante final
sobre a pista, quando a aeronave então partiu para
sempre rumo ao Galeão, tripulado pelos comandantes
Buchrieser, Lott e Engenheiro José Aparecido. Detalhe:
tudo isso foi filmado por este que vos escreve e um dia
destes será editado em DVD... aguarde.
No dia seguinte, o PP-VJM fez seu derradeiro vôo entre o
Galeão e o Campo dos Afonsos, não sem antes passar num
belo rasante sobre o Santos Dumont, que ele conhecia tão
bem. No aniversário de 65 anos da Varig, em 27/05/1992,
o PP-VJM foi oficialmente doado ao Museu Aeronáutico do
Campo dos Afonsos, onde descansará para sempre como para
lembrar as futuras gerações o quão bela e carismática
podia ser uma aeronave de passageiros.
PP-VJN -S/N 1037
Primeiro vôo em 27 de janeiro de 1959, entregue à
American Airlines como N6108A "Flagship Buffalo". Parte
do lote inicial da Varig, chegou ao Brasil em
10/09/1962. Em 1975, foi um dos quatro Electras
arrendado para as outras empresas do pool da Ponte Aérea
(VJN, VJU, VLA, VLX) tendo o nome e logomarca da Varig
removidos, permanecendo apenas com a pintura básica da
Pioneira. Em 1976, a pintura completa foi restaurada.
Voou até 5 de janeiro de 1992, quando teve a honra de
fazer o último vôo regular com passageiros pagantes na
história da empresa, e no dia 6 de janeiro, quando as
12:35 pousou no Santos Dumont, encerrou a carreira do
modelo na Varig, transportando os últimos convidados
VIPs.
Trasladado dias depois, permaneceu em Congonhas, quando
contava com 57.284 horas em 58.608 ciclos. Permaneceu
parado até junho de 1993, sendo também adquirido pela
Blue Airlines, onde operou com o prefixo 9Q-CDI e o nome
de batismo "Dominique Misenga".
Voando sem quaisquer condições básicas de apoio e com
tripulações mal preparadas, sua vida nos céus africanos
foi curta. Na manhã de oito de fevereiro de 1999, o
Exército local arrendou a aeronave para um vôo
cargueiro. O Electra foi carregado com munições e
combustível, fechando sua porta com nada menos que 6
toneladas a mais que seu peso máximo. Como se isto não
bastasse, na cabine de comando estavam o piloto, um
engenheiro de vôo sentado na direita e um mecânico de
solo fazendo o papel de engenheiro de vôo! Logo após a
decolagem, o motor número 3 não suportou e falhou. O
piloto ainda tentou trazer a aeronave de volta ao
aeroporto de N`Djili, mas perdeu o controle: nosso
outrora velho conhecido, o querido ex- PP-VJN, ainda nas
cores básicas da Varig, bateu no solo e explodiu,
matando seus 7 ocupantes.
PP-VNK -S/N 1040
Primeiro Electra encomendado pela Braniff, com o prefixo
N9701C, este foi um dos menos voados pela Varig, um dos
poucos sobreviventes até 2003. Seu primeiro vôo foi em 4
de agosto de 1959, sendo entregue no dia 29 seguinte à
companhia. Voou até 1970 para a Braniff, sendo dado como
parte de pagamento na compra do Boeing 727 que o
substituiu. Por sua vez, a Boeing vendeu-o à FB Ayer que
o arrandou à Universal Airlines em abril de 1972.
Um longo período de inatividade até fevereiro de 1975,
quando foi vendido aos Transportes Aéreos Militares
Ecuatorianos (TAME) para quem voou até 1986 como FAE
1040/HC-AZT. Desativado por falta de peças de
manutenção, foi novamente encostado no aeroporto
Mariscal Sucre em Quito, Equador. A TAME então fez uma
proposta à Varig: entregaria dois de seus 4 Electras
para a manutenção da empresa brasileira, em troca da
posse definitiva desta aeronave e de outra que se
tornaria o PP-VNJ. A proposta chamou a atenção da Varig,
que queria mesmo adquirir mais Electras para a Ponte
Aérea. Negócio fechado.
O PP-VNK veio voando em condições precárias ao Brasil,
onde finalmente recebeu a atenção da exemplar manutenção
da Varig. Logo depois entraria em operação na Ponte
Aérea, onde serviu brilhantemente até a sua última etapa
entre Rio e São Paulo, onde pousou no dia 24 de dezembro
de 1991. Na data, tinha "apenas" 38.421 horas e 26.440
ciclos, o menos voado de todos os 14 Electras da
companhia. Em seguida, foi trasladado para Porto Alegre,
onde permaneceu até novembro de 1993. Foi então que a
companhia Filair, baseada na República Democrática do
Congo, levou a aeronave embora: este seria o último
Electra a deixar o país, já pintado nas cores da empresa
africana e matriculado 9Q-CUU.
Mas o ex-VNK nunca chegou à África: foi parando no meio
do caminho até que estacionou em Calgary, no Canadá, em
4 de março de 1994, com problemas na documentação e
falta de pagamento de taxas aeroportuárias. Por lá ficou
por um longo período, até ser comprado pela empresa Air
Spray, baseada em Red Deer, em 22 de outubro de 1997. Lá
recebeu a matrícula C-GBKT e foi modificado para
combater incêndios florestais, com a adaptação de um
tanque ventral para água ou retardante químico.
Posteriormente, em 2000, recebeu nova matrícula, C-GFQA,
e era identificado na empresa mais comumente como "Tanker
88".
Em 16 de julho de 2003, o veterano quadrimotor decolou
para apagar mais um incêndio. Após despejar sua carga de
retardante, o Electra perdeu sua última batalha: acabou
caindo perto de Cranbrook, matando seus 3 ocupantes.
PP-VJO -S/N 1041
O PP-VJO teve uma carreira bem menos atribulada que o
PP-VNK, que o precedeu na linha de montagem da Lockheed
em Burbank, California. Encomendado pela American
Airlines, matriculado N6109A e batizado "Flagship
Toronto," fez seu primeiro vôo em 2 de janeiro de 1959,
sendo entregue apenas em 27 de fevereiro seguinte, pois
nesta data a American já havia sofrido um acidente fatal
com o seu primeiro Electra entregue (perdido em 3 de
fevereiro em New York). O N6109A foi totalmente revisado
antes de ser entregue. Sem maiores problemas, voou para
a American até ser vendido para a Varig, que o recebeu
em 30 de setembro de 1962.
Mas coube ao PP-VJO um triste papel: foi o primeiro
Electra tirado de serviço, em 10 de outubro de 1991,
dando espaço para a entrada em operação dos Boeings
737-300 de prefixos PP-VOT e PP-VOS em 11 de novembro de
1991, primeiro dia em que os Electras tiveram os novos
jatos como companhia na Ponte Aérea.
Permaneceu nos pátios em frente aos hangares da Varig
por mais de dois anos, até novembro de 1993, quando
então deixou São Paulo com a matrícula 9Q-CXU, entregue
também a Filair do Congo. Levado num vôo de traslado via
Belém, Miami e Kansas, parou em Calgary onde ficou um
bom tempo, até 20 de Março de 1994, quando finalmente
foi levado ao Congo. Voou até julho de 1997 e então foi
estacionado no aeroporto da capital, sendo canibalizado
como fonte de peças de reposição.
PP-VJP - S/N 1049
Este foi o único Electra que se acidentou durante sua
carreira na Varig. Foi o último dos cinco inicialmente
recebidos e fez seu primeiro vôo em 25 de março de 1959.
Foi entregue como N6110A "Flagship St. Louis" à American
Airlines em 1º de abril de 1959. Vendido à Varig em 11
de outubro de 1962, foi perdido num incidente sem
vítimas: durante um vôo de treinamento, pousou antes do
início da pista em Porto Alegre, no dia 5 de fevereiro
de 1970, perdendo um dos trens de pouso principais e
arrastando-se pela pista. Sua recuperação foi
considerada economicamente inviável, e acabou servindo
de fonte de peças de reposição.
PP-VNJ -S/N 1050
Outro Electra que começou sua longa carreira na American
Airlines: primeiro vôo em 8 de abril de 1959, entrega no
dia 16 do mesmo mês como N6111A "Flagship Tulsa".
Vendido em 30 de novembro de 1966 para a Air California
com o prefixo N278AC. Vendido à GATX em 18/12/68 e
repassado à F.B Ayer, que o arrendou a Universal e à
Ecuatoriana de Aviación. Comprado pela TAME do Equador
em 17 de outubro de 1974, onde voou com a matrícula
FAE1051/HC-AZL até ser negociado com a Varig, a exemplo
do que ocorreu com o PP-VNK.
Completamente reformado em Porto Alegre, iniciou ainda
em 1986 seus serviços na Pioneira e foi um dos últimos a
deixar o serviço ativo na empresa, voando até o último
dia com passageiros pagantes. Em 5 de janeiro de 1992,
parou de voar após uma etapa Santos Dumont -Congonhas.
Neste dia, já havia enfrentado 40.204 horas em 30.686
ciclos, o segundo Electra com menor número de horas na
frota da Varig. Em Congonhas ficou até outubro de 1993,
quando partiu com a matrícula HR-AML, vendido para a
Interlink, também da República Democrática do Congo -
apesar de receber uma matrícula hondurenha.
Voou para a Interlink até março de 1995, quando foi
estacionado em Victoria Falls, sendo posteriormente
trasladado para Lanseria, próximo a Johannesburg, África
do Sul. Em 11 de dezembro de 1997, partiu para Linz, na
Áustria, sua última etapa. Comprado pela operadora
austríaca Amerer Air, foi trasladado com a matrícula
EL-WSS. Em lá chegando, foi canibalizado para fornecer
peças aos outros dois Electras da frota da empresa, sem
nunca ter feito um único vôo comercial na Amerer Air.
PP-VLX - S/N 1063
O VLX começou sua carreira na American Airlines como
N6116A "Flagship Cincinnati": fez seu primeiro vôo em 27
de maio de 1959 e foi entregue em 4 de junho seguinte.
Foi vendido à empresa colombiana Aerocondor (HK-1416) em
12 de janeiro de 1971 e com ela voou até ser comprado em
novembro de 1976 pela Varig, juntamente com o PP-VLY.
Operou regularmente até o dia 5 de janeiro de 1992, um
dos três últimos a deixar o serviço ativo na Varig. Ao
parar, após um trecho Congonhas-Santos Dumont, tinha
completado 53.961 horas em 57.643 vôos. Trasladado para
São Paulo, ficou estacionado em Congonhas até abril de
1994, quando partiu rumo ao Canadá, vendido para a
empresa Air Spray, especializada em combate a incêndios
florestais. Recebendo a matrícula C-FQYB, voou até
16/10/2000. Nesta data, estava sendo revisado num hangar
da Air Spray, quando, ironicamente... o hangar pegou
fogo! Não foi possível retirar a aeronave a tempo.
PP-VLY - S/N 1073
Praticamente a mesma carreira que seu co-irmão PP-VLX:
começou a voar na American Airlines como N6119A "Flagship
Cleveland", com primeiro vôo em 28 de julho de 1959 e
entrega em 1º de agosto seguinte. Igualmente vendido à
empresa colombiana Aerocondor, em 18/9/1969 como HK-775
, voou com ela até novembro de 1976, quando entrou para
a frota da Varig como PP-VLY.
Operou regularmente até o dia 12 de dezembro de 1991,
após um trecho Santos Dumont-Cononhas. Foi trasladado
para Porto Alegre e em lá chegando, havia cravado a
marca de 55.953 horas em 60.237 vôos. Permaneceu na base
POA até novembro, quando partiu completamente pintado e
revisado rumo ao Congo para servir na empresa New Air
Charter Service (ACS) com a matrícula 9Q-CRM. Em outubro
de 1993, foi vendido à Trans Service Airlift, mantendo a
mesma matrícula mas já sem nenhum título/nome da
empresa. Vendido novamente no ano 2000 para a Air
Transport Office, foi re-matriculado (9Q-CTO) e recebeu
nova pintura. Operou quase regularmente este tempo todo,
mas em 2001 foi encostado em Kinshasa, onde permanece
parado até hoje, apesar dos maus tratos recebidos por
quase 10 anos.
PP-VLC - S/N 1093
Voou pela primeira vez em 1º de setembro de 1959 e foi
entregue 22 dias depois para a American Airlines como
N6122A "Flagship Albany". Vendido diretamente à Varig,
foi entregue em 6 de abril de 1970. Foi nas asas do
PP-VLC que o seu mais ardoroso fã dentro da Varig, o
saudoso presidente Hélio Smidt, fez sua derradeira
viagem: falecido em New York em 1990, seu corpo foi
trazido ao Brasil e transferido do 747 que o trouxe para
um curto vôo entre Guarulhos e Congonhas, homenagem
final da empresa e reconhecimento da paixão de Smidt ao
Electra.
Prosseguiu voando até 28 de dezembro de 1991, quando
encerrou sua carreira na Pioneira (SDU-CGH), com
invejáveis 59.267 horas cumpridas em 60.251 vôos.
Repousou em Congonhas até 10 de agosto de 1993, quando
partiu ainda nas cores básicas da Varig para servir à
Blue Airlines do Congo, registrado 9Q-CDL. Voou até
janeiro de 1995 e foi sucateado em 2 de março de 1995,
sendo cortado e vendido por quilo. Um final inglório ao
querido VLC.
PP-VJU -S/N 1119
O Electra com mais ciclos ao deixar o serviço ativo na
Varig foi o PP-VJU. Começou sua carreira na American
Airlines como N6128A "Flagship San Diego": fez seu
primeiro vôo em 13 de janeiro de 1960 e foi entregue em
27 do mesmo mês. Foi vendido à Varig, juntamente com o
PP-VJV e VJW no que viria a ser a segunda compra de
aeronaves do tipo na Varig, que o recebeu em 22 de
novembro de 1967.
Operado continuamente até o dia 23 de dezembro de 1991,
quando pousou em Congonhas vindo do Santos Dumont, o
veterano L-188A tinha nada menos que 61.259 horas em
62.068 vôos. Vendido e entregue à Blue Airlines em julho
de 1993, passou a voar com a matrícula 9Q-CDG e
continuou servindo até o dia 13 de março de 1995, quando
uma pane hidráulica fez com que a aeronave executasse um
pouso de barriga no aeroporto de N`Djili em Kinshasa.
Ninguém saiu ferido gravemente, a não ser o Electra, que
ficou irrecuperável.
PP-VJW -S/N 1124
Por ordem de horas de vôo e ciclos, o VJW foi o terceiro
Electra mais voado ao deixar o serviço ativo na Varig.
Igualmente começou sua carreira na American Airlines
(N6133A "Flagship Baltimore"), primeiro vôo em 19 de
fevereiro de 1960, entregue em 24 do mesmo mês e vendido
à Varig em 15 de março de 1968, parou de voar somente em
29/12/91, num trecho entre SDU e CGH. Guardado então em
Congonhas, tinha 60.204 horas em 60.644 vôos.
Em outubro de 1993, saiu de São Paulo rumo ao Canadá,
sua rota para chegar à África via Atlântico Norte.
Registrado em Honduras (a exemplo do PP-VNJ) foi
matriculado HR-AMM e vendido à Interlink Congo, para
quem voou até agosto de 1995. Levado para Lanseria, na
África do Sul, por lá permaneceu à procura de um
comprador até 25/10/2002, quando partiu rumo ao Canadá
para apagar incêndios na empresa Air Spray, que até hoje
(12/03) o mantêm em operação regular com a matrícula
C-GZYH. Este é o último dos Electras da antiga frota da
Varig a permanecer em operação regular.
PP-VJV -S/N 1126
O Electra com mais horas de vôo ao deixar a frota da
Varig foi o PP-VJV. Também começou sua carreira na
American Airlines como N6135A "Flagship San Antonio".
Fez seu primeiro vôo em 4 de março de 1960 e foi
entregue em 21 do mesmo mês. Vendido à Varig, foi
entregue em 30 de dezembro de 1967 e serviu a companhia
até 28/11/91, sendo retirado de serviço para a entrada
de um 737-300 da Transbrasil, o PT-TEH.
Trasladado para Porto Alegre, lá chegou com 61.479 horas
em 61.697 ciclos. Foi um dos primeiros a ser pintado nas
cores da Blue Airlines, mas a venda não foi
concretizada. Repintado nas cores da New ACS e
matriculado 9Q-CRS, só acabou deixando o Brasil em julho
de 1993. Antes de sair foi registrado 5H-ARM na empresa
Trans Service Airlift.
Em lá chegando, sofreu nova mudança de matrícula, desta
vez para 9Q-CCV. Em 21 de janeiro de 1994 sua carreira
acabou durante uma aterrisagem feita sem o trem de pouso
dianteiro: canibalizado de todas as suas partes e peças
que pudessem ser reaproveitadas, em novembro do mesmo
ano suas últimas partes reconheciveís foram cortadas e
vendidas por quilo para um ferro velho.
PP-VLB -S/N 1137
O PP-VLA e o VLB foram adquiridos da Northwest Orient
Airlines. Seu primeiro vôo deu-se em 18 de janeiro de
1961, sendo entregue à Northwest em 14 de março de 1961
com o prefixo N133US. Serviu inicialmente transportando
passageiros. Convertido para carga/passageiros (L-188PF)
em 1969, foi comprado e entregue à Varig em 3 de junho
de 1970.
Inicialmente operou mesmo como cargueiro "paletizado"
como podia ser lido em sua fuselagem. Ainda nos anos 70,
passou a novamente transportar passageiros, sem contudo
apresentar a saleta nos fundos da cabine, o tão popular
"lounge" de 7 lugares. Deixou a ativa em 9 de dezembro
de 1991 num vôo SDU-CGH e foi levado à base de Porto
Alegre com 58.778 horas e 41.576 ciclos. O VLB e o
PP-VLA tinha muitas horas de vôo a mais do que ciclos,
pois ambos vieram da Northwest, que tinha etapas médias
muito maiores que a American. E também por ter operado
um bom tempo como cargueiro.
O VLB seria um dos últimos a deixar POA, negociado com a
Filair do Congo. Decolou em julho de 1993 pintado nas
cores da companhia e registrado 9Q-CUU. Operou até julho
de 1997 quando foi encostado num canto do aeroporto de
Kinshasa, onde encontrava-se razoavelmente conservado
até quando foi visto pela última vez, em 11 de setembro
de 2003.
PP-VLA -S/N 1139
O VLA foi adquirido da Northwest Orient Airlines. Seu
primeiro vôo foi em 31 de janeiro de 1961, sendo
entregue à companhia em 29 de março de 1961 com o
prefixo N134US. Como o PP-VLB, também foi convertido
para carga/passageiros (L-188PF) em 1969, e entregue à
Varig no mesmo dia que o VLB, 3 de junho de 1970.
Também operou inicialmente como cargueiro e quando
convertido de volta para transportar passageiros,
igualmente não dispunha da saleta nos fundos da cabine.
Em 4 de setembro de 1990 ficou "famoso" após um pouso
sem a bequilha no Galeão - ninguém ferido - retornando a
ativa em dezembro de 1990. Deixou de voar regularmente
para a Varig em 17 de novembro de 1991 (SDU-CGH) e foi
levado à base de Porto Alegre com 58.143 horas e 41.211
ciclos.
Vendido também a Filair, foi registrado em novembro de
1993 9Q-CVK e no mês seguinte, 9Q-CGD. Foi um dos
últimos Electras que deixou a base POA, em dezembro de
1993, totalmente revisado, impecável, no melhor padrão
da Varig. Infelizmente, teve vida curta na África: nos
últimos dias de julho de 1994, acidentou-se em Angola,
mas não há registros precisos sobre este acidente.
Agora você não precisa me perguntar mais "onde andam os
Electras da Varig". Mas se perguntar se eu já ví
aeronaves mais maravilhosas que os Lockheed Electra, a
resposta é uma só: "Não."
Gianfranco Beting