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SwissAir SR183
Quando a Swissair fechou suas portas em outubro de 2001,
fiquei chocado. Em seguida, senti uma profunda tristeza,
motivada pela dura constatação que qualidade nem sempre
é suficiente para garantir a sobrevivência. E por haver
recebido essa notícia como sinal de que o mundo
definitivamente havia mudado - para pior.
Fiz vôos memoráveis com a empresa, voando em todas as
três classes. Na minha época de executivo de aviação,
precisava ir constantemente à Europa a trabalho e sempre
reservava os vôos da Swissair. Nunca me decepcionei.
Para este Flight Report, escolhi um trecho entre Bangkok
e Amsterdam, via Zürich. Entre outras razões, porquê foi
feito no HB-IWF, o MD-11 que se acidentou em 3 de
setembro de 1998 caindo no mar e matando todos os seus
ocupantes.
Fui contactado pela Presidência da Transbrasil com a
ordem: esteja depois de amanhã em Amsterdam. Ponto
final. Minha passagem de volta era de KLM, non-stop para
Amsterdam, mas não havia vôos da empresa no dia
seguinte. Além disso, era uma tarifa ID 90 com poucas
chances de transferência positiva para as congêneres. A
alternativa foi comprar na hora outro bilhete,
garantindo minha presença na Holanda.
Quando se viaja a trabalho, confiabilidade vale ouro.
Então fui para a loja da Swissair no terminal, pois o
City Ticket Office já havia fechado. Fui prontamente
atendido e reservei meu lugar na classe executiva,
embora pudesse voar de primeira. Mas o preço de uma
First Class Full Fare, comprada no aeroporto, me pareceu
exorbitante demais para a nossa empresa.
Consegui o último lugar no avião que saía no dia
seguinte, que também era o último dia do curso de
Marketing de Aviação Comercial. Passei no hotel, tomei
um banho e rumei para o Don Muang, o aeroporto de
Bangkok. Terminal lotado, turistas de camisas floridas
aproveitando os últimos momentos dos tórrido calor que
fritava a cidade. Na capa do jornal naquele dia, a foto
de um guarda de transito que desmaiara de calor no meio
da rua.
A sala VIP da SR estava lotada. Pouco fiquei e fui logo
me dirigindo para o MD-11, que aguardava os passageiros
no embarque local. A aeronave procedia de Cingapura e os
passageiros originários nesta cidade já estavam nos seus
lugares quando deu-se o embarque local. O ar
condicionado do MD-11 foi um alívio, ao sair do abafado
e úmido calor do terminal apinhado. Sentei-me na
poltrona 14J, num vôo rigorosamente lotado. A Swissair
em seus MD-11 usava uma configuração generosa na
Businesss Class, adotando o confortável padrão de
assentos 2 + 2 + 2, contra o mais usual 2 + 3 + 2
encontrado em aeronaves das concorrentes. Assim, você
estava sempre numa das janelas ou nos corredores. Os MD-11
da Swissair têm uma configuração de 12 assentos na First,
49 na Business e 149 na econômica.
Portas fechadas, as comissárias começaram a distribuir
mini-chocolatinhos Nestlé com desenhos de aviões
históricos da empresa nas embalagens. Simpáticos e
deliciosos.
O Comandante Wettenstein deu as boas vindas e fez um
speech em inglês, francês, alemão e italiano. Uma
gravação automática completou o speech em tailandês. Só
faltou búlgaro ou esperanto.
Push back dois minutos depois do STD, as 23:22.
Começamos nosso taxi as 23:26 rumo à pista, decolamos às
23:31. Foi servido um excelente jantar, composto por
canapés quentes, uma salada verde fresquinha e bem
apresentada e três opções de pratos.
O primeiro era um tournedo maitre d`hotel, a segunda
opção um peixe local, o suspeito Pla-kapong e o terceiro
também era um prato local, conhecido como Pakana e feito
à base de ostras. Achei um pouco demais, pois estava há
mais de uma semana comendo thai. Fui no tournedo e
estava excelente.
Carta de vinhos sem brilho, prestigiando os medianos
produtores suíços. Uma tábua de queijos excelente e um
mousse de toblerone, sublime, fechararam a refeição.
Cafés, digestivos e um praliné final. Eram já duas da
matina e eu preguei num sono firme. Acordei umas seis
horas depois, sobre a Sibéria. Uma noite linda lá fora,
enluarada, deixava a paisagem nevada com um ar
ligeiramente fantasmagórico.
Um excelente café quente foi servido por uma comissária
que parecia um anjo: alta, loira, macérrima, desfilava
pelos corredores do MD-11. Terminada a refeição, mais
chocolatinhos e iniciamos a descida para Zürich, onde
pousamos as 06:03 local, depois de 11:32 minutos de vôo.
Não há aeroporto melhor para conexões que Zürich.
Pequeno, simples, eficiente como o país. As 07:10 estava
na poltrona 2A do HB-ISX, um MD-80 da empresa que me
levaria ao destino final, Amsterdam. Push back as 07:25,
taxi 3 minutos depois e decolagem as 07:36, pousando as
08:45 em Schiphol. Mais um excelente café, mais uma
montanha de chocolatinhos, mais comissárias bonitas e
sorridentes. Pousamos no horário e corri para um taxi.
Entrei na sede da KLM, onde faria um reunião com o Cmte.
Omar e com diretores da empresa holandesa as 10 horas.
Cheguei bem disposto e tranqüilo.
Saudado por Jos Kamp, um dos diretores da KLM com quem
vínhamos fazendo negociações, fui perguntado de onde
chegava. Informei a ele que passara a noite num MD-11 da
Swissair desde Bangkok. "Bom vôo?" Me perguntou o
diretor da KLM. Achei melhor uma mentirinha: "apenas
razoável..."
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Nota 10.
Prontamente atendido na loja do aeroporto. Emissão no
ato.
2-Check-In: Nota 8.
Correto, o aeroporto lotado demais para um atendimento
mais personalizado.
3-Embarque: Nota 8.
Embarque igualmente lotado.
4-Assento: Nota 8.
Bom Pitch, sem telas individuais mas na disposição
generosa adotada pela Swissair.
5-Entretenimento: Nota 7.
Boa seleção musical e de video. Mas não assisti a quase
nada, pois dormi boa parte do vôo.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Na melhor tradição da Swissair: impecáveis e charmosos.
7-Refeições: Nota 8.
Bastante boas.
8-Bebidas: Nota 5.
Prá que inventar? No dia que a Suíça fizer bons vinhos,
a França fará ótimos chocolates...
9-Necessaire: Nota 8.
Um kit completo e bem apresentado.
10-Desembarque: Nota 10.
Rápido e eficiente, transferindo para o MD-80 em
minutos.
11-Pontualidade: Nota 10.
Saídas e chegadas no horário, com precisão suíça.
Nota final: 8,36
Comentário final:
Que saudade vou ter sempre de você, minha querida
Swissair. Você tinha classe e charme, eficiência e um
toque na medida de calor humano. Agora é torcer pra sua
sucessora Swiss voar com um padrão à altura do seu
legado.
(Gianfranco Beting)