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Southwest Airlines SW2662
Finalmente chegou a vez de voar na
Mãe-De-Todas-As-Low-Cost-Low-Fare, a mundialmente famosa
Southwest Airlines. Copiada, admirada, invejada por
outras empresas aéreas e, surpreendentemente, por muitas
empresas do setor de serviços, a SWA ou LUV, seu código
de três letras (e tema recorrente de suas ações de
marketing), cresce espetacularmente desde que foi
fundada há pouco mais de 30 anos atrás.
Opearando hoje nada menos que 378 Boeing 737-200, 300,
500 e 700, a SWA, acreditam muitos analistas, poderá vir
a ser a maior empresa aérea dos Estados Unidos, antes
desta década acabar.
Surpreso? Pois não deveria. Mas qual o segredo? É o que
você vai ver em meis este Flight Report, Segundo de uma
série de 6 vôos nas companhias aéreas Low-Cost Low-Fare
dos Estados Unidos.
Ao entrar no website, você já nota que a Southwest
Airlines tem uma cultura corporativa forte e um modelo
de negócios que vai muito além de vender passagens
baratinhas. Os fatores que a diferenciam de todas as
outras empresas aéreas são muitos. Da excelência
operacional, com os "turn-arounds" mais rápidos da
indústria (em media 20 minutos para um 737 lotado) ou
para fatores que o aparentemente o público não seria
capaz de definir, embora possa sentir: por exemplo, para
trabalhar na SWA, é realmente necessário vestir a camisa
e ter naturalmente, uma personalidade que combine com a
companhia. Bom humor, informalidade, um espírito
verdadeiramente voltado a trabalhar em equipe são alguns
destes atributos.
Assim sendo, os testes de seleção de recrutamento na SWA
são minuciosos, longos e únicos. Não é a toa que a
empresa é sempre considerada com uma das melhores para
se trabalhar nos USA. Não apenas entre companhias
aéreas, mas disputando contra empresas de todos os
setores. O "Departamento de pessoal" na SWA é
oficialmente chamado de "Departamento das Pessoas", uma
diferença nada sutil. E foi isso que encontramos em
nossa experiência: a SWA é diferente do resto.
Começou pela facilidade na reserva, de longe a mais
ágil, rápida, amistosa de todas. Continuou pelo preço,
US$ 49,10, taxas incluídas, pelo trecho entre Detroit e
Chicago. E prosseguiu pelo check-in, que levou
aproximadamente 6 segundos, com direito ao bom humor do
atendente. Prosseguiu a bordo, com uma tripulação
descontraída e fazendo todos os speeches (comunicados)
com extremo bom humor. Em alguns casos, as piadas
fizeram todos a bordo dar boas garagalhadas.
Depois do check-in agilíssimo, fui para o gate A10 do
terminal da empresa em Detroit, de onde nosso 737-300
(N376SW) sairia. A Southwest não faz reserva de
assentos, mas quem se apresenta antes para o check-in
tem prioridade. Assim, os primeiros 40 recebem um
boarding pass com uma enorme letra A, e assim
sucessivamente até a letra C. O grupo A é chamado a
embarcar primeiro e, portanto, escolhe onde quer sentar.
Claro, famílias com crianças, idosos ou pessoas com
dificuldade de locomoção embarcam antes.
E assim foi: de posse de um boarding pass tipo A, logo
entrei e fui direto para a penúltima fileira, na janela.
Uma bela impressão do interior: os assentos tem uma
bonita forração de couro em azul e caramelo e estavam
impecáveis. Assisti a tripulação conduzindo o embarque,
que transcorreu sem grandes inconvenientes, rapidamente.
Em minutos, os 129 passageiros estavam a bordo do 737.
Entre eles, e sentadas bem ao meu lado, Lissa e sua
filhinha de 3 anos, Madison, que nunca haviam voado na
vida.
Constatando isso, vai aqui mais uma explicação do
estrondoso sucesso da SWA: suas tarifas permitem que
todo mundo voe. O modelo de negócios da empresa reza que
ela deve competir com automóveis e ônibus, não com
outras empresas aéreas. Por cobrar tarifas algumas vezes
abaixo de US$ 30, a SWA coloca a bordo de seus quase 400
jatos gente que nunca voou e que não voaria tão
frequentemente se tivesse que pagar as tarifas da
concorrência.
Não é de se estranhar que a empresa, quando entra num
novo mercado, inaugurando novas ligações diretas entre
dois pares de cidades, normalmente multiplica o número
de passageiros voando entre esses dois destino por 10.
Sim, o número, assombroso de fato, é esse mesmo que você
leu: o mercado, em nº total de passageiros, aumenta 10
vezes. Isto é conhecido como "efeito Southwest" e
provoca alterações qua vão muito além da aviação, com
reflexos em todo o ciclo econômico, social e até
cultural da cidade servida. Não é a toa que a companhia
recebe em media 500 pedidos por ano para criar novas
ligações, embora só voe para 59 cidades nos Estados
Unidos.
Ainda duvida que a SWA poderá chegar ao topo do ranking
Norte-Americano? Afinal, todos os meses, ela sozinha já
transporta 6.7 milhões de passageiros. Ou quase a metade
de todos os passageiros transportados por todas as
companhias aéreas do Brasil em um ano inteiro.
` Muito bem: Portas fechadas, o trator empurra nosso 737
para o pátio as 17h34, um minuto antes do previsto.
Motores girando, iniciamos o taxi para a pista 21C (sim,
C de Central) em dois minutos mais. As 17h42, as rodas
do 737 deixam a tarde fria e encoberta de Motown para
trás. Logo entramos na camada e rapidamente dela saímos,
expondo o 737 pintado de ocre ao sol poente de inverno.
Sua luz dourada, deitada no horizonte, banha as nuvens e
confere um lindo colorido à paisagem, um espetáculo
entusiasticamente apreciado pela pequena Madison,
encantada em voar pela primeira vez.
Um belo começo, esse da Madison: voando justo no
Valentine`s Day, o dia dos namorados na América do
Norte, essa pequena "All American Girl" logo recebe de
presente do comissário uma pequena montanha de corações
de chocolate. O que fica ainda mais apropriado na SWA,
que por ter sido fundada no aeroporto de Dallas Love
Field, adotou o "Love" ou (LUV) e o "Valentine" como
seus símbolos informais. Madison ganhou ainda uma
revistinha especialmente criada para os
passageiros-mirins, muito bem feitinha.
Voltando ao mundo dos adultos, o vôo era curto e não
havia tempo a perder: Ainda no solo, os tripulantes
passaram perguntando aos seus clients qual a bebida de
preferência de cada passageiro. Mal estabilizamos e lá
vieram eles, trazendo as bebidas em bandejas e os
famosos amendoins servidos pela Southwest. Famosos
porquê, cara-pálida? Porque a companhia explorou com bom
humor o fato de servir apenas bebidas e amendoins,
fazendo isso décadas antes que surgissem outras empresas
aéreas low-cost/low-fare e numa época que os aviões não
deolavam se não houvesse ao menos uma bandeja de
refeição para cada passageiro.
Com apenas amendoins a bordo, os jatos da Southwest tem
galleys menores, um fator que ajuda a que reduzir o peso
da aeronave, economizando combustível. E, aproveitando o
fato de que nos Estados Unidos "peanuts" é usado como
adjetivo para expressar algo barato, sem importância ou
de pequeno valor, mais ou menos como no Brasil se diz
"café pequeno," a Southwest apropriou-se dessa feliz
coincidência e lançou o conceito de Peanut Fares, suas
famosas tarifas baratinhas.
Amendoins e corações de chocolate servidos a todos,
lendo a revista de Bordo "Spirit" - excepcionalmente bem
feita, por sinal - o vôo já ia chegando ao fim: as 17h06
- hora local em Chicago, uma a menos que em DTW - os
motores foram desacelerados e as 17h22 pousamos sob uma
leve precipitação de neve que caía sobre o aeroporto de
Midway, uma espécie de Congonhas ou Santos Dumont de
Chicago - embora não seja tão central quanto os nossos.
Pouso macio seguido de uma frenagem excepcionalmente
forte, assustando a pequena Madison, logo livrávamos a
pista. Mais dois minutos e encostamos no gate B5, bem
antes do horário previsto de pouso, 17h35, com apenas 40
minutos de vôo, mas não sem antes ouvir muitas outras
piadas do Chief Purser, um dos três tripulantes de
cabine cuidando dos passageiros. Seu primeiro speech
após o pouso começou assim:
Yeeeeeeeeeeeeeeeessssssssssss! We made it! (Nós
conseguimos!) e prosseguiu, dizendo: E antes da hora
prevista, assim vocês podem chegar mais rápido aos
braços dos seus Valentine`s.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Nota 10.
Sistema e-tkt, que dispensa o bilhete e a perda de tempo
em comprá-lo. Fiz tudo pelo Brasil, mais fácil,
impossível.
2-Check-In: Nota 10.
Durou, se tanto, uns 6 segundos.
3-Embarque: Nota 8.
Igualmente rápido e organizado.
4-Assento: Nota 8.
Couro, bonito, confortável, limpo e novo.
5-Entretenimento: Nota 9.
O espírito dos comissários e suas constantes piadas já
são legendários. Vale como o sistema de entretenimento -
que a empresa não tem.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Um dos pilares do sucesso da empresa.
7-Refeições: Nota 7.
Correto para a proposta.
8-Bebidas: Nota 7.
Idem.
9-Necessaire: Sem Nota.
Não é distribuída.
10-Desembarque: Nota 10.
Rápido e simples.
11-Pontualidade: Nota 10.
Saída cravada no horário, chegada antes do previsto.
Nota final: 8,90
Bom humor, simpatia, eficiência operacional, segurança
impecável (a SWA nunca sofreu acidente fatal, nem teve
qualquer acidente mais grave em toda a sua história) e,
sobretudo, preços baixíssimos explicam o avassalador
sucesso da SWA. Depois de um vôo como este, a gente
entende porque tantos consumidores escrevem cartas
apaixonadas pela empresa. Southwest, we LUV you!
Gianfranco Beting