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Volta ao Mundo pela Star Alliance
A asa D do Terminal 2 em Guarulhos estava cheia na
agradável noite de 6 de setembro. Eram 19:10 quando me
apresentei no balcão da Air Canada. Não havia ninguém na
fila, e só não saí do balcão em segundos porque Mônica,
a profissional qiue me atendeu com eficiência e
cortesia, ficou impressionada com a espessura da pilha
de bilhetes que apresentei. "Nossa! Olha esse bilhete!
Parece que você vai dar a volta ao mundo!"
Acertou, Mônica. E este vôo, o Air Canada 991 era o
primeiro de 16 vôos de uma viagem ao redor do mundo,
voando ao menos um trecho em cada empresa participante
da Star Alliance. Este é o primeiro de uma série que
iremos publicar semanalmente aqui no jetsite, levando
você junto conosco.
Esta viagem começou em março último, quando fui
entrevistar o VP de assuntos corporativos da Star
Alliance, Mr. Christian Klick, na sede da empresa em
Frankfurt. A entrevista durou duas horas, seguida de
mais duas horas de um excelente almoço. Então, click!
Tive uma idéia, que imediatamente propus a Mr. Klick: A
Star Alliance me dá a passagem de volta ao mundo, e em
troca, divulgaremos a história no Jetsite. Que tal?
Mr. Klick aceitou de imediato. E o resultado daquele
almoço você vai ver com exclusividade nestes Flight
Reports especiais que começamos a publicar agora. No
ritmo de um por semana, você irá dar a volta ao mundo
conosco nas asas da Star Alliance. Vai atravessar os
desertos da Sibéria num A340 da SAS, vai cruzar o
Pacífico duas vezes, num 767 da Air New Zealand e num
747-400 da Asiana. Vai ver como é cabine de um A319 da
Air Canada, de um A320 da Mexicana, de um CRJ da
Tyrolean.
E o começo desta viagem não poderia ter sido melhor,
sendo atendido com eficiência e simpatia. Faltavam ainda
duas horas para a decolagem e fui para a sala VIP da
Classe Executiva da Varig que estava praticamente
lotada. Vários vôos da Varig e de parceiras da Star
Alliance partiam por volta daquele horário, e conseguir
um lugar para sentar não foi fácil.
Finalmente chegou a hora da partida e lá fui eu para o
767-300 de prefixo C-FMWV, e Fleet Number 634 (o número
de frota usado internamente pela empresa para
reconhecimento e identificação). Extremamente bem
conservado externa e internamente, o 767 faz parte de um
lote originalmente entregue à Air Canada (este em
dezembro de 1995), para a empresa que é uma das
principais operadoras do 767 no mundo, com 35 aeronaves
na frota.
Minha poltrona, 4K, mostrou-se extremamente confortável.
A começar pela configuração pouco usual dos 767 na Air
Canada, que dispõe as 29 poltronas da classe executiva
seguindo o padrão 2-2-1, isto é, as poltronas "K" ficam
isoladas junto às janelas, e separadas das outras na
mesma fileira pelo corredor. Uma excelente configuração
para alguém viajando sozinho, como eu.
O embarque foi feito juntamente com outros passageiros e
foi ordenado. Fomos recebidos com simpatia pela
tripulação, composta por 3 pilotos e 7 comissários (as),
chefiados naquela noite pela Chief Purser Linda Lavigne,
baseada em Toronto. Havia entre estes tripulantes, dois
brasileiros, uma característica da empresa que ajuda
imensamente os passageiros que não falam outros idiomas
além do português.
Um passageiro da executiva reclamou que o sistema de
entretenimento de sua poltrona não estava funcionando e
um mecânico foi chamado para tentar resolver a questão,
o que acabou atrasando o fechamento das portas. Eram
21:15, cinco minutos depois do ETD, quando finalmente o
767 foi desconectado do gate. O passageiro levantou-se e
foi à galley dianteira: o defeito voltou. Então as
portas se abriram novamente: o mecânico entrou, e dez
minutos depois, estávamos prontos para a partida.
O comandante Glenn Torrie fez o speech, saudando a todos
em inglês e dando as condições do vôo e climáticas em
Toronto, onde o tempo estava excelente: Cavok, 26ºC. Os
comissários passavam distribuindo os flight kits,
cardápios, jornais do Brasil e do Canadá. E uma bebida
de boas vindas, suco de laranja ou água. Os speeches
eram feitos nas duas línguas oficiais do Canadá (francês
e inglês) e em português e espanhol.
Finalmente, as 21:30 o Boeing 767 começou a ser
tratorado e a girar os motores. Cinco minutos depois
taxiávamos rumo à pista 09L de Guarulhos, de onde
decolamos as 21:40. Subíamos direto ao primeiro nível de
cruzeiro, 35.000 pés acima do mar, quando com 8 minutos
de viagem, aconteceu a pior emergência que pode ocorrer
num vôo: fogo a bordo.
No sistema de PA, a ordem foi dada para que todos os
comissários fossem para a L2, a porta de saída da parte
traseira da aeronave. Em segundos, eles agarraram
máscaras anti-fogo, extintores, machados e lanternas e
"voaram" para lá. Um estado de estupor, o famoso
silêncio mortal, baixou sobre os passageiros. Olhos
arregalados, olhavam para trás, na espera de alguma boa
notícia. Pensei: "alguém deve ter ido fumar escondido no
toalete" e resolvi prestar atenção nos motores do avião,
esperando a qualquer momento uma redução de potência,
que indicaria um retorno em emergência.
Mas, por sorte e pela rapidez, sangue frio e habilidade
da tripulação, nosso vôo prosseguiu, o incidente não
passando de um grande susto. O que ocorreu foi que o
pessoal do catering esqueceu uma toalha de pano na hora
de manusear as refeições quentes. Ela ficou dentro do
compartimento do forno, e, por ser esquecida, acabou
"cozinhada" e ao pegar fogo, produziu muita fumaça. Uma
vez esclarecido o problema, um anúncio foi feito pelo
PA, um pedido de desculpa formal foi feito em nome da
tripulação e o 767 prosseguiu normalmente.
Em seguida, a purser Lavigne veio pessoalmente conversar
com os passageiros. Ajoelhando ao lado de cada um, não
apenas pediu desculpas mais uma vez em nome da empresa,
e pacientemente informou a cada passageiro sobre o
ocorrido, fazendo questão de tranquilizar a cada um.
Mais um exemplo de que, as vezes, adversidades podem ser
transformadas em verdadeiras oportunidades para aqueles
que são bons profissionais.
Com o problema superado, começou o serviço de bordo
propriamente dito. Castanhas quentes e bebidas à escolha
do passageiro. Um problema: os vinhos disponíveis a
bordo não eram necessariamente os mesmos do que os
encontrados na carta apresentada, embora houvesse boas
opções. O comissário, porém, sabia recomendar e servir
muito bem, explicando com segurança as características
principais das garrafas disponíveis.
Foi então servida a entrada do jantar, uma salada fria
de caranguejo e camarão, uma das duas opções. Em
seguida, três opções de prato: fiquei com um filé
saboroso, acompanhado por um merlot chileno bastante
honesto. Havia ainda uma pasta ou salmão como opções de
partos quentes. Tábua de queijos e frutas e pelo menos 4
opções de doces arrematavam a refeição. Enquanto
jantava, assistia a programação de entretenimento no
monitor individual da poltrona. São 8 canais musicais e
mais 12 de video, embora não houvesse programaçnao em
todos eles, apenas em sete: três filmes de longa
metragem e vários documentários garantiam boas opções.
Com exatamente 2:59 minutos de vôo, retiraram a bandeja
de meu jantar. Faltavam ainda 6.335 km para o nosso
destino, ou sete horas de vôo. Levantei-me e fui
conversar com a tripulação e saber mais detalhes do vôo,
que estava completamente lotado, com 100% dos 29
assentos na executiva e 176 da econômica ocupados. A
tripulação, totalmente baseada em Toronto, estava
acostumada ao vôo diário para São Paulo. Três cuidavam
dos passageiros na Executiva (um deles dedicado
exclusivamente à galley) e os outros 4 na classe
econômica.
Hora de testar o conforto da poltrona. Peguei o flight
kit: correto, com uma divisão de cremes e bálsamos para
o bem-estar do passageiro durante o vôo, fiz minhas
abluções e me esparramei pela poltrona 4K pelas próximas
4 horas. Fui acordado pelo aroma do "breakfast" sendo
servido, duas horas e meia antes da chegada. A Air
Canada oferece ao passageiro da executiva a
possibilidade de escolher o tempo e o ritmo das
refeições: você pode optar por uma refeição mais rápida,
onde tudo é servido diretamente numa bandeja, ou então
seguir o ritmo normal, no qual cada prato é servido e
retirado da sua bandeja.
Muito bem: lá fora, era noite fechada ainda e o AC 991
cruzava a 39.000 pés, nossa altitude final de cruzeiro,
e a 556 milhas por hora, ajudado por um constante vento
de cauda. Um farto desjejum foi servido, com duas opções
de pratos quentes, iogurtes, cereais, pães, geléias e
todos os acompanhamentos de praxe. Ao terminar o café,
lá fora, o alvorecer já desenhava uma faixa de fogo no
horizonte. Eram 06:15 (ou 07:15, hora de Brasília)
quando o C-FMWV iniciou a descida rumo ao Lester B.
Pearson International Airport.
Pouco tráfego na terminal garantiu uma aproximação
direta, ajudando a tirar o atraso da partida. Pousamos
com incrível suavidade na pista 33R as 06:34, nove
minutos antes do STA. Porém, só conseguimos entrar em
nosso gate no Terminal 1 as 06:55, pois o mesmo
encontrava-se ocupado por outra aeronave. O desembarque
foi rápido, com a atenciosa tripulação despedindo-se de
cada passageiro na porta com genuína simpatia.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Nota 10.
Feita pela Lufthansa, que se encarregou de reservar
todos os vôos da viagem de volta ao mundo.
2-Check-In: Nota 10.
Rápido, simpático e bem humorado.
3-Embarque: Nota 10.
Idem, pois os passageiros de classe executiva têm
prioridade.
4-Assento: Nota 8.
Bastante bom para a categoria, permitindo dormir mesmo.
Não reclina 180º como em algumas companhias. O tecido
que o recobre, num tom de verde-acinzentado, é que
poderia ser melhor.
5-Entretenimento: Nota 8.
No padrão internacional. A revista de bordo da Air
Canada, EnRoute, é bastante boa.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Eficiente, simpático, profissionalíssimo. Lidaram muito
bem com uma emergência. Mostraram genuinamente, durante
todo o vôo e para com todos os passageiros, uma atitude
impecável: atentos, calorosos, genuínos. Nota 10 mesmo.
7-Refeições: Nota 8.
Apresentação correta e pratos saborosos, receitas
interessantes.
8-Bebidas: Nota 7.
O pecado de não haver a bordo os vinhos que constavam na
carta só não foi maior porque as opções encontradas eram
comparáveis, numa mesma classe de categoria. No entanto,
esse é um detalhe importante, que não pode ser relevado.
9-Necessaire: Nota 7.
Desenho e ítens razoáveis, num padrão correto.
10-Desembarque: Nota 8.
Rápido e com cordialidade. Pouca fila na imigração, mala
na esteira com rapidez.
11-Pontualidade: Nota 9.
Apesar do atraso na partida, os ventos de cauda
conseguiram tirar o atraso. Chegamos 10 minutos
adiantados.
Nota final: 8,63
Um vôo para entrar na história: em primeiro lugar pelo
incidente na partida, mas sobretudo pela qualidade da
tripulação. Um excelente time, que conseguiu desfazer a
má impressão deixada pela experiência. Eles lidaram com
o fogo e com os passageiros muito bem. Foram
profissionais e calorosos, atentos e bem-humorados. E
isso tudo com a companhia atravessando uma concordata,
que a obrigou a cortar salários e benefícios... Mas
profissionais de verdade são assim: mesmo que tenham
problemas (e quem não tem?) não transferem suas
dificuldades e frustrações para os passageiros. Muito
bem, Air Canada.
Gianfranco Beting
E vamos ao nosso segundo trecho na Volta Ao Mundo pela
Star Alliance. Estamos agora em Toronto, e lá fora, um
lindo dia de verão, assim como a véspera: azul, sem
nuvens, temperatura de 27ºC. Apresentei-me no balcão da
classe executiva do Terminal 2 as 07:00, para embarcar
no AC815, serviço sem escalas para Chicago.
Como no chck-in em GRU, os 16 bilhetes juntos provocaram
espanto na atendente da Air Canada: "Nossa! Parece que
você vai dar a volta ao mundo!" Não, minha senhora, com
a sua colaboração eu já estou dando", respondi. Em
minutos minhas malas havia sido checadas diretamente
para a Cidade do México, meu destino final neste 8 de
setembro. Afinal, em Toronto é possível fazer já a
imigração para os Estados Unidos, bem como a alfândega:
as malas foram então levadas ao raio-x e despachadas
direto para o México. Essa conectividade, ou "seamless
service" (serviço sem costuras) só é possivel pela
coordenação entre a Air Canada e a Mexicana, masi uma
das razões para se voar com uma aliança como a Star.
Só isso já poupou bastante trabalho na conexão que faria
em Chicago, que é um dos dois maiores e mais
movimentados aeroportos do mundo. As filas são sempre
longas, especialmente na semana desta viagem, quando os
cuidados com segurança foram redobrados pelo aniversário
de 2 anos dos atentados de 11 de setembro.
Com este problema resolvido, fui para a gigantesca e
confortável sala VIP da Air Canada, a Maple Leaf Room,
onde tive tempo e condições para trabalhar co
tranquilidade e ainda tomar um café da manhã, cortesia
da Air Canada. Fomos chamados para o embarque portão N
do Terminal 2, onde estava estacionado o A319-100 de
prefixo C-GARO. Minha poltrona marcada e confirmada era
a 1D, primeira fila do lado direito da aeronave.
Fui recebido na porta pelo Chief Purser Robert Ladouceur,
extremamente cordial e simpático como a comissária Reneé
Deschamps. Pelo nome já deu pra adivinhar que ambos eram
da base Montreal. Bidu. Acomodei-me e pedi para visitar
o cockpit: "sem problemas", me garantiu o Mr. Ladouceur
após solicitar ao comandante do vôo, Capt. Lorne Cooke.
Ele e a primeiro oficial, Nancy Lemelin, também baseados
em Montreal, foram extremamente gentis. Expliquei o
motivo de minha viagem e eles se interessaram mais
ainda, fazendo uma série de perguntas. A conversa estava
boa, mas era hora de partir.
Voltei ao meu assento e acomodei-me para a partida
programada para as 09:20. As 09:16 as portas dianteiras
do Airbus foram fechadas e pontualmente as 09:20 o
trator começou a afastar a aeronave do gate N. O vôo
AC815 iria começar, mas antes, um speech foi feito pelo
purser, que foi anunciando em inglês e francês, as
condições climáticas em Chicago e, informação
interessante, que o tempo de vôo seria de uma hora mas o
tempo de calço, isto é, de gate a gate, seria de uma
hora e 28 minutos.
Motores girando, Lemelin acelerou os dois CFM-56 e o
Airbus começou a taxiar lentamente para a pista 06L,
para cumprir a SID Lester 7, um das várias saídas padrão
de instrumentos (SID-Standard Instrument Departure) das
4 pistas do aeroporto de Toronto. O tráfego não estava
tão pesado e o taxi foi relativamente curto. Ao
chegarmos na posição 2, o Cmte. Cooke informou pelo PA
que o centro de Chicago havia solicitado uma espera no
solo de cinco minutos, coisa absolutamente comum para
este que é o mais movimentado aeroporto do mundo.
Esperamos menos que isso, e tão logo autorizados, a
primeiro oficial Lemelin alinhou o A319. Potência de
decolagem aplicada, o bimotor acelerou até atingir a V1
de 119 nós e aos 120kt atingiu a V-R. Lemelin puxou
suavemente o joystick para trás e as 54.1 toneladas de
peso de decolagem do nosso Airbus venceram a gravidade,
saindo do solo e subindo com vigor. Com uma pronunciada
curva à esquerda, nossa aeronave deixava Toronto cada
vez mais à direita, descrevendo uma longa curva
ascendente de aproximadamente 250º, antes de nivelar as
asas e continuar subindo para o nível 310, nossa
altitude de cruzeiro.
Na cabine, hoje era dia de média ocupação, com apenas 6
dos 14 assentos da executiva tomados e apenas 50 dos 96
assentos ocupados na econômica. Mas também, pudera: a
Air Canada tem mais de 15 vôos por dia entre as duas
cidades, uma verdadeira ponte aérea.
O A319 já cruzava a Mach 0.79 quando o café da manhã foi
servido: bebidas da preferência do passageiro. Fui com
um chá, servido em porcelana inglesa Royal Doulton, uma
das melhores do mundo e que equipa os vôos da Air Canada
na classe executiva. Logo depois veio o prato quente:
uma omelete muito bem feita e apresentada, envolta numa
finíssima massa de panqueca e recheada com queijo,
aspargos e cebolinha. Estava saborosa e no tamanho do
apetite.
Os monitores de cabine começaram a passar programas de
curta metragem e noticiários da CBC, a cadeia nacional
de TV do Canada. Apenas 36 minutos depois da partida, o
Airbus atingiu o TOD, Top of Descent, ou ponto de início
de descida.
Lá embaixo, uma manhã clara, com névoa seca, receberia o
AC815. Nossa chegada foi pela pista 22R, executando a
STAR (Standard Terminal Arrival Route) Pullmann 4.
Cruzamos a parte norte da Cidade e eram 10:39,
exatamente uma hora depois da decolagem, quando a F/O
Lemelin comandou a descida do trem de pouso. O Airbus
reduziu para a velocidade ideal, mas foi sacudido por
fortes rajadas de vento, o que é bastante comum em
O`Hare. Lemelin adicionou um pouco de potência por
precaução e em dois minutos mais tocávamos no solo com
firmeza.
Reversos aplicados, o nosso Airbus saiu da pista 22R
para um taxi relativamente curto para um dos nove
terminais de O`Hare. Finalmente estacionamos na posição
E1, onde encostamos as 10:49. O purser Ledouceur errou
por um minuto: tempo total de vôo foi de 01:02 e de
calço 01:29. Um desembarque ágil e despedidas calorosas
marcaram o final do AC815, um vôo impecável.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela Lufthansa, que se encarregou de reservar
todos os vôos da viagem de volta ao mundo.
2-Check-In: Nota 9.
Uma pequena fila, mas sem dúvida, simpático e
profissional.
3-Embarque: Nota 10.
Idem, pois os passageiros de classe executiva têm
prioridade.
4-Assento: Nota 8.
Bastante bom para a categoria, com regulagens de apoio
lombar, reclinação e encostos para os pés - ajustável em
comprimento e altura.
5-Entretenimento: Nota 8.
Num bom padrão, com programas de curta metragem. Jornais
foram distribuídos e revistas estavam disponíveis na
cabine.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Como no AC991: eficiente, e muito simpático: bastante
acima das expectativas.
7-Refeições: Nota 8.
Correta e saborosa para o horário: a receita,
interessante, colaborou.
8-Bebidas: Nota 9.
Bastante correta: tanto na aprsentação como na
variedade.
9-Necessaire: Sem nota.
Não é distribuída.
10-Desembarque: Nota 9.
Rápido e com cordialidade.
11-Pontualidade: Nota 10.
Partida pontualíssima. Chegamos adiantados.
Nota final: 9,00
Mais um excelente vôo da Air Canada. Excelente time de
profissionais: bem humorados, relaxados, brincalhões mas
sérios, compenetrados e focados quando a situação
exigia. Só posso resumir sugerindo: pode voar com a Air
Canada.
O aeroporto de O`Hare em Chicago está sempre entre os 3
mais movimentados do mundo. Suas 7 (sim, sete) pistas já
não comportam mais o tráfego e estuda-se como ampliar a
capacidade desse gigante. Vamos voar agora com a
Mexicana de Aviación entre Chicago e Ciudad de México,
no terceiro trecho de nossa volta ao mundo com a Star
Alliance.
Esse vôo começa no desembarque do Air Canada AC815,
procedente de Toronto. Parado no gate E1, nosso A319 se
perdia em meio a um verdadeiro mar de jatos da United,
que juntamente com a American Airlines é a maior
operadora em Chicago O`Hare (ORD) e que, afinal de
contas, é mesmo sede da UAL.
Desembarquei neste terminal que é ocupado também pela
Continental, Northwest, America West e pelas empresas
regionais que prestam serviços de alimentação (feeder) à
United com dezenas de jatos CRJ. Só este terminal é
maior do que o aeroporto de Guarulhos. E existem mais 9
terminais pelo menos tão grandes quanto...
Fui consultar num dos numerosos visores de avisos de
chegadas e partidas qual seria o portão de saída do
MX801: Portão 21, T5, o enorme e moderno terminal
internacional. O tamanho de ORD é tal que foi necessário
construir um sistema de trens entre os terminais, que
utilizei para poder chegar lá. Já com o boarding pass
para o México na mão, dirigi-me direto à sala VIP da SAS,
que é compartilhada pelas empresas parceiras da Star
Alliance. De decoração tipicamente escandinava, isto é,
com generoso uso de madeira clara e móveis e utensílios
de desenho moderno, a sala é bastante bonita, prática e
confortável.
Fomos chamados para o embarque e como acontece com os
passageiros na classe executiva, fomos os primeiros a
entrar no Airbus A320-200 escalado para nos levar ao
México. Naquela tarde de 8 de setembro, o MX801 seria
operado pelo jato matriculado N447MX e batizado de
Minatitlán. A Mexicana batiza suas aeronaves com nomes
de cidades mexicanas ou de países para onde voa.
Esta é uma aeronave que está voando para a Mexicana por
um curto período de tempo, arrendada para cobrir a
ausência de outra aeronave idêntica que está passando
por um meticuloso Check D. É diferente das demais em sua
pintura externa, mas principalmente, pelos motores IAE
V2500 que utiliza, ao contrário da frota da Mexicana que
é totalmente composta por motores CFM 56.
Fomos recebidos na porta pelo purser e por uma
comissária que me indicou o assento 2A da Clase
Ejecutiva. Nove destes assentos estavam ocupados, bem
como 88 assentos na classe econômica. Com 7 tripulantes
(dois técnicos, mais dois comissários na executiva e
três na classe econômica, as portas do N447MX foram
fechadas com o POB (People On Board) de 104.
O Comandante do MX 801 naquela tarde era Arturo Mallard.
Em seu speech, ele saudou a todos em espanhol e inglês e
deu as informações básicas de vôo, como altitude, tempo
estimado de viagem e hora de pouso e condições
climáticas na Cidade do México, que estava sob forte
chuva, comum nesta época do ano.
Nosso horário de partida era 14:20, mas dois minutos
antes, um leve solavanco indicava que o MX801 estava
começando. Os silenciosos motores IAE foram acionados, e
com tudo ok, o trator foi desengatado. Eram 14:25 quando
Mallard acelerou os motores e o A320 iniciou seu longo
taxi rumo à cabeceira 09L, para executar a SID O`Hare
Uno.
Nossa aeronave passava lentamente em frente à dezenas de
aeronaves de muitos países que ocupavam os gates no
Terminal 5: os A330 da SAS, BMI, Swiss, 777 da British
Airways e um 747-400 da Lufthansa eram apenas algumas
delas.
Finalmente, depois de 14 minutos de taxi, Mallard
aplicou toda a potência disponível nos dois IAE: o A320
iniciou sua corrida e com 139 nós, passou pela V1, a
máxima velocidade em que poderia abortar a operação,
também chamada de decision speed. Com cinco nós a mais,
Mallard puxou levemente o joystick ao atingir a VR ou
Rotation Speed, que é a mínima velocidade em que a
aeronave encontra sustentação para decolar em condições
normais. O A320 logo ultrapassou a safety speed ou V2,
que naquelas condições era de 145 nós. O trem de pouso
foi recolhido e a terra lá embaixo foi miniaturizada
rapidamente: quem disse que voar não é magia pura?
Mallard, que é pássaro até no nome, não dava descanso ao
seu A320: subíamos rapidamente e direto ao nosso nível
de cruzeiro, FL390 ou 39.000 pés. As 68.2 toneladas do
A320 ao decolar não provocavam maiores dificuldades aos
motores IAE, que foram ajustados naquele vôo para um
cruzeiro de Mach 0.78, ou 815 km/h. Isto seria
suficiente para nos levar à capital mexicana dentro do
horário previsto de chegada, 18: 30.
Como já vimos, o N447MX é um jato arrendado
provisoriamente e seu interior certamente não segue os
padrões da Mexicana. Sendo assim, as poltronas da Clase
Ejecutiva eram de um modelo antiquado, sem nenhuma
provisão para sistemas de audio e video, e evidente,
nenhuma conexão para laptop, o que deixou o workaholic
passageiro ao meu lado contrariado: Dammit! That wouldn`t
happen on United!
Mas a Mexicana tinha uma surpresinha para entreter os
passageiros da classe executiva: em seguida a atingirmos
nossa altitude de cruzeiro, a tripulação passou
oferecendo videos individuais Hi8, com quatro títulos
bastante recentes. Optei por um filme que queria muito
assistir, estrelado por Jack Nicholson: About Schmidt. O
sistema funcionou satisfatoriamente, cumprindo mesmo sua
missão: entreter. Assistir aos 125 minutos da película
fez o MX801 passar mais rápido.
Enquanto assistia o filme, começou o serviço de bordo da
Mexicana de Aviación. Um almoço completo foi servido,
com uma entrada, 3 opções de pratos principais, sorvete
de creme de sobremesa e, mais próximo da chegada, como
se tudo isso não fosse bastante, um prato de frutas e
queijos. Não havia no cardápio, porém, uma carta de
vinhos. Havia um tinto e um branco, e a procedência
deles não pode ser observada. A seleção de bebidas eram
completa, condizente com um vôo internacional de quase 4
horas. O purser e uma comissária cuidaram com eficiência
dos ocupantes da Ejecutiva. Lá atrás, os 88 passageiros
da econômica eram atendidos por mais 3 comissários.
Apresentei minhas credenciais ao comandante ainda em
solo, e ele pediu que eu esperasse até sairmos do espaço
aéreo norte-americano para falar comigo. Mal cruzamos a
fronteira e lá vem o seu chamado para uma visita à
cabine. Obedecendo, fui até a cabine e fiz algumas
fotos, colhendo as informações técnicas para este Flight
Report. Fiquei sabendo de alguns waypoints, pontos de
sobrevôo em nossa rota: Saint Louis, Houston, Hermosa,
Ciudad Victória e depois um vetor direto para a Cidade
do México. Nossa chegada seria pela pista 05R, usando a
STAR Lucia Uno.
Voltei para meu assento e as 17:48 iniciamos a descida,
abandonando nossa cruise altitude. Estimei o pouso em 25
minutos, como quase sempre acontece após o TOD, para as
18:13. A Cidade Do México estava apresentando as
condições comuns para esta época do ano: os chaparrones,
pancadas de chuva fortes, acompanhadas de ventos de
intensidade e direção variáveis. De fato, ao entramos na
TMA, fomos recebidos por uma parede de CBs e em seguida,
uma parede de nuvens pesadas.
Mallard foi flapeando o Airbus A320, configurando-o para
a chegada. Eram 18:12 quando as rodas do N447MX
encostaram com firmeza na encharcada pista do Aeroporto
Internacional Benito Juarez. Pousar mais firmemente é
recomendado em pistas molhadas, pois minimiza a chance
da aeronave aquaplanar, isto é, das rodas perderem
aderência com o solo. Saímos da pista e entramos numa
longa fila de aeronaves que lotavam o pátio e que
acabaram por retardar um pouco nossa chegada ao Gate 27.
Mesmo assim, desembarcamos adiantados em relação ao ETA.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela Lufthansa, que se encarregou de reservar
todos os vôos da viagem de volta ao mundo.
2-Check-In: Sem nota.
Feito pela Air Canada em Toronto.
3-Embarque: Nota 8.
Os passageiros de classe executiva têm prioridade, o que
sempre ajuda. A tripulação foi correta, ao receber os
passageiros e acomodá-los, mas o fez com pouca simpatia.
4-Assento: Nota 5.
Antiquados, com apenas regulagens de reclinação e sem
encostos para os pés.
5-Entretenimento: Nota 7.
Limitado aos videos individuais. A seleção de títulos
eram muito boa. E várias revistas e catálogos nas
poltronas.
6-Serviço dos comissários: Nota 7.
Eficientes, sim, mas pouco simpáticos.
7-Refeições: Nota 8.
Apresentação e quantidade muito boas para o horário.
8-Bebidas: Nota 7.
Variedade ok, mas sem nenhuma carta ou lista de opções.
9-Necessaire: Sem nota.
Não é distribuída.
10-Desembarque: Nota 6.
Rápido para sair da aeronave, mas as bagagens demoraram
a sair. Certamente, as etiquetas de prioridade das
bagagens de classe executiva não foram respeitadas.
11-Pontualidade: Nota 10.
Partida e chegada mais que pontuais: pousamos 18 minutos
adiantados.
Nota final: 7,25
Alguns altos e baixos neste vôo da Mexicana. A
configuração da aeronave não ajudou, a tripulação podia
ter sido mais simpática. O desenho do produto, contudo,
é correto: cardápios impressos, videos individuais. Um
vôo no padrão esperado para uma empresa da Star Alliance,
mas faltou um pouquinho de brilho e de simpatia, sem
dúvida.
Gianfranco Beting
Quarto vôo na nossa Volta ao Mundo pela Star Alliance,
este é o único da série em uma companhia
norte-americana. Terceira maior empresa aérea do mundo
e, juntamente com a Lufthansa, uma das empresas líderes
na formação da aliança, no dia 9 de setembro de 2003 fui
voar com a United Airlines. Apresentei-me para o
embarque no aeroporto Internacional Benito Juarez na
Cidade do México para fazer o check-in no United 1008,
non-stop service para Los Angeles. Ninguém na fila, em
uma questão de minutos já seguia para a sala VIP da
United, o Red Carpet Club. Também deserta, com apenas um
casal ocupando o enorme espaço.
Fomos chamados no horário para descer para o portão 22.
O vôo de hoje seria feito pelo N498UA, um dos mais novos
Airbus na enorme frota de A320 da United. Lá estava ele,
reluzindo ao sol da tarde com sua distinta imagem
corporativa em cinza e azul, que sempre se destaca nos
aeroportos. Recém chegado de Los Angeles, ele seria
preparado para o vôo de retorno por um exército de
profissionais de terra, que logo "atacaram" o A320: o
tempo em solo seria curto, pouco mais de uma hora.
O embarque foi rápido e descomplicado, pois só havia 45
passageiros no UA1008. Apresentei-me ao comandante
Naseem Ahmed, que foi extremamente simpático: levou-me
para a cabine e me respondeu todos os dados técnicos do
vôo que iria começar. Seu primeiro-oficial, David
Spalding, embora não tão comunicativo, deu algumas
informações adicionais.
Em questão de minutos, estavam todos acomodados em seus
assentos, garantindo uma partida mais rápida e um
push-back as 18:13, exatos 7 minutos antes do horário
previsto de saída, 18:20. As 18:18 taxiamos para a pista
05L, seguindo um A320 da Mexicana. Esperamos ainda a
decolagem de um 767 da MAS Cargo e, enquanto
aguardávamos, presenciei o pouso de três pesos-pesados:
dois 747-400 (KLM e Lufthansa) e um MD-11 da Varig.
Enfim liberados pela torre, o nosso A320 foi alinhado na
05L: full-power aplicada, aceleramos rápido para a nossa
V1 de 130 nós. Segundos depois, a VR foi atingida com
135 nós e Ahmed tirou do chão as 133.400 libras do A320
as 18:28. Subimos seguindo a SID Toluca 1 Alpha, com
curvas à direita.
A bordo, as 3 comissárias baseadas em Los Angeles e sob
a supervisão da Chief Purser Katherine Startzman
aguardavam o sinal de desapertar cintos, enquanto o A320
sacolejava em meio às formações. Somente depois de
driblarmos alguns CBs durante nossa subida e atingirmos
nossa altitude de cruzeiro, 39.000 pés, (as 18:55) é que
enfim as condições ficaram mais calmas. O Cmte. Ahmed
apagou o aviso de apertar os cintos e o Airbus, voando a
Mach 0.80, deixou para trás as muitas formações que
tornaram bastante turbulento o início do vôo.
Logo após estabilizarmos, começou a programação de video,
com a exibição de um filme de longa metragem nos
monitores espalhados pela cabine. Katherine passou
distribuindo os cardápios da First Class, que é como a
United designa a cabine dianteira em aeronaves com duas
classes apenas, como era o caso do N498UA.
Estava com sorte: Katherine e suas duas colegas eram
profissionais excepcionais: experientes, com mais de 20
anos de vôo, conheciam sua profissão de trás pra fernte,
de frente pra trás. Nenhum segredo e total desenvoltura
no trato com os sistemas da aeronave e com os
passageiros eram evidentes desde o embarque. A natureza
bem-humorada da tripulação só tornou a viagem mais
agradável. Katherine não perdia uma oportunidade de
brincar com os passageiros.
Mas não era só na base da brincadeira que ela mostrava
suas qualidades: era visível o cuidado com que tratava
seus passageiros. Por exemplo, os copos de cada um dos
ocupantes da First Class mal chegavam à metade e lá
vinha Katherine ou sua colega para completar. São
detalhes como estes que fazem ou arrebentam qualquer
serviço, por melhor que seja na concepção, no papel.
A baixa ocupação ajudava a garantir um serviço ainda
mais personalizado: dos 12 assentos na First e 126 na
Classe Econômica, apenas 9 estavam ocupados na cabine
dianteira e 36 na econômica. Mas, com a recente decisão
da United de reduzir para 3 o número de comissários nos
seus A320 (138 assentos), eu fico imaginando como deve
ser o serviço em dia de casa cheia...
O serviço foi iniciado tradicionalmente com uma bebida à
escolher e as castanhas quentes para acompanhar. O
cardápio principal indicava jantar a bordo: uma
saladinha de folhas verdes de entrada e duas opções de
prato principal. Escolhi um steak com purê e vagens,
acompanhado por um Cabernet Sauvignon chileno, Veramonte
2001, bastante correto.
Você já sabe como é comida de avião: por melhor que seja
a empresa e a classe de serviço, é muito difícil comer
realmente bem a bordo. Neste UA1008, contudo, tive uma
agradável surpresa: o prato estava verdadeiramente muito
bom, sem os gostos e texturas tradicionais encontrados à
bordo. O ponto da carne estava perfeito: macia,
suculenta, derretia na boca. O purê de batatas idem,
delicado e saboroso. As vagens firmes e bem temperadas.
De sobremesa, um profiterolle de amêndoas que não fazia
feio, café ou chá e ao final, a constatação de que esta
poderia muito bem ter sido uma refeição feita em terra,
num bom restaurante. Há muito tempo não comia tão bem a
bordo.
Feliz da vida, olhava para fora e via as belíssimas
formações da Baja California, coloridas pelo sol que se
punha sobre o Oceano Pacífico e que recortava o
dramático litoral da península. A bordo, o vinho e a
simpatia da tripulação tornavam a viagem perfeita. Com a
refeição terminada, Katherine sentou-se ao meu lado e
fomos conversando sobre a sua carreira, sobre aviação,
sobre a viagem de volta ao mundo. Faltam poucos anos
para ela se aposentar e escutei suas histórias de vôos,
de viagens, de uma vida vivida no ar e nos 4 cantos do
planeta. O tempo passou voando.
Eram 21:24, horário do México ou 19:24, horário de Los
Angeles, quando os computadores de bordo reduziram a
potência das turbinas, iniciando a descida para o
movimentado aeroporto de Los Angeles. Lá fora, o sol
ainda coloria o horizonte com uma paleta maravilhosa,
que ia do rosa ao vinho, do laranja ao ocre. Em seu
speech, o Cmte. Ahmed agradeceu a presença de todos a
bordo. A tripulação iniciou os preparativos para a
chegada, retirando os últimos copos, verificando cintos
apertados e encostos de poltrona na posição vertical.
Lá embaixo, as cidades da Califórnia brilhavam na noite
clara, sob a luz de uma linda lua cheia. Dava para ver
perfeitamente os vários aviões cruzando com o UA 1008,
acima e abaixo, nos congestionados céus da California.
Ahmed seguia a STAR Paradise 4, que conduziria o A320
até a pista 25L, no setor sul do aeroporto e comumente
usada para as chegadas de vôos procedentes do sul e
centro-oeste norte-americano. Além disso, a pista 25L é
próxima aos terminais usados pela United, o que
diminuiria o tempo de taxi.
As 19:47, Spalding comandou o trem de pouso na posição
para nossa chegada: gear down, três luzes verdes acesas
na cabine, trens baixados e travados, o auto-throttle
comandava as turbinas IAE mantendo o A320 na rampa de
planeio que nos conduziria à terra firme. Los Angeles
brilhava lá embaixo, em condições climáticas perfeitas:
Cavok, 24ºC. Com bastante suavidade, pousamos as 19:51 e
após um breve taxi, estacionamos no Terminal
Internacional Tom Bradley, ao lado de dois 747-400, um
da China Airlines e outro da Philipinnes. O United 1008
chegou ao fim após 03:23 de vôo.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela Lufthansa, que se encarregou de reservar
todos os vôos da viagem de volta ao mundo.
2-Check-In: Nota 9.
Breve e profissional, mas sem qualquer simpatia.
3-Embarque: Nota 10.
Com poucos passageiros, os procedimentos foram bastante
rápidos. A tripulação foi extremamente simpática desde o
início.
4-Assento: Nota 9.
Confortáveis, bastante bons para a categoria. E ótimo
espaço para a divisória à minha frente, o que nem sempre
acontece na primeira fila.
5-Entretenimento: Nota 8.
Um filme de longa metragem, os canais de música e a
revista Hemispheres, além de uma seleção de outros
títulos, garantiram um padrão correto.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Se pudesse daria nota 11. Superlativas, na eficência à
simpatia, do bom-humor à experiência. Uma aula de
atitude e de como tratar bem o público. Elas conseguiram
estabelecer um rapport com cada um dos passageiros.
Espetacular.
7-Refeições: Nota 10.
Excepcionalmente saborosa. Quase inacreditável: não
parecia comida de avião.
8-Bebidas: Nota 8.
A bordo, apenas uma das duas opções de tintos e brancos
que constavam na carta de vinhos.
9-Necessaire: Sem nota.
Não é distribuída.
10-Desembarque: Nota 10.
Rápido. As malas não demoraram a sair, pois as etiquetas
de prioridade para as bagagens de classe executiva
funcionaram. Duro foi enfrentar a fila de imigração,
atrás de 800 passageiros que desembarcavam das Filipinas
e de Taiwan, o que tomou mais de 45 minutos para
finalmente entrar nos Estados Unidos.
11-Pontualidade: Nota 10.
Partida e chegadas mais que pontuais: saímos e chegamos
adiantados.
Nota final: 9,33
Um vôo próximo da perfeição. A excepcional tripulação,
uma cabine confortável, um jato novinho em folha fizeram
com que os pequenos deslizes, como a falta de opções na
carta de vinhos, não fossem suficientes para tirar o
brilho deste United 1008. Mais uma prova de que, no que
depender do grupo de vôo, a United tem tudo mesmo para
sair da grave crise que enfrenta.
Gianfranco Beting
Voltamos ao OZ201. Após cochilar brevemente, de forma a
controlar melhor minha adaptação à enorme quantidade de
fusos horários que atravessaría, despertei. Afinal,
estava mesmo preocupado em tentar chegar à Coréia...
cansado! Entenda porquê: em relação ao horário da
partida de Los Angeles, estaríamos chegando às 02:00 da
manhã do sábado, mas pelo horário coreano, já seriam
18:00 horas do próprio sábado. Assim, precisava chegar
com sono à Coréia, pois se dormisse demais no avião e
desembarcasse "ligado", trocaria o dia pela noite, o que
me custaria dias de adaptação aos novos fusos horários.
E permanecer desperto ao máximo ajudou também para fazer
este Flight Report. Assim, para poder conhecer melhor o
serviço da empresa, apresentei-me à Chief Purser Choi,
que foi extremamente simpática e solícita: me levou para
conhecer a Primeira Classe, me explicou detalhes do
serviço de bordo, dos procedimentos de "rostering" da
Asiana, que é o sistema da companhia que define em quais
vôos e em quais datas os tripulantes irão trabalhar.
Voltei para minha poltrona e acompanhei pela tela
individual o momento em que o nosso 747 cruzou a IDL,
International Date Line, linha imaginária que divide o
planeta em dois dias: de um segundo para outro, por
volta das 20:54 da sexta-feira em Los Angeles, ou seja,
com quase 7 horas de vôo, entramos no sábado, 13 de
setembro. No horário de Seul, já eram 12:54. Lá fora o
sol brilhava intensamente na proa do HL7417, que já
voava a 36.000 pés, aliviado pelas muitas toneladas de
combustível consumido desde a nossa decolagem.
Era o único passageiro acordado e Ms. Lee veio me
oferecer um Club Sandwich no pão croissant. Água? Chá
com leite e adoçante, certo? Nem precisei pedir: ela se
lembrava de como eu preferia meu chá, detalhes tão
pequenos de nós dois. pequenas atenções como esta eu
chamo de Serviço, com S maiúsculo.
O HL7417 cruzava então a 38.000 pés. Com 10 horas de
vôo, a cabine foi acesa e os passageiros despertados.
Mais toalhinhas quentes e muita simpatia da tripulação.
O lanche foi servido, e que lanche. Começando por um
magret de pato com laranja e salada de batata de
entrada, depois por um peito de frango ou uma segunda
opção de prato quente, vinhos e outras bebidas à
vontade.
No sistema de entretenimento, assistia a um interessante
documentário sobre os 10 melhores passeios de
helicóptero do mundo. Olhei para baixo, pois já
sobrevoávamos o Japão, que brilhava lá embaixo no sol da
tarde. Entramos na Terra do Sol Nascente sobrevoando a
cidade de Iwaki, cruzamos a vertical de Maebashi e
saímos um pouco ao sul de Komatsu, fazendo então uma
leve correção de proa para finalmente entrar na Coréia
na vertical da cidade de Daegu.
As 17:35, hora de Seul, o 747 abandonou sua última
altitude de cruzeiro, 39.000 pés, e iniciou a descida
para Inchon. A tripulação verificou toda a cabine,
recolhendo ítens do serviço de bordo, fones de ouvido,
tratando de arrumar um pouco a cabine depois de 12 horas
de vôo. Alguns passageiros coreanos faziam alongamento
pelos corredores, esticando o esqueleto. Tudo ok, portas
checadas, os tripulantes voltaram para suas posições. Na
cabine, fez-se o silêncio típico da hora de chegada, um
misto de cansaço, torpor e, para o 1/3 dos passageiros
que morrem de medo de voar (média mundial comprovada),
pura apreensão, mesmo.
O 747 perdia altura e entrava no procedimento de chegada
(STAR) Leena Three. Um sol já quase deitado no horizonte
iluminava tibiamente o 747 quando, com impressionante
suavidade, o Cmte. Kim colocou as 18 rodas na pista 15R
as 18:08, completando a viagem em 12 horas e 11 minutos
de vôo. Mais alguns tempo taxiando e paramos na gate 10.
Após o desembarque dos passageiros, fui recebido pelo
Comandante do vôo no cockpit. Conversamos um pouco e
fotografei a maravilhosa cabine de comando do 747-400,
fechando com chave de ouro um vôo soberbo.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela Lufthansa, que se encarregou de reservar
todos os vôos da viagem de volta ao mundo.
2-Check-In: Nota 9.
A atendente não estava na posição para cuidar do
check-in, embora já estivesse no horário previsto para
fazê-lo. Visivelmente constrangida com o fato,
desculpou-se e cuidou de tudo com delicadeza e rapidez.
3-Embarque: Nota 10.
A tripulação, extremamente simpática, e Brahms tocando
na cabine fizeram toda a diferença.
4-Assento: Nota 6.
Pouco confortáveis, inferiores à média da categoria.
Porém, com bom espaço entre fileiras.
5-Entretenimento: Nota 8.
Com 4 filmes de longa metragem, vários canais de música
e programção interessante, só poderia ser melhor se
fosse no sistema On-Demand.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Outro que se eu pudesse, daria nota 11. Espetacular.
7-Refeições: Nota 9.
Excelentes sob todos os aspectos: quantidade,
apresentação, adequação ao horário de serviço.
8-Bebidas: Nota 8.
Bela seleção para uma classe executiva.
9-Necessaire: Nota 3.
Não é distribuída, o que em parte é compensado pela
presença de muitos dos ítens no banheiro. Mas não dá pra
desculpar: este é um padrão da indústria e a Asiana
precisa assumir este custo.
10-Desembarque: Nota 8.
Muita demora para a entrega nas bagagens.
11-Pontualidade: Nota 10.
Partida um pouco antes do horário e chegada adiantada em
22 minutos (previsto para as 18:30).
Nota final: 8,10
Um vôo excelente. A excepcional tripulação é prova
inequívoca do alto padrão de treinamento e serviços da
Asiana, que em 2001 recebeu da importante revista Air
Transport World o prêmio de "Melhor Serviço de Bordo".
Mais do que fazer justiça, ficou claro para mim que por
este prêmio e por este vôo, a Asiana pode mesmo ser
considerada como uma verdadeira "Jóia da Ásia".
Gianfranco Beting
A Asiana é uma das mais jovens empresas aéreas do mundo,
completando quinze aninhos de vida em 2003. Como quem
chega depois, ela tinha mesmo a obrigação de fazer mais
e melhor para conquistar seu espaço. Este Flight Report,
quinto na série da Volta ao Mundo pela Star Alliance,
traz a você, leitor do Jetsite, as impressões de voar
numa empresa que assina suas campanhas publicitárias com
o slogan "The Jewel of Asia". A Jóia da Ásia? Presunção
ou mera constatação? Viaje conosco e tire suas
conclusões. Ah! Este é o primeiro FR dividido em duas
partes: havia fotos demais para colocar em uma única
página. Bom proveito.
Embarcar em Los Angeles no dia 12 de setembro foi algo
tenso: hoje em dia, nos aeroportos americanos, tirar uma
câmera da sacola é quase um insulto, uma ameaça à
soberania nacional. Foi o que aconteceu quando fiz a
primeira foto do check-in. Um dos gorilas contratados
pela TSA (Transportation Safety Agency) veio para cima e
com a educação de um pitbull foi logo mandando eu
"deletar" a imagem da minha câmera digital, dizendo que
não seria possível fotografar mais. Nem argumentei: os
Estados Unidos, uma nação, um povo e uma cultura que amo
e respeito, transformou-se da noite para o dia 11 de
setembro da Terra dos Livres e dos Bravos na Terra dos
Bravos com os Livres. A Paranóia Nacional Bruta (PNB)
cresce a cada momento e esta era uma oportunidade de
ouro para o brutamontes mostrar que é capaz de defender
a "Homeland".
Finalmente fiz o check-in, sem enfrentar nenhuma fila.
Com o boarding pass na mão, fui para a sala VIP da
Asiana, que a empresa divide com a Swiss. Como quase
todos os VIP Lounges no Terminal Internacional de Los
Angeles, a sala é acanhada em espaço, mas o serviço das
duas atendentes foi muito bom. Sushis e sanduíches
frios, além de um bar completo, estavam à disposição dos
passageiros. Como cheguei cedo, pude ficar fotogrando da
janela, voltada para uma taxiway que une a ala norte da
ala sul do aeroporto. Finalmente, passava pouco das
13:00 quando nos chamaram para o embarque no portão 105.
Ao lado do nosso 747, parado no Gate 106, estava o MD-11
da Varig de prefixo PP-VQX, recém chegado de Tokyo,
sendo preparado para retornar a São Paulo e Rio no vôo
RG8837.
O Asiana 201 partiria na direção oposta ao MD-11. Hoje
era dia de atravessar o maior oceano do nundo e voar
para a Coréia. A Asiana confiou esta travessia ao Boeing
747-400 Combi de prefixo HL7417. Esta é uma versão
popular do 747: ela permite transportar um total de 271
passageiros e vários pallets de carga no deck principal.
Com a pujança econômica da Coréia, espaço para carga é
sempre importante.
Fomos chamados para o embarque e entramos pela porta
dianteira, dedicada aos passageiros da Primeira Classe
(na parte frontal do avião, à frente da primeira porta)
e da Business Class, que na configuração escolhida pela
Asiana ocupa todo o deck superior do 747. Já fazia algum
tempo que não voava no "Upper Deck" de um 747 e devo
confessar: já tinha me esquecido como era bom... Sem
muitos rodeios: ainda não fizeram nada melhor para vôos
longos do que um 747. E vôo longo este seria: estimado
em mais 12 horas, o Asiana 201 voaria por 6.000 milhas
sobre a imensidão do Pacífico, usando naquela tarde a
rota R591, uma das várias disponíveis ligando a América
do Norte ao Noroeste da Ásia.
Embarquei na cabine ao som de Brahms, que saia dos
alto-falantes e, além de ser um toque extra de classe,
comprovadamente acalma a passageiros e tripulantes,
deixando todos mais relaxados. Logo de cara, já notei
organização e simpatia por parte da tripulação, que como
comprovaria nas horas seguintes, era especialmente
simpática. O grupo responsável pela cabine, num total de
13 profissionais, era composto por comissárias chefiadas
por Seon Hee Choi, a Chief Purser no vôo. No cockpit,
duas tripulações técnicas completas (dois comandantes e
dois primeiros oficiais) se encarregariam de nos levar
através do maior dos oceanos. Na primeira metade do vôo,
o Cmte. Sung Ho Kang estariaa encarregado de pilotar o
747. Após 6 horas, assumiria o Cmte. Tui Ho Kim, que
seria responsável pela chegada ao moderníssimo aeroporto
de Inchon.
Enquanto os passageiros iam se acomodando, Champagne,
água e suco de laranja eram oferecidos pelos
tripulantes, ao mesmo tempo que ajudavam a guardar
casacos e malas, sempre com a simpatia e delicadeza.
Prestando máxima atenção, já começei a ficar
positivamente surpreso com os nada pequenos detalhes do
serviço, que já faziam a diferença logo de saída. Por
exemplo: os formulários de imigração foram distribuídos
numa bandeja de prata, arrumados milimetricamente sobre
uma toalha de linho bordada, acompanhados de canetas
esferográficas personalizadas à disposição dos
passageiros e que serviam como brindes da empresa.
Embarque concluído, na cabine de comando a tripulação do
Cmte. Kang solicitava ao controle de solo o push-back,
ao mesmo tempo que as comissárias acionavam nas portas
do 747 os escorregadores automáticos, que em emergências
também servem como botes infláveis e são chamados de
slides. Reportando ao cockpit que todos estavam prontos,
era chegada a hora do Asiana 201 sair do gate. O HL7417
levaria naquela tarde 253 ocupantes: 4 na primeira
classe (12 disponíveis), 32 na Executiva (32
disponíveis), 201 na econômica (236 disponíveis) e mais
17 tripulantes.
Acomodado na poltrona 12K, constatei a nossa saída do
gate 105 as 13:28, dois minutos antes do STD. Nove
minutos se passaram até que o trator nos posicionou no
pátio e iniciamos o táxi até a pista 05R. Com 784.000
libras ou 355,600 kg de peso na decolagem, incluindo-se
aí apenas 5 toneladas de carga no deck principal,
estávamos bem abaixo do peso máximo para este 747, que é
de 394.625 kg. Sob o sol californiano, o vistoso HL7417
taxiava de forma imponente no pátio, na sua condição de
maior e mais pesada aeronave comercial em serviço.
Após o longo taxi, finalmente alinhamos na pista 25R.
Exatamente as 13:57, o Cmte. Kang encheu a mão nas
quatro manetes: o ruído grave dos 4 motores GE só então
se fez sentir no Upper Deck, que é uma das cabines mais
silenciosas da aviação comercial. Com os quatro motores
rugindo em regime de full-power, 40 segundos depois, o
747 passava pela V1 de 155 nós, e com mais 5 nós, Kang
puxou o manche, elevando o 747 com facilidade. Poucos
segundos depois entramos na camada de nuvens marítimas,
comuns nesta época do ano na Califórnia. Passando pela
V2 de 172 nós, os trens de pouso foram recolhidos e o
747 iniciou uma curva à direita, tomando a proa norte
como mandava a STAR Ventura 4, usada pelo OZ201 para
deixar a California. Logo o Cmte. Kang comandou os Flaps
para a posição de cruise. Nossa longa jornada estava
apenas começando.
Speeches em coreano e inglês soaram pela cabine,
informando o tempo de vôo, sequência de refeições
(almoço e um lanche antes da chegada) e a temperatura em
Inchon, 24ºC. As comissárias então passaram distribuindo
toalhinhas quentes, juntamente com os belíssimos
cardápios da Classe Executiva. A refeição seria composta
por canapés variados, uma entrada e duas opções de
pratos quentes ocidentais (filé mignon com legumes e
batatas ou camarões e vieiras salteados com batatas e
legumes), além de uma seleção tipicamente coreana, a
"Refeição Real", que estava com aspecto e com aromas
muito bons, pelo que pude notar do passageiro sentado ao
meu lado. Uma boa seleção de vinhos e bebidas completava
o cardápio.
Fui de frutos do mar, com um belo Chablis, tudo
excelente. Um prato de frutas e queijos, um cheesecake
com maçã e chá arremataram a refeição de forma perfeita.
Lá fora, a costa da Califórnia proporcionava uma visão
deslumbrante, perfeitamente visível na tarde cristalina.
Voávamos a 34.000 pés, nossa primeira altitude de
cruzeiro. A visão que tivemos da Cidade de San Francisco
foi deslumbrante, como você pode ver numa das fotos:
parecia estar olhando para um mapa, com a linda ponte
Golden Gate, vermelha, recortada contra a baía azul.
Enquanto almoçava, assistia o filme Procurando Nemo, um
dos quatro "Blockbusters" exibidos no vôo. Na Asiana, o
sistema de entretenimento é composto de 22 canais de
audio, sendo 10 para as trilhas sonoras dos vários
longas metragens e documentários disponíveis e mais 12
exclusivamente para áudio. Toda esta programação pode
ser consultada numa bela revista/guia de entretenimento
de bordo. Além deste título, a revista Asiana Culture
(bastante interessante) e um enorme catálogo de Duty
Free, juntamente com as instruções de segurança, ficam
acondicionadas numa pasta plástica dentro do encosto das
poltronas.
Por falar em poltrona, esta foi uma grande decepção: de
modelo antigo e reclinação modesta, não possui encosto
para a cabeça nem suporte lombar. O encosto para os pés
é limitado e, no geral, lembra muito as poltronas de
Primeira Classe de 20 anos atrás. A Asiana poderia
melhorar muito o seu produto investindo em poltronas
mais confortáveis, até porque a competição já está
fazendo isso há algum tempo. E em vôos de 12 horas ou
mais, a qualidade da poltrona é importantíssima.
Com três horas de vôo, finalmente as últimas bandejas
foram retiradas. Cruzávamos a 460ktas em relação ao
solo, aproximadamente 850 km/h, enfrentando ventos de
proa que tiravam em média 50 km por hora de nossa
velocidade em relação ao solo. Melhor seria dizer em
relação ao oceano, porque da minha janela era tudo o que
se podia ver: o imenso e profundamente azul Oceno
Pacífico.
Terminada a refeição, notei que os "ammenity kits" ou
necessaires não foram distribuídos. Perguntei à
Assistant Chief Purser J. H. Lee, que me respondeu que a
Asiana não mais distribui os kits para os passageiros,
limitando-se a distribuir apenas tampões de ouvidos e
máscaras para os olhos, mas apenas a quem pedir. Será
que esta decisão justifica a economia de US$ 10,00
(custo médio para a empresa de um kit de classe
executiva) para quem está pagando até US$ 6.000,00 pelo
bilhete? A Asiana deveria rever esta medida. Entrando no
banheiro, percebi que a Asiana compensou a falta do kit
com uma arsenal completo dos itens normalmente
encontrados. Estava tudo lá: escova de dentes, cabelos,
pentes, mouthwash, perfumes, hidratantes... ok, ok,
compensou.
Voltei para meu assento e me preparei para descansar um
pouco. E assim, encerramos a primeira parte deste Flight
Report.
Sexto na série da Volta ao Mundo pela Star Alliance,
este vôo com a All Nippon Airways (ANA) prova que é
possível prestar um serviço excepcional mesmo em trechos
curtos: com apenas uma hora e 57 minutos de vôo, a ANA
deu um verdadeiro show.
O balcão da empresa, no espetacular aeroporto de Inchon,
construído para a Copa do Mundo de 2002, abriu
exatamente as 10:10, como anunciado nas telas que
indicam a empresa e a classe de serviço. Apenas uma
pessoa na minha frente e logo a cordialidade e educação
tipicamente japonesas já se fizeram sentir. Não, talvez
o melhor adjetivo para definir o espírito japonês,
especialmente no ramo de serviços, seja delicadeza. Sim,
japoneses são delicados em essência, e então, quando o
assunto é lidar com o público, é praticamente certo que
o tratamento será soberbo.
Foi mesmo. Embarcados no portão 49 (de 50) no gigantesco
terminal, a tripulação do NH918 já era toda sorrisos na
porta da aeronave, fazendo o gracioso e típico gesto de
curvar o tronco ligeiramente para a frente, o que
significa abaixar-se, "ficar menor" do que a pessoa
cumprimentada, de maneira a mostrar reverência. Por
outro lado, também espera-se que a pessoa cumprimentada,
retribua e igualmente se curve. Esta forma de
cumprimento é bastante comum por quase toda a Ásia, e no
Japão, observa regras estritas, de difícil explicação.
Mas, via de regra, quanto mais importante a pessoa,
maior o "ângulo de descida" do tronco e a velocidade do
movimento. Se a pessoa é mesmo muito importante, o gesto
é repetido várias vezes, rapidamente. Interessante, não?
Bom, lá estava eu me curvando e embarcando no JA8362, um
767-300ER recebido pela ANA em 1989. Embora não fosse
novo, estava absolutamente impecável, como se houvesse
saído da fábrica na semana anterior. Nenhuma mancha,
risco, nada fora do lugar, por dentro e por fora,
imaculado, na melhor tradição japonesa de respeito e
cuidado com as máquinas. Acomodado na penúltima das 7
fileiras de assentos do Club ANA, como é chamada a
classe executiva na empresa, aguardei o embarque dos
demais passageiros. Como era domingo, a classe executiva
estava mais vazia que o normal, apenas 14 dos 40
assentos ocupados. Na classe econômica, embarcaram146
passageiros para ocupar os 170 assentos disponíveis.
Os assentos do Club ANA são extremamente confortáveis,
recobertos por um tecido que lembra a camurça no tato e
portanto, bastante agradável ao toque, outra preocupação
tipicamente nipônica, que é o povo que mais compreende e
respeita esse tão desrespeitado sentido. Deu pra
perceber que eu sou apaixonado pelo Japão?
Pois bem, portas fechadas as 12:35, cinco minutos antes
do estimado para a partida. Parados ao lado de um
Ilyushin 96 da Aeroflot, aguardamos o controle de Inchon
liberar nosso push-back, executado as 12:41, um minuto
depois do STD. Tratorados para o imaculado pátio,
motores GE girando, às 12:45 o Cmte. Ross Corlett
acelerou levemente os motores, tirando da inércia as
288.800 libras (131 toneladas) que o 767 pesava naquele
momento. Taxiamos lentamente, pois havia tráfego no
solo, e fomos em direção à pista 33L atrás de um 777 da
Air France (F-GSPX) e de um 737-900 da Korean Air.
Finalmente alinhamos: com quase 4 quilômetros de pista à
nossa frente, o Cmte. Corlett acelerou o 767. Eram 13:04
quando os freios foram soltos e o Boeing começou a
ganhar velocidade para a sua V1 de 136 nós. VR atingida
com mais 3 nós, deixamos Inchon para trás, atingindo a
V2 com 145 nós e iniciando a SID Seoul 1 Alpha, subindo
para a rota G597 rumo à Terra do Sol Nascente.
Em poucos minutos estávamos atingindo nossa altitude de
cruzeiro de 37.000 pés. A Chief Purser Ayako Nakata,
liderando uma tripulação de mais 5 comissárias, iniciou
o serviço de bordo tão logo estabilizamos. Primeiro
passando uma toalhinha quente que é sempre bem recebida.
Depois, oferecendo uma bebida e em seguida, um almoço
bastante saboroso na classe executiva e uma simpática
caixa de lanches na classe econômica. Uma excelente
seleção de vinhos com opções californianas e francesas
caiu muito bem. Como entrada, tivemos uma composição de
salmão com dill, melão com presunto de Parma e uma
terrine de linguado. Como prato principal, um filé com
legumes e gohan, o típico e delicioso arroz cozido que é
o esteio da nação japonesa. Uma torta tão saborosa
quanto bonita e chá arremataram a refeição.
Lá fora, o sol brilhava com força sobre um mar azul, com
poucas nuvens, num belo dia de verão. As turbinas GE
giravam levando o nosso 767 na velocidade de cruzeiro de
468 ktas, ou 851 km/hora. Eram 14:00 quando cruzamos a
costa japonesa. Dentro da cabine, o sistema de
entretenimento consistia na projeção de um longa
metragem, iniciado tão logo decolamos. Nos bolsos das
poltronas, um simpático chinelinho, bem como os
cardápios, instruções de segurança, um guia de
entretenimento e a revista de bordo da ANA, Wingspan,
estavam meticulosamente arrumados, juntamente com as
guias de imigração e alfândega, prontas para serem
preenchidas.
A Assistant Purser Miss Obata, veio puxar conversa,
ajoelhando-se ao meu lado e perguntando porque eu
fotografava tanto. Contei e história da volta ao mundo e
ela morreu de rir. Chamou Ms. Tanaka, a Chief Purser,
explicou a viagem e ficaram as duas rindo, perguntando
se eu não queria que elas fossem junto...
Bem que eu gostaria. Mas a conversa foi cortada pela
redução dos motores. Na cabine, o Cmte. Corlett iniciou
a descida as 14:25, entrando no congestionadíssimo
tráfego do aeroporto de Narita. Corlett seguia os
procedimentos da STAR Venus North, e nós, passageiros,
acompanhávamos tudo da cabine: a ANA tem instalado nos
seus jatos uma câmera de video que capta imagens
externas do avião, o que permite ter uma visão perfeita
da chegada, decolagem, etc. Não há quem não fique
grudado nas imagens. Corlett trouxe seu 767 para para um
pouso inacreditavelmente suave, digno de nota 10, na
pista 16R: Tokyo nos recebeu com 30ºC e uma bela tarde
de sol as 15:01, completando a viagem em 01:57 de vôo.
Em meio a um mar de jatos da United, Northwest, JAL e
ANA, taxiamos para o Terminal 2, estacionando entre um
777 da Continental e um 747-400 da Air Canada, que
infelizmente chegaram antes, congestionando a imigração:
levei nada menos que 90 minutos na fila para carimbar o
passaporte.
Antes disso, porém, lá estavam na porta do 767 Ms.
Nakata e Ms. Obata, dizendo aos seus passageiros. Domo
arigatô, ANA. Excelente, impecável vôo.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: sem nota.
Feita pela Lufthansa, que se encarregou de reservar
todos os vôos da viagem de volta ao mundo.
2-Check-In: Nota 10.
Delicadeza e rapidez totais.
3-Embarque: Nota 10.
Nenhuma fila e uma tripulação muito simpática, dando as
boas vindas na porta da cabine.
4-Assento: Nota 10.
Muito confortáveis, bonitos, imaculados. Excelente
espaço entre fileiras.
5-Entretenimento: Nota 6.
Um filme de longa metragem, mas já é antiquado, como o
próprio 767, uma aeronave que já tem mais de 20 anos de
serviço.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Solícitas, impecáveis, elegantíssimas... Perfeitas. Ah,
quero morrer nos braços de uma comissária da ANA...
7-Refeições: Nota 8.
Bastante boa: saborosa, correta para a hora, quantidade
e apresentação excelentes. Único defeito? Não havia
opção de entradas ou pratos quentes.
8-Bebidas: Nota 8.
Excelente seleção para uma classe executiva.
9-Necessaire: Sem Nota.
Não é distribuída, o que é aceitável para um vôo diurno
de 2 horas.
10-Desembarque: Nota 8.
Rápido. Porém, a tripulação foi taxativa: visitas à
cabine são proibidas, mesmo em solo. os leitores do
jetsite ficam sem a foto da cabine do 767-300 da ANA por
causa disto.
11-Pontualidade: Nota 10.
Partida no horário e chegada com um pequeno atraso de 6
minutos (previsto para as 14:55) devido ao tráfego
ocasionado pela mudança de pista.
Nota final: 8,88
Outro vôo excepcional. Ele ilustra mais uma vez porque
sou exigente nas minhas análises de serviço feitas aqui
no Flight Report. Alguns leitores me escrevem dizendo
que pego pesado com a empresa X, que falo mal da Y, que
cismo com a Z. para eles e para você, de forma
definitiva: padrão de serviço para mim é mesmo o das
empresas asiáticas. O resto é o resto, principalmente
aqui pelas Américas, onde as companhias com raríssimas
exceções, não estão a altura de suas competidoras
orientais. Bastou pouco menos de duas horas de vôo para
comprovar que a ANA faz mais e melhor do que muita
empresa crescida por aí.
A tripulação está lá mesmo para servir, não para contar
quantas horas faltam para a aposentadoria. Vale um caso
que ilustra bem o que digo: recentemente, num vôo
transpacífico, um passageiro de uma grande empresa
norte-americana pediu à comissária um capuccino. A
resposta foi: Isto aqui é uma companhia aérea, não uma
filial da Starbucks!
Concluindo: existem bons serviços por aí. Mas quando se
trata de serviços realmente excepcionais, além de umas
poucas e boas empresas européias e mais alguns gatos
pingados aqui e acolá, companhias como a All Nippon
Airways mostram como é que se voa.
Beting - San
Sete vôos na Star Alliance em pouco mais de 10 dias.
Esta era a conta que fazia mentalmente ao me apresentar
no check-in da Air New Zealand (ANZ) no Terminal 2 do
aeroporto de Narita, que serve à cidade de Tokyo. Na
verdade, Narita é uma bela, pequena e charmosa cidade,
distante quase 70 km da capital japonesa. Eu estava do
outro lado do mundo e a sensação de tantas horas de vôo
parecia mágica, entorpecedora.
Teria uma bela jornada pela frente: encarar 13h45
minutos de viagem (11:30 de vôo) na companhia aérea de
bandeira da Nova Zelândia, um teste definitivo para
medir a qualidade dos serviços de qualquer empresa. O
check-in foi rápido como um Shinkansen: em minutos saía
do gigantesco saguão de embarque para enfrentar as
enormes filas da imigração japonesa. Por sorte, nada
disso ocorreu: em minutos estava na Aska Lounge, a sala
VIP usada pela ANZ para os seus passageiros de classe
executiva.
Fomos chamados pela atendente e prosseguimos para o
portão 72, onde embarcamos no 767-300ER de prefizo
ZK-NCH. Com duas classes de assentos, (24 + 212) o 767 é
junto com o 747-400 o principal equipamento da ANZ para
vôos internacionais. A Nova Zelândia, com pouco mais de
4 milhões de habitantes, na condição de modesta geradora
de tráfego que é, somada às sempre longas distâncias a
serem percorridas para chegar a virtualmente qualquer
lugar (exceto a Austrália) fazem do 767 uma aeronave sob
medida para a malha internacional da companhia. Assim,
os 767-300 podem ser vistos de Los Angeles a Hong Kong,
de Sydney a Nadi, voando por todo o Pacífico.
Os passageiros foram recebidos na porta por uma
impecável tripulação, para o curto trecho até Osaka,
primeira etapa de nosso vôo. Estes profissionais haviam
começado o dia em Auckland há mais de 14 horas, mas isto
era difícil de notar: estavam todos despertos, bem
humorados e impecáveis. Nosso 767 então voaria até o
aeroporto de Kansai, de onde seguiria no vôo de regresso
para a Nova Zelândia. Em Kansai assumiria o vôo uma nova
tripulação, embarcada lá mesmo, neste moderníssimo
aeroporto-ilha artificial.
Acomodei-me em meu assento, 2A, um dos 24 disponíveis na
Classe Executiva. Havia 17 assentos ocupados e lá atrás,
198 dos 212 assentos da classe econômica encontraram
compardores. Portas fechadas as 18:04, o trator empurrou
o 767 para o congestionado pátio e as 18:10 estávamos
taxiando para a nova pista, antes dos horários
previstos.
Essa nova pista de Narita é curta e assim obrigaria o
767 a fazer a parada técnica para reabastecimento em
Osaka, quando então, usando toda a sua longa pista,
enfrentaria mais de 10 horas de vôo até Auckland. A
tarde já se ia lá fora e uma temperatura de 24ºC, com
céus azuis, garantia condições ideias de vôo. Depois de
taxiar longamente até a cabeceira da pista 16L,
finalmente o comandante Purcell acelerou os motores GE
CF6-80C2B6: as 18:23 o ZK-NCH decolou. O vôo NZ34 estava
começando.
A primeira etapa transcorreu normalmente. Apenas um suco
de laranja foi servido, pois como se trata oficialmente
de um vôo doméstico (nesta etapa), a ANZ não pode abrir
o bar e servir bebidas alcoólicas. As 18:55 iniciamos
nossa descida para Kansai, construído sobre um ilha
artificial ao custo de US$ 8,5 bilhões de dólares. Eram
exatamente 19:32 quando pousamos pela pista 23L.
Parado no gate 44, o desembarque foi obrigatório,
enquanto a aeronave era preparada para a próxima etapa
pelas equipes de limpeza. Muitos dos ocupantes
desembarcaram em Osaka mesmo. Mesmo ao desembarcar, mais
uma passagem pelos equipamentos de raio-x foi
obrigatória para permitir o retorno à sala de trânsito.
Finalmente, após esperar mais de uma hora, fomos
chamados de volta ao 767.
Uma nova e descansada tripulação nos recebeu na porta da
aeronave para a continuação do vôo. O serviço na cabine
de passageiros seria supervisionado pelo Sr. J. Vicars,
o Inflight Service Director para este vôo, uma espécie
de diretor de serviços que substitui o purser das outras
empresas.
Extremamente simpático e profissional, bem como o resto
da tripulação, Mr. Vicars supervisionava mais 7 colegas
de cabine no trato como os 215 passageiros embarcados
para a etapa final do NZ34. Três deles (incluindo Mr.
Vicars) ficaram dedicados aos passageiros da Classe
Executiva e mais 5 para a econômica. Na cabine de
comando, um primeiro oficial e dois comandantes dividiam
os trabalhos, neste vôo dirigidos pelo Cmte. David
Cable. Agora sim, era chegada a (triste) hora de deixar
o Japão.
Portas fechadas as 21:10, cinco minutos antes do STD, o
ZK-NCH foi tratorado para o pátio as 21:13, taxiando
para a pista 23L três minutos depois. O Cmte. Cable, sem
tráfego à frente, acelerou o taxi: potência total nos
dois motores, o 767 começou a sua corrida de decolagem
as 21:23.
Acelerando lentamente, pois estava com 183,800 kg de
peso, apenas 3.662kg abaixo de seu máximo, o Boeing foi
ganhando velocidade: atingindo a V1 com 163 nós, Cable
segurou o 767 no solo até a VR de 167. Deixamos o solo e
executamos a SID Kansai 2, subindo para o nosso primeiro
nível de cruzeiro de 29.000 pés.
Lá fora, nada além do vasto Oceano Pacífico e de uma
noite sem luar, que abraçava o NZ34 na mais total
escuridão. Pensando nas mais de 5.000 milhas a vencer, e
distante de casa e da família, lembrei da frase de Jean
Batten, pioneira aviadora neozelandesa: Dentro do peito
de cada viajante que se aventura a cruzar oceanos para
terras distantes, há o coração de um explorador, onde
pulsa o mesmo espírito inquieto dos descobridores e
navegantes de séculos atrás.
A bordo, a tripulação trabalhava rápido, fazendo o
possível para servir o jantar o quanto antes, de modo a
permitir aos passageiros mais tempo de repouso. Assim,
logo fomos apresentados aos modernos e bonitos cardápios
que traziam para o jantar uma opção de entrada e três de
pratos quentes, sendo que um destes era da culinária
japonesa. Fiquei com um filé mignon, que, diga-se de
passagem, para o mercado japonês (onde a carne de boi é
vendida por grama) deve ter sido recebido como uma
refeição memorável. O sabor, porém, não correspondia à
apresentação (muito boa) e estava apenas correto.
O sistema de entretenimento individual já funcionava,
exibindo uma boa variedade de filmes de longa metragem
(6), documentários e musicais. Os tripulantes serviam as
refeições e constantemente repassavam o cesto trazendo
pães (por sinal, excelentes) e completando os copos, a
esta altura nobremente preenchidos com a feliz união das
boas cepas nativas da Nova Zelândia. Aliás, à exceção do
champagne francês (Nicholas Feuillatte) e de um shiraz
australiano (Orlando Jacobs Creek Reserve 1999), apenas
vinhos kiwis apareciam na carta. Todos os provados, dois
dos 5 brancos e dois dos 3 tintos, confirmavam a
vitalidade e evolução dos vinhos neozelandeses.
Após o jantar, uma belíssima taça de sorvetes de manga e
baunilha, acentuados por uma calda de laranja reduzida,
complementaram brilhantemente a refeição. Frutas e
queijos (para quem ainda não estivesse satisfeito) e chá
ou café arremataram. Era hora de testar as poltronas e
testadas elas foram: pelas 5 horas seguintes, dormi com
absoluto conforto, profundamente. Ah, a diferença que
uma boa poltrona faz num longo vôo.
Acordei para o café e lá fora, o sol da manhã brilhava
com vigor sobre um azul profundíssimo. No sistema de Air
Show, acoplado aos computadores de navegação da
aeronave, é exibida uma representação gráfica com os
mapas e rotas percorridas. Observei que havíamos acabado
de passar sobre a vertical de Noumea, Nova Caledônia, um
dos nossos waypoints. Antes, havíamos sobrevoado Guam,
Honiara e de lá em diante teríamos um vetor direto para
Auckland.
Antes disso, era imprescindível encarar o café da manhã.
Novo cardápio distribuído com as opções de dois pratos
quentes ocidentais e mais um desjejum típico japonês.
Abundantes opções de cereiais, iogurtes, frutas e
omeletes, num excelente padrão de variedade aliada à
qualidade. Mal terminamos o café da manhã e iniciamos
nossa descida para a maior cidade da Nova Zelândia: eram
10:21 quando o Cmte. Cable reduziu a potência dos dois
motores GE. Estávamos naquele momento cruzando a Mach
0.80 e voando a 37.000 pés, nossa altitude final de
cruzeiro.
O 767 começou a iniciar ps procedimentos da STAR Oceanic
2A para pouso na pista 23L. Uma manhã com fortes ventos
e temperatura de 15ºC nos esperava em Auckland. Eram
10:44, vários minutos antes do horário previsto, quando
os 10 "Dunlops" tocaram o solo de forma magistral. Pouca
utilização dos reversos nos motores, pois a longa pista
em AKL garantia espaço para frenagem apenas utilizando
as superfícies aerodinâmicas. Paramos no gate 8 e, na
porta do ZK-NCH, Vicars e seus excelentes colegas
despediam-se de seus passageiros com a típica simpatia e
informalidade neozelandêsa. E tem gente que ainda afirma
que os kiwis não sabem voar!
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Nota 7.
Na reconfirmação, uma troca de assento foi descoberta.
Êpa.
2-Check-In: Nota 10.
Delicadeza nipônica e rapidez absoluta.
3-Embarque: Nota 10.
Pouca fila e uma tripulação muito simpática.
4-Assento: Nota 10.
Extremamente confortáveis. O quer há de melhor na
categoria, isto é, sem levarmos em conta as camas que
estão sendo instaladas a bordo de algumas empresas na
classe executiva.
5-Entretenimento: Nota 8.
Bastante bom. Vários filmes de longa metragem,
documentários. Controles na poltrona funcionaram bem.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Informais e simpáticos, elegantes e profissionais. E
havia ainda duas comissárias japonesas, para lidar com
os passageiros originários do Reino do Crisântemo.
7-Refeições: Nota 9.
O prato principal não estava tão saboroso. Mas não se
pode negar que se trata de um padrão excelente, com uma
belíssima apresentação, tanto nas bandejas como nos
cardápios.
8-Bebidas: Nota 9.
Excelente seleção de vinhos locais, perfeita para uma
classe executiva.
9-Necessaire: Nota 9.
Bonita, moderna, completa.
10-Desembarque: Nota 10.
Rápido e simpático.
11-Pontualidade: Nota 10.
Partida no horário e chegada com antecedência.
Nota final: 9,27
Já havia voado antes com a Air New Zealand e apreciado
muito, como você já deve ter lido aqui num outro Flight
Report. Desta vez não foi diferente. Classe e
modernidade, profissionalismo e uma certa informalidade
(na medida certa) fazem do serviço da ANZ um dos mais
distintos que conheço. Uma grande companhia para
atravessar as vastidões do Pacífico, que é a região que
a empresa conhece como ninguém.
Além do tradicional símbolo Maori do pássaro Koru,
estampado orgulhosamente nas caudas dos seus jatos, a
Air New Zealand incorporou à sua logomarca em 1997 um
grafismo chamado Pacific Wave. Voar com a Air New
Zealand é como surfar uma onda que atravessa o Pacífico
a Mach .80.
Gianfranco Beting
Na cabine, agora transformada em cinema, quase todos os
passageiros usavam o sistema de entretenimento: alguns
jogavam videogames, outros assistiam notíciários e a
esmagadora maioria, a um dos 29 filmes no sistema de
video. Uma revista completa apenas para este sistema, a
Krisworld, é editada e colocada em cada assento para
permitir uma escolha da programação. E para ensinar os
passageiros a navegar no complexo sistema.
E mal me virava, lá vinha Ms. Ping de novo, sem me dar
trégua: -Mr. Beting, mais café ou chá?
O vôo todo foi assim, perguntando aos passageiros
(sempre pelo nome de cada um) se estava tudo bem, se
algo a mais poderia ser feito.
Assisti a um longa enquanto a Austrália era sobrevoada.
Voando a 35.000 pés e a 940 km por hora, ajudado por
ventos de cauda de quase 50 km/h, o 9V-SMS prosseguia
impavidamente, agora sobre o Oceano Índico. Entre um
filme e outro, continuava atento aos detalhes. Por
exemplo, a conservação do avião. Sem ser uma aeronave
nova (foi entregue à Singapore em junho de 1993, ou
seja, já tinha mais de 10 anos, estava meticulosamente
mantido. Seus 386 assentos (12 na First 58 na Raffles,
316 na econômica) eram novos e funcionavam
perfeitamente. Os banheiros igualmente, sem quaisquer
marcas da ação do tempo.
Três horas depois de terminada a refeição "leve", mais
uma toalhinha quente e outro snack foi servido: um
delicioso espetinho ou "satay" de cordeiro e outro de
galinha, excelentes. E tome toalhinha Quente.
Mais uma hora e lá vem Ms. Ping e nova toalhinha quente.
Então começou o jantar (ufa). Salada verde com camarões
e quatro opções de pratos quentes (o meu filé estava
fabuloso) seguido de uma tábua de queijos e frutas, um
creme brulée com framboesas perfeito e chocolatinhos e
café. E para arrematar, a prova de um serviço
superlativo:
-Mr. Beting, expresso duplo com adoçante, certo?
Certo, Ms. Ping. Você decorou o meu pedido, Ms. Ping.
Sim, Ms. Ping: fazendo a mesma coisa todos os dias,
servindo 60 pessoas que você nunca viu na vida, e isso
acontecendo todo santo dia, mesmo assim, Ms. Ping, você
lembrou de como eu tomo meu café, Ms. Ping. E Pong nas
outras empresas aéreas.
Faltavam agora pouco menos de duas horas de vôo e
sobrevoávamos a Indonésia, cruzando um pouco ao norte de
Bali. Lá fora já era quase noite, com os últimos raios
de sol marcando o horizonte. O Cmte. Wong seguia a rota
programada no sistema de navegação do 747, e também
terminava seu jantar. Estávamos em plena zona tropical
de turbulência e a aeronave balançava ininterruptamente,
o que deve ter ajudado os poucos passageiros ainda
acordados a dormir de vez. As luzes da cabine foram
apagadas.
Aí sim, transformei minha sala de jantar, meu cinema e
meu escritório em dormitório. Apertando um único comando
a poltrona se transformou num leito de 1,83m de
comprimento. Daí estiquei-me até os momentos finais do
vôo, embora não tenha tentado dormir.
Eram 23:55 horário de Auckland ou 19:55 horário de
Cingapura quando abandonamos nossa altitude de cruzeiro
de 35.000 pés. Senti então que um estado de torpor
embevecido - cansaço pós-orgásmico? - tomava conta de
mim. Era o efeito de mais um vôo soberbo na melhor
companhia do mundo. Ou me diga se você conhece algum
HOTEL, para não falar em outra empresa aérea, que lhe
apresente 3 opções de grãos de café?
Depois de um vôo destes, eu só posso rir quando alguns
desavisados diretores de nossas maiores empresas aéreas
afirmam que nossas empresas têm "condições de competir
em pé de igualdade com qualquer empresa aérea de padrão
internacional". É, eles não devem ter tempo mesmo para
voar com as Singapore Girls. Ou, o pior cego é aquele
que não quer ver. Deixa pra lá.
Ms. Ping passou conferindo a cabine, verificando tudo e
se despedindo, com uma reverência, de cada um dos
passageiros, agradecendo-os pelo nome, por voar
Singapore Airlines.
Chovia lá fora, algo típico para a época. Pousamos na
pista 20R do aeroporto internacional de Cingapura /
Changi as 20:28 e encostamos no gate F41, chegando 17
minutos antes do previsto.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Nota 10.
Feita pela Lufthansa. Na reconfirmação, a melhor
experiência dentre todas as companhias da Star Alliance:
pouquíssimo tempo de espera na linha para ser atendido,
simpatia total e uma pergunta: Algum pedido especial
para o seu vôo, Mr. Beting?
2-Check-In: Nota 10.
Feito com eficiência e rapidez por uma funcionária da
Air New Zealand, parceira na Star Alliance.
3-Embarque: Nota 10.
Sem fila e recebido pela maravilhosa tripulação.
4-Assento: Nota 10.
O padrão pelo qual as outras empresas devem julgar o que
fazem. Melhor que isso só na primeira classe da empresa
ou... no seu Gulfstream G550 particular.
5-Entretenimento: Nota 10.
Deslumbrante. Na verdade, não dá para dar conta de todas
as opções disponíveis. Os fones de ouvido são os
melhores que já ví a bordo.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
O slogan da empresa é: Singapore Girl, You`re a Great
Way To Fly. Comprovado.
7-Refeições: Nota 10.
Poucas vezes comi tão bem em terra, cuíca no ar.
8-Bebidas: Nota 10.
Pedi, para testar, um Sigapore Sling, o cocktail típico
de Cingapura: perfeito. Excelente seleção de vinhos,
perfeita para uma classe executiva. Nove tipos de chá.
Três tipos de café. E expresso (simples ou duplo, Mr.
Beting?) Tá brincando?
9-Necessaire: Sem nota.
Substituída pelos ítens que forem necessários e à
disposição nos banheiros.
10-Desembarque: Nota 10.
Veja só: pousamos as 20:28, encostamos no gate F41 as
20:37, atravessei o longo terminal em pelo menos mais 10
minutos de caminhada (20:47). Nenhuma fila na imigração
e malas na esteira ao chegar a ela. Estava no táxi as
20:57, vinte e nove minutos cravados depois de tocar na
pista! Mais uma vez comprovado que Changi é o melhor
aeroporto do mundo.
11-Pontualidade: Nota 10.
Chegada com 17 minutos de antecedência.
Nota final: 10,0
Nota 10 mesmo e se pudesse dava 11. Interessante é
pensar que, a não ser que esteja enganado, em nenhum
outro lugar, no céu ou mesmo na terra, você é tratado
com tanta deferência, com tanta atenção. Com exceção do
Flight Report no Concorde, que recebeu um 10 por razões
mais afetivas do que lógicas, este é o primeiro 10 que
damos nesta seção e indica mais uma vez porque a
Singapore Airlines, em menos de 20 anos, passou de uma
mera novata, voando com 2 Boeings de segunda mão, à
condição de melhor empresa aérea do mundo. Para saber
como é que se faz nesta indústria, ou melhor, em
qualquer segmento da indústria de serviços - bancos,
hotéis, locadoras de autos, cruzeiros marítimos, etc...
a gente precisa voar na Singapore. E o resto é o resto.
Gianfranco Beting
Dia 19 de setembro, uma sexta-feira fria em Auckland,12
graus pela manhã. O sol tentava furar uma camada de
nuvens baixas, o que só aconteceu por volta das 10
horas, horário que coincidiu com a chegada de uma
verdadeira revoada de wide-bodies vindos da Coréia,
Fiji, Austrália, Dubai, Tahiti, Malásia e Cingapura.
Entre estes gigantes, às 10:00 da manhã tocava o solo o
747-400 de prefixo 9V-SMS. Naquela tarde/noite de
sexta-feira, passaria 10 das melhores horas que alguém
pode encontrar a bordo deste avião. Bemvindo à melhor
empresa aérea do mundo. Bemvindo à Singapore Airlines.
O embarque foi longo, pois era dia de casa cheia: 378
pessoas, entre tripulantes e passageiros, estavam
tomando seus lugares para o longo vôo. No Terminal
Internacional, reinava uma certa confusão, pois os
serviços de imigração não conseguiam escoar o fluxo de
passageiros que lotavam a área, com quase todos os seus
11 portões de embarque ocupados pelos gigantes que
decolariam quase simultaneamente. Mas os 47 passageiros
voando naquele dia na executiva da Singapore, a famosa
Raffles Class e os (ainda) mais afortunados viajando na
First Class (cinco no total), tinham uma linha especial
de embarque dedicada a eles, o que facilitava e
agilizava o processo.
Lá fui eu para a minha poltrona, 11A, primeira fila do
Upper Deck do 747. Chamar esta verdadeira "estação" de
poltrona é ser no mínimo injusto: a sua área privativa
pode se transformar num centro de entretenimento, com os
29 longa-metragens (29, você leu certo) à sua disposição
no sistema AVOD (Audio Video On Demand) da empresa, o
fantástico Krisworld. Ou jogar um video game. Ou então,
sua poltrona pode se converter no seu escritório, com
uma conexão de força para você ligar o que bem entender,
não apenas o seu laptop, mas qualquer aparelho
eletrônico. Ah! Quer transmitir um e-mail? Como não?
Basta digitar a mensagem num teclado que aparece numa
das telas do conforto do seu próprio assento e...
pronto. É assim que nossos filhos e netos vão voar.
Ou dormir: sua poltrona pode virar uma cama com 180º de
reclinação ao toque de um botão: com comandos elétricos
e operação impecável, só não comprovei mesmo esta
maravilha porque o vôo estava interessante demais.
Afinal, era melhor mesmo dormir no solo, onde a chance
de encontrar um Singapore Girl seria bem menor...
Sim, já falei delas (leia o Flight Report SQ11 -
Primeira Classe Mesmo) e não canso de repetir: poderia
me casar com qualquer uma das comissárias da Singapore.
As Singapore Girls são tão maravilhosas, belas e
femininas, desfilando pelos corredores a bordo de
diabólicos saris desenhados por Givenchy. Delicadas e
suaves, atenciosas sem serem servis, elas desequilibram
o jogo a favor da Singapore Airlines. E, com o passar do
tempo, de tão poderosas, acabaram mesmo se convertendo
nas garotas propaganda da empresa, com méritos.
Sendo assim, o anjo que cuidou de mim entre a Nova
Zelândia e Singapore, que atende nas cabines pelo nome
de Ooi Soo Ping (ou seria Ooh Soo Beautiful) foi
absolutamente impecável por todo o vôo, como se servir
uma cabine lotada fosse a melhor e mais fácil coisa a se
fazer. Foi ela quem me trouxe 6 vezes toalhinas quentes
(quentes mesmo, nem frias nem fervendo - todas na
temperatura certa). Foi ela quem me ofertou o belo
cardápio, com um brunch e um jantar nas quase 10 horas
de vôo, servido em louças igulamente desenhadas por
Givenchy. Foi ela quem conversou com todos os
passageiros com delicadeza e desprendimento. Que me
ensinou a operar o sistema de entretenimento, de
controle do assento, que veio me oferecer água, chá...
Mas vamos ao vôo e no portão 8, lá estava o nosso 747. O
comandante Wong era o responsável pelo time de 20
tripulantes no vôo naquela tarde/noite: com ele, eram
três no cockpit (dois comandantes e um primeiro oficial)
e mais 17 cuidando das três cabines de passageiros: 3
cuidando da Primeira Classe, 6 da Raffles e 8 da classe
econômica. O chief purser para o SQ286 era o sr.
Mohammed Ali, que apesar do nome, não desferiu nenhum
cruzado ou jab no queixo de passageiro algum.
Não, falando seriamente. Note outro detalhe: na maioria
das empresas há 14 tripulantes de cabine nos 747, mas a
SQ é que escala 3 profissionais a mais apenas para
garantir que seu serviço seja o melhor do mundo.
Wong deu as boas vindas num inglês impecável e anunciou
o tempo estimado de vôo de 09:30. À medida que me
acomodava no meu assento, ia percebendo cada um dos
infindáveis detalhes da poltrona e de seus comandos: a
cabine da Raffles Class mais parecia um esboço onírico,
otimista, de como deverá ser uma boa viagem no futuro,
extraída de algum filme de ficção científica - dos bons.
E em meio a tantos botõezinhos, lá vinha Ms. Ping com
suas toalhinhas quentes - e champagne, e snacks e balas
- isso antes da decolagem. Portas fechadas com atraso -
imputável ao serviço de imigração neozelandês, que não
funcionou nada bem (tanto na chegada como na saída), o
SQ 286 iria finalmente começar.
Push-back do gate as 14:27, (tecnicamente um vôo que não
saía atrasado, pois há uma tolerância de 15 minutos em
relação ao horário de partida das 14:15) rolávamos pelo
pátio seis minutos depois, rumo à pista 24. Potência de
decolagem aplicada as 14:44, motores rugindo para
empurrar todos os seus 394.625 kg de peso máximo de
decolagem, o 747 correu boa parte da longa faixa de
asfalto para ganhar altura e partir de volta à sua base.
Flaps em posição de cruzeiro, logo deixamos o fotogênico
litoral kiwi para trás, iniciando a etapa
trans-tasmaniana da jornada.
Logo foi iniciado o serviço de bordo com uma refeição
"leve" que seria considerada um banquete em qualquer
outra companhia aérea. Uma salada e depois três opções
de pratos quentes. Optei por um cordeiro cozido no vinho
tinto com polenta que estava absolutemente delicioso.
Sorvete, chocolatinhos e então vem a Ms. Ping e me faz a
pergunta para arrematar a refeição ou para me humilhar,
ainda não sei:
-Mr. Beting, café ou chá?
Testando o que havia visto no cardápio, onde constatei
mais um detalhe tão sublime quanto espantoso: como se
não bastasse haver café expresso a bordo, há também nada
menos que 3 tipos de grãos de café - incluindo o
brasileiro tipo Santos Bourbon, finalmente dissei:
-Expresso respondi eu.
Inabalável, Ms. Ping devolveu a pergunta: -Simples ou
duplo? Touché.
Se você ainda não percebeu, estamos falando sobre a
melhor empresa aérea do mundo. E ponto final.
O cavalheiro ao meu lado sorria satisfeito. Puxamos
conversa mutuamente, e descobri que o simpático colega
de viagem era diretor da 3M na Nova Zelândia. Ele me
confidenciou que viaja na Singapore entre 10 a 15 vezes
por ano. Olhou para mim e confirmou: "Eles são
impecáveis, não é?"
Falar mais o quê? Finda a primeira refeição, já
estávamos quase na vertical de Brisbane, entrando na
longa etapa de sobrevôo da Austrália. Lá fora, o belo
litoral era recortado por um mar turquesa. Nenhuma nuvem
no céu, um vôo absolutamente sereno. Comecei a escrever
este Flight Report despreocupadamente, pois meu laptop
tinha uma conexão na poltrona que o alimentava de força.
Para esticar os ossos, descia de vez em quando ao deck
principal e fazia fotos dos motores girando lá fora. O
sol na nossa proa iluminava perfeitamente os motores,
ajudando a vida do fotógrafo.
Vamos lá, não acabou aqui: leia a seguir a parte final
do vôo SQ 286
Um sábado feio e chuvoso, típico do período de monções
no sudoeste asiático, raiou sobre Cingapura S/A, a
espetacular cidade/nação/empresa que é um dos mais
pujantes tigres asiáticos. A tarde quente e chuvosa, com
27 pegajosos graus celsius no termômetro, fez com que a
entrada no ar condicionado do Terminal 1 de Changi mais
parecesse com chegada a um oásis.
De fato, foi mesmo: a nova área criada neste que é o
melhor aeroporto do mundo, não deixava sombra a qualquer
dúvida. Batizada de "Premier Check-in", é uma área
separada do restante do saguão de embarque, decorada com
móveis contemporâneos, iluminação atraente e atmosfera
de sala VIP. Foi lá, sentado numa poltrona desenhada por
Charles Eames, que fiz o check-in para voar na Thai.
E cheguei fazendo um pedido adicional: mudar meu vôo.
Originalmente reservado no TG 414 com partida as 21:25,
solicitei a mudança para o TG 410, saindo as 19:45. Com
extrema agilidade e simpatia, o funcionário da Singapore
Airlines encarregado do meu bilhete informou que o vôo
estava "estourado" em 25 assentos (overbooking) mas que
iria tentar algo. Pediu que eu aguardasse nas poltronas
da sala. Meia hora depois, veio ele com a informação que
havia um assento para mim.
E lá fui eu, de check-in feito, para a sala VIP da Thai,
por sinal muito bonita, espaçosa e serena. Decorada com
diversas orquídeas reais, símbolo da empresa e de seu
excepcional serviço, a sala já deixava os passageiros
mais relaxados para o curto vôo até Bangkok, sede da
Thai Airways. Mas este era um vôo cheio mesmo. Dos 55
assentos da classe executiva, 54 ocupados. Nas 303
poltronas da classe econômica, apenas 6 vazias - mas
reservadas para os tripulantes. No total, eram 350
passageiros, fora os 2 tripulantes técnicos e 12
comissários, sendo que quatro deles estava dedicados ao
serviço da Royal Executive Class, a executiva da
empresa.
Fui um dos últimos a embarcar. Caminhei lentamente, no
final da fila e entrei no 777-200 entregue à Thai em
outubro de 1996, o 44º a ser contruído e do modelo 200
"standard", não do hoje mais comum 200ER. Seu peso
máximo de decolagem, na configuração escolhida pela
Thai, é de 242.671 kg. Estava bem conservado por dentro
e por fora, apesar de ser um dos modelos mais utilizados
nas rotas intra-asiáticas da companhia.
Instalado na primeira fila, assento 11A, tive a sorte de
ter por companheiro de jornada um alto executivo do
setor de informática, que viaja ao menos 250.000 milhas
ao ano, ou mais ou menos umas 8 voltas ao mundo. Ele era
meu companheiro para experimentar o famoso serviço da
Thai, considerado um dos melhores do mundo. Como
autêntico "Road Warrior" falou animadamente sobre o tema
das diferenças de serviço entre as várias empresas onde
costuma viajar, um assunto sempre fascinante.
Portas fechadas as 19:40, nosso 777, de prefixo HS-TJC e
batizado de Nakhon Nayok foi rebocado um minuto depois,
saindo da posição D41 para o pátio. Taxiamos as 19:44,
um minuto antes do horário previsto. O taxi não demorou,
e logo estávamos alinhando na pista 20L. Potência
aplicada aos dois gigantescos motores Rolls Royce Trent
875-17 e, a despeito de ter mais de 350 pessoas a bordo,
o 777 deu um salto para a frente: seus tanques não
estavam cheios, pois a etapa até o aeroporto Don Muang
na capital tailandesa não deveria passar de 2 horas. As
19:47 o TG410 finalmente decolou e entrou nas pesadas
formações que cobriam os céus de Cingapura. Trens
recolhidos, o TG410 ganhava altura sacudido por rajadas
de vento.
Com o Boeing ganhando altura, a bordo a tripulação não
tinha tempo a perder. O serviço começara ainda em solo,
com uma passada de drinks de boas vindas, distribuição
de fones de ouvido, revistas e cardápios. E durante o
taxi, a comissária passou anotando as escolhas de opções
de prato principais para o jantar.
Estabilizamos a 39.000 pés e o serviço foi iniciado
prontamente: um ótimo jantar, saboroso e bem
apresentado, foi servido acompanhado por bebidas a
escolher. A carta de vinhos apresentava excelentes
opções de brancos e tintos e era conservadora: na sua
esmagora maioria, apenas vinhos franceses, todos eles
muito bons para uma classe executiva.
Com quatro comissários para servir mais de 50 bocas
famintas, era preciso muita agilidade. Foi o que vi nos
quatro profissionais da Thai. Serviram o jantar para os
passageiros e passaram ainda duas vezes com cestas de
pães (quentinhos, naturalmente) e mais 3 vezes
completando os copos. Retiraram a bandeja e mais uma
passada, desta vez com o carrinho de sobremesa, chá e
café.
Nos monitores da cabine, um documentário do Discovery
Channel servia de entretenimento. Havia ainda vários
outros canais nos monitores individuais nos braços das
poltronas da classe executiva, mas não houve muito tempo
para curtir a programação. Findo o jantar e recolhidas
as bandejas, foi uma questão de minutos para iniciarmos
nossa descida e aproximação para o aeroporto de Don
Muang. Eram 21:17 quando abandonamos a altitude de
cruzeiro, e mais 23 minutos se passaram até que as rodas
do 777 tocaram na pista 21L. Mais oito minutos e
estávamos encostando no portão. Fui o último a descer,
pois fui conversar com a tripulação e agradecer pelo
excelente serviço.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Nota 0.
Feita pela Thai em Auckland. Tive a pior experiência
possível: uma informação errada. Tinha originalmente
reserva no TG 404 e pedi para mudar para um vôo que
partisse mais tarde. A atendente me reservou então o TG
414 e informou, pasme, um horário errado do vôo, o que
poderia ter resultado numa conexão perdida ou em outros
transtornos. Só descobri o problema ao chegar ao
aeroporto, e então resolvi mudar meu vôo para o TG410,
que saíria antes. De toda forma, errar o horário ao
informar é algo inaceitável.
2-Check-In: Nota 10.
Feito com classe e serenidade na maravilhosa sala.
Sentado, sem encostar nas malas, até bebida foi
oferecida.
3-Embarque: Nota 6.
Pouca fila, fui um dos últimos a embarcar. Porém, a
atenção da tripulação já estava mais orientada para a
partida e menos para a recepção de passageiros: não
havia mais comissários de prontidão para me receber na
porta. Consequentemente, pendurar meu casaco levou
alguns minutos.
4-Assento: Nota 7.
A configuração adotada pela Thai, 2+4+2 é a menos
confortável que pode ser encontrada na classe executiva
nos Boeing 777, que normalmente são configurados com
2+3+2 assentos por fileira. O pitch apresentou um bom
espaço (50") e com os belos tecidos de revestimento e
uma orquídea no braço da poltrona, não se pode dizer que
seja uma configuração desconfortável, desde que não seja
para vôos muito longos.
5-Entretenimento: Nota 7.
Bom, com uma revista editada apenas para orientar sobre
as várias opções.
6-Serviço dos comissários: Nota 8.
O slogan da empresa é: Smooth as Silk. Suave mesmo como
uma seda, a comissária que cuidava daquela parte da
aeronave foi excelente. Mas a falta de tempo e a
necessidade de servir a todos comprometeu um pouco a
atenção a cada um dos passageiros.
7-Refeições: Nota 10.
Excelente: ótima salada de entrada e um chicken curry
absolutamente impecável, na melhor tradição culinária
asiática.
8-Bebidas: Nota 10.
Muito boas, das melhores que vi em vôos na executiva. A
empresa foi conservadora, escolhendo boas opções da
França.
9-Necessaire: Sem nota.
Não é distribuída.
10-Desembarque: Sem nota.
Não posso dar nota, pois quando saí da aeronave, as
equipes de limpeza já estavam trabalhando nos
corredores.
11-Pontualidade: Nota 10.
Saída e chegada com antecedência.
Nota final: 7,55
Um vôo curto e portanto, extremamente exigente para a
tripulação, sobretudo na Royal Executive Class. Os
comissários da Thai, encarando o desafio de servir uma
refeição completa para um avião lotado, saíram-se bem.
Este foi meu quinto vôo na empresa, mas nenhum deles com
mais do que duas horas de duração. Ficou a vontade de
ver se a Thai é mesmo Smooth As Silk nos vôos de longa
duração.
Gianfranco Beting
Olá, amigo assinante do jetsite. Abrimos 2004
completando 10 vôos na nossa Volta ao Mundo pela Star
Alliance, um dos melhores vôos de toda a viagem. Chegou
a vez de entrar na porção "européia" de nossa longa
jornada. Voaremos agora num A340-300 da SAS,
Scandinavian Airlines System, empresa que por sí já foi
a primeira aliança aérea formada por empresas de
bandeira de países distintos. A SAS é a companhia aérea
multinacional dos governos da Suécia, Dinamarca e
Noruega, que inteligentemente, somaram esforços logo
após o final da Segunda Guerra Mundial e criaram desde
então uma empresa exemplar.
E para ser franco com você, leitor, começo dizendo que é
difícil para mim ser imparcial com a SAS. Eu
simplesmente adoro a Escandinávia, seus povos, suas
tradições... e sua companhia aérea. Isso começou desde
garoto, quando meu pai viajou pela região e fui
recebê-lo no aeroporto de Viracopos. Lembro
fotograficamente do DC-8 azul e branco parado no pátio
numa fria manhã de julho de 1970, e de ter ficado
maravilhado com as 3 bandeiras estampadas na fuselagem,
mas, principalmente, pela estilização do Drakkar, as
famosas embarcações Viking que aterrorizavam os mares.
Depois deste começo nada objetivo (e talvez mais
apropriado para a seção Nostalgia), peço desculpas ao
leitor pelo desvio e o convido a embarcar comigo no
SK972, serviço non-stop entre Bangkok e Copenhagen.
Nossa viagem começa no balcão de conexão em Bangkok,
onde rapidamente retirei meu boarding pass para o
trecho. As malas haviam sido checadas e embarcadas
direto para Copenhagen pela Thai ainda em Cingapura, ao
fazer o check-in para o TG410, como você deve ter lido
em nosso último Flight Report. E isto fez toda a
diferença, diminuindo enormemente o stress de de tre de
passar pela imigração em Bangkok, facilidade somente
possível pela segurança e eficiência das operações da
Star Alliance. Chamado na indústria de "seamless
service" (ou serviço sem costuras), isso significa para
o passageiro a tranquilidade de voar como se fosse numa
única companhia.
E lá fui eu para a bonita sala VIP da SAS em Bangkok. Na
verdade, muito do que hoje é a Thai deve-se à SAS, que
por décadas foi estreitamente associada a empresa
tailandesa, sendo responsável pela manutenção, padrão
operacional, escolha de frota, e mais tarde até vôos em
code-share. A SAS é a verdadeira madrinha da Thai, e
portanto, uma empresa conhecida, querida e respeitada na
Tailândia.
Mal entrei na sala e já me deparei com dois PCs ligados
à internet. Atualizei minha caixa postal enquanto
relaxava para o vôo, que só sairia quase 4 horas depois.
A decoração agradável e um bom bar ajudaram o tempo a
passar rápido. As 23:50 fomos chamados para embarcar no
Airbus A340-300 de prefixo LN-RKG e batizado de Gudrod
Viking. A SAS batiza cada uma de suas aeronaves com
nomes dos guerreiros e guerreiras da tradição nórdica.
Uma aeronave bem nova, voando na SAS desde outubro de
2001, o A340 causou uma impressão quase tão boa quanto a
tripulação que nos recebeu com cordialidade e elegância
na porta.
O SK972 sairia do portão 42 com quase 95% de ocupação.
Dos 261 lugares disponíveis, 241 passageiros estavam a
bordo, com todos os 54 assentos da Classe Executiva
ocupados. Seríamos cuidados pela tripulação de 10
profissionais de cabine dirigidos pela experiente chief
purser Boel. Quatro profissionais, incluindo ela,
estariam dedicados à classe executiva e os restantes, à
classe econômica. Na cabine de comando, dois comandantes
e um primeiro oficial, completavam 13 profissionais da
SAS a bordo. O master do vôo naquela noite era o sueco
Torsten Sjøblom, encarregado de conduzir o A340 através
de boa parte da Ásia.
Passava da meia noite e chovia pesado em Bangkok. A
bordo deste verdadeiro Drakkar do Século XXI, os
passageiros terminavam de ocupar seus assentos, sendo
recebidos com drinks de boas vindas e a impecável,
bronzeada e sorridente tripulação acomodando a todos
para o longo trecho de quase 11 horas. Tudo pronto para
a partida, o Cmte. Sjøblom faz um speech avisando que a
temperatura em Copenhagen é de 15ºC e que estamos apenas
aguardando um passageiro que aparentemente se atrasou
para embarcar. Finalmente ele chegou e as 00:29 do
domingo, 21 de setembro de 2003, as portas do A340 foram
fechadas.
Mais três minutos e o trator empurrava as 267 toneladas
que o Gudrod Viking estava pesando naquele momento,
apenas 8 toneladas abiaxo do seu peso máximo
operacional. Logo estávamos prontos na posição de onde
iniciamos o taxi para a pista 03L. Eram 00:42 e os
quatro motores CFM-56-5C4 giravam em idle power, quando
Sjøblom alinhou o aparelho na pista 21R. Tudo pronto,
potência máxima aplicada. As luzes na lateral da pista
começam a passar cada vez mais rápido pela janela, bem
como as gotas de chuva que escorrem pela fuselagem. Com
a V1 atingida aos 146 nós, o A340 prosseguia firmemente
no chão, ainda precisando ganhar mais 13 nós para
atingir a velocidade de sustentação e vencer a
gravidade. VR aos 159 nós, Sjøblom puxa levemente o
joystick. Nosso Drakkar começa a navegar em meio à forte
chuva.
Mal cruzamos a cebeceira oposta e na cabine de comando
ouve-se a informação: V2! canta o primeiro oficial
dinamarquês Carsten Madsen, quando os velocímetros
digitais do A340 indicam a velocidade de 165 nós.
Acabávamos de cruzar a vertical da cerca que define os
limites do aeroporto: o A340, com sua performance
tradicionalmente "pouco exuberante", passa quase em vôo
rasante sobre os armazéns e feias casas nas proximidades
da cabeceira 03L. Usamos cada centímetro de asfalto da
pista, e em meio à forte chuva, o A340 subia
relutantemente a saída SID Frank 2, transição Leemla.
Voando baixinho sobre a capital Tailandesa, o A340
iniciava a longa etapa até a Escandinávia.
Mais de meia hora depois, estabilizamos no nível 310. A
tripulação sem perder muito tempo (já era mais de uma
hora da manhã) veio oferecer o jantar. Gostei muito da
agilidade apresentada, pois assim como todos os
passageiros, havia tido um longo dia pelas costas:
jantar rapidamente e poder descansar era tudo o que eu
queria. Assim, a refeição foi servida de uma só vez.
Como entrada, uma salada de folhas e camarões,
acompanhada de uma ótima seleção de pães quentinhos, e
para acompanhar, um Bordeaux branco de Pessac Léognan,
uma região que produz alguns dos brancos que mais
aprecio. Havia três opções de pratos principais, todos
aparentemente saborosos. Fiquei com um filé mignon,
bastante honesto.
Fazia minha refeição e não podia deixar de notar a
simpatia em particular de uma das tripulantes,
permanentemente sorridente. Ao perguntar minha escolha
de vinho tinto e ouvir um Grenache australiano como
reposta, a comissária Katarina Moritz retrucou: "Que tal
experimentar o chileno? (Trio Merlot 2000, Concha Y
Toro) Ele é mais robusto e harmonizará melhor com a sua
carne." Estava voando com uma profissional.
E de fato, pela horas seguintes (acabei perdendo o sono)
fiquei observando cada detalhe do seu trabalho, cada
gesto. Por exemplo, ao servir um Sauternes para
acompanhar minha sobremesa, ela segurou o copo pela
base, como todo Profissional (com P maiúsculo) deveria
fazer. Mas não só. Katarina e seus colegas de cabine
davam show o tempo todo. Ora pela delicadeza, atenção e
constante atenção com os passageiros, que em sua
esmagadora maioria, já estavam pra lá da Valhalla e pra
cá de Bagdá, dormindo o sono dos Vikings.
Levantei-me e fui à galley. Apresentei-me e informei aos
vikings aobre minha missão. Em minutos fui recebido pelo
Cmte. Sjøblom, com quem conversei longamente enquanto
sobrevoávamos o coração da Ásia. Voltei à galley e tive
uma continuação na aula de simpatia, dedicação e
profissionalismo. Conversei por horas com a tripulação e
pude experimentar o serviço de open bar no A340.
Completo, oferecia a quem quisesse e chegasse até ele
várias opções que iam desde cereais a frutas frescas,
sanduíches e bebidas frias e quentes, contando até com
uma máquina de café expresso.
Não menos impressionate são os banheiros da aeronave:
simplesmente os melhores e mais bonitos que já vi a
bordo de uma aeronave, têm um belíssimo design
(lembre-se, estamos na companhia aérea de alguns dos
países que mais gostam e se dedicam ao design), são
claros e espaçosos: têm até 2 janelas!
Impressionado com a aeronave e sobretudo com a
tripulação, resolvi então fazer o teste da poltrona: ao
toque de um botão, ela reclina pelo menos 140º,
tornando-se bastante confortável para o sono, conforme
pude perceber pelas 5 horas seguintes.
Acordei sobre o Cazaquistão, com uma tênue barra de luz
lá fora, indicando uma ainda tímida alvorada. Sem sono,
experimentei o excelente sistema de entretenimento de
bordo. Os 18 canais de música apresentavam uma excelente
e variada opção, claramente escolhida por quem entende.
Os fones de ouvido Sennheiser, de qualidade excepcional,
ajudavam ainda mais no prazer de ouvir boa música. O
sistema é um dos mais fáceis de operar que já vi, sem a
necessidade de consultar a bíblia que acompanha o
sistema da Singapore, por exemplo. Tudo é resolvido na
própria tela individual, através do sistema touchscreen,
o que sempre ajuda pessoas que, como eu, têm aguda
aversão a botões. E que não são poucas, entre os mais
idosos, justamente os que viajam mais frequentemente na
classe executiva.
Assim, fiquei navegando o sistema enquanto nosso Drakkar
navegava sobre a Ásia: após sair da Tailândia,
atravessamos a porção norte do Paquistão, Índia,
raspando o Nepal e o Himalaia. Entramos no Afeganistão,
pasando na vertical de Cabul. Depois o Casaquistão e
finalmente a Rússia, passando um pouco ao sul de Moscou.
O A340-300 viajava apostando corrida com o nascer do
dia, que ficou como uma promessa no horizonte por quase
metade do vôo. Lá fora, 52ºC negativos e a imensidão da
Rússia, que podia ser vista no lusco-fusco.
As luzes da cabine foram acesas para o café da manhã
sobre as repúblicas Bálticas. E que café: excelente sob
qualquer aspecto, fez jus à reputação de ótimos serviços
que sempre acompanhou a SAS. Sobrevoamos Riga já a
38.000 pés, nossa altitude de cruzeiro final. E então,
as 06:08 da manhã, horário de Copenhagen, iniciamos a
descida para a pista 22L pela STAR Alma 3C. Eram os
momentos finais da rota Transiberiana 15, usada pelo
A340-300 em sua longa travessia feita a Mach 0.80. As
06:39, um minuto antes do horário previsto, as rodas do
LN-RKG tocaram suavemente na pista, e, enquanto
taxiávamos, pudemos apreciar um lindo nascer do sol. Em
minutos desembarcaríamos no charmoso aeroporto de
Kastrup, mas não sem antes me despedir da maravilhosa
tripulação da SAS. Esses Vikings mostraram que são mesmo
bárbaros.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela Lufthansa.
2-Check-In: Sem nota.
Despacho de malas feito pela Thai em SIN, foi moleza
passar no balcão de conexões em BKK e retirar o boarding
pass em segundos.
3-Embarque: Nota 10.
Longa caminhada da sala VIP para a aeronave. Duas filas
e pontes de embarque para o A340, uma dedicada à classe
executiva. Tripulação sorridente e atenciosa oferecendo
bebidas de boas vindas e recolhendo os casacos.
4-Assento: Nota 9.
Assentos configurados com 2+2+2 por fileira. Bom pitch,
com aproximadamente 57" . Aprovado no teste do sono:
confortável mesmo num vôo muito longo. Excelente desenho
de controle das regulagens, com um botão que reclina
continuamente e outro que retorna à posição de
pouso/decolagem. Encosto para a cabeça que ajuda muito.
Na primeira fileira, mediante um acréscimo na passagem,
o assento reclina 180º através de uma alteração no seu
software, que só pode ser executada pela tripulação.
5-Entretenimento: Nota 9.
Excepcional: bela apresentação, excelente seleção
musical, blockbusters a vontade, ótima seleção de curtas
e tudo isso apresentado numa revista editada
especialmente para orientar sobre as várias opções.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Sensacional é o mínimo quie posso dizer. Há muito tempo
não encontrava um grupo tão amável, atencioso,
genuinamente caloroso, na medida certa. No desembarque,
ganhei até um presentinho de despedida: uma garrafinha
de digestivo. (Será que foi também um recado?)
7-Refeições: Nota 10.
Excelente concepção: agilidade para servir no horário da
madrugada, belíssima (bota belíssima nisso) apresentação
com design escandinavo de primeira qualidade. Tudo
lindo, dos cardápios aos pratos... um vôo que vai ficar
guardado para sempre.
8-Bebidas: Nota 10.
Vinhos do novo mundo foram privilegiados, mas, na hora
da sobremesa, ninguém melhor que um velho e bom
Sauternes. Ou seja: inteligente carta. E, ah, além do
espresso e de vários tipos de chás, uma abundante oferta
de licores, digestivos e destilados, incluindo três
belas opções de Aquavit.
9-Necessaire: Nota 9.
Distribuída em solo e com um belo desenho e conteúdo.
10-Desembarque: Nota 10.
Rapidissimo e ao chegar (em minutos, sem fila na
imigração) à esteira, lá estavam as malas, bonitinhas.
11-Pontualidade: Nota 10.
Chegada com um minuto de antecedência.
Nota final: 9,66
Um vôo apaixonante. Tudo bem, tudo bem, tenho simpatia
pela SAS, como já confessei. Mas sem risco de ser
parcial, qualquer um ficaria encantado com o serviço,
com a moderna aeronave, com a tripulação, que foi um
sonho. Atitude impecável num vôo lotado de quase 12
horas de duração. E de quebra, finalmente, posso dizer
que passei uma noite inesquecível com várias suecas...
Gianfranco Beting
Cinco e trinta da manhã, noite fechada em Copenhagen.
Chuva fina e vento não ajudavam em nada o dia que mal
começava. Dentro do Terminal 3 do aeroporto de Kastrup,
porém, o dia já havia começado para valer, com centenas
de passageiros apresentando-se para o check-in na
primeira onda de partidas do dia, com início ainda antes
da sete da manhã. Entre estes vôos, o Austrian Airlines
308, unindo as capitais da Dinamarca e da Áustria. Este
será nosso 11º setor na Volta ao Mundo com a Star
Alliance e o primeiro Flight Report com a empresa de
bandeira da terra de Mozart.
Austríacos são orgulhosos de seu nobre passado, quando
seu império foi um dos mais poderosos da Europa. Suas
tradições de classe, elegância e esmero culinário teriam
deixado influências em sua companhia aérea? Havia voado
apenas uma vez na empresa, (Viena-New York, classe
econômica de um A310) e as impressões tinham sido
favoráveis. Agora o vôo seria mais curto e num A320,
avião do fabricante europeu que hoje praticamente
monopoliza a frota da companhia.
Fiz um check-in relativamente lento: havia poucas
posições para a classe executiva. De qualquer modo,
despachei as malas direto para Zürich, meu destino final
neste dia. Passei pela imigração sem demora e fui para o
portão. Lá estava o Airbus no gate B8, parado num
terminal praticamente vazio. Eram 06:30 e os loaders já
trabalhavam, levando as bagagens para os porões
dianteiros e traseiros da aeronave. Batizado com o nome
de Neusiedlersee, pois dar nomes é também uma tradição
na empresa, este A320 foi entregue direto da fábrica
para a Austrian em março de 1988.
Dos seus 150 assentos, apenas 58 foram vendidos neste
vôo, sendo nove na classe executiva e 49 na econômica.
Por sinal, é interessante notar que a Austrian escolheu
os assentos conversíveis para equipar seus A320: com uma
rápida regulagem, os assentos A, B e C das fileiras de
número 1 a 7 passam a ser apenas A e C: os braços da
poltrona "engolem" os assento do meio, transformando a
classe executiva da empresa numa configuração de 2+3.
Quando, por exemplo em serviços charter (uma única
classe) os assentos são rapidamente reconfigurados para
3+3. Assim o OE-LBP, prefixo da aeronave, estava
preparada para receber seus passageiros, com 30 assentos
na Grand Class Europe e mais 124 na classe econômica
(lembre-se que 6 dos 150 assentos "sumiram"). Fiquei com
a poltrona 7A, última fileira da executiva.
Com pouco mais de 35% de ocupação, o embarque foi fácil
e rápido. Fomos recebidos com extrema simpatia pela
purser Petra Hagelmuller e por Dieter Kapisch, os dois
comissários encarregados de servir na Grand Class, que
recepcionavam os ocupantes com cordialidade e travavam a
todos com uma deferência rara de se ver nesta indústria
ultimamente.
Na cabine de comando, o Cmte. Karl Purner e o
primeiro-oficial Wolfgang Wurzinger trabalhavam os
últimos detalhes do vôo antes de sua partida. Conferiam
o peso e balanceamento - seriam 61.800 kg de peso total
na saída de Copenhagen, bem abaixo dos 75.500kg máximos
que a aeronave da Austrian Airlines pode levar. Plotavam
no sistema de navegação a saída SID SIMEG 6C com curva a
esquerda após a decolagem da pista 22R.
Portas fechadas por Ms. Hagelmuller as 07:38, o nosso
pushback foi cravado no ETD de 07:40. Mais três minutos,
os dois motores CFM 56-5B4/2P são acelerados e iniciamos
o táxi. Sete minutos depois, o co-piloto Wurzinger
acelera o jato na longa pista. Leve, começamos a ganhar
velocidade rapidamente. V1 com 129 nós, VR aos 130 e V2
aos 134 nós, em segundos deixamos a Dinamarca para trás.
Observo após a curva o aeroporto de Kastrup ficando na
saudade, ao entrarmos nas primeiras camadas de nuvens
que cobriam toda a região.
Estabilizamos no nível 350 e a Mach 0.76. Um excelente
café da manhã foi servido em minutos. O vôo é curto,
estimado em apenas 1 hora e 20 minutos, e não há muito
tempo a perder. A cabine vazia ajuda os 4 comissários do
vôo, que podem ser ainda mais gentis e graciosos com os
passageiros.
Volto de novo ao tema: a maneira como o serviço é
"entregue", como os comissários se relacionam com os
passageiros é absolutamente fundamental para a avaliação
final do produto. Sob este aspecto, empresas
tradicionais da Europa normalmente ultrapassam suas
competidoras norte-americanas, embora tenham sempre uma
dura competição contra a qualidade das empresas
asiáticas. Não basta querer servir, porém. Educação é
fundamental para fazer o que tem de ser feito com um
toque extra, com aquela classe digna do velho império
Austro-Húngaro.
Findo o desjejum, bandejas recolhidas, apresentei-me à
tripulação. Extremamente simpáticos, ficaram fascinados
com a Volta ao Mundo e então ficamos conversando
sobre... serviço de bordo! A curiosidade de todas as
tripulações ao saber da viagem é evidente. Quase todos
querem saber como eles se comparam com os demais membros
da Star Alliance, quais as diferenças, quem foi melhor e
quem foi pior, quem se destacou.
Simpáticos, solicitaram ao jovem Cmte. Purner
autorização para meu acesso ao cockpit. Sem problemas,
lá fui eu em missão jornalística. Mais dez minutos de
prosa, e então era hora de iniciar a descida para a
ensolarada Viena, com 25ºC no aeroporto de Schwechat. As
08:50, uma hora cravada de nossa decolagem, iniciamos a
descida para a STAR Astut 1W para interceptar o ILS da
pista 34.
Ocupei então a poltrona 7F, que me pareceu melhor para
fotografar. O Cmte. Purner caprichou e fez um pouso
vaselina as 09:16 na principal base da Austrian
Airlines. Pátios e terminais cheios, levamos um tempinho
taxiando e finalmente estacionamos, não sem antes taxiar
ao lado de um Electra da Amerer Air (cargueiro), um dos
últimos L-188 em operação na Europa. Foi uma visão que
quase fez meu coração parar.
Ah, não, havia ainda uma coda na verdadeira valsa que
foi este serviço: na porta da aeronave, discretamente,
recebi um "brinde", com um bilhetinho assinado pela
tripulação, que graciosamente improvisou uma garrafinha
de champagne, uma taça e dois saquinhos de amendoim, na
embalagem que era o... saquinho de enjoô. Um Grand
Finale para um excelente vôo na Grand Class.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela Lufthansa.
2-Check-In: Nota 7.
Demoradinho... acho que o horário - cedo demais - afetou
a capacidade de ação das veteranas funcionárias da SAS
que atendiam os passageiros da Classe Executiva. E como
havia duas posições para quase todos os vôos (da SAS e
das parceiras da Star Alliance) que saíam naquele
horário, demorou mesmo. Porém, uma vez atendido, a
simpatia foi total.
3-Embarque: Nota 10.
Rapido e rasteiro: tripulação sorridente e atenciosa
oferecendo bebidas de boas vindas e recolhendo os
casacos, indicando os assentos. Perfeito.
4-Assento: Nota 9.
Assentos configurados com 2+3 por fileira na Grand
Class. Bom pitch, 34" e tecidos bonitos. Interior de
muito bom gosto em verde e vermelho, bem conservado.
5-Entretenimento: Nota 7.
Monitores de LCD na teto, uma programação sem muita
inspiração, alternando desenhos animados com trechos em
que o Air Show, o sistema de mapas de rota, era exibido.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Classe e simpatia, eficiência e atenção para com todos
os passageiros e por todo o vôo. Nota 10 mesmo.
7-Refeições: Nota 9.
Tudo muito saboroso mesmo: dos frios à omelete
disfarçada de quiche, do chá ao iogurte... tudo muito
bom. Só não leva 10 pois não veio acompanhado de um
cardápio e por não apresentar opção.
8-Bebidas: Nota 10.
Tudo correto para o horário. Várias passagens da
tripulação oferecendo-se para completar os copos e
xícaras.
9-Necessaire: Sem nota.
Não é distribuída.
10-Desembarque: Nota 10.
Rapidíssimo. E com aquele brinde...
11-Pontualidade: Nota 10.
Chegada e partida pontuais.
Nota final: 9,11
Em vôos curtos, a importância relativa da atuação da
tripulação aumenta. Há menos tempo para se perceber as
qualidades dos assentos, as refeições não são
normalmente tão longas e/ou elaboradas, e do total da
viagem, uma parte proporcionalmente maior é a de
embarque e desembarque, onde os tripulantes tem atuação
de destaque. Ou seja, nota-se mais ainda se uma
tripulação é mesmo do ramo ou se está lá apenas para
"ganhar a vida", contando os dias para a aposentadoria.
Não era definitivamente o caso de Petra Hagelmuller,
Dieter Kapsch, Edyta Hummer e Susanne Wallner, que
cuidaram dos seus pax com dedicação e classe.
Definitivamente voar ainda pode ser um prazer. Desde, é
claro, que você o faça na companhia certa.
Gianfranco Beting
Vinte e três de setembro de 2003. Completaremos agora 12
vôos pela Star Alliance. Foram onze companhias aéreas
até agora. Chegou a vez de voar na menor aeronave e
igualmente, na menor empresa associada à aliança. Este
seria o único vôo de caráter regional (embora
internacional) da viagem e o único a ser feito num
Regional Jet, no caso um Bombardier CRJ 200LR. Vamos
voar com a Tyrolean Airways, associada à Austrian
Airlines.
Viena apresentava condições ideais: 26ºC e nenhuma nuvem
no céu. Acabara de desembarcar de um excelente vôo da
Austrian Airlines vindo de Copenhagen. Com troca de
aeronave e companhia na capital da Áustria, prosseguiria
agora para Zürich, meu destino final neste dia.
O check-in para o VO (OS) 5569 foi feito em Copenhagen.
Já estava de posse de meu bilhete e portanto, ao
desembarcar em Viena, bastou procurar o portão de
embarque, que seria o A18. Como sempre costuma
acontecer, era do outro lado do terminal, o que não é
nenhum problema, aliás, pois o aeroporto de Schwechat é
bastante acanhado.
Caminhei e pude experimentar mais uma vez o quão
desagradável é a parte "terrestre" de se voar nos dias
de hoje. Mais uma vez, filas intermináveis no controle
de segurança. Por azar, quase na mesma hora e no portão
ao lado, saía um 747-400 lotado da Malaysian Airlines
para Kuala Lumpur, e os 400 passageiros congestionavam
as duas máquinas de raio-x. Com meu equipamento e bolsas
de chumbo para proteger os filmes, é claro que fui
"escolhido" para uma revista manual, fato com o qual já
estava me acostumando. Pergunta vai, pergunta vem,
acabaram me liberando, mesmo que desconfiados com os 270
rolos de filmes que trazia.
Mas nada disso é culpa da Tyrolean Airways. A empresa
nasceu independente e cresceu ao ponto de incomodar a
Austrian Airlines, que resolveu comprar a concorrente
impertinente. Com sua ótima reputação e voando numa das
regiões operacionalmente mais exigentes do mundo,
sobretudo no inverno, a Tyrolean foi incorporada à
Austrian Airlines e passou a fazer parte do Austrian
Airlines Group, que ainda engloba ainda a Lauda Air,
fundada pelo corredor Nikki Lauda. Este era um vôo
oficialmente em code-share, carregando o designador
OS5569. O código IATA da Tyrolean é VO (Victor Oscar).
As 11:40 começou o embarque para o OS5569. Fomos de
ônibus até a aeronave e descemos no pátio ensolarado. Lá
estava o jato que nos levaria, matriculado OE-LCH e
batizado City of Amsterdam. Entregue à empresa em abril
de 1996, estava meticulosamente conservado por dentro e
por fora. As bagagens de mão mais volumosas ficaram na
porta da aeronave e embarcamos somente com volumes
menores. Ocupei a poltrona 5A, conforme havia reservado,
e que fica na última fileira da classe executiva. Na
verdade, as poltronas e o espaço entre fileiras (pitch)
são idênticas entre as duas classes deste jato de 50
lugares. O que muda mesmo é o padrão de serviço, em
especial das refeições.
O embarque foi rápido pois havia apenas 40 lugares
ocupados. Em minutos estávamos prontos para a partida.
Motores GE CF34-3B1 girando, o Cmte. Werner Pabst
acelerou pontualmente às 11:05 (cravado no ETD) e saímos
de nossa posição no pátio rumo à cabeceira 34. Taxiamos
sem muito tráfego e as 11:13 o OE-LCH decolou. Nossa
velocidades foram: V1-135; VR-138; e V2-145 nós. Subimos
cumprindo a SID SITNI-2C, com peso na decolagem de
20,500 kg, razoavelmente abaixo do máximo de 23,995kg
certificada para esta versão da aeronave.
Trens recolhidos, o Cmte. Pabst mantêm o nariz lá no
alto, subindo com vontade. Seu jovem primeiro oficial,
Gärtner, chama o controle de Viena e nos coloca rumo à
Zürich mantendo 27.000 pés em altitude de cruzeiro. O
consumo de combustível em cruzeiro do CRJ nesta etapa
estava na faixa de 1.100 kg por hora.
Na cabine de passageiros, o consumo seria outro: o
almoço. A única comissária, Srta. Bell, iniciava
rapidamente o serviço, distribuindo inicialmente as
bandejas para a Classe Executiva e então, prosseguindo
até o final da cabine, ia entregando um sanduíche a cada
passageiro da classe econômica. Em seguida, ela voltou à
parte dianteira da cabine e iniciou a passagem do
carrinho com bebidas, tentando minimizar o tempo entre a
entrega dos "secos" e dos "molhados". Pode não ser o
melhor fluxo de serviço, mas é o único viável para
atender até 50 passageiros em um vôo de pouco mais de 50
minutos.
Após degustar o almoço, composto por frios e pães e uma
galantina de alcachofra, comprovei que estava tudo
bastante saboroso: dever de ofício. Então, apresentei-me
à comissária e solicitei uma visita à cabine. Após
receber a autorização para a visita, fui conversar com
os tripulantes técnicos do OS5569. Ambos falaram muito
bem do CRJ, visivelmente adoram operar com o aparelho. O
vôo curto e a necessidade de iniciar a descida cortaram
logo a seguir nossa prosa.
Voltei para poltrona, desta vez sentando na 5F, que me
pareceu melhor para fotografar. O tempo, porém, virou.
Uma forte frente fria atingia a região, com Zürich
recebendo os rigores desta que era a primeira
manifestação que sinalizava o fim do verão na Europa
Central. Soube nos dias seguintes, que aquela era a
primeira onda de instabilidade que chegava à região em
semanas. Essa frente veio mesmo para fechar o verão com
rigor, despejando uma forte chuva e fazendo com que os
casacos saíssem dos armários depois de um dos verões
mais quentes de que se tem notícia. Temperatura de 14ºC
e chuva nos esperavam no pouso em ZRH.
Antes disso, Pabst teria de fazer o CRJ entrar no
tráfego para o aeroporto de Zürich Kloten, ou, sob seu
novo nome de marketing, Zurich Unique Airport. O CRJ
entrava na camada de nuvens e recebia as primeiras gotas
de chuva. Pabst navegava seguindo a STAR Negra 3Z para a
pista 14. Com uma hora e dois minutos cravados de vôo,
os trens de pouso foram abaixados. As 12:18, com exatos
65 minutos no ar, Pabst colocou as rodas do CRJ no solo
com grande suavidade e rolou pelos 3.300m da pista 14.
Taxiamos para o pátio usado por toda a aviação regional
(exceto a Swiss) onde estacionamos ao lado de um 737-700
da SAS. Nosso ótimo vôo com a Tyrolean chegou ao fim.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela Lufthansa.
2-Check-In: Sem nota.
Feito pela SAS em Copenhagen.
3-Embarque: Nota 8.
É sempre chato embarcar atráves de um ônibus - que nos
levou até as posições remotas no pátio, mas na aviação
regional não há muito o que fazer.
4-Assento: Nota 8.
Em couro cinza, confortável e relativamente espaçoso
para a categoria.
5-Entretenimento: Sem nota.
Não há e não faz muita falta em vôos curtos.
6-Serviço dos comissários: Nota 8.
Nossa comissária foi bem, tendo que encarar sozinha os
40 passageiros. Mas cometeu dois deslizes: permitiu no
solo que 3 passageiros da classe econômica sentassem na
classe executiva (depois de decolarmos, "convidou-os" a
mudar para trás. E nada fez para conter um passageiro
que, igualmente, fez seu próprio "upgrade" e veio
sentar-se na fileira cinco. Ao interpelar o pax, ouviu
como resposta: a mulher ao meu lado não parava de
espeirrar e portanto, tenho o direito de mudar. Nossa
comissária deu de ombros.
7-Refeições: Nota 9.
Bem apresentada e saborosa.
8-Bebidas: Nota 8.
Duas opções de vinhos e no mais, bastante correta, com
opções quentes e frias.
9-Necessaire: Sem nota.
Não é distribuída.
10-Desembarque: Nota 10.
Rápido e sem problemas. Malas na esteira ao chegar até
elas. 11-Pontualidade: Nota 10.
Tudo no horário.
Nota final: 8,71
Afora os pequenos deslizes mencionados, foi um vôo muito
bom. O CRJ é confortável e extremamente silencioso. A
aeronave estava bem conservada e o padrão de serviços é
de primeira. Só fico imaginando cá com os meus botões
como seria o serviço se os 50 assentos estivessem
ocupados... Mesmo assim, ficou evidente que a Austrian
pode se orgulhar de sua subsidiária. O passageiro pode
ter certeza de que ao escolher a Tyrolean, irá voar com
um padrão de serviços muito bom.
Gianfranco Beting
Chegamos agora ao Flight Report de nº 13 em nossa
Volta-ao-Mundo: nosso vôo mais curto na jornada, com
apenas 179 milhas, entre Zürich e Frankfurt, os dois
principais hubs aeronáuticos destes países europeus. Um
vôo lotado até a última poltrona, como viria a descobrir
ao embarcar, este é mais um dos vários serviços
multiplos diários da Lufthansa.
Escalado para o vôo daquela data, uma aeronave especial.
Batizada de Finkenwehrder, em homenagem à cidade próxima
a Hamburgo e hoje principal pólo da construção
aeronáutica na Alemanha, pois é lá que está localizada a
linha de produção dos Airbus A321e A319. E como este foi
o primeiro A321-100 entregue à Lufthansa, a companhia
decidiu homenagear esta cidade hanseática.
Matriculado D-AIRA, ele acabara de chegar de Frankfurt e
já era preparado para o retorno. A tripulação começara o
dia lá e prosseguiria depois do pouso no Hub de
Frankfurt em outra aeronave. Eu também, pois seguiria
horas depois para Madrid no vôo JK 118 da Spanair, como
você irá ler no próximo Flight Report.
O check-in no terminal 2 foi excelente, rápido e cortês.
Então prossegui para a primeira Sala VIP especialmente
concebida para ser uma "Star Lounge", isto é, uma sala
VIP exclusiva para as empresas da Star Alliance. Fiquei
impressionado com a beleza arquitetônica, com o conforto
e com as possibilidades do espaço. Realmente
superlativos.
Quase perdi o vôo, contemplando e aproveitando a sala.
Então fui para o portão B28 e após uma rápida viagem de
ônibus, estavamos todos aos pés da escada para embarcar
no D-AIRA. Fui o último a entrar, pois preferi ficar
namorando as aeronaves taxiando ao meu redor, sentindo o
perfume de querosene. Enfim, lá estava eu: assento 7A,
última fileira da executiva da Lufthansa. A empresa
adotou o padrão 2+3 por fileira, sendo as plotronas A e
B as melhores, sem a incômoda poltrona do meio.
A tripulação fechou as portas e os motores IAE ganharam
vida extamente as 11:05, horário de nossa partida. Mais
cinco minutos e iniciamos o longo taxi para a pista 16.
Com 77 toneladas de peso, o A321 não deveria usar muitos
metros da longa pista de 3.700m de comprimento. Lá fomos
nós.
Este é um horário de tráfego intenso em ZRH: ficamos um
bom tempo alinhados na cabeceira , aguardando a
autorização para a decolagem e subida SID Logan 4U.
Finalmente ela veio e as 11:22 iniciamos a corrida. V1
aos 159 nós e VR aos 160, decolamos no tráves do novo
Midfield Terminal. Gear Up, V2 aos 161 nós, lógo
entrávamos na camada. Uma pena, pois esta subida pede
uma curva de 270º à esquerda e logo passaríamos na
vertical do terminal, permitindo excelentes fotos...
Fica para a próxima.
Vôo curto, avião lotado. Sem tempo a perder, a
tripulação passou servindo as bandejas na Business
Class: frios e pães, bebidas à escolher, quentes e
frias, e para arrematar, chá ou café. Uma simpática
embalagem com 5 mini-chocolates da Nestlé enfeitava a
bandeja e era um toque sutil, uma memória a mais de que
estávamos deixando a Suíça.
E rumo à Alemanha. Minutos após a decolagem, uma
paisagem maravilhosa descortinou-se: a feia camada de
nuvens ficou para trás e um ar límpido, cristalino,
graças à recente passagem de uma frente fria, deu margem
a um dos mais belos espetáculos que já vi pela
janelinha: voando a apenas 25.000 pés, sobrevoávamos a
Alemanha com visibilidade ilimitada. O cmte. ia
informando as cidades sobrevoadas (Stuttgart, Würzburg)
e os passageiros grudavam nas janelas. Um verdadeiro
privilégio voar numa manhã assim.
Na cabine, o serviço era atencioso, mas não havia tempo
para muita coisa. Cruzávamos a 240 nós e em minutos
estaríamos descendo. Não deu outra: as11:50 iniciamos a
descida. Bandejas recolhidas, assentos na posição
vertical, o LH3537 ia chegando ao fim. Eram 12:09 quando
pousamos na pista 16 e em minutos, o A321 parava no gate
A11, ao lado de outro pioneiro: o D-AIGA, primeiro
A340-300 da companhia.
Esperei o desembarque de todos os passageiros e fui me
identificar junto a chefa de tripulação, Ms. Bartels,
que foi bastante amável e ficou muito interessada na
viagem de volta ao mundo. Ela então foi solicitar ao
comandante, conformo meu pedido, uma visita a cabine: O
Cmte. então veio pessoalmente conversar comigo,
desconfiado. Sem nenhuma simpatia, inicialmente relutou
em me conceder as informações técnicas, mesmo com a
carta de recomendação da Star Alliance que trazia
comigo. Após ler o documento com cuidado, deu de ombros
e respondeu-me as poucas perguntas técnicas que fiz sem
esconder sua impaciência. Uma visita ao cockpit? Nein!
Ja voll, Herr Komandant: simpatia e atenção ficam pra
próxima!
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Nota 10.
Feita pela Lufthansa, foi necessário modificá-la um par
de vezes, sempre sem problemas e com total agilidade.
2-Check-In: Nota 10.
Rápido, simpático e ágil.
3-Embarque: Nota 8.
Embarcar atráves de um ônibus até as posições remotas no
pátio desagrada a maioria dos passageiros, mas não a
nós, fanáticos por aviação, não é mesmo?
4-Assento: Nota 9.
Em couro cinza, confortável e espaçoso para a categoria.
5-Entretenimento: Sem nota.
Não há, embora não faz muita falta em vôos curtos.
6-Serviço dos comissários: Nota 6.
Nossas comissárias foram bem, na rapidez necessária para
servir o vôo lotado. Mas quanto à tripulação técnica...
Não preciso dizer mais nada.
7-Refeições: Nota 8.
Bem apresentada e saborosa: frios e camarões sobre uma
salada e pães. Os chocolatinhos deram um toque especial.
8-Bebidas: Nota 8.
Correta, com opções quentes e frias.
9-Necessaire: Sem nota.
Não é distribuída.
10-Desembarque: Sem nota.
Esperei todos desembarcarem, por isso não pude avaliar.
11-Pontualidade: Nota 10.
Saída no horário, chegada antes do previsto.
Nota final: 8,25
Um vôo sem nenhum problema, mas igualmente, sem nenhum
brilho. O produto da Lufthansa é de alta qualidade, não
resta dúvidas, como você já teve oportunidade de ler
aqui no Jetsite. Mas em vôos curtos, a atuação da
tripulação ganha maior importância. E neste LH3537, se
os comissários foram bem, o mesmo não podemos dizer da
tripulação técnica. Nem seu próprio nome o comandante
quiz fornecer, mesmo depois de haver tentado obtê-lo com
a máxima diplomacia.
Vai uma recado: quando alguém ganha o direito de usar as
quatro faixas, além de todas as atribuições técnicas e
responsabilidades operacionais, as empresas dão a estes
profissionais a missão de representá-las. Assim sendo,
comandantes são, em última análise, os verdadeiros
embaixadores de uma empresa aérea. Têm, portanto, para o
cumprimento satisfatório de suas funções, a obrigação de
trabalhar para estabelecer uma imagem positiva entre a
companhia que paga seus salários e o público viajante. A
era de comandantes-brucutus, daquele tipo que acha que
usar 4 faixas é apenas para quem sabe pilotar já passou
faz tempo. Hoje, um profissional completo tem que aliar
o lado técnico de aeronauta ao lado político de
embaixador da companhia. Precisa falar com o passageiro
e se fazer entender com seus colegas: a famoso conceito
de Cockpit Resource Management, CRM, um ítem
importantíssimo para a própria segurança do vôo.
Seja como for, não deixa de ser irônico lembrar que
justamente a pátria do referido comandante, a Alemanha,
teve provas suficientes dos estragos que a falta de
diplomacia pode trazer. Talvez o comandante do LH3537
tenha esquecido essa lição da história.
Gianfranco Beting
O aeroporto de Frankfurt é um dos mais movimentados do
mundo. E num dia de sol esplendoroso, com 22ºC de
temperatura, não se pode querer mais: a intensa
movimentação e as condições ideias para fotografia
garantiram pelo menos 4 horas dedicadas a registrar os
movimentos. Essa dureza terminou por um único motivo:
era hora de embarcar na Spanair, 14º trecho de nossa
Volta ao Mundo, voando com destino a Madrid.
Após desembarcar do LH3537, procedente de Zürich, estava
curioso em conhecer os serviços da jovem empresa
espanhola, que é parte do Grupo SAS. Operando uma frota
de MD-80, MD-87 e 767, recentemente a empresa passou
também para o time da Airbus, e começou a receber
modernos A320 e A321, que rapidamente colocou em suas
linhas mais nobres. Era o caso hoje: voaríamos na
aeronave de prefixo EC-ILH, incorporada à frota da
empresa em fevereiro de 2003. Este é o 1914º Airbus de
fuselagem estreita produzido.
Esta aeronave tem uma particularidade: é também a
primeira da empresa a ostentar a nova pintura
promocional da Star Alliance, como você pode ver nas
fotos. Com 162 assentos, sendo 32 dedicados à Avant
Class, classe executiva da empresa, pode-se dizer que
hoje ele é mesmo o Flagship da Spanair.
Sentado na sala de espera, tive o primeiro contato com a
tripulação: o time que havia chegado de Madrid no
próprio EC-ILH parou para cumprimentar a tripulação que
assumiria vôo JK118. As comissárias estavam todas bem
humoradas e relaxadas, fazendo a maior festa ao se
encontrar. Nosso reporter aqui ficou observando: todas
lindas, bem arrumadas, uniformes mbonitos. Causou boa
impressão.
Fomos chamados para o embarque e, ao contrário do que
acontece normalmente, não houve prioridade para os
passageiros da classe executiva. Uma única e longa fila
logo se formou, e acabei sendo um dos últimos a entrar
no A320. Equipado com dois motores IAE V2527, o jato
estava impecável por dentro, pois contava com menos de 8
meses de serviço ativo.
Fui recebido na porta pela purser Esperanza Albarracin,
que me indicou o assento 8A, janela na última fileira da
Avant Class. Esperanza era um dos sete profissionais
escalaados para este vôo. Com 2 tripulantes técnicos,
mais dois comissários na executiva e três na classe
econômica, as portas do EC-ILH foram fechadas com o POB
(People On Board) de 131.
Nosso vôo estaria sob a responsabilidade do comandante
checador Miguel Muntal, que saudou a todos em espanhol e
inglês e deu as instruções básicas de vôo, como
altitude, tempo estimado de viagem e hora de pouso e
condições climáticas para Madrid: 27ºC e sol.
Com cinco minutos de atraso em relação ao ETD, as 16:55
o EC-ILH foi tratorado para o pátio, saindo do portão
B02. Os silenciosos IAE girando, Muntal acelerou
levemente e o A320 iniciou as 17:03 o taxi rumo à
Startbahn West, para executar a SID Epino 07. O Spanair
118 estava prestes a decolar.
Depois de 5 minutos de taxi, o A320 entrou na pista e
Muntal encheu a mão nas duas manetes. Pesando 64,8
toneladas, bem abaixo de seu peso máximo de 77 t, o jato
da empresa espanhola atingiu a V1 aos 139 nós,
velocidade conhecida por decision speed. Aos 141 nós,
atingiu a VR ou rotation speed. Muntal puxou levemente o
joystick e lá fomos nós rumo a Madrid. Acelerando, aos
150 nós o Airbus atingiu a safety speed ou V2. Trens de
pouso foram recolhidos, nenhuma nuvem no céu, a linda
paisagem do coração da Alemanha podia ser plenamente
apreciada.
Subimos rapidamente ao nosso nível de cruzeiro, FL370 ou
37.000 pés e estabilizamos na velocidade de cruzeiro de
Mach 0.78. A bordo, as telas de cristal líquido
mostravam o sistema Airshow, que indicava os dados
básicos do nosso vôo, como altitude, velocidade e pontos
sobrevoados. Passamos perto do Mont Blanc, perfeitamente
visível (veja na foto) e um pouco ao sul de Toulouse,
antes de cruzar os Pirineus e entrar em espaço aéreo
espanhol.
Logo começou o serviço de bordo da Spanair. Para minha
surpresa, um jantar completo foi servido, com uma
entrada, 2 opções de pratos principais, uma deliciosa
torta de sobremesa e bebidas a vontade. Havia até um
cardápio, simples, que foi distribuído antes da refeição
pelas simpaticíssimas comissárias, visivelmente
orgulhosas de sua companhia.
Para beber, tintos e brancos (espanhóis, por supuesto) e
um completo bar, uma seleção de bebidas completa,
condizente com um vôo internacional entre duas cidades
importantes e numa rota bastante competitiva. A purser e
a comissária Natália Serrat cuidavam com eficiência dos
32 ocupantes da Avant Class e em minutos o jantar foi
servido.
Finda a refeição, apresentei minhas credenciais à purser
Esperanza, na esperança de conseguir um acesso à cabine,
ainda que em solo. Cordialmente, ela consultou o
Comandante Muntal e lá fui eu para a cabine. Conversamos
por uns 20 minutos, colhendo as informações técnicas
para este Flight Report, entre eles a STAR que seria
utilizada para a nossa chegada pela pista 33: Tersa 1B.
Voltei para meu assento e as 18:48 iniciamos a descida,
abandonando nossa cruise altitude. Estimei o pouso em 25
minutos, como quase sempre acontece após o TOD, para as
19:13. Mas Muntal tinha pressa: eram 19:11 quando as 6
rodas do EC-ILH tocaram em solo espanhol, na pista 33 do
aeroporto de Barajas, nove minutos antes do previsto.
Antes do pouso, porém, mais uma mostra da simpatia total
da tripulação. Comentei com a purser se a Spanair não
teria talheres metálicos, pois estava levando para casa
uma colher de sobremesa de cada vôo (não estou
encorajando ninguém a fazer isso - só o fiz por razões
editoriais). Esperanza disse que iria verificar e voltou
com a colher embrulhadinha pra presente, veja só. Por
essa e por tudo o que vivenciei no vôo, só posso dizer o
seguinte: ¡Arriba, Spanair!
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela Lufthansa, que se encarregou de reservar
todos os vôos da viagem de volta ao mundo.
2-Check-In: Sem nota.
Idem, feito em Zürich juntamente com o trecho ZRH-FRA.
3-Embarque: Nota 6.
Os passageiros de classe executiva deveriam ter
prioridade. Não foi o caso e assim, fui um dos últimos a
entrar na aeronave. A tripulação foi muito bem ao
receber os passageiros e acomodá-los, com eficiência e
simpatia.
4-Assento: Nota 8.
Bastante bons para a categoria. Configuração 2+2 por
fileira aumenta ainda mais o conforto.
5-Entretenimento: Nota 7.
Monitores de teto de LCD. Desenhos animados, variedades
e um telejornal, tudo em espanhol ou inglês. E várias
revistas e catálogos nas poltronas.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Muito simpáticas, calorosas. y muy guapas!
7-Refeições: Nota 9.
Apresentação e quantidade excelentes para o horário.
8-Bebidas: Nota 10.
Não faltou nada e os vinhos espanhóis oferecidos tinham
classe.
9-Necessaire: Sem nota.
Não é distribuída.
10-Desembarque: Nota 6.
Rápido para sair da aeronave, porém as bagagens
demoraram a sair. Certamente, as etiquetas de prioridade
das bagagens de classe executiva não foram respeitadas.
11-Pontualidade: Nota 10.
Partida e chegada pontuais: pousamos 9 minutos
adiantados.
Nota final: 8,44
Os poucos problemas encontrados foram todos em terra:
falta de prioridade de embarque aos pax da Avant Class e
demora na entrega de bagagens. O desenho do produto está
num elevado patamar, com detalhes surpreendentes como,
por exemplo, os cardápios impressos. A tripulação
brilhou: simpáticas, lindas, cordiais e eficientes.
Confesso que esperava menos da Spanair. E como a
impressão final é obtida através da diferença entre a
expectativa e a experiência, desembarquei do Airbus com
a certeza de que a Spanair está operando entre as
melhores empresas que integram a Star Alliance.
Gianfranco Beting
Sabe aqueles dias em que tudo parece dar errado? Pois
bem, a sexta-feira 26 de setembro era um deles.
Penúltimo trecho de nossa Volta ao Mundo, faltava apenas
este vôo da British Midland International (BMI) entre
Madrid e London Heathrow e depois, voltar para casa nas
asas da Varig. Até agora, os 14 trechos anteriores
tinham sido nomínimo excelentes, e em alguns casos,
absolutamente impecáveis. Diria mais, inesquecíveis.
Fui para o enorme aeroporto de Barajas com grande
expectativa, esperando voar num dos novinhos A320 da
empresa, pintados num atraente e moderno padrão.
Finalmente chego ao check-in e me apresento na fila da
Classe Executiva. Sou recebido por uma funcionária
cordial, que me atendeu rápida e profissionalmente. E
então, começaram as surpresas. Não havia reserva de
assento, o sistema não havia aceitado. Portanto,
solicitei um em alguma janela para poder fotografar.
Certo, senhor, que tal 29A?
Vinte e nove A? Mas estou na classe executiva!
Não, não está não: sua reserva é na econômica.
Para minha total surpresa, era mesmo. Expliquei a minha
situação, da Volta ao Mundo, pela Star Alliance, a
necessidade de comparação de serviços numa mesma classe,
mostrei que todos os trechos anteriores haviam sido
Business Class, de que tinha duas malas de mão, etc...
Veio então o supervisor da própria BMI (a funcionária
era sub-contratada) e ele foi igualmente elegante e
acomodativo: explicou-me que iria tentar de tudo para
conseguir um up-grade. Por enquanto ficaria com o 29A
mesmo, mas na porta da aeronave, tentaríamos um lugar na
executiva.
Assento 29A? Mas um A320 com duas classes de serviço,
desde quando tem a fileira 29? A resposta veio a seguir:
Ah, senhor, houve um problema técnico com o A320 e o vôo
hoje será feito numa aeronave de outra companhia... da
Titan Airways.
Um 757, portanto, disse eu.
Sim senhor, um 757.
Lá se foi o meu Flight Report para a Star Alliance.
Decepcionado, e já beirando o irritado, prossegui para o
portão A11, conforme indicado nas telas do enorme
aeroporto, que, claro, num dia como aquele, era
exatamente do outro lado do terminal. meia hora de
caminhada com mais de 30 kg de equipamentos (câmeras,
laptop, 5 sacos de chumbo com 276 rolos de filmes)
depois chego ao portão A11. Eram 12:15 e o vôo partiria
as 13:10. Pouca gente lá no gate A11 e nenhum
funcionário. Desconfiado, fui olhar novamente nas telas
de informação do aeroporto: mudança de Gate! B28 era o
novo portão. Mais 20 minutos de caminhada.
O meu humor já tinha virado mau humor. Cheguei
finalmente as 12:35 ao portão B28 que, óbvio, ficava ao
lado de um vôo da Ibéria com 5.378 passageiros
acotovelando-se para viajar com destino ao México, que
entupiam as salas de embarque contíguas. A chamada para
o vôo começou naquele instante, em meio a esse caos. E,
com apenas uma funcionária no portão, a fila
praticamente não andava. Como esperava um up-grade,
fiquei de embarcar por último.
Era 13:00 e ainda estávamos lá. Então chega ao final a
quilométrica fila (bem mais do que os 156 assentos do
A320) e com isso, vem a confirmação de minha
desconfiança: não houve problemas técnicos com o A320,
conforme haviam me informado. Houve overbooking, excesso
de passageiros para o A320. A solução da BMI foi
arrendar às pressas este 757 da Titan Airways, que saiu
com mais de 90% de seus assentos ocupados.
E saiu atrasado, claro, graças à única funcionária para
o embarque, o que atrasou o processo. E, para completar,
o embarque foi remoto, atrasando ainda mais. No final, o
757 de prefixo G-ZAPU teve as portas fechadas as 13:16 e
com mais 3 minutos, deu-se o pushback. Taxiamos para a
pista 36L as 13:23 e finalmente decolamos as 13:47, com
a vigorosa razão de subida que é a marca registrada do
757, a aeronave comercial com uma das melhores relações
de peso-potência na aviação comercial.
Falar o que da pobre Titan Airways, contratada para
realizar o BD482? Sentadinho lá na classe econômica,
minha poltrona de couro cinza era aceitável para a
categoria. A tripulação foi simpática e a refeição foi
constituída de um aceitável sanduíche frio de presunto
com salada e mostarda, tipicamente britânico. Mas para
quem acordou imaginando voar na executiva de um A320
novinho em folha e acabou na classe econômica de um 757
de uma empresa charter, a diferença não poderia ser
maior.
Paciência e uma pena. Fico devendo ao caro leitor as
impressões de voar na única companhia aérea que
conseguiu competir nas últimas décadas com sucesso
contra a British Airways nas rotas européias. Tanto é
assim que seu slogan por muitos anos foi "The Airline
for Europe".
Uma pena mesmo. Mentiras como a informação que me foi
dada em solo "aeronave substituída por problemas
técnicos", o up-grade prometido que não houve, a
proibição de trazer minhas duas malas à bordo e os
caóticos procedimentos em solo de maneira geral marcaram
o BD482, aliás, o Titan 482.
Bem, depois do sanduichinho e de escrever este Flight
Report, já estávamos quase sobre a Inglaterra. Nossa
descida foi iniciada e as 15:18 horário de Madrid, ou
14:18 horário de London, pousamos na pista 27R e
taxiamos para o Terminal 1, onde encostamos no gate as
14:28. Fica a vontade irresistível de pensar em
significados alternativos para BM: Bloody Miserable, Bad
Memories, ou, em claro e bom português, Bela M...
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela Lufthansa, que se encarregou de reservar
todos os vôos da viagem de volta ao mundo. Porém,
estranhamente, este trecho foi reservado em classe
econômica e eu falhei em não notar isso.
2-Check-In: Nota 8.
Cordial, a despeito das surpresas.
3-Embarque: Nota 0.
Os passageiros de classe executiva não tiveram
prioridade. Uma única funcionária atrasou o vôo no
portão. Apenas minutos antes da partida é que apareceu
uma segunda para ajudar..
4-Assento: Nota 5.
De couro cinza, bonitos e com pitch razoável para a
classe econômica.
5-Entretenimento: Nota 3.
Limitado aos monitores de teto com as inforamções do Air
Show.
6-Serviço dos comissários: Nota 5.
Pouco simpáticos, enfim, no melhor estilo "vôo charter".
7-Refeições: Nota 3.
Um sanduíche frio para um vôo internacional na hora do
almoço?
8-Bebidas: Nota 5.
Bebidas frias, incluindo cerveja e depois, chá ou café.
9-Necessaire: Sem nota.
Não é distribuída.
10-Desembarque: Nota 5.
Lento para sair da aeronave. E as bagagens demoraram
muito para sair, mais de 40 minutos depois de parados no
gate é que surgiu a primeira mala. Embora fosse a minha,
deve ter gente que ficou mais de uma hora no aertoporto
apenas na esteira de bagagens. Não disse que hoje não
era o dia?
11-Pontualidade: Nota 8.
Partida tecnicamente no horário e chegada ligeiramente
atrasada.
Nota final: 4,66
Havia voado antes na classe executiva da British Midland
(de verdade) em 3 vôos intra-europeus e só posso dizer
que tive uma excelente impressão de todos eles. Quiz o
destino que, justamente na penúltima etapa de uma até
então impecável Volta Ao Mundo com a Star Alliance, os
deuses conspirassem contra. A BMI fica devendo aos
leitores do jetsite um Flight Report. Que, em
compensação, acabaram voando conosco num 757 da Titan
Airways.
Gianfranco Beting
Chegamos ao último trecho de nossa Volta Ao Mundo pela
Star Alliance. Atravessamos desertos frios e quentes, as
mais altas cadeias de montanhas, os mais profundos
oceanos. Estivemos em alguns dos mais movimentados
aeroportos do mundo, fotografando e reportando na melhor
tradição do Jetsite. Foram 41.456 milhas voadas em 22
dias, passando pela América do Sul, do Norte, pelo
Extremo Oriente, Oceania e nada menos que seis países da
Europa. Voamos em aeronaves de 50 a 500 lugares, sempre
em empresas da Star Alliance. Neste período, fizemos
nada menos que 210 rolos de filme (7.560 fotos), sem
contar mais 800 imagens digitais feitas a bordo de todas
estas aeronaves, nos saguões de embarque, nas salas VIP.
Mais uma prova de que o Jetsite está numa categoria a
parte em sites de aviação. No Brasil e no mundo.
E fechamos a viagem com o vôo RG8757, operado na noite
de 28 de setembro pelo MD-11 de prefixo PP-VQI, pilotado
pelo comandante Ricardo Weber e tendo por primeiro
oficial Henrique Souza.
Apresentei-me com duas horas de antecedência no
check-in, e descobri que meu assento reservado e
confirmado já estava ocupado, e que além disso, não
havia mais nenhum disponível em janelas. Então, insisti
em conseguir um assento na janela para poder fotografar.
O supervisor da Varig foi chamado e me tratou o tempo
todo a um milímetro da descortesia, como se meu pedido
fosse algo sobrenatural. Mostrando minha reserva
impressa pela Lufthansa, com o assento 6L claramente
indicado como reservado e confirmado, veio a sua lapidar
resposta. Olha só que pérola do bom atendimento e
cortesia com o público viajante. Observando o papel que
confirmava minha reserva, deu de ombros e afirmou, num
sotaque lusitano carregado: Ah, mas isso é documento da
Lufthansa. Aqui é Varig! Como se eu não tivesse
percebido. Pensei: Welcome to the Seamless Experience Of
Travelling With The Star Alliance...
Sim, eu não queria acreditar, mas aparentemente
estávamos de volta à Terra do Samba e do Pandeiro. Em
meio ao caótico Terminal 3 de Heathrow, ouvia ao fundo,
em crescendo, o inconfundível soar do instrumento de
percussão que tão bem representa nossas cores. Welcome
back to the Land of Jeitinho.
Resignado, procedi para a imigração e passagem pelo
raio-X. A funcionária do balcão, ao fazer o check-in,
não me informou que eu poderia proceder pelo Fast Track,
que é a fila na imigração dedicada aos passageiros de
classe executiva ou First Class. Se eu não soubesse,
teria ficado pelo menos uma hora numa brutal e
quilométrica fila junto com 7.000 paquistaneses. Mas,
como macaco velho, em minutos estava na bonita sala de
espera London Lounge, onde aguardei o vôo
civilizadamente. Tomei um belo banho, acessei a
internet, li jornais e revistas nesta sala VIP que é
compartilhada pelas empresas da Star Alliance.
Fomos chamados para o MD-11 e acomodei-me no meu
assento, 6C, o que garantia que por toda a noite teria
um passageiro me obrigando a acordar caso ele quisesse
ir ao banheiro. Encontrei a aeronave relativamente
arrumada, pois o Vôo 8757 faz escala em Heathrow, sendo
originado em Copenhagen. A tripulação passou oferecendo
as necessaires, os cardápios, um drink de boas vindas.
Só posso dizer que em termos de assento, o padrão das
poltronas da Executiva da Pioneira é apenas razoável. A
configuração é 2+3+2, o que garante o infame assento do
meio. Em outras empresas, por exemplo na Swiss, a
Executiva é 2+2+2. Deixa pra lá.
Portas fechadas, o MD-11 estava pronto para a partida.
Nosso ETD era as 22:00, e o push back foi as 22:38. Mais
5 minutos depois e o MD-11 iniciou o taxi rumo à
cabeceira 27R, a mesma de onde 3 horas antes havia
filmado a partida do Concorde G-BOAG para New York.
Algum tráfego à nossa frente, éramos o número 5 para
decolar. Finalmente, as 23:04 o Cmte. Weber tirou as 273
toneladas do MD-11 do solo, cumprindo a SID Southampton
2F. Nossa decolagem foi a única nos 16 vôos na Star
Alliance que saiu com atraso.
A bordo da cabine praticamente lotada, com 98% de
ocupação dos 285 assentos do MD-11 (6 na First, 49 na
Executiva, 230 na econômica) a tripulação iniciava os
procedimentos para servir o jantar. O PP-VQI, um dos 3
únicos MD-11ER da Varig (VQJ e VQK são os outros)
acelerava para sua cruise speed de Mach 0.82 e subia
para seu primeiro nível de cruzeiro, que seria de 31.000
pés. Com peso máximo de 285.990kg (contra 280.320 dos
MD-11 padrão), o trijato, em operação na Varig desde
setembro de 1998, prosseguia pela aerovia Upper November
866 até Santiago de Compostela, Espanha.
Essa informação foi passada a atodos pelo excelente
speech do Cmte. Weber, que informou nossos pontos
principais de sobrevôo. Depois de Santiago, entramos na
Upper November 741, passando sobre a Ilha da Madeira,
Ilha do Sal, e entrando no Brasil na vertical da cidade
de Fortaleza, prosseguimos direto até Montes Claros, MG,
nesta mesma aerovia. Então, passamos para a Upper Whisky
57, com proa de Pirassununga e Viracopos, e então a
descida e aproximação para a pista 09R, cumprindo a STAR
Tuca.
Na cabine, o jantar ia começar. Drinks foram oferecidos,
mas não havia carta de vinhos a bordo: a escolha era
feita pela indicação, (branco ou tinto?) da tripulação.
Havia apenas o cardápio, com quatro opções de pratos
principais. Filê de frango, de linguado, de porco ou um
raviolini. Fui no linguado e me dei muito mal: o prato
não tinha sabor nenhum, mesmo. Tentei adicionando sal e
pimenta. Nada. Peguei a manteiga e derreti sobre o
peixe. Ainda não. Apelei e verti um pouco do vinho
branco sobre o infausto linguado, para tentar
emprestar-lhe algum sabor em sua hora derradeira. Necas.
Deve ser algum milagre da culinária, uma espécie de
black hole gustativo que "traga" todos os aromas e
sabores. Me diverti com essa imagem e masquei a carne do
pescado, empurrando com arroz branco, onde também havia
derretido um pouco da manteiga. Impressionante. Frutas,
queijos e uma sobremesa (coalhada com calda de café)
seguiram-se, com chás, café e licores arrematando o
jantar. Um simpático chocolatinho de Gramado encerrou os
trabalhos.
Então, antes que me apresentasse à tripulação, a purser
Ebe Santos veio me dar as boas vindas em nome da Varig e
me convidou para a cabine de comando. Fui recebido com
absoluta cordialidade pelo Cmte. Weber e pelo F/O Souza.
Ficamos conversando por bastante tempo, ouvindo as
histórias de Weber e falando sobre os desafios de nossa
aviação comercial. Uma conversa pra lá de boa, tendo a
maravilhosa cabine de comando do MD-11 como cenário.
Weber me explicou que a tripulação técnica do MD-11
nestes vôos RG8757 é de revezamento, isto é, dois
comandantes e dois primeiro-oficiais. Cada dupla voa uma
metade do trecho, permitindo que os profissionais
estejam sempre descansados. A tripulação que vem do
Brasil pára em Londres. Outra assume e leva o MD-11 para
Copenhagen e volta para Heathrow. Uma terceira
tripulação assume o vôo em LHR e leva o MD-11 até o Rio
de Janeiro, com escala em Guarulhos.
Weber estava levando de volta ao Brasil os 277
passageiros e 16 tripulantes que juntos, davam ao RG8757
um POB (Persons On Board) de 294. Uma noite de casa
cheia, como aliás a grande maioria dos vôos da Varig no
Atlântico Sul.
O cansaço bateu e fui repousar na poltrona 6C. Dormi 3
horas e fui acordado pela tripulação para o café da
manhã. O PP-VQI já voava a 39.000 pés, altitude de
cruzeiro final, quando o café foi servido. As 05:30, o
Cmte. Weber iniciou a descida para Guarulhos e, para
fechar com chave de ouro nossa Volta ao Mundo, mandou me
chamar para assistir o pouso na cabine. Finalmente,
depois de 10:51 minutos de vôo, pousamos na 09 direita
de Guarulhos as 05:55, com 15 minutos de atraso em
relação ao ETA. Taxiamos para a posição H02 e cortamos
os motores. Acabava o RG8757 e a Volta Ao Mundo com a
Star Alliance.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela Lufthansa, que se encarregou de reservar
todos os vôos da viagem de volta ao mundo. Este trecho,
como todos os outros, foi reservado e confirmado. A
escolha e reserva de assento foi honrada em todos os
trechos MENOS neste. (Aqui é Varig).
2-Check-In: Nota 3.
Cordial, até começarem as desagradáveis surpresas. E a
funcionária da SAS que me atendeu foi mil vezes mais
simpática que o "Representative" da Varig, arrogante e
estressado. Pagar o salário de um funcionário desse
naipe é rasgar dinheiro.
3-Embarque: Nota 5.
Os passageiros de classe executiva tiveram prioridade,
ams antes tiveram de atravessar a turba que se
aglomerava no portão. Sim, estávamos voltando mesmo para
o Brasil.
4-Assento: Nota 7.
Pitch razoável para a executiva, bom padrão de conforto.
5-Entretenimento: Nota 5.
O programa de video era limitado aos monitores
espalhados pelo teto e divisórias da cabine e contava,
além da programação única, com as informações do Air
Show. A Varig compensa isto com video-walkmans
individuais da Sony, disponíveis apenas nas classes
executiva e First.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Bastante simpáticos, e eficientes, o tempo todo.
Destaque para a excelente purser Ebe Santos, uma
verdadeira embaixadora da Varig.
7-Refeições: Nota 5.
A queda no padrão de serviço é evidente.
Definitivamente, não é mais a mesma velha e boa Varig
dos áureos tempos. As castanhas quentes viraram
amendoins quentes. E o meu prato principal, "Linguado
aos Camarões", além de absolutamente sem gosto nenhum,
veio apenas com UM camarãzinho. Que tal mudar o nome do
prato para "Minguado Camarão?
8-Bebidas: Nota 5.
Ôpa! Falta de carta de vinhos? Num vôo de classe
executiva de 11 horas?
9-Necessaire: Nota 7.
Distribuída ainda em solo, desenho e conteúdo razoáveis.
10-Desembarque: Nota 8.
Rápido para sair da aeronave. As bagagens não demoraram
muito para sair.
11-Pontualidade: Nota 6.
Partida atrasada; chegada atrasada em 15 minutos.
Nota final: 6,10
A nota reflete o descuido da companhia em alguns
setores, falhas imperdoáveis para um produto que chega a
custar US$ 6.000,00. Difícil compreender o desrespeito à
uma reserva de assentos feita com meses de antecedência.
Ou a falta de uma carta de vinhos. Ou a pobreza na
apresentação dos pratos. Eu, que fui diretor de serviço
de bordo, sei explicar o que está por trás destas
medidas: necessidade de economizar. Mas, e os
passageiros, sobretudo os brasileiros, que por décadas
foram acostumados ao fato de que a Varig era uma das
melhores empresas aéreas em serviço de bordo?
Nós sabemos das dificuldades enfrentadas pela Varig nos
últimos anos e temos de assistir à queda no padrão de
serviços, notadamente no catering. Em compensação, o
RG8757 tinha uma tripulação "das antigas", na melhor
tradição de excelência dos velhos tempos. Mas, Pioneira,
só posso dizer uma coisa: que saudade da Varig dos anos
60,70,80!
Gianfranco Beting