|
Total
Este é nosso segundo Flight Check numa empresa regional
brasileira. Voaremos um serviço bate-e-volta num ATR
42-300 da Total entre Pampulha, Belo Horizonte (SBBH/PLU)
e Montes Claros, MG( SBMK/MOC). Em 16 anos de história,
a Total Linhas Aéreas cresceu devagar e sempre, até se
transformar na maior regional do país. A empresa hoje
opera três jatos cargueiros 727-200(F), que operam
diariamente em três rotas, servindo sobretudo à Rede
Postal Noturna (RPN) dos Correios. A frota de aeronaves
de passageiros compreende sete ATR-42-300, dois ATR-42-500
e dois ATR-72-212. Alguns destes são do tipo QC (Quick
Change), ou seja, podem voar passageiros durante o dia e
carga durante a noite.
As linhas regulares de passageiros atendem 24 cidades em
7 estados: Amazonas, Pará, Tocantins, DF, São Paulo,
Minas Gerais e Espírito Santo. A Total assinou um acordo
comercial e operacional com a TAM, que oferece vôos das
cidades do interior mineiro para a capital paulista,
através de conexão no aeroporto da Pampulha em Belo
Horizonte. Bom para a Total e para a TAM, que assim pode
acrescentar 12 novas cidades à sua malha aérea. O acordo
permite conexões seamless ou seja, sem necessidade de
redespacho ou novo check-in. Basta a emissão de um único
bilhete e um único check-in do ponto de partida até o
destino final, garantindo uma conexão mais rápida e a
redução de tarifas. Além de todos os vôos regulares, a
frota de ATR da Total também é oferecida em serviços de
fretamentos.
Nossa experiência junto à companhia começou com uma
detalhada visita à sua sede, onde pudemos constatar que
a seriedade e qualidade dos serviços da companhia
começam bem antes dos sorrisos no balcão do aeroporto.
Para começar, a empresa inaugurou em 2004 um complexo de
oficinas, escritórios e hangares no aeroporto da
Pampulha, que logo transformou-se em referência na
manutenção de aeronaves ATR, tornando-se "Oficina
Autorizada" do fabricante europeu na América Latina.
Além disso, a Total informatizou seus processos
administrativos utilizando o sistema R3 da SAP. Isso
garantiu maior integração entre os setores, agilidade
nos serviços prestados e maior segurança nas
informações.
Esse sistema permite também a emissão de bilhetes
eletrônicos, os e-tkts, um dos quais usei na tarde de 1º
de junho de 2006, quando me apresentei para o check-in
do vôo TTL 5598. Minutos depois rumava, junto com outros
28 passageiros, para o ATR de prefixo PR-TTA, que
naquela tarde iria fazer um vôo que no jargão da aviação
também é conhecido como vôo "Coca-Cola" (bate-e-volta)
até Montes Claros.
Ocupei minha poltrona, 10A, na parte traseira da cabine,
que no caso do ATR é a zona mais silenciosa. O ATR 42 da
Total tem 44 assentos, dispostos 2 a 2 em 11 fileiras.
Logo depois de me sentar, a comissária Laura informou
que o piloto do TTL 5598, Cmte. Oswaldo, havia me
convidado para assistir a decolagem da cabine de
comando, convite prontamente aceito.
Amarrei-me ao jumpseat do ATR no momento em que o
primeiro oficial Penido solicitava ao controle de solo
da Pampulha a autorização para push-back e acionamento.
Pedido aceito, o trator da Total começou a empurrar os
15.076 kg que o PR-TTA pesava naquele exato instante,
16h50, dez minutos antes de nosso horário publicado de
partida. Motor dois acionado e trator desconectado,
iniciamos o taxi as 16h52, rumando para a cabeceira 13.
Três minutos depois, alinhamos na pista de 2.505m de
comprimento e 45m de extensão.
"Tudo certo? Então vamos" - disse Oswaldo, acelerando os
dois manetes de potência do bimotor. Em segundos
cruzávamos a V1/VR de 98 nós (181 km/h) e rodávamos; a
seguir passamos pela V2 a 104 nós, ou 192 km/h. Trem em
cima, curva à esquerda, lá fomos nós rumo ao norte do
estado de Minas Gerais. Logo após a decolagem, Oswaldo
mudou o controle de velocidade da potência máxima para "Climb
Power", regime de subida, que desgasta menos os dois
motores.
O ATR estabilizou no nível 170 (17.000 pés) e a
velocidade em relação ao solo (Ground Speed) foi mantida
em 250 nós, ou 463 km/h. O ATR-42-300 é a aeronave mais
lenta da frota da empresa. O ATR 42-500, por exemplo,
voa pelo menos 70 km/h mais rápido. Já o ATR 72-212 voa
40 km/h a mais que o ATR-42-300. Mas tudo isso depende
de uma série de fatores, que vão do peso às condições
climáticas e até mesmo da determinação da empresa em
voar, sempre que possível, em regime de cruzeiro
econômico: mais lento, mas com menor consumo de
combustível. Por falar nisso, o ATR consome em média, na
primeira hora de vôo, aproximadamete 600 kg de JET A-1,
reduzindo para 500 kg/h nas horas subsequentes. Nossa
etapa até Montes Claros, distante 348km de Belo
Horizonte, estava estimada em uma hora de vôo,
aproximadamente a mesma distância entre Rio e São Paulo.
Retornei ao meu assento e fiquei observando o trabalho
das comissárias Bianca e Laura, responsáveis pelos 29
passageiros. Constatei que a Total Linhas Aéreas tem um
serviço de bordo simples mas bastante satisfatório, num
padrão melhor do que a maioria das empresas aéreas
nacionais. Foi servida um sanduíche frio de perú, queijo
branco e salada, que estava fresquinho, leve e saboroso.
Saquinhos de amendoim acompanhavam, mas o destaque ficou
por conta mesmo das bebidas: sucos, refrigerantes, água
mineral ou café, além de vinho branco e tinto (o
indefectível Marcus James), whisky (Johnnie Walker Red
Label) e cerveja. Muito bom!
Finda a refeição, fiquei contemplando o lindo por do
sol, que coloria a Serra do Espinhaço com tons
dramáticos. O mundo definitivamente é mais belo através
das janelinhas de um avião, pensei eu, relaxando depois
de um longo dia que havia começado 12 horas antes em S.
Paulo. Fui desperto por Bianca, que me avisou:
"O comandante espera você lá na cabine de comando para o
pouso".
Amarrado ao jumpseat, observei o briefing de Oswaldo e
Penido, acertando os últimos detalhes antes do pouso. O
ATR foi gradativamente configurado para a descida, luzes
acesas, rumando para a cabeceira 12 da pista de MOC, que
tem 2100m x 45m. Eram 17h50 quando tocamos com muita
suavidade no solo, completando o vôo em 55 minutos e
consumindo 525 kg de JET A-1 na etapa. Um giro de 180º
na pista e paramos em nossa posição. O Total 5598 havia
acabado. Agora começava o Total 5599, vôo de regresso à
BH.
Rápido desembarque, bagagens retiradas com agilidade
pela equipe de terra e logo chegava o carrinho com as
malas dos 46 passageiros que viajariam à capital mineira
naquele lindo começo de noite. O sol já havia se
escondido atrás das "Alterosas" e o céu exibia aquela
luz maravilhosa, um festival de cores que serviu
perfeitamente de fundo para o ATR da Total, que recebia
seus passageiros. Portas fechadas as 18h07, iniciamos o
taxi para a pista 12 as 18h10, com 49 pessoas a bordo e
15.961 kg de peso. Decolamos quatro minutos depois,
subindo para o mesmo FL 170 do vôo de ida.
O mix de passageiros agora era notadamente diferente do
vôo de ida, onde havia um pouco de tudo, até casais
apaixonados. Agora, devido ao horário, o ATR levava
basicamente executivos e profissionais retornando depois
de um dia de trabalho à BH. Gravatas e colarinhos
afrouxados, o Johnnie Walker Red Label fazia sucesso.
Outro sanduíche, igualmente saboroso, foi servido. Já
era noite fechada lá fora, as conversas eram feitas num
tom mais baixo, alguns cochilavam até. Fiquei no meu
assento observando o trabalho das comissárias, que foram
muito elegantes e simpáticas com todos os passageiros. O
tempo passou voando nas asas da Total: às 19h09, onze
minutos antes do horário publicado, as rodas do PR-TTA
tocavam no solo de BH, completando a jornada em 56
minutos de vôo, após cumprir a STAR Alba 2 para a pista
13 da Pampulha.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela própria empresa.
2-Check-In: Nota 10.
Rápido e muito cortês, sem problemas.
3-Embarque: Nota 10.
Rápido e descomplicado.
4-Assento: Nota 8.
Bancos confortáveis, estado de conservação razoável.
5-Entretenimento: Sem nota.
Não há opções de jornais nem de revistas.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Impecáveis, amáveis, delicadas.
7-Refeições: Nota 9.
Muito melhor que as companhias aéreas nacionais. A Total
está de parabéns.
8-Bebidas: Nota 8.
Boas opçõs em ambos os vôos, incluindo Whisky, vinho e
cerveja. 9-Desembarque: Nota 10.
Rápido e eficiente, nas duas pontas.
10-Pontualidade: Nota 10.
No vôo de ida e de volta, saímos e chegamos antes do
horário.
Nota final: 9,00
Comentário final:
Deu para notar bem porque a Total é a maior regional do
Brasil. Foi tudo direitinho mesmo, no solo e no ar. Vôos
exemplares. Após conhecer os bastidores da empresa, dá
mesmo para afirmar: voar Total foi totalmente demais.
G. Beting