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BAe 748, mas pode chamar de AVROLufthansa: 75 anos de excelência
O Avro 748, conhecido hoje como BAe 748 (desde a compra
da Hawker Siddeley pela British Aerospace) foi operado
inicialmente no Brasil pela Força Aérea Brasileira, que
recebeu suas primeiras aeronaves na década de 60 e com
elas voa até hoje. Sua longa história no Brasil,
incluindo sua passagem pela Varig, você acompanha agora
aqui no jetsite.
A.V. Roe e seu sucessor do DC-3
O projeto inicial do Avro 748 teve início na década de
50, num projeto da A. V. Roe, construtora comercial
britânica. A idéia dos projetistas e engenheiros da
companhia era criar um avião que substituísse o lendário
DC-3, como muitos outros fabricantes tentaram na época,
com ganhos de velocidade, carga útil e menor custo
operacional.
Nos primeiros esboços em 1958, a aeronave possuía
configuração para 20 passageiros, peso máximo na
decolagem de 9.000 kg, carga útil para 2.043 kg e
alcance de 760 km com dois motores turboélices de 1.000
shp cada. Mas, depois de alguns estudos de mercado, a
Avro viu-se obrigada a mudar seus planos, já que o
mercado não desejava uma aeronave de limitado alcance. A
Avro foi obrigada a refazer seus projetos, criando uma
aeronave de maior porte, com motores Rolls-Royce Dart -
já utilizados em outras aeronaves, tais como o Dart
Herald, Fokker 27 e Vickers Viscount, dentre outros.
Em sua nova configuração, o Avro 748 pesava 14.480 kg,
transportava uma carga útil de 4.380 kg com alcance de
1.075 km. Com esta nova plataforma, a Avro deu início à
sua fabricação em fevereiro de 1959, nas instalações de
Chadderton, em Manchester. Foi iniciada a produção de
quatro protótipos, sendo que dois deste seriam
destinados a ensaios estruturais e de fadiga, e os
outros dois de vôos.
O primeiro protótipo voou um ano depois, matriculado
G-APZV e motorizada com dois Dart 6 Mk 514 com potência
unitária de 1.600 shp, tendo como piloto de prova Jimmy
G. Harrison. O segundo protótipo já estava em fabricação
quando foi danificado durante um incêndio na fábrica de
Chadderton, e teve de ser reconstruído, o que atrasou o
seu vôo inaugural para 10 de abril de 1961, com a
matrícula G-ARAY.
O segundo protótipo seria novamente modificado com os
novos motores Dart 7, que permitiam à aeronave uma
melhor operação em altas temperaturas e em aeroportos a
grande altitude. Assim, com essa nova motorização, foi
lançado o 748 série 2, tendo voado pela nova primeira
vez com esta nova designação em 6 de novembro de 1961.
Primeiras encomendas
No início do programa, muitas empresas demonstraram
interesse pela aeronave, sendo que entre as mais
importantes estavam a BKS Air Transport Ltd., a Skyways
Coach-Air Ltd. e a Aden Airways, com, repsectivamente,
encomendas para dois aviões, três e também três
aeronaves.
Mas o grande empurrão veio mesmo com um contrato firmado
juntamente com o governo indiano em 10 de dezembro de
1959, visando inicialmente a montagem e posteriormente a
fabricação sob licença do 748 pela Hindustan Aeronautics,
em suas instalações em Kanpur.
A primeira empresa estrangeira a adquirir o AVRO 748 foi
a Aerolineas Argentinas, que formalizou a compra de 9
aviões em 25 de janeiro de 1961, sendo logo aumentada
para 12 aeronaves. O CAA, autoridade da aviação civil
britânica, emitiu o certificado de homologação de tipo
após intenso programa de ensaios, onde os dois
protótipos acumularam 1.050 horas de vôo.
A partir daí, foi questão de tempo para que a primeira
entrega saísse, e por uma questão de marketing, a
primeira aeronave foi entregue para a Aerolineas
Argentinas, em 18 de janeiro de 1962, sendo matriculada
LV-PIZ.
A Série 1, que era equipado com motores Dart 6, teve sua
fabricação encerrada com apenas 23 aeronaves fabricadas,
dando lugar imediatamente à Série 2 com sua nova
motorização. Uma das principais diferenças entre as duas
séries, além dos motores, eram os reforços estruturais
feitos nas asas, trem de pouso e na fuselagem,
decorrência da maior capacidade de carga do avião.
Vendas e mais vendas
Com um ambicioso programa de exibição da aeronave por
diversos lugares do mundo, o aumento da carteira de
pedidos foi logo sentido, recebendo encomendas da Força
Aérea Brasileira, Varig, Thai Airways, Air Ceylon,
Channel Airways, BA, Philippine Airlines, e Bouraq
Indonesian Airlines, além de forças aéreas da
Grã-Bretanha, Austrália, Colômbia e Equador entre
outras.
Logo, a Avro viu-se obrigada a modernizar seu avião,
surgindo assim o 748 Série 2 A, tendo como diferenciação
novamente a motorização, equipado com os mais novos da
série Dart da Rolls Royce, os Dart 532-2 L ou 2S, com
potência unitária de 2.230 shp. O primeiro protótipo,
matriculado G-AVRR, voou pela primeira vez em 5 de
setembro de 1967 e sua capacidade de carga paga era
3.315 kg superior ao da série 2. Sua produção tornou-se
padrão no final da década de 60 e a primeira aeronave a
ser entregue foi para a Avianca, em 7 de setembro 1968.
Sob nova direção
Com a compra da Hawker Siddeley pela British Aerospace,
o então BAe 748 foi novamente remotorizado, passando a
ser o Série 2B. A remotorização foi feita com novos Dart
que possuíam um novo sistema automático de injeção, que
melhorava o desempenho. Mas as modificações não seriam
apenas em seus motores, mas também estruturais, com
aumento de 1,22 m na envergadura, atualização na
aviônica e redução de ruído interno.
Em 1983 nasceu o Super 748, que dispunha de nova
eletrônica e nova motorização, o Dart Mk 551 ou 552,
reduzindo o consumo em aproximadamente 12%, e contando
com um novo projeto na cabine de comando, que se
aproximava da tecnologia encontrada nos wide-body. O
primeiro Super 748, matriculado G-BLGI, voou pela
primeira vez em 30 de julho de 1984 e foi entregue
posteriormente a Leeward Islands Air Transport Services
Ltd. (Liat), matriculado V2-LCQ, parte de uma encomenda
de cinco aeronaves, entregues entre 1984 e 1985.
Devido ao preço elevado da aeronave e de suas mais
diversas versões, o Avro 748 foi um exemplo típico de
avião britânico construído no pós-guerra. Ao todo foram
fabricados 382 aviões, sendo que 89 foram fabricados
pela Hindustan, na Índia, e 31 de versões militares.
Os 748 na FAB
O primeiro cliente a utilizar o 748 no Brasil foi a
Força Aérea Brasileira (FAB), tendo encomendado seis
aeronaves Série 2 em 1961. O primeiro exemplar,
matriculado C-91 2500, chegou em 17 de novembro de 1962
e o último da encomenda, C-91 2505, em 28 de setembro de
1963.
As aeronaves foram utilizadas principalmente pelo Grupo
de Transporte Especial, com sede em BSB, desde a sua
chegada até maio de 1966, quando foram transferidos ao
1º Esquadrão do 2º Grupo de Transporte, com sede na Base
Aérea do Galeão, Rio de Janeiro.
Com a necessidade de ampliação de sua frota, a FAB
viu-se obrigada a encomendar mais aeronaves, e novamente
optou por mais seis da série 2A, que possuíam uma porta
de carga no lado esquerdo na seção traseira da
fuselagem, recebendo matriculas C-91 2506 até 2511. O
primeiro recebido desta nova encomenda, chegou em 24 de
janeiro de 1975 e o último, em 18 de dezembro do mesmo
ano. Os aviões foram para o 2º Esquadrão do 2º Grupo de
Transporte, também sediado na Base Aérea do Galeão.
Em 41 anos de operação na FAB, um acidente apenas, e sem
maiores consequências para os ocupantes. Em 9 de
fevereiro de 1998, o C-91 2509 acidentou-se durante o
pouso em Navegantes - SC. O avião, porém, foi declarado
irrecuperável e canibalizado. Ou seja, uma belíssima
folha de serviços prestados.
AVRO na Varig
Apesar de suas qualidades inegáveis, o 748 só operou no
Brasil através de uma companhia aérea, a Varig.
Inicialmente, a companhia fez um acordo com a Hawker
Siddeley para operar em caráter de teste o segundo
protótipo, a fim de testar suas qualidades operacionais.
A Varig solicitou ao DAC a autorização para a sua
utilização no período de 18 de dezembro de 1965 a 31 de
janeiro de 1966, em rotas típicas como Belo
Horizonte/Salvador; Recife/São Luís; Goiânia/Belém e São
Paulo/Foz do Iguaçu.
Antes mesmo, em 17 de dezembro de 1965, o DAC já havia
emitido o certificado de aeronavegabilidade para o
aparelho, que teria como matricula PP-VJQ, fazendo a
viagem inaugural em 23 de dezembro do mesmo ano na rota
São Paulo/Foz do Iguaçu. Terminado o prazo, a Varig
gostou da aeronave, e embora o PP-VJQ tenha sido
devolvido à Hawker, a Varig encomendou 10 aviões da
Série 2, ao custo unitário de 420.000 libras esterlinas.
O primeiro a ser entregue foi o PP-VDN, em 14 de
novembro de 1967 em cerimônia realizada no aeroporto de
Congonhas, e o último, o PP-VDX, em 15 de dezembro de
1968. E mesmo depois da aquisição da Avro pela
Hawker-Siddeley, quando os aviões passaram a ser chamar
oficialmente HS 748, a Varig (e o público) continuaram a
chamar a aeronave mesmo de Avro.
No primeiro ano de operação total dos Avro 748 (1968) o
tipo acumulou um total de 13.997 horas voadas em rotas
para localidades remotas no interior do país, onde o DC-3
ia sendo substituído paulatinamente. As principais rotas
eram Rio/São Paulo/Joinville/Itajaí, Rio/Belo
Horizonte/Araxá/ Uberaba/ Uberlândia dentre outras.
Tal era a eficiência dos 748 que em 1972, as aeronaves
já serviam mais de 50 cidades, conectando as principais
cidades do interior dos estados às capitais como São
Paulo, Porto Alegre, Salvador, Rio de Janeiro, Porto
Alegre e Belo Horizonte. Uma comparação feita pelo DAC,
mostrava a excelente utilização do Avro: num mesmo ano,
os Avro marcaram 21.076 horas de vôo, frente ao seu
principal concorrente, o NAMC YS-11, que mesmo operado
pela Cruzeiro do Sul e pela VASP, só havia voado 19.400
horas.
Curta carreira
Durante sua carreira na Varig, que se estendeu por nove
anos, os níveis de segurança deixaram a desejar. Três
aeronaves foram perdidas em acidentes, ou seja, 30% da
frota. Foram eles o PP-VDQ, acidentado em Uberlândia -
MG, sem vítimas fatais, em 14 de dezembro de 1969.
Depois o PP-VDU, acidentado em Porto Alegre - RS,
igualmente sem vítimas fatais, em 9 de maio de 1972,
durante vôo de treinamento. E o último, PP-VDN,
acidentado em Pedro Afonso - GO, em 17 de junho de 1975,
foi mais triste, pois matopu o co-piloto Nilo Sérgio
Lemos.
E foi neste triste ano de 1975 que se iniciou o processo
de retirada das aeronaves de serviço, quando as sete
remanescentes foram remanejadas para uso exclusivo em
rotas regionais no Rio Grande do Sul. Em novembro de
1975, já não estavam mais em operação, colocadas a
venda.
O primeiro a partir foi o PP-VDT, negociado por US$
850.000 para a Fred Olsen da Noruega. Matriculado LN-FOM,
foi modificado como aeronave de calibração de auxílios à
navegação aérea daquele país. Os outros seis aviões
foram vendidos num lote para a Bouraq Indonesia Airlines,
chegando à companhia em janeiro de 1977.
Apesar de sua curta carreira na Varig, o valente BAe 748
tem sua importância marcada para sempre na aviação
brasileira. Cada vez que um deles pousa ou decola nas
cores da FAB, mais de 40 anos depois de seus vôos
iniciais, o provecto Avro / HS / BAe 748 nos faz lembrar
disso.
Fernando Irribarra