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Singapore Airlines



Você agora vai revisitar o padrão Singapore Airlines - provavelmente o mais elevado na aviação comercial mundial nas últimas décadas. Primeira empresa a operar o A380, a companhia que é sinônimo do estado-empresa Cingapura S.A. é referência internacional de qualidade em serviços aéreos. Embarque conosco no moderno 777-300ER em uma viagem de ida e volta entre Guarulhos e Barcelona e comprove: a fama está à altura dos serviços da companhia.

SQ 068: GRU-BCN

Passava da meia noite quando me apresentei em Guarulhos para o check-in no vôo SQ 68; o terminal estava bastante vazio naquela madrugada de sexta-feira. Não havia muita gente no saguão, e com isto o meu procedimento de check-in foi bastante rápido. Recebi meu cartão de embarque para a poltrona 22A, na última fileira da Business Class, como normalmente gosto de viajar. Como era de esperar, os procedimentos de imigração e raio-x apresentavam somente pequenas filas. Aproveitei o tempo mais dilatado de espera e fui para a melhor sala VIP de Guarulhos: o Red Carpet Club da United, companheira de Star Alliance da Singapore. Passava das 01h15 quando fomos chamados a nos dirigirmos ao portão de onde nosso 777-300ER iria partir as 01h45, horário publicado de saída.

Ao adentrar o triplo sete, fui recebido pela simpática tripulação, que me encaminhou à minha poltrona e, a seguir, levou meus dois filhos pequenos à classe econômica. Sem saber, os dois estariam servindo para testar a categoria da companhia ao tratar menores desacompanhados, um serviço que demanda organização e esforço das transportadoras; ainda que eu estivesse no mesmo voo, por estar em outra classe, em casos assim os menores são tecnicamente considerados desacompanhados; na prática, porém, estariam sob estrita, constante e carinhosa supervisão das "Singapore Girls" - as impecáveis comissárias da companhia - por toda a viagem.

Com os infantes devidamente acomodados não muito longe do pai, suspirei mais aliviado. Voltei à classe Executiva e fui recebido com o tradicional e encantador sorriso de uma das "Singapore Girls", que me assegurou: "relaxe, nós cuidaremos deles direitinho". Disso eu não tinha dúvida. Pouco depois foram oferecidas opções de bebidas: suco de laranja, água ou champagne.

Naquela noite, o número de assentos ocupados era de 235, com mais 15 tripulantes, perfazendo 250 pessoas a bordo (POB). O majestoso triplo sete trezentos da SIA tem 278 poltronas, assim distribuídas: são 8 assentos na First Class, 42 na Business e 228 na Econômica. A preparação para a partida foi bastante eficiente e, antes do previsto, as portas do 777, matriculado 9V-SWM, foram fechadas as 01h34. Eram 01h40 quando o trator empurrou o 777 para um pátio praticamente deserto. O par de motores GE-115BL2 ganhou vida, e apenas sete minutos depois iniciávamos o taxi rumo à 09 esquerda.

As 322 toneladas de peso do gigante iniciaram a jornada de 5432 milhas até a principal cidade da Catalunha. O MTOW do 9V-SWM é 351.534 kg. Levávamos 102.000kg de combustível, ante uma capacidade máxima de 145.500 kg nos tanques. Aguardamos a autorização da torre para alinhar e partir. Eram 01h52 quando o "Whisky Mike", que fez seu primeiro voo em 19/2/2008, iniciou a rolagem. Ganhávamos altura cumprindo o perfil de subida por instrumentos "SURF". Nivelamos inicialmente a 31 mil pés. Devido ao horário avançado de partida, a tripulação iniciou sem demoras o serviço de jantar. Para todos os passageiros a bordo, inclusive aqueles voando na classe econômica, são distribuídos cardápios muito bem apresentados.

Para os passageiros da Classe Econômica, por exemplo, havia uma salada verde; dois pratos quentes a escolher: galinha a moda espanhola ou um macarrão frito com cubinhos de carne de porco. A sobremesa era sorvete. Durante o voo todo, os passageiros poderiam solicitar sanduíches, chocolates, castanhas, salgadinhos e/ou frutas, além de bebidas, inclusive alcoólicas e de categoria: três tipos de vinhos, cerveja, cognac, licor, vodka, rum, gin, whisky Johnnie Walker Red, entre outros. Antes do pouso, um café completo com frios e duas opções de pratos quentes seriam servidos.

O serviço de refeição na Business Class era, obviamente, bem mais elaborado. Ainda em solo, o passageiro recebe um cardápio muito completo, com todas as refeições nas etapas GRU-BCN e BCN-SIN, o que permite ao distinto escolher tudo o que será comido e bebido de São Paulo a Cingapura. Neste voo, começamos por uma refeição mais ligeira e apresentada sem muita demora, em função do avançado da hora. Eram quase três horas da manhã em São Paulo. Primeiro, um antipasto de camarões marinados com relish de manga; presunto de parma e mussarela com tomate. Depois um prato quente: supremo de frango com purê de ameixa, ou filé grelhado com molho de cachaça, ou como terceira opção uma sopa oriental tipo noodles. Para finalizar, sorvete de morango com compota de frutas vermelhas, queijos e suas guarnições, cafés e chás. O cardápio de bebidas é extenso demais para ser publicado. Destaco os vinhos, como de costume nesta seção. Champagne Bollinger, brancos: Chablis Reserve de Vaudon, Drouhin 2008; mesma safra para o Riesling Dr Loosen. Os tintos: os Bordeaux Chateau Lacombe-Noiallac, Médoc 2005 e Chateau Paloumey 2007, Haut-Médoc. O destaque da carta ficou para o excepcional Tenuta di Castiglioni 2007, um Toscano do Marchese Frescobaldi. Há muito tempo não bebia um vinho tão surpreendente, seja voando ou em solo. Foram oferecidos dois portos: Offley LBV 2005, e Fonseca Late Bottled Vintage 2005.

Com uma decolagem neste ingrato horário, quem deveria brilhar mesmo são as inacreditáveis poltronas da companhia, motivo de orgulho para a Singapore e, seguramente, as melhores do mundo em um avião com três classes de serviço. Bem, chamá-las de poltronas chega a ser ofensivo: mais apropriado seria defini-las como "estações" individuais. Dispostas na configuração 1-2-1 (quando em outras empresas o mais comum no 777 é a disposição 2-3-2), apresentam espaço entre fileiras mais do que generoso de 51 polegadas (e 71 polegadas na First, 32 polegadas na Econômica), monitores individuais de 14 polegadas (na Business), e apoio permanente para os pés. Elas são tão largas (30 polegadas na Business, 35 na First) que dois adultos magros ou um adulto como eu e uma criança podem sentar-se lado a lado. Tão espaçosas que necessitam um apoio para braço que pode ser removido, pois de outra forma o passageiro poderia ficar sem apoio para os braços, de tão largo é o espaço individual. A mesa de trabalho tem todas as regulagens possíveis, inclusive altura. No encosto do assento da frente, estão um espelho (iluminado) para aqueles que desejarem dar uma retocada no visual; um porta-copos; porta-óculos; e uma estação multimídia com duas entradas USB, uma RCA, e uma AC/DC internacional. Tudo isto elegantemente escondido em portas metálicas. Há ainda um compartimento aberto, de tamanho generoso, perfeito para acondicionar revistas, jornais, equipamentos e pequenas malas de mão. Ele fica à altura dos olhos, mas não pode ser usado durante pouso e decolagem. No encosto para os braços, fica outro porta-revistas, um compartimento fechado (perfeito para os fones e garrafas d'água), e mais um porta-copos. Escondido no outro apoio de braços estão os controles do sistema de entretenimento. Abaixo destes estão os botões de controle de luz individual, chamado de tripulação, apoio para os pés e reclinação da poltrona. Há duas entradas para fones de ouvido (uma em cada divisória lateral) e duas luzes individuais - igualmente uma em cada divisória.

Na hora de repousar, é necessário levantar-se: todo o fundo da poltrona é rebatido e desdobrado, de forma a criar um largo leito, que se encaixa com os apoios aos pés na parte da frente do seu "casulo" individual, criando um leito. Realmente engenhoso, novamente para ser econômico nos adjetivos. Dois travesseiros, dois jogos de cintos de segurança (um para a posição leito e outro para a poltrona, este com air-bag acoplado(!) completam o notável conjunto. Dormi pesadamente, mas não muito: o dever de observar os pequenos na classe econômica me fez ficar com o sono entrecortado e levantar de hora em hora. Toda vez que ia visitá-los, porém, o cenário era o mesmo: o mais velho dormindo e o mais novo absorto na formidável variedade de joguinhos e filmes (posso chamar de babá eletrônica?) do sistema de entretenimento Krisworld, um dos mais completos do mundo, rivalizando somente com o ICE da Emirates.

Lá fora, era dia claro quando realmente despertei em definitivo. Já havíamos passado sobre Salvador, Mossoró e adentrado o sobrevoo do Oceano Atlântico. Então rumamos para Cabo Verde, Las Palmas (Ilhas Canárias), antes de sobrevoar o Marrocos. De lá seguimos em uma proa reta para Málaga e depois, margeando o litoral ibérico, direto para Barcelona. Antes porém, um café da manhã com jeitão de brunch foi oferecido: frutas, iogurtes, cereais, uma seleção de Dim Sum, Waffle com calda de maple, lingüiça de frango e tomate assado ou ovos pochê com molho Hollandaise. Pães variados, cafés e chás. Meu Deus do céu.

Naquela tarde de sexta, o sol brilhava como de costume em terras Catalãs. Manobramos o tráfego moderado na chegada ao El Prat de Llobregat International (IATA: BCN, ICAO: LEBL), seguindo a descida por instrumentos (STAR) Matex One Sierra para a pista 7L. A visibilidade era perfeita e a temperatura de agradáveis 19ºC. Pousamos as 17h29, hora local, ou 12h29 horário de Brasília, completando a longa jornada em 10h37 de voo.

Avaliação: (notas entre 0 e 10):

1-Reserva: Nota 10.
Simples, simpáticos e eficientes. Perfeitos.
2-Check-In: Nota 7.
No voo de ida, perfeito. Na volta, deixou muito a desejar.
3-Embarque: Nota 10.
Organizado e super ágil nos dois voos.
4-Assento: Nota 10.
O melhor do mundo.
5-Entretenimento: Nota 10.
Idem.
6-Serviço dos comissários: Nota 8.
Apesar de ser tratado de forma irrepreensível em ambos os voos, no voo da volta constatei um problema que já havia notado na ida: a proporção de comissários em relação aos assentos: apenas 3 para servir 42 poltronas. No voo da volta, totalmente lotado, as "girls" passaram poucas vezes pelo meu assento; pratos terminados ficavam lá, vazios, assim como os copos, esperando, esperando... Realmente, esperava mais.
7- Bebidas: Nota 9.
Muito boas, em ambas as classes experimentadas.
8- Refeições: Nota 10.
O padrão é melhor que muita primeira classe por aí.
9-Desembarque: Nota 10.
Em Barcelona e Guarulhos, bastante organizados. Na volta, no pardieiro que é GRU, beirou a ficção científica: minha malas estavam na esteira 15 minutos após o corte dos motores!
10-Pontualidade: Nota 10.
Impecável, na ida e na volta chegamos adiantados.

Nota final: 9,4

Comentário final:

A Singapore Airlines é largamente considerada, há mais tempo do que qualquer outra companhia aérea, a melhor do mundo, por especialistas, agentes de viagens, banqueiros ou simplesmente pelos seus passageiros. Tão notável quanto isto é que a companhia cingalesa mostra uma aparentemente inesgotável capacidade de se reinventar e permanecer na liderança do setor. Isto ocorre na comparação direta com novas e agressivas companhias aéreas de predicados igualmente reconhecidos, mormente aquelas surgidas nos últimos anos no Oriente Médio, dentre as quais destacam-se a Emirates, Etihad e Qatar Airways. Para muitos passageiros, entra na preferência pela Singapore um componente sócio-cultural: a vantagem que a cultura oriental leva, mais naturalmente voltada para a prestação de serviços com naturalidade e graça, sobretudo pelas comissárias. Estas, com seus modos e jeitos quase diáfanos, parecem personificar perfeitamente os milenares conceitos de elegância e delicadeza. Toda esta graça e suavidade mostram-se perfeitas para o trato com o público viajante. A Singapore é a primeira a reconhecer esta sua força e capitaliza claramente este aspecto na construção da imagem de sua marca, gravitando sua comunicação ao redor da mística das "Singapore Girls". Some-se a isto um hardware impecável (frota tecnologicamente avançada, muito bem mantida, com interiores excepcionalmente confortáveis, de bom gosto e sem aqueles excessos de "dourados" - tão comuns nas congêneres do Oriente Médio - e você tem uma receita de sucesso quase inevitável. E tem mais: a Singapore tem uma política de preços agressiva que, somada à qualidade de seus serviços, tem o poder de atrair público e conquistar a preferência dos viajantes em pouquíssimo tempo. Veja o meu bilhete, por exemplo: ele custou US$ 2.800,00. Os bilhetes de meus filhos, US$ 777 cada um, todos para viagens de ida e volta. Estas eram tarifas introdutórias, de baixa estação, é fato. Mas, comparando com outras companhias já estabelecidas, fica patente o bom negócio que é voar com a Singapore para a Europa e Ásia.

A esta altura você já deve ter percebido porque faço coro com todos aqueles que louvam a Singapore Airlines. Vale uma passagem curta e real: quando minha mulher foi voar com a companhia pela primeira vez, eu, que já havia experimentado a SQ um par de vezes, alertei, meio brincando, meio falando sério: "Se não houvesse casado com você, meu sonho era casar com uma Singapore Girl." Não gostando da brincadeira, ela simplesmente me dirigiu "aquele" olhar. Doze horas depois, desembarcando em Tóquio, já devidamente batizada na Primeira Classe, a patroa voltou-se para mim e me disse simplesmente: "agora te entendo e te dou razão." Para concluir, nada melhor que lembrar o slogan publicitário da companhia: Singapore Girl, you're a great way to fly.

Gianfranco Beting

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