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Volta ao Mundo pela OneWorld
O Jetsite publicou em 2003, pela primeira vez na
imprensa brasileira especializada em aviação, um relato
completo sobre uma Volta ao Mundo. Na ocasião, voamos em
todas as companhias da Star Alliance. A material, depois
publicada em revistas de aviação no Brasil e no mundo,
marcou outro pioneirismo editorial do Jetsite: fomos os
primeiros no mundo a voar em todas as companhias aéreas
da aliança numa única viagem.
Agora o Jetsite volta com outra série especial de Flight
Reports: nossa segunda Volta ao Mundo. Desta vez, nas
asas da Oneworld, grande rival da Star Alliance. Voamos
pela British Airways, Cathay Pacific, Finnair, Iberia,
LAN e Qantas. Você é nosso convidado para esta longa e
fascinante jornada. Serão 12 Flight Reports, relatando
14 vôos, num total de 34.000 milhas. Bom vôo!
A segunda Volta ao Mundo no Jetsite começou no dia 11 de
fevereiro. Naquele sábado, choveu copiosamente a partir
das duas horas da manhã na cidade de São Paulo. Sem dar
trégua, a água caiu forte, continuamente, por toda a
madrugada, manhã e começo de tarde. Chovia ainda quando
me apresentei no Terminal 2 de Guarulhos. Não havia
ninguém na fila e logo fui atendido, com educação mas
pouca simpatia. Normal, diria. Fui para a sala VIP da
American Airlines, o Admiral`s Club. Confortável, é uma
das melhores de Guarulhos e estava praticamente deserta.
Foi o tempo de tomar o último guaraná e ser chamado para
embarque no portão 14.
Lá estava o CC-CRT, 767-300ER, aeronave entregue nova de
fábrica à LAN em dezembro de 1987. Com esse Boeing
iniciei minha quarta volta ao mundo e segunda na
Oneworld. As duas anteriores foram feitas pela Star
Alliance. A próxima, se tudo der certo, será pela
Skyteam.
Embarque direto, ninguém na fila e no portão.
Conveninentemente, a LAN havia separado o embarque por
classes, com dois funcionários recebendo os boarding
passes. Muito bom. Embarquei no 767. Limpo, arrumado,
estilo sóbrio na escolha das padronagens de tecidos e
cores, bem chileno.
A tripulação, chefiada pelo Cmte. Fernando Herrera e
pela purser Suarez, indicava aos passageiros seus
assentos, oferecendo bebidas e acomodando bagagens.
Portas fechadas antes do previsto, as 16h57 o trator
empurrou o 767 sob a chuva que não dava trégua. Mais
seis minutos estávamos a caminho da pista 09R, subida
Congonhas Uno.
Herrera encheu a mão nos dois GE CF6 do 767, tirando da
inércia as 133.900 kg de peso no momento da partida, as
17h07, bem abaixo de seu máximo de decolagem, 186.600
kg. Afinal, de seus 219 assentos, apenas 70% estavam
ocupados. Logo entramos na camada de nuvens e tudo ficou
branco pelos próximos 15 minutos, tempo necessário para
o Boeing vencer a camada de nuvens. Já estávamos
sobrevoando Campinas e logo depois, Herrera fez o speech
e indicou os waypoints de nossa rota: Posadas,
Reconquista, Córdoba e Mendoza na Argentina; por fim,
entraríamos em território Chileno ao norte da capital,
Santiago, para executar a STAR Navar 4 para a pista
norte esquerda, a 17L.
Tão logo estabilizamos, a tripulação veio oferecer o
jantar. Uma salada de folhas, três opções de pratos
quentes, duas de sobremesa. Na carta, seis vinhos
chilenos bastante corretos, sendo dois deles broncos.
Fiquei com um Carmenère Arboleda 2003, honestíssimo. Mas
há que gostar dessa uva, que tem personalidade tão
marcante como o povo do país de onde veio.
A refeição foi servida de uma vez só na bandeja, o que
permite aos passageiros mais tempo para descansar e/ou
trabalhar. Depois de retirada a bandeja, café e licores
foram oferecidos.
A maioria aproveitava os videos individuais, com muitas
opções de programação, num padrão bastante bom. E isso
vai melhorar ainda mais: a LAN decidiu adotar camas 180º
na sua Business Class. A mudança entra gradativamente em
operação a começar em meados do ano, na frota de 767. Os
Boeing são os equipamentos mais utilizados pela LAN em
suas rotas internacionais. Mas a primazia de flagship da
frota cabe ao A340-300. São cinco jatos na frota e com
um deles vamos sobrevoar o Pacífico sul até a Austrália,
nosso próximo Flight Report.
Consumindo 2.200 kg de JP4 por hora, o 767 voava a
36.000 pés e mantinha 425 nós em relação ao solo. Os
computadores de bordo estimaram nosso vôo em 03h30, uma
ótima marca.
Mal sobrevoamos a Cordilheira e o tempo, até então com
poucas nuvens, fechou. Eram 20h19, horário de Brasília,
ou 19h19 quando Herrera reduziu a potência, iniciando a
descida. Bem a tempo, as nuvens deram trégua e, pelo
lado direito, o majestoso Aconcágua, ponto mais alto do
Chile, pode ser visto na luz forte do verão meridional.
O cmte. Herrera até desviou levemente a aeronave para
permitir uma visão ainda melhor da belíssima montanha.
O 767 foi perdendo altura e então entrou na longa final
para a pista 17L. Tocamos em solo chileno as 19h41, 24
minutos antes do horário previsto. Consumimos 15.900 kg
de combustível na etapa de 1.621 milhas. Minutos depois
estávamos atracando no portão 16, concluindo o primeiro
segmento de nossa Volta ao Mundo nas asas da Oneworld.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Nota. 8
Feita pela LAN em S. Paulo. Muita cortesia, mas
demoraram demais para confirmar um trecho (justamente o
primeiro) embora houvessem muitos assentos disponíveis
no vôo. Sem esse trecho confirmado, não podia reservar
mais nada!
2-Check-In: Nota 8.
Eficiente mas indiferente,
3-Embarque: Nota 10.
Perfeito: ordenado e rápido.
4-Assento: Nota 7.
Confortável para uma etapa media, mas não vira leito.
5-Entretenimento: Nota 6.
Um bom padrão internacional, mas não é AVOD.
6-Serviço dos comissários: Nota 9.
Elegantes e cordiais.
7-Refeições: Nota 8.
Correta para o horário, três opções, tudo direito.
8-Bebidas: Nota 7.
Podia ser melhor para um país como o Chile!
9-Necessaire: Sem nota.
Não é distribuída.
10-Desembarque: Nota 10.
Rapidez e agilidade em todo o processo. 11-Pontualidade:
Nota 10.
Chegamos e saímos dentro do previsto.
Avaliação final: 8,3
Comentário final: Um bom começo. A LAN há anos é uma das
melhores empresas aéreas do continente. Trabalha sério,
com foco, olhando longe. Estabeleceu-se como grande
empresa cargueira sul-americana. Tem muma frota jovem e
voa entre a Oceania, as três Américas e a Europa.
Estabeleceu subsidiárias bem sucedidas na Argentina,
Equador, Rep. Dominicana e Perú. A LAN cresce junto com
o Chile. E o país penhoradamente agradece ao passo que
tem sua arrancada econômica ajudada por empresas que
trabalham direito. Como a LAN.
Prosseguimos no LA801, agora no trecho Auckland-Sydney.
Desembarcamos e fomos obrigados a passar novamente pelo
raio-x antes de retornar à sala de embarque. Naquela
hora, nem as lojas do free-shop estavam abertas.
Aguardei lendo a chamada da continuação do vôo.
Finalmente, fomos chamados as 05h20 para o novo
embarque. Voltei ao assento 7L e aguardei a partida.
Uma nova tripulação assumiu em Auckland, liderada pelo
Cmte. Fernando Mendoza, primeiro oficial Cristian Espejo
e purser Rafael Garate, um verdadeiro embaixador da LAN.
Aliás, ele e seus colegas mostraram ser profissionais do
mesmo quilate das outras duas tripulações anteriores:
impecáveis, elegantes, solícitos, simpáticos. Nota 10.
Portas fechadas antes do horário previsto de partida
(05h50) o trator empurrou o A340 pelo pátio de Auckland
as 05h46. Oito minutos depois, iniciamos o taxi,
decolando pela pista 23R as 06h05. Nossas velocidades
foram: V1 128 nós, VR 130 e V2 138 nós. Nesta decolagem,
executando a SID OT5, o A340 pesava 191.044 kg.
Uma tíbia barra vermelha marcava no horizonte, atrás de
nossa cauda, a chegada do novo dia. O A340 navegava no
rumo oeste, como que tentando escapar do dia que
chegava. Isso fez com que o astro-rei permanecesse quase
o tempo todo ligeiramente acima do horizonte. Outro café
da manhã, igualmente farto e saboroso, foi servido.
Navegávamos a 409kt de velocidade em relação ao solo,
queimando 5.650 kg de combustível por hora (em regime de
cruzeiro) e mantínhamos 38.000 pés de altitude.
Descansei um pouco mais, escrevi este Flight Report e
quando dei por mim, o A340 já iniciava a descida rumo à
Sydney, duas horas e 37 minutos depois da decolagem.
Este é um horário de pico no maior aeroporto da Oceania.
Vôos de todos os continentes chegam justamente nessa
hora. O LA801 foi instruído a diminuir sua velocidade e
aguardar para ingressar no sequenciamento para pouso,
seguindo a STAR Marlin 5 para a pista 34L. Uma bela
manhã, 21ºC e CAVOK, sem nenhuma nuvem, nos receberam.
Tocamos o solo australiano as 07h10, 10 minutos antes do
horário previsto, completando a etapa em 03h05. Os
computadores do A340 indicaram que queimamos 18.960kg de
combustível nesta etapa. As malas não demoraram a ser
entregues. Pouco antes das 07h40 saía na ensolarada
calçada em frente ao Terminal Internacional do Aeroporto
Kingsford Smith.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Nota 8.
Feita pela LAN em S. Paulo.
2-Check-In: Sem nota.
Feito em S. Paulo pela LAN.
3-Embarque: Nota 10.
Ordenado, com prioridade por classes.
4-Assento: Nota 9.
Quase um leito, muto confortável.
5-Entretenimento: Nota 9.
AVOD, monitor grande, boas opções.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Impeceaveis do começo ao fim.
7-Refeições: Nota 8.
ótimo padrão, boas opções, belíssima apresentação.
8-Bebidas: Nota 9.
Padrão superior ao LA 751. Quase perfeito.
9-Necessaire: Nota 8.
Bonita e completa.
10-Desembarque: Nota 10.
Educação e organização.
11-Pontualidade: Nota 10.
Chegada antes do previsto.
Avaliação final: Nota 9.10
Comentário final: Do começo ao fim, a LAN mostrou-se
impecável. Depois de três vôos seguidos, mantive minha
impressão - excelente - sobre os serviços da LAN. Havia
voado com a empresa pela primeira vez em 1987, num
767-200ER, entre Santiago e Caracas. Foi um ótimo vôo.
Desde então, só fiz excelentes viagens com a empresa
chilena. Atitude impecável dos tripulantes. Aeronaves
modernas. Nenhum vôo com atraso, todos rigorosamente
pontuais. Se companhias aéreas são virtuais embaixadoras
de seus países, o povo chileno pode se orgulhar de sua
Línea Aérea Nacional. A LAN está à altura das melhores
empresas aéreas do mundo. Um tributo e um reflexo de um
povo que soube, com lágrimas e méritos, reescrever seu
destino. Para melhor.
G. Beting
Vamos agora para o segundo trecho da segunda Volta ao
Mundo no Jetsite.
Começamos este relato na sala VIP da LAN em Santiago,
batizada de Neruda em homenagem ao maior poeta chileno.
Espaçosa, elegante e confortável, era tudo que precisava
para passar as mais de três horas de espera até a
partida do vôo LA801.
Aproveitei e tomei um belíssimo banho num dos chuveiros
das instalações. Além de ser sábado, um bom banho sempre
relaxa o corpo, prepara o espírito e alivia a tensão
natural em qualquer viagem. Renovado, saí do chuveiro e
fui para o business center das instalações, onde liguei
meu laptop e coloquei o Flight Report em dia.
Excelente catering oferecido: sushis fresquinhos, sucos,
pães, tudo farto e bem apresentado. As 22h40 fomos
chamados para embarcar. Uma longa caminhada até o prtão
14 e lá estava ele, reluzindo sob a luz do aeroporto:
orgulho da frota LAN, o A340-300 de prefixo CC-CQE,
entregue em outubro de 2001. Ele levaria ao outro lado
do Pacífico sul 254 passageiros e 15 tripulantes. Sua
capacidade é de 269 assentos: cinco poltronas na
primeira classe, 36 na executiva e 228 na econômica.
A tripulação técnica, num longo vôo como este é de
revezamento: dois comandantes e dois primeiros oficiais
revezam-se na pilotagem, descansando em turnos no
"sarcófago" apelido dado às instalações destinadas a
repouso de pilotos e situada imediatamente atrás do
cockpit. Chefiada pelo Cmte. Pablo Wolff e pela purser
Alejandra Chamorro, contaríamos com nada menos que 1
comissários. Dois na primeira classe, três na Business e
outros seis na econômica. Em grupos de três, eles se
revezaram durante o vôo em períodos de descando,
desfrutados na "Ducha", apelido dado às quatro poltronas
separadas por uma cortina (donde o nome) imediatamente
atrás da Classe Business. Revezando-se no descanso, a
tripulação poderia cumprir as normas de segurança para
vôos ultra-logos como este, que tinha a previsão de
12h30 de duração.
O aspecto interno do A340-300 agradou bastante. Uma
geração mais moderno que o 767, seu interior é mais
confortável, e não apenas onde enxerga o olho. Por
exemplo, a taxa de renovação do ar interno na cabine é
maior que no 767. O ar também é mais úmido, o que
proporciona muito mais conforto, sobretudo em vôos
longos. Finalmente, os motores CFM são bastante mais
silenciosos que os CF6 do 767.
Ao ocupar meu assento, 7L, última fileira da Business,
já notei um diferente padrão de serviço. Uma necessaire
estava colocada em cada assento. Um kit de sono
(máscara, meia, tampão de ouvidos) acondicionado em um
prático saquinho porta-sapatos, ocupava uma bolsa no
encosto do assento. E, mais notável ainda: um belíssimo
cardápio e carta de vinhos, com uma bela capa feita de
cortiça. Tudo muito elegante e moderno, milhas acima da
breguice atávica do "corporate design" de nossas
melhores companhias aéreas, que erram em cheio na hora
de desenhar seu cardápios e materiais de bordo. Todos
cheios de "dourados" ou temas "brazuco-tropicais" de
araque. Peçamos de volta aos índios os espelhinhos e
recomeçemos do zero.
Voltemos à LAN. Chamorro e sua equipe recebiam
cordialmente os passageiros, indicando seus assentos,
oferecendo bebidas e acomodando bagagens. Como no LA751,
as portas foram fechadas antes do previsto, mas o A340
não saiu da posição. Problemas com um passageiro fizeram
com que suas malas tivessem de ser retiradas, o que
atrasou a partida, prevista para as 23h10. Finalmente,
as 23h25 o trator empurrou o enorme quadrimotor para o
pátio. Com mais seis minutos iniciamos o taxi rumo à
cabeceira da nova pista de Santiago, a 17R. Pesando
270.650 kg, (peso máximo de decolagem é 275.000 kg) o
A340-300 teria de mostrar toda a sua potência para
decolar do aeroporto Arturo Merino Benitez. Fiquei
atento à corrida de decolagem, imaginando que poderia
ser maior que 60 segundos. Potência aplicada as 23h38, o
Airbus gastou exatos 55 segundos para passar pela V1
(137 kt) e atingir a VR (154kt). Wolff então puxou o
sidestick e, relutante, o A340 decolou.
Nada menos que 6.003 milhas depois (9.661km), estaríamos
em Auckland, do outro lado do Pacífico. Mas antes, o
pesado A340 teria de negociar os Andes. Subia lentamente
a SID Leyda 5, iluminado pela lua cheia, sobrevoando
baixinho as cidades ao sul de Santiago. Com sete minutos
de vôo, o A340 havia subido muito pouco: voava apenas a
2.300m de altura. Finalmente, ganhamos altura suficiente
para vencer a cordilheira e tomar a proa sudoeste.
Passamos na vertical da cidade de Constituición e
entramos na etapa de sobrevôo marítimo. Até a Nova
Zelândia, poucas opções de pistas para o caso de uma
emergância. Esta é uma das mais remotas rotas do mundo,
perdendo apenas para o Oceano Índico sul, que não tem
qualquer aeródromo de alternativa.
Tão logo estabilizamos a 30.000 pés, a tripulação serviu
o jantar. Uma salada de folhas e presunto crú, três
opções de pratos quentes, duas de sobremesa. Na
belíssima carta, muitas opções de vinhos chilenos, um
padrão de serviço sensivelmente melhor que o LA751,
incluindo algumas cepas argentinas. A refeição foi
servida de uma vez só na bandeja, uma característica que
aprecio. Já que os áureos tempos dos jantares de sete
pratos e três horas de duração encontram-se tão
obsoletos como os 707, DC-10 e 747-200 onde eram
servidos, melhor ir direto ao assunto. Além do que, essa
característica do serviço permite mais tempo para
descansar e/ou trabalhar.
Fiquei com a opção descansar: estiquei-me na poltrona,
muito confortável, embora não recline 180º. Cobertores e
travesseiros confortáveis, lá fui eu. Acordei,
totalmente descansado, sete horas depois. Para mim, foi
um novo recorde de sono ininterrupto a bordo. Assento
aprovadíssimo neste test-sleep.
Abri a cortina e olhei para fora: nada, apenas uma
impassível lua cheia, como dizia Vinícius no imortal
samba Dia da Criação. Afinal, o dia de ontem, o da
partida, era mesmo sábado. (Não conhece esse samba? Vale
a pena.) Muito bem, a impassível lua cheia fazia
companhia para nosso avião. Olhei para o relógio: eram
10 da manhã, horário de Santiago, ou 11 no Brasil do
domingo. Estávamos passando naquele exato instante pela
IDL - Internatinal Date Line - linha imaginária que
divide o planeta e marca o início de um novo dia.
Pronto: naquele instante, já era duas da manhã da
segunda, 13 de fevereiro. Domingo, dia 12, foi um dia
que não existiu para os passageiros do LA801.
O A340 voava serenamente a 37.000 pés e mantinha uma
velocidade de Mach 0.80. Contando com a ação dos ventos,
o A340 mantinha 471 nós de velocidade em relação ao
solo. Aproveitei e utilizei o ótimo padrão de
entretenimento disponível. Muitos canais, muitas opções
para distrair. Na cabine escura, quase todos os
passageiros assistiam a filmes.
Um ótimo café da manhã foi servido, com duas opções de
pratos quentes. Tudo servido só bandeja. O longo vôo
pareceu ter passado rápido. Cruzamos a costa
neozelandesa sobre a cidade de Gisborne. Pouco tempo
depois, as 03h26, horário de Auckland, a potência foi
reduzida. O A340 iniciava a aproximação para a maior
cidade Kiwi. O cmte. Wolff anunciou nossa chegada para
as 04h00, 20 minutos antes do previsto.
O A340 foi perdendo altura e, sob a enorme lua cheia,
entrou na reta final para a pista 23R. Tocamos com
incrível suavidade na pista as 03h54, 26 minutos antes
do horário previsto, cubrindo os 9.661km do percurso em
12h23. Os computadores do A340 indicaram que consumimos
88.400 kg de combustível, nesta que seria a mais longa
etapa dessa volta ao mundo.
Afirmo Qantas vezes for preciso: a companhia aérea
australiana é mesmo espetacular. Tirando as asiáticas,
que até por razões étnico-culturais, são mesmo difíceis
de encarar numa competição pela excelência de serviços,
arrisco-me a dizer que, das companhias aéreas
"ocidentais", a Qantas é a que melhores e mais
consistentes serviços apresenta.
Quando digo serviço refiro-me ao enorme conjunto de
atividades na relação empresa-passageiro, que começam
bem antes e terminam depois do próprio vôo. A empresa
que nasceu como Queensland And Northern Territories Air
Services - QANTAS - (pronuncia-se quantas) foi mais uma
vez impecável. Alguns dos melhores vôos da minha vida
foram feitos na empresa aérea Aussie. E este QF21 entre
Sydney e Tokyo não foi diferente.
Voamos numa dos jatos mais veteranos da frota: o
747-300, prefixo VH-EBW, batizado "City of Tamworth" e
entregue em abril de 1986. Impecável por fora, trazia
alguns pequenos sinais de sua idade marcados em alguns
pontos de sua cabine. A pátina do tempo.
Mas lhe digo uma coisa: Jumbo é Jumbo. Não troco o
venerando Boeing por jato nenhum em rotas longas.
Sobretudo quando meu assento é na cabine dianteira ou no
"upper deck". Nessa hora, não tem pra mais ninguém. A
atmosfera de clube, a mesinha central que serve de
porta-revistas, o armário-cabideiro bem no focinho do
jato, a curvatura do nariz reduzindo rapidamente a
largura da cabine dianteira, tudo isso me faz lembrar
outros tempos da aviação: minhas primeiras viagens nos
anos 70, quando o 747 era o inconteste Rei dos Ares. Se
o A380 vai agora roubar indiscutivelmente esse lugar, é
bom lembrar: quem foi rei não perde a majestade.
Entrei no 747 e confesso que toda essa nostalgia fez com
que me sentisse imediatemente bem. As atenções da
comissária Karen, impecável de Sydney a Tokyo, como
viria a descobrir a seguir, ajudaram muito. Ela deu
conta da cabine dianteira da classe executiva
praticamente sozinha. Eram 32 passageiros somente nesta
seção e a nenhum deles Karen ficou devendo. Tudo feito
exemplarmente bem. Eficiência, cortesia, simpatia na
medida certa.
Programado para sair do portão 32 as 22h15, o VH-EBW
teve sua porta fechada exatamente nessa hora e as 22h18,
deu-se o reboque para o pátio. Sydney opera no sistema
de "curfew" ou seja, sem operações regulares entre 22h30
e 06h00 da manhã. O aeroporto de destino, Narita, também
opera com essa restrição. Pousos somente depois das
06h00.
O peso máximo de decolagem do VH-EBW é de de 377.840 kg.
Naquela noite, no portão 32, o 747 pesava 363.100 kg. As
22h26 iniciamos o taxi e quando chegamos na ponta da
pista 34L, o 747 pesava exatos 362,800 kg. O cmte. Carl
Bruce naquela noite havia requisitado 131.600 kg de JP4
para a etapa até a capital japonesa. O consumo médio do
747-300 da Qantas, equipado com quatro motores Rolls
Royce RB211-524D4, é 11.600 kg por hora de vôo em
cruzeiro. Bruce havia sido informado pelo despacho que,
naquela noite, o QF 21 deveria voar a Mach 0.82. Dessa
maneira, chegaríamos a Tokyo depois das 06h00, pois esse
é o horário de abertura do aeroporto. Sendo assim, os
computadores do despacho operacional da Qantas
calcularam que, nessa velocidade de Mach 0.82, o 747
voaria 15 minutos a mais do que o habitual.
Uma operação ideal é aquela que combina eficiência com
segurança. Carregar mais combustível que o necessário
custa caro. Neste trecho, por exemplo, para cada 1.000kg
de combustível transportado além do necessário, o 747
queimaria mais 333 kg. Ou seja: é preciso calcular com
total rigor e atenção o combustível. Se levar a mais
custa caro, levar a menos compromete a segurança.
Quem decide isso é sempre o comandante, que dá a última
palavra sobre quanto combustível será colocado nos
tanques. Antes de cada partida, os comandantes são
informados sobre as condições de rota e do aeroporto de
destino. Bruce levou em consideração a eventual
necessidade de orbitar numa espera, caso o 747 chegasse
antes das seis horas da manhã, imposição que é
característica de operações em aeroportos com "curfew",
além de levar combustível para o aeroporto de
alternativa, que naquela noite era Sapporo, na ilha de
Hokkaido, norte do Japão.
Alheios a tudo isso, os 349 passageiros aguardavam em
suas cadeiras o início do vôo, à medida que o 747 vencia
os quilometros desde o portão 32 até a cabeceira 34.
Finalmente chegamos à pista, tendo por tráfego um A330
da empresa e um 727-200 da DHL. Alinhamos e aguardamos a
autorização da torre de Sydney.
"Qantas 21, livre decolagem, vento calmo."
Bruce acelerou as quatro manetes e o 747 começou a
correr pela pista as 22h38. Passamos pela V1 com 143 kt
e com 167 nós, Bruce puxou o manche, 48 segundos após
tirar os pés dos freios. Em poucos segundos, o belíssimo
centro de Sydney passava à direita da aeronave,
iluminado por milhares de lâmpadas e por centenas de
luzes de neon. Destacava-se a belíssima ópera, que fazia
um contraponto e tanto à famosa ponte, cartões postais
da maior cidade australiana. Uma visão e tanto,
sobretudo desde a poltrona 3K, que ocuparia pelas 10
horas seguintes, tempo previsto para nosso vôo.
O 747 subia em meio à chuva, executando a SID Richmond
2. Formações mais pesadas esperavam o Boeing, que
começou a trepidar bastante. Toda a subida, inicialmente
até 30.000 pés, foi assim: turbulência de moderada a
forte, o que impediu a circulação dos comissários.
Tão logo estabilizamos, o serviço de jantar foi
iniciado. Um belo cardápio indicava as opções de
refeição. Três pratos quentes, uma salada de entrada e
três opções de sobremesa. A comida estava saborosa: um
filé mignon acompanhado de cuzcuz marroquino e molho Yam
tagine. As outras opções eram um teriaki de salmão com
arroz e vegetais no estilo japonês ou uma sopa,
minestrone.
Para minha surpresa, a carta de vinhos não veio
impressa, com exceção da champagne (Charles Heidsieck
Mis En Cave 2000). O menú apenas indicava que o
passageiro deveria "consultar a tripulação a respeito
das opções de vinhos". Cheguei a imaginar que tratava-se
de descuido inaceitável, sobretudo para a empresa aérea
de um país que produz vinhos excepcionais. Incorfomado,
dias depois fui pesquisar as razões da "falha" e
descobri que há uma nobre razão para a Qantas não
definir os vinhos na carta. A empresa resolveu
prestigiar dezenas de pequenos produtores de vinhos
autralianos. Como a produção é mesmo pequena, os vinhos
têm de ser comprados em pequenas quantidades. Sendo
assim, fica praticamente impossível definir quais vinhos
serão servidos em quais vôos. A Qantas tratou então de
confiar aos seus comissários a missão de explicar aos
passageiros o que será bebido. Provei um chardonnay e
depois um shiraz, ambos muito bons, mas não anotei
nomes. Fico devendo nesse ponto.
Karen, a comissária nota 10, deu conta dos passageiros
com absoluta classe. Esguia e elegante como uma sílfide,
vestindo o elegante vestidinho que é o uniforme da
Qantas, Karen serviu a cabine inteira com elegância,
rapidez e simpatia. Incansável, passou várias vezes
servindo os pratos, retirando bandejas, completando
copos. Sempre com um sorriso no rosto e com grande
delicadeza. Na galley, imediatamente atrás das primeiras
fileiras, uma colega ajudava na preparação e montagem
das bandejas. E tudo isso em meio à forte turbulência,
que nos acompanhava desde a partida.
Findo o jantar, experimentei a necessaire da Qantas:
completíssima, compacta, tudo lá. Era hora de checar o
conforto da poltrona. Somente no 747-300, a Qantas ainda
não tem a poltrona-cama na sua classe executiva. Cansado
pelo longo dia anterior (estava de pé por mais de 20
horas, graças aos efeitos do jetlag) estiquei-me e em
poucos segundos dormia que nem um passarinho.
Seis horas depois despertei com o aroma do café da manhã
sendo servido. A Qantas foi inteligente: fez um cardápio
separado para o café, onde o passageiro simplesmente
escolhe e marca com uma caneta os ítens que deseja, como
num hotel. Lá estava minha bandeja, servida com tudo que
escolhi. Tudo saboroso.
Chequei as opções de entretenimento na grande tela de 12
polegadas do meu assento. Várias opções de filmes de
longa metragem, jogos, canais de áudio. Único senão: o
sistema não é AVOD, interativo. O passageiro não
controla o tempo de exibição dos programas. Muitas
opções de revistas, mais a própria publicação da
companhia - Qantas The Australian Way - completavam as
variadas opções de entretenimento. A turbulência havia
passado e agora o VH-EBW cruzava a 34.000 pés, sua
altitude final de cruzeiro. O cmte. Bruce saudou o novo
dia e os passageiros, informando que, graças a um vento
de cauda mais forte que o esperado, estaríamos chegando
antes das seis da manhã em Tokyo. Portanto, seria
necessário fazer o 747 orbitar, voando em círculos, para
poder entrar na seqüência de pouso e tocar em solo
depois das 06h00, horário de abertura das pistas em
Narita. As 08h20 minutos, horário de Sydney, ou 05h20 em
Tokyo, iniciamos a descida. O cmte. Bruce reduziu a
velocidade como pode. Ainda assim, o 747 teve de orbitar
por dez minutos sobre o mar, a sudoeste de Tokyo, antes
de ingressar na seqüência para pouso.
O Qantas 21 seria o primeiro vôo a pousar em Narita
naquele dia. Por sinal, um horrível dia de inverno, seis
graus centígrados, muita chuva e vento. O Boeing foi
gradativamente configurado para pouso, flaps e trens
baixados, luzes de aproximação acesas em meio à chuva
intensa e nuvens baixas. Com notável suavidade, tocamos
em solo nipônico exatamente as 06h01, completando o vôo
QF 21 em 9 horas e 23 minutos, chegando 9 minutos antes
do horário previsto. Depois de um longo taxi, paramos no
gate 94 do Terminal 2 de Narita. Usamos 119.500 kg de
combustível para cumprir a etapa, com 12.100 kg de JP4
restando nos tanques.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela LAN em S. Paulo.
2-Check-In: Nota 10.
Impecável.
3-Embarque: Nota 10.
Ordenado, com prioridade por classes, civilizadíssimo.
4-Assento: Nota 8.
Mostrou a idade, mas ainda assim, confortável.
5-Entretenimento: Nota 7.
Idem. já há coisas muito mais avançadas.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Se pudesse, dava 11.
7-Refeições: Nota 8.
Um padrão muito bom, tradição da Qantas.
8-Bebidas: Nota 7.
Bons vinhos, mas uma carta sempre faz falta.
9-Necessaire: Nota 9.
Bacana e compacta.
10-Desembarque: Nota 10.
Ordenadíssimo.
11-Pontualidade: Nota 10.
QF 21 ahead of schedule!
Comentário final: A empresa foi fantástica. Check-in
fabuloso, rápido e amabilíssmo. Ótima sala VIP, onde
tomei uma excelente e relaxante ducha. Serviço impecável
a bordo. Comida na medida certa, opções de
entretenimento variadas. Pontualidade absoluta. E tudo
isso, mesmo tendo voado num dos aviões mais antigos da
frota. Só posso resumir assim: voe Qantas.
UAU! Com três letrinhas dá para definir a experiência de
voar Cathay Pacific. Essa é a minha conclusão depois de
cinco horas perfeitas, sendo tratado como um Rei. Não
apenas eu dou lôas à empresa sediada em Hong Kong. A
atenção proverbial aos detalhes, uma frota nova, um
plano de negócios impecável e robustez financeira
invejável foram alguns dos ítens que deram à Cathay o
título de Empresa Aérea do Ano, eleita pela publicacão
Air Transport World. Esta é a mais importante premiação
da indústria de transporte aéreo. Como veremos a seguir,
o prêmio está em boas mãos.
Começamos bem, já no check-in. Amável e cortês, sim,
como quase todo contato com o povo japonês. Boarding
Pass na mão, fui para o Cathay Pacific Lounge esperar o
vôo. Sala bem montada, espaçosa, mas nada de muito luxo.
Catering razoável também, e computadores conectados na
internet de graça.
Hora de voar, chamados as 18h00 para embarcar no CX 505,
operado pelo 747-400 de prefixo B-HKF, 747-400
construído em 1991 e que a empresa comprou de segunda
mão da Singapore Airlines em 2001. Por fora e por
dentro, impecável. Na Business Class, os novos assntos
que se reclinam praticamente na horizontal, com enormes
monitores individuais. Ah, ainda não inventaram nada
melhor que o Upper Deck do 747. Enquanto A380 não chega.
Fui recebido por May, adorabilíssima Senior Purser, e
conduzido ao Upper Deck, tomando meu assento 88K (última
fileira). Ocupação do avião em nosso vôo: 5+40+200
assentos tomados, ante uma capacidade de 16+48+316
lugares respectivamente na Primeira, Executiva e
Econômica. Logo se ofereceu para pendurar meu casaco e,
em seguida, uma Flight Purser passou oferecendo um drink
de boas vindas: Champagne, Água, suco de laranja ou o
Cathay Delight, exclusividade da casa e maravilhoso:
kiwi, menta e leite de côco.
Já que falamos em Senior Purser, vale a pena fazer uma
pausa e explicar a composição da tripulação do 747 e a
nomeclatura usada pela Cathay. Cada Jumbo é tripulado
por 17 comissários. Eles são liderados pelo Inflight
Service Manager, que neste vôo foi a amável, impecável
Sally Wong. Depois, há três Senior Pursers, um por
classe. Em seguida, seis Flight Pursers, alguns dos
quais pilotam os fornos, montam bandejas, enfim, cuidam
da galley. Finalmente, sete Flight Attendants, os mais
juniores a bordo, completam a tripulação de cabine de
cada 747 da Cathay. Segundo Mrs. Wong, é um misto de
senioridade e mérito que fazem um comissário subir nessa
escala da Cathay. Ela sabe, pois completou 21 anos de
vôo, tendo começado nos saudosos Tristar.
Enquanto continuava o embarque, a adorável May desfilava
pela cabine em seu elegantíssimo uniforme. Uma saia
justa e longa, com uma fenda lateral tão tipicamente
chinesa quanto sexy, me fazia recordar a cada instante
que meu destino era uma de minhas cidades preferidas,
Hong Kong.
O cmte. Bruno Siciliano (pelo nome já se nota o quão
internacionalizadas são as tripulações técnicas da
Cathay) deu as boas vindas ao 747 e informou que nosso
EFT, Estimated Flying Time (tempo estimado de vôo),
seria de 04h47. Partida prevista para as 18h30, dois
minutos antes fomos tratorados para o congestionadíssimo
pátio de Narita. Motores Pratt & Whitney girando, as
18h32 iniciamos o taxi e as 18h42 decolamos da pista 16.
Tão logo estabilizamos, o serviço de bordo iniciado. Um
belo jantar, com um padrão de catering impecável. Tudo
maravilhoso, mesmo. Comida que seria notável em terra,
imagine a 38.000 pés, nossa altitude de cruzeiro. Uma
entrada sublime, visual e gustativamente. Um prato
principal que se não foi inesquecível como a entrada,
feio não fez. Queijos e frutas acompanhados de um belo
Porto. Sobremesa um sorvete, que declinei. Pasmo? O
autor, notório glutão, recusando comida? Percebe-se daí
o que foi a refeição. Tudo isso acompanhado por uma
concisa seleção de vinhos, uma carta claramente feita
por quem entende.
Findo o jantar, surpresa: nesta etapa, a CX não embarca
necessaires. Ora, um vôo de 5 horas não é longo o
suficiente para justificar a cortesia? Hora de testar a
nova poltrona-cama da Business. Excepcional: espaçosa,
garante conforto e privacidade, tudo que você quer num
longo vôo. Excelente tela individual, grande (12
polegadas), sistema interativo, onde o passageiro
controla a exibição da programação de áudio e vídeo,
batizada de Studio CX. São 17 canais de video, outro
canal para jogos e mais um para o sistema Airshow. Ao
todo, 32 filmes de longa metragem, fora a programação de
TV (mais de 100 horas) e documentários. Áudio são mais
32 canais, com 100 CDs armazenados e prontos para ouvir.
Isso sem contar a ótima revista de bordo da empresa,
Discovery, e um abundante leque de revistas e jornais
oferecidos a bordo. Ninguém morre de tédio numa aeronave
da Cathay Pacific.
Mas o ponto alto da empresa, para mim, foi o seu
pessoal, tanto em terra quanto a tripulação.
Amabilíssimos, sempre. Educação britânica, suavidade e
elegância oriental. Que combinação. No trato com os
passageiros, May (a mais a esquerda na foto dos
tripulantes) dava um banho. Fiquei super atento à sua
atuação. Adorável, um sorriso genuíno de quem só pode
mesmo estar apreciando fazer o que faz. Não há treino ou
norma no mundo que consiga disfarçar um profissional
desmotivado. May e suas colegas foram todas nota 10. Ou
como disse Mrs. Wong: "Temos uma tripulação impecável
hoje a bordo, Mr. Beting. Você verá e vai me confirmar
que o time voando hoje é nota 10."
Seja como for: uau, que tripulação! E assim, rápido
demais, conversava com as meninas na galley quando senti
a redução dos motores. Eram 22h04 em Hong Kong quando o
FMS, Flight Management System na cockpit do 747
automaticamente reduziu a potência nos quatro motores.
Com mais 28 minutos, e três antes do horário publicado
de chegada (22h35) estávamos tocando a pista 07L de Hong
Kong, para logo depois estacionar no portão 18 deste
gigantesco, notável aeroporto. Havíamos completado as
1.822 milhas de viagem em 04h50, três minutos a mais do
que a previsão inicial. Uma leve garoa e a temperatura
de 11ºC deram as boas vindas à cidade onde o Ocidente
encontra o Oriente: a adorável Hong Kong.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela LAN em S. Paulo.
2-Check-In: Nota 10.
Impecável, super gentil.
3-Embarque: Nota 10.
Ordenado, com prioridade por classes.
4-Assento: Nota 10.
Melhor não há.
5-Entretenimento: Nota 10.
Excelente padrão, fácil de operar.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Perfeito é pouco.
7-Refeições: Nota 10.
Sabor e apresentação sublimes.
8-Bebidas: Nota 9.
Quase à altura dos alimentos.
9-Necessaire: Sem nota.
Não é distribuída.
10-Desembarque: Nota 10.
Foi muito ordenado. Mas, desde o upper deck do 747, leva
algum tempo.
11-Pontualidade: Nota 10.
Chegada antes do publicado.
Avaliação final: 9,55
Comentário final: Quem conhece, sabe e não se engana: a
Cathay Pacific é uma das melhores empresas aéreas do
mundo, sob todos os aspectos. Isso eu já sabia como
jornalista de aviação. Agora também afirmo como
passageiro. A Cathay, com apenas esse vôo, entrou pra
valer na minha lista de empresas aéreas preferidas.
Juntamente com a Qantas, Singapore Airlines, British
Airways e, ah, a finada Swissair, essas estão no topo da
minha lista.
A terça feira, 21 de fevereiro de 2006, começou feiosa
em Hong Kong: 16ºC e céus encobertos. Mas o sol brilhava
em minh`alma: iria voar. E na Cathay Pacific. Bem vindo
ao CX 733, unindo Hong Kong a Dubai, como uma escalinha
em Bahrein.
Fiz o check-in as 09h00, embora o horário de partida
fosse as 16h30. Queria ter acesso aos portões do
aeroporto de Chek Lap Kok para fotografar. Esse acesso é
restrito à passageiros portadores de bilhetes e cartões
de embarque.
Pouco depois de fazer um check-in rápido e cordial, lá
estava eu no meio dessa jóia arquitetônica que é o
aeroporto de Hong Kong. Construído numa ilha artificial,
ele enche os olhos e a alma pela beleza de suas linhas,
pela magnitude de suas proporções, pela racionalidade de
sua planta, pela conveniência de suas instalações e
serviços.
Igualzinho a Cumbica. Arre.
Chek Lap Kok não substitui o velho Kai Tak, porém, no
quesito magia, Kai Tak, encravado em meio às montanhas
de Kowloon, ficará para sempre na memória como o mais
carismático, espetacular, pitoresco e inesquecível
aeroporto internacional do mundo todo. Só de pensar que
pousei lá algumas vezes, lembrar da magnífica
aproximação em curva para a pista 13, me faz sorrir. Um
sorriso melancólico, decerto.
Chega de banzo. Pouco depois de passar como um foguete
pelo check-in (impecável) e pela imigração (em minutos
apenas), lá ia eu que nem uma vaca louca para fotografar
o que o mau tempo dos dois dias anteriores havia me
negado. Nas oito horas seguintes, faria mais de 1.000
imagens, com um céu cada vez mais azul e visibilidade
crescente.
As 15h30 fui para uma das duas monumentais salas VIP da
Cathay, um verdadeiros oásis no meio do gigantesco
terminal. Experimentei os serviços e me dei por
satisfeito, tudo muito bom. Belíssimo espaço, decorado
com bom gosto, com todas as facilidades que se pode
esperar. Business Center, internet, zonas Wi-Fi,
chuveiros.
As 16 horas fui para o portão 24. Lá estava o B-HNB,
segundo 777-200 entregue à Cathay em 10/1996. Não se
trata de uma aeronave moderna: está no meio de sua vida
operacional. Por fora, não estava tinindo. Por dentro,
um pouco melhor. E sua configuração na Business Class é
2+3+2, um padrão pouco confortável. Estava no assento
15K, sem ninguém a ocupar o 15H ao meu lado. A ocupação
naquele vôo foi quase total: de 336 assentos, sendo 45
na classe executiva, 316 estavam tomados, com mais 13
tripulantes a bordo.
Drinks de boas vindas, tripulação sorridente, embarque
ordenado. Portas fechadas e push-back as 16h26,
empurrando o 777 para iniciar o taxi as 16h29. Um longo
taxi até chegarmos à cabeceira 07R. Potência aplicada,
os dois Rolls Royce Trent rugindo, lá fomos nós rumo aos
Emirados Árabes. Decolamos as 16h50 no rumo leste e logo
subíamos a SID Attol 2A para nossa altitude de cruzeiro
inicial, 36.000 pés. Nossas velocidades: V1 e VR 156kt,
V2 161 kt. Nosso peso de decolagem neste vôo era de
247.200 kg, que também é o peso máximo de decolagem do
B-HNB.
O cmte. Mike Rowland deu as boas vindas aos passageiros
e informou o tempo estimado de vôo até Bahrein. Em
seguida, cardápios foram distribuídos, juntamente com
uma necessaire completa e compacta. A tripulação passou
distribuindo toalhinhas quentes e logo depois, drinks a
escolher do bar aberto. Para acompanhar a bebida, sabe o
que foi oferecido como tira gosto? Lagosta. Igualzinho
às nossas melhores empresas aéreas...
Veio a bandeja: uma bela salada (bela e saborosa mesmo);
salmão gravlax de entrada; um curry de cordeiro que não
faria feio em Bombaim. Um branco Puilly Fuisse médio
(Ops! Não estava na carta. O que estava na carta não
havia embarcado, informaram-me depois). Fui para a
Austrália, ao menos no copo, e me dei bem: Sally`s
Paddock 2002, um moderno corte de Shiraz, Cabernet
Sauvignon e Cabernet Franc, Merlot e (ufa) Malbec. Prova
viva que o vinho se renova graças à garrafas como esta.
Vida longa aos vinhos do Novo Mundo!
O serviço passava com suavidade, tudo feito com
delicadeza e atenção. Por exemplo, na hora de afivelar
os cintos: os passageiros eram lembrados com um sorriso
no rosto, não com aquele semblante típico de quem acabou
de chupar limão. Viva a Cathay!
Mas o fato é que finda a refeição, minhas atenções agora
voltavam-se a conferir a potrona. Este é o padrão antigo
de poltronas da Cathay (diferente daquela experimentada
no vôo anterior, o CX505). Não foi aprovada, sobretudo
para uma jornada de mais de 12 horas de viagem e 3.954
milhas de distância voada. Falando em distância: quanto
maior o vôo, maior a importância que se dá ao espaço
individual. E este 777 peca por dois aspectos: a
configuração 2+3+2 e, sobretudo, a minguada distância
entre fileiras. O passageiro sentado na minha frente, ao
reclinar sua poltrona, empurrava meu laptop contra minha
pança. Ou eu emagreço ou a Cathay reconfigura os 777
para um padrão mais confortável. Comprovando o
desconforto, o passageiro sentado atrás de mim reclamou
formalmente com a comissária sobre sua poltrona.
O 777 ia no sentido oposto ao movimento de rotação da
terra, o que proporcionou um longo, belíssimo poente. O
CX733, voando no sentido leste-oeste, leva 09h55 em
média. Na volta, cumpre a mesma etapa em apenas 08h30,
ajudado pela rotação da terra, agora a favor, e pelas
correntes de ar, os famosos Jetstreams, que sopram de
oeste para leste na maior parte dos casos. Liguei meu
laptop no soquete disponível em cada assento e
trabalhei, vendo a noite cair. Nossa velocidade em
relação ao solo era de 468 milhas por hora. O 777
consumia aproximadamente 6 toneladas de JP4 por hora de
vôo.
Antes da chegada em Bahrein, uma refeição leve foi
oferecida: sanduíches frios ou uma sopa de frutos do
mar. Iniciamos nossa descida as 21h25, horário local ou
01h25 da manhã em Hong Kong. Pousamos na pista 30R
exatamente as 21h49, completando o trecho em 09h59
minutos, usando no total 61.400 kg de combustível.
Logo estacionamos no terminal. Passageiros com destino a
Dubai ficaram a bordo. Depois de quase duas horas, o
CX733 foi reiniciado. Portas fechadas antes do horário
previsto e push-back as 23h11, taxiando três minutos
depois e decolando as 23h19. Seria uma curta etapa para
os passageiros e o fim da jornada para a tripulação, que
nos acompanhava desde HKG. Apesar do curto vôo, um
cardápio foi oferecido e sanduíches frios e bebidas a
escolher foram servidas. As 23h48 iniciamos a descida,
neste que é um dos horários de maior movimento no
aeroporto. O Cmte. Rowland avisou que seríamos obrigados
a entrar no sequenciamento e que a fila era grande. De
fato, na clara noite sobre o deserto, era possível ver
todo o procedimento, as luzes das aeronaves à nossa
frente piscando visivelmente, marcando os pontos de uma
estrada imaginária nos céus.
Entramos no tráfego atrás de um 777-300 da Emirates e
finalmente, as 00h21 do dia 22 de fevereiro, as rodas do
Boeing da Cathay tocaram o solo dos Emirados Árabes
Unidos. Pousamos quatro minutos antes do horário
previsto, mantendo um impecável padrão de pontualidade
em todos os vôos. Pouco tempo depois atracávamos no
portão 19, desembarcando tão prontamente quanto as
malas, que minutos depois apareciam na esteira. O longo
CX733 havia acabado.
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela LAN em S. Paulo.
2-Check-In: Nota 10.
Impecável, super gentil, oriental mesmo.
3-Embarque: Nota 10.
Ordenado, com prioridade por classes.
4-Assento: Nota 5.
Muito ruim, com pitch péssimo.
5-Entretenimento: Nota 5.
Mostrou a idade.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Padrão Cathay de simpatia e delicadeza.
7-Refeições: Nota 10.
Lagosta de entrada?? Sensacional.
8-Bebidas: Nota 9.
Boa carta, bonita, concisa, muito bom.
9-Necessaire: Nota 8.
Com tudo que podia ter.
10-Desembarque: Nota 10.
Rápido e ágil em Dubai.
11-Pontualidade: Nota 10.
Chegada antes do publicado.
Média final: 8,70
Comentário final: O produto deixou a desejar. Em que
pese a excelência do padrão de catering da Cathay e a
proverbial elegância e delicadeza de suas tripulações, o
"hardware" deixou mesmo a desejar. As poltronas do
777-200 na Cathay não apresentam espaço suficiente para
que os passageiros se movimentem. Se o assento ao meu
lado estivesse ocupado, teria sido mesmo um vôo
desconfortável. A programação de video também
decepcionou: observei que o rack de entretenimento do
777-200 ainda utiliza um sistema Matsushita de primeira
geração, abastecido com, pasme, fitas Super VHS! Imagine
o espaço que ele ocupa e o calor que gera. Um sistema
antigo assim não poderia mesmo ser On-Demand. E, além do
mais, a tripulação aparentemente não programou o sistema
de mapeamento automático de rota, o Airshow.
A impressão geral do ficou condicionada ao fato de que o
777-200 é uma das mais antigas aeronaves da frota. Mas,
principalmente, porque sua configuração interna na
classe executiva é aceitável para vôos de média etapa,
mas não para as mais de 12 horas do trajeto entre Hong
Kong e Dubai. Não fosse isso, este CX733 teria sido um
vôo espetacular.
G. Beting
Chuva no deserto. Essa era a condição do aeroporto de
Dubai na madrugada do dia 25 de fevereiro, sábado. Uma
espera maior que a habitual, vôos desviados,
dificuldades operacionais que refletiam a inusitada
situação. Há quase dois anos não chovia nos Emirados
Árabes Unidos. E o sistema que castigava o aeroporto de
Dubai chegava a ser severo, com rajadas de ventos, chuva
de moderada a forte.
Em meio à essas raras dificuldades, estava o British
Airways (BA) 107, serviço operado sem escalas entre
Londres Heathrow e Dubai. O 747-400 escalado para o vôo
nessa data era o G-CIVF, operado pela British Airways
desde março de 1995. Com a situação complicando-se, a
tripulação optou por um pouso de reabastecimento em Abu
Dhabi. Mesmo assim, a saída do vôo BA106, marcada para
as 03h00 da manhã, não foi comprometida: a equipe de
solo da BA foi capaz de "virar" o vôo a tempo.
Entrara na sala VIP da British, no Shopping Center
disfarçado de aeroporto que é o terminal de Dubai foi
como chegar a um oásis. Para além de suas portas,
ficaram as hordas de pessoas gritando, gesticulando,
comprando e mostrando o que haviam comprado. O dia havia
sido longo, graças ao "jetlag" inevitável numa viagem de
volta ao mundo como esta. Já estava a 22 horas de pé
quando entrei na sala, exausto.
Numa hora dessas, os sentidos se aguçam e a tolerância
chega perto do zero. É também numa hora assim que a
qualidade dos serviços torna-se ainda mais importante. E
a BA é uma empresa que sabe o que faz.
Começamos pela adorável recepção na sala VIP. Depois,
pelo catering: opções variadas, desde os tradicionais
mezés árabes (quentes e frios) a clássicos sanduíches
britânicos. um alívio, para quem não havia jantado. E
foi o que fiz: jantei na sala VIP e pude assim dedicar
mais do tempo de vôo a descansar.
Fomos chamados as 02h15 da manhã e o embarque só não foi
mais tranqüilo pois tivemos de passar pela terceira
inspeção de raio-x desde a chegada no aeroporto. Donde
apresento mais uma teoria destilada em décadas de
viagens: você conhece uma sociedade pela qualidade de
seus aeroportos. É infalível. Aeroportos vagabundos,
países idem. O descaso dos funcionários da DNATA,
empresa que administra os aeroportos dos Emirados, é
impressionante. Os funcionários responsáveis por
examinar as malas simplesmente não olhavam para as
telas, preferindo contar piadas uns para os outros, só
interrompendo o bom humor para rosnar alguma descortesia
com os passageiros.
Mas voltemos ao vôo: o BA106 recebia 301 passageiros que
se acomodavam dentre os 409 assentos disponíveis
(F14+C59+Y336). Portas fechadas, saímos do gate as
03h04, quatro depois do STD. Com mais cinco, iniciamos o
taxi para a pista 12L, subida por instrumentos Ransi 1E.
Decolamos as 03h25, correndo 55 segundos na pista antes
de atingir a Vr com 154 kt. Nossa V1 foi de 129 kt, em
face da pista contaminada por água. Quando a pista está
molhada, a velocidade de decisão é sensivelmente menor,
pois em caso de emergência, o asfalto molhado tem menor
poder de fricção e a distância necessária para uma
frenagem torna-se maior.
Os 310.400 kg de nosso 747 chacoalhavam em meio à chuva
que insistia em cair sobre o deserto. Logo estabilizamos
a 34.000 pés e os 15 comissários puseram-se a servir uma
refeição leve, apresentada no cardápio como "Sleeper
Service" e tendo por logo um simpaticíssimo ursinho de
pelúcia.
A BA entendeu que num horário assim, não dá mesmo para
fazer uma grande refeição e limita-se a servir snacks
frios: mussarela e tomate com pão italiano, salmão com
tabule ou ainda apenas chocolate quente com cookies. O
café da manhã seria mais reforçado. Tão logo terminaram
o rápido serviço e retiraram as bandejas, apresentei-me
com meu questionário padrão e carta de recomendação da
Oneworld, que explica o que estou fazendo e porque.
Falei com uma das quatro Inflight Service Directors (uma
por classe) e após me apresentar, pedi a ela que
enviasse o "Flight Check List" para o comandante
preencher. Ela disse que levaria imediatamente e que
ajudaria no que fosse possível.
Qual a minha surpresa quando, cinco minutos depois, o
próprio comandante do vôo, Cmte. Stephen Wearing,
aproximou-se e sentou-se na "minha" poltrona-suíte!
Cumprimentou-me efusivamente, pois conhecia meu trabalho
através da revista Airways. Para encurtar, ficamos
quinze minutos tagarelando, em voz baixa para não
incomodar os outros passageiros. Até um chá ele tomou no
encosto de pés da minha poltrona, que numa hora dessas
se transforma num banquinho. Depois de me contar sobre
sua carreira, concluiu com um brilho no olhar: "Meu
trabalho é o melhor do mundo. Em que outra profissão a
gente é pago para fazer algo que ama tanto? Em que outra
profissão a gente pode cser pago para conhecer
literalmente todo o mundo?" (neste exato instante, o
repórter dá um loooongo suspiro de inveja).
Disse tudo, meu caro Cmte. Wearing. Ex-piloto de Jaguar
na Royal Air Force, voou o 757, 767, 747-200 como
co-piloto e saiu para comando no 747-200, depois
passando direto para o 747-400. "Tenho saudade dos
Classics. Aquilo sim que era avião para piloto." Ele
então me convidou para uma visita à cabine após o pouso.
Quase perdi o sono com essa conversa. Mas ele voltou à
cabine e eu então transformei minha poltrona numa cama.
British Airways, sou-lhe eternamente grato pela
introdução de camas na classe executiva. Quatro horas de
sono depois, acordei. Abri a janela e constatei o início
do novo dia, uma barra de fogo no horizonte, emoldurando
perfeitamente os dois motores Rolls Royce e o winglet da
asa direita do G-CIVF. Uma belíssima visão, que só
reforçou a opinião do Cmte. Wearing. Homem de sorte.
Experimentei a necessaire que a BAS distribui, da marca
Molton Brown, empresa que opera também os spas das salas
VIP da companhia espalhadas pela Europa. E notei na
banheiro uma rosa, primeira empresa em toda essa viagem
a colocar flores de verdade nos banheiros. Um detalhe
que foi praticamente extinto depois de 11 de setembro,
quando as cias aéreas trataram de eliminar qualquer
gasto considerado supérfluo.
O 747 cruzava agora a 40.000 pés, queimando a cada hora
de vôo no nível 340 (34.000 pés) um total de 11.000 kg
de combustível. Voando mais leve e mais alto, o consumo
de combustível caiu para 9.000 kg por hora no nível 400.
Um vento de cauda ajudava em nossa velocidade, com a TAS
de 520 nós e Ground Speed de 480. Sobrevoamos Bahrein, e
depois, o 747 desviou sua rota para direita, de maneira
a não sobrevoar o Iraque e a Síria. Passamos sobre
Bucareste, Budapeste e Viena antes de tomar o rumo à
Londres.
O café foi servido, contando com várias opções. As
frutas estavam especialmente boas, bem maduras. As
geléias inglesas, uma de minhas paixões culinárias,
despertaram os sentidos. Estávamos quase chegando a
Londres. Iniciamos as descida as 06h04, hora local, ou
10h04 em Dubai. As 06h34, quatro minutos depois do
horário publicado de chegada (STA, Scheduled Time of
Arrival) tocamos com tanta suavidade na pista 09L que
foi mesmo difícil definir o momento do pouso. Mesmo.
Aproveitei e, ao entrar na cabine, disse a Wearing:
"Comandante, um pouso assim lá no Brasil nós chamamos de
vaselina." Bem humorado, ele completou: "Vaselina? Não é
isso que os gays usam?" Mais cinco minutos de conversa,
me despedi, e saí do 747 com a impressão renovada da
qualidade dos serviços da BA. A empresa usou por muito
tempo o slogan "The World`s Favourite Airline". Não é
pretensão.
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela LAN em S. Paulo.
2-Check-In: Nota 6.
Indiferente, mas ágil.
3-Embarque: Nota 10.
Ordenado. britânico.
4-Assento: Nota 10.
BA, obrigado pela cama na Executiva.
5-Entretenimento: Nota 7.
Mostrou a idade: não é AVOD.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Eficientes e amáveis, mesmo com a casa cheia.
7-Refeições: Nota 8.
Correta para o horário.
8-Bebidas: Nota 7.
Idem.
9-Necessaire: Nota 8.
Molton Brown, chique.
10-Desembarque: Nota 10.
Rápido e ágil.
11-Pontualidade: Nota 10.
Chegada antes do publicado.
Média final: 8,60
Comentário final: Vôo lotado, horário ingrato de
operação. Dois componentes que podem comprometer muito a
impressão geral de um vôo, mas que neste BA 106 serviram
apenas para demonstrar que a British Airways sabe o que
faz. Entra ano, sai ano, a empresa mantém um excelente
padrão de serviços. E as poltronas-leito da BA, que
garantem privacidade e acessibilidade total são um
trunfo considerável. Difícil encontrar melhor.
G.B.
Nossa volta ao mundo continua com outro vôo da British
Airways.
Sábado, 25 de fevereiro, carnaval comendo solto no
Brasil e eu experimentando o frio inverno britânico.
Ensolarada, gloriosa manhã para voar, porém. Após
desembarcar do BA 106 no Terminal 4, apanhei um ônibus e
fui para o Terminal 1, de onde sairia meu vôo, o
Speedbird 676 com destino à maior cidade da Turquia,
Istambul.
Eram 06h34 quando pousamos vindos de Dubai. E as 07h00
já estava no terminal 1, com quase três horas para
gastar. Fui para a ala VIP da British Airways. Um
portento de dois andares e dez ambientes diferentes, de
salão de jogos a sala de meditação. Parei de contar
quendo vi o quinto bar diferente. Um café da manhã digno
dos melhores hotéis poderia ser consumido sem problemas.
Ou um belo banho, uma sessão de shiatsu no Spa Molton
Brown. Até um mini-Free Shop e uma agência de câmbio
estão à disposição dos passageiros da British Airways.
Fomos chamados para embarque somente as 09h45, dez
minutos antes de nosso horário publicado de partida.
Embarquei no 767-300ER de prefixo G-BNWX. Por dentro, já
mostra os sinais de sua idade, afinal o mesmo voa na BA
desde março de 1994. Alguns detalhes dos assentos, bins
e lavatórios mostravam a ação do tempo.
A tripulação foi impecável e o vôo não estava cheio:
apenas 12 dos 56 assentos da primeira cabine da classe
executiva estavam ocupados. Na classe econômica, mais 78
assentos ocupados, num total de 90 passageiros e 10
tripulantes. Não é de se estranhar a baixa ocupação:
este é um mês de baixa estação nos vôos entre o Reino
Unido e a Turquia e a configuração deste 767 da BA é de
252 lugares.
O comandante Richard White saudou os passageiros e deu
as informações básicas sobre o tempo em rota e no
destino, e pediu desculpas sobretudo por um pequeno
atraso na nossa partida, primeiro atraso em toda esta
viagem. É que o 767 apresentou um problema no sistema de
aquecimento do visor frontal esquerdo, um ítem que está
no MEL - Minimum Equipment List.
O MEL é a lista de sistemas, aparelhos e peças que
precisam estar funcionando para que uma aeronave possa
ser considerada apta a voar. Quando se diz que algum
sistema ou peça num avião é MEL, isso significa que sua
perfeita operação é obrigatoória antes da partida. Sendo
assim, White não teve alternativa senão chamara a
manutenção e ordenar o reparo da aeronave, que
apresentou o problema no vôo anterior, procedente de
Frankfurt.
Além disso, o APU não estava operante, o que fez com que
tivéssemos um "cold start", quando um dos motores é
acionado, muitas vezes ainda no portão, para fornecer
energia para a aeronave. Motor girando no portão 24,
chegou finalmente a hora do pushback as 10h15. O trator
empurrou o Whisky W-Ray para pátio e então o motor nº1
foi acionado.
Iniciamos o taxi para a cabeceira 09R somente as 10h21,
tendo de aguardar o tráfego em solo para dar
prosseguimento à marcha rumo à pista. Alinhamos e
decolamos as 10h29 ecumprindo a SID Dover 6J, com nosso
767 pesando 127.000kg, bem abaixo de seu peso máximo de
decolagem, 158.000kg. Nossas velocidades foram: V1 e VR:
139 kt; V2 143kt.
Tão logo atingimos a V2 a potência e, consequentemente,
o ângulo de subida, a potência dos motores foi reduzida,
num procedimento conhecido como "noise abatement", que
tem por finalidade reduzir os ruídos em solo. A região
vizinha a Heathrow é bastante sensível nesse ponto; as
companhias são pesadamente multadas se não cumprirem as
medidas de "noise abatement", em suas operações
regulares. Somente depois de sete minutos de vôo, quando
já estávamos a leste de Londres, é que o controle de
solo autorizou o BA 676 a acelerar e subir à sua altura
de cruzeiro, 39.000 pés.
Um brunch foi servido: um café da manhã reforçadissimo,
complementado por dois pratos quentes, logo foram
apresentados. Mal o café chegou ao meu assento, 9A, na
última fileira da classe executiva da BA em vôos
europeus, a Club Europe, o Cmte. White veio se
apresentar e me dar uma saudação tão calorosa quanto a
que o comandante do vôo anterior na BA havia me dado.
Muito simpático.
Na cabine, as comissárias trabalhavam com especial
atenção aos passageiros. Findo o brunch , examinei as
poltronas deste 767, e constatei que elas não possuem
pontos para conexão de laptops. Tampouco monitores
individuais. O entretenimento à bordo tem de consistir
num bom livro ou revista, de preferência trazida pelo
próprio passageiro.
Abri meu laptop e mandei brasa usando a bateria. Abaixo
de nós, uma grande massa de ar frio mantinha a paisagem
encoberta e a temperatura em Istambul baixa, apenas
11ºC. O BA 676 passava rápido, pois voávamos a 246 kt ou
Mach .80 na IAS (Indicated Air Speed) e a 441 kts na GS
(Ground Speed), velocidade em relação ao solo. Os dois
motores Rolls Royce queimavam 4.000 kg de combustível
por hora e ao final do vôo, iriam consumir um total de
14.300kg.
Iniciamos a descida as 13h25, ou 15h25 em Istambul.
Tocamos na pista 06 as 16h00, seguindo a STAR Unsal 1E e
completando nossa viagem em 03h31 de vôo. Entramos no
congestionado pátio do aeroporto Atatürk e paramos no
portão com 25 minutos de atraso. 1-Reserva: Sem nota.
Feita pela LAN em S. Paulo.
2-Check-In: Sem nota.
Feito em Dubai.
3-Embarque: Nota 7.
Desordenado, sem prioridade por classes. Porque?
4-Assento: Nota 6.
Apenas correto.
5-Entretenimento: Nota 6.
Mostrou a idade.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Muita simpatia e atenção.
7-Refeições: Nota 8.
Muito bem servido.
8-Bebidas: Nota 8.
Idem.
9-Necessaire: Sem nota.
Não é distribuído.
10-Desembarque: Nota 9.
Poderia ser mais rápido.
11-Pontualidade: Nota 7.
Saída e chegada depois do publicado.
Avaliação final: 7,60
Comentário final: a tripulação foi impecável, fazendo do
serviço o ponto alto deste vôo. Mas este foi outro caso
em que a aeronave deixou a desejar. Interior antigo e
problemas técnicos que atrasaram nossa saída tiraram
parte do brilho deste BA 676. Nosso horário de chegada
era 15h35. Portanto, nosso atraso foi de 25 minutos.
Nada de muito sério, mas. poderia ter sido.
G. Beting
Manhã de sol e frio em Istambul. Sete horas, horário de
máximo movimento de embarques no enorme e moderno
aeroporto Atatürk, principal aeródromo da Turquia.
Depois de passar pela longa fila para raio-x das malas,
logo na entrada do terminal, fui para o check-in da Club
Europe, a classe executiva da British Airways em seus
vôos europeus.
Famílias inteiras, aparentemente migrando para o Reino
Unido, pareciam ter escolhido voar neste BA 675, vôo
non-stop para London Heathrow. O volume de bagagens e a
confusão eram notáveis. Isso fez com que a qualidade do
check-in ficasse comprometida: nas duas posições
reservadas para passageiros da classe executiva, havia
famílias como essas citadas. Até ser finalmente
atendido, levou algum tempo. Muita cortesia a partir de
então: sorrisos e simpatia acima do normal. Ao receber
minha passagem, uma mudança não solicitada de assento:
do 4A para o 2A. Não gostei, pois poderia ter recebido
um assento diferente da minha preferência. E isso já
aconteceu em meu último vôo na BA pela Europa.
La fui eu para o portão 211 encarar outro raio-x. E toca
a tirar e por casacos, laptops, malas de mão...
Paciência, este é o Planeta Terra pós-Al-Qaeda. Um
planeta de gente desconfiada e cada vez mais dividido
por raças e credos. Uma pena.
Chamados para embarque, não houve prioridade para
passageiros na Club Europe. Quando finalmente entrei na
aeronave, já não havia lugar nos bagageiros para minha
mala de mão. O remédio foi colocá-la no chão, entre os
assentos.
A British Airways, na sua frota de jatos da família
A320, optou pela configuração 2+3 ou seja, 2 assentos -
corredor - 3 assentos. Estava no 2A e ao meu lado, o 2C.
Não há assentos "B" na Club World. O embarque levou mais
do que o previsto, mas mesmo assim o BA 675, operado
pelo A320-200 de prefixo G-EUUN, sairia a tempo. Portas
fechadas, push-back as 08h52, três antes do STD. Mais
três minutos, iniciamos um longo taxi para a cabeceira
18R, SID Ertas 1A.
O comandante, John Lord, fez um excepcional speech:
saudou a todos com voz cristalina e amistosa. Indicou os
tempos de taxi, vôo, e taxi estimado no solo em
Heathrow. Agradeceu a presença e indicou alguns
waypoints. Informou o nome do Senior First Officer e da
Purser. Explicou tudo que podia ser explicado, com
concisão e num tom informal, que certamente tranquilizou
os 35% dos passageiros em cada vôo neste planeta que
(estatisticamente comprovado) sofrem de paúra por
"andar" de avião.
Finalmente chegou nossa vez de decolar, atrás de um A310
e na frente de um A321 da THY Turkish Airlines. Motores
IAE em máxima potência, as 09h25 estávamos rasgando os
céus, deixando Istambul e suas maravilhas para trás,
visíveis pelo lado esquerdo da aeronave. Uma última
visão da cidade que divide a Europa da Ásia ficou
guardada na memória, antes que os estratos-cúmulos
obscurecessem a bela visão da antiga Constantinopla.
Estabilizamos a 34.000 pés e as duas comissárias
trabalhando na Club Europe serviram um ótimo café:
cereais com iogurte e amêndoas, páse, cafés, sucos,
chás, frutas e duas opções de pratos quentes. Depois,
cookies quentinhos, mais uma passadas de bebidas e
serviços retirados.
Os monitores de teto, abaixo dos bagageiros, estavam
sintonizados no Air Show, o que permitiu acompanhar
algumas cidades sobrevoadas: Varna e Bucareste, Romênia.
Deva, Budapeste, Hungria. Viena na Áustria, Praga e Brno
na República Checa. Kassel, Essen, e a região de onde
veio minha família, Nordrhein Westphalen, ao sul de
Münster, na Alemanha, quase na fronteira com a Holanda.
Depois, o A320 prosseguiu sobre a Holanda, sobrevoando
uma linha ao sul de Rotterdam.
Voávamos já a 36.000 pés, consumindo 5.000kg de
combustível por hora. A simpática tripulação veio
oferecer mais uma rodada de bebidas. E então, às 10h40
os motores do G-EUUN foram reduzidos, no momento em que
o Airbus estava bem no meio do Canal da Mancha. Com mais
alguns minutos, entramos em território britânico e a
tripulação do cmte. Lord foi instruída para executar uma
série de órbitas ao norte do aeroporto, de maneira a
acomnodar a seqüência de pouso no congestionado
aeroporto.
Depois de 3 giros completos de 360º, o BA675 foi
autorizado a iniciar sua aproximação final, seguindo a
STAR LAM 3A para a pista 27L. Pousamos as 11h12,
completando a viagem em 3h47 minutos. Estacionamos no
Terminal 1 e teria então menos de duas horas para fazer
a conexão com o BA314 rumo à Paris CDG, que sairia pelo
T4. Este será nosso próximo Flight Report.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela LAN em S. Paulo.
2-Check-In: Nota 8.
Caos no balcão, mas muita simpatia e agilidade para
compensar.
3-Embarque: Nota 6.
Desordenado, sem prioridade por classes.
4-Assento: Nota 7.
Apenas correto.
5-Entretenimento: Nota 7.
Idem.
6-Serviço dos comissários: Nota 9.
Algo veteranas, mas com muita simpatia e atenção.
7-Refeições: Nota 8.
Muito bem servido.
8-Bebidas: Nota 8.
Idem.
9-Necessaire: Sem nota.
Não é distribuída.
10-Desembarque: Nota 7.
Poderia ser bem mais rápido: não havia operador no
finger!
11-Pontualidade: Nota 8.
Saída no horário e chegada depois do publicado, por
conta do tráfego.
Nota final: 7,55
Comentário final: algumas coisas não funcionaram a
contento, sobretudo no solo: check-in lento demais, uma
bagunça; assento não honrado - algo detestável, que não
é incomum em vôos intra-europeus da BA. E depois, na
chegada, esperando um operador de finger. A nota, 7,55 é
boa, sem dúvida. Mas este não pode ser mesmo ser
considerado um dos melhores vôos da BA. Mesmo assim,
melhor que muita companhia boa por aí.
G. Beting
Tarde de sol em Londres na quarta-feira de cinzas, 1º de
março de 2006. Nosso Flight Report agora será no vôo 314
da British Airways, um dos numerosos serviços diários
operados nesta que é a mais movimentada rota
internacional do mundo. A ligação aérea entre as
capitais do Reino Unido e da França é servida por
dezenas de vôos diários e o BA314 é um bom exemplo dessa
procura: nenhum assento no A321-200 da British Airways,
prefixo G-EUXI, encontrava-se desocupado.
Aeronave moderníssima, entregue à empresa em 08/2005, o
jato estava pronto para embarque no portão 19 do
Terminal 4 de Heathrow. Para mim, que chegava do BA675
no Terminal 1, foi necessário fazer a conexão com o
serviço de ônibus gratuíto da BAA - British Airports
Authority - operado entre os quatro terminais do
aeroporto. Nada de muito complicado, mas muito menos
cômodo, evidentemente, do que conexões na maioria dos
modernos terminais europeus. Antes que você pergunte, na
Europa, Zürich e Amsterdam são os mais cômodos sob esse
aspecto.
De qualquer modo, no curto espaço de tempo entre os dois
vôos, foi possível aproveitar a sala VIP da British
Airways, Terraces, que na verdade é um complexo de três
andares, um verdadeiro aeroporto dentro do Terminal 4.
Muito confortável, cheia de atrações, servia um bufê de
sandwiches frios e foi isso que almocei, não esperando
nada de muito especial no curto vôo até Paris.
Finalmente, próximo do horário de saída, 13h05, fomos
chamados para embarque. O processo deixou a desejar:
passageiros da Club Europe não tiveram prioridade no
embarque e a confusão era grande. Consequentemente, com
o procedimento mais lento do que o habitual, não foi
surpresa que o BA314 acabasse se atrasando. As portas
foram fechadas apenas as 13h18 e dois minutos depois o
A321 foi tratorado para o pátio.
Taxiamos as 13h24, rumo à pista 27R, e durante o taxi,
os passageiros do lado esquerdo do A321 tiveram o
privilégio de poder passar exatamente em frente ao
último e único Concorde remanescente no aeroporto e em
toda Londres: o G-BOAB, segundo entregue à British
Airways, e que ganhará um lugar de destaque tão logo o
novo Terminal 5 esteja concluído. De qualquer forma, ver
a majestosa aeronave parada em meio às pistas e taxiways
do movimentado aeroporto não deixa de ser uma visão tão
melancólica quanto magnífica. É a estranha sensação de
admirar a mais bela máquina jamais produzida dessa
maneira: inerte, sem vida, um magistral pássaro...
empalhado.
Entramos na pista e logo aceleramos: em segundos, as
13h37, estávamos subindo nos claros e ensolarados céus
Londrinos. O A321 subia em meio às formações, desviando
de algumas delas, enquanto no espaço aéreo ao redor de
Londres, vários jatos podiam ser vistos claramente,
alguns perto mesmo de nosso Airbus. Subimos até o nível
230, 23.000 pés, pois este é mesmo um vôo curto,
estimado em não mais que 35 minutos. E, para minha
surpresa, tão logo estabilizamos, um almoço bastante
decente fo servido: um prato frio, que consistia num
peito de frango marinado (honestíssimo) e salada verde
(fresquinha). Muito bom. Uma garrafinha de vinho
completou a refeição, que, minutos depois de servida já
era mesmo retirada.
A tripulação do BA314 manteve o mesmo padrão dos vôos
anteriores da companhia: educados e corteses, fizeram
seu trabalho de forma impecável. Não havia tempo algum
para um serviço mais personalizado, é certo, mas a
atitude, a expressão facial estava lá: sorrisos pra cá,
comissários olhando nos olhos dos passageiros ao falar
com eles. Enfim, coisa de empresa séria. E talvez esta
seja uma das poucas vantagens de um vôo curto: não há
possibilidade de uma segunda impressão, de muito contato
para análise de um serviço ou do desempenho dos
tripulantes. O que você vê é o que interessa, como um
retrato 3x4 da empresa. E, mais uma vez, a BA saiu-se
muito bem.
Aeronave impecável. Assentos relativamente confortáveis,
na configuração 2+3. Pitch correto. Monitores de teto
exibindo curtas metragens. A excelente revista da
empresa, High Life, em cada assento. E, depois de
servidas as bandejas, uma passada extra dos comissários
oferecendo chá ou café.
Mal deu tempo de terminar o almoço, pois o A321 já se
aproximava da pista 27R de Charles de Gaulle. Pousamos
as 15h22, tocando suavemente na pista, a neve caída
ainda visível no gramado de todo o aeroporto de Charles
De Gaulle, completando nosso curto vôo em apenas 45
minutos, mais curta etapa desta volta-ao-mundo.
E, como presente adicional, tive a sorte de estar
sentado no lado certo: passamos taxiando ao lado do
F-BVFF, último Concorde operado pela Air France e hoje
colocado num pedestal bem no meio do aeroporto, em
frente ao Hotel Hilton (Paris Hilton?) na área conhecida
como Roissypole. Majestosa, o pássaro branco" como os
gauleses o chamam, serviu de imagem final para este
curto vôo e Flight Report.
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela LAN em S. Paulo.
2-Check-In: Sem nota.
Feito em Istambul.
3-Embarque: Nota 6.
Desordenado, sem prioridade por classes.
4-Assento: Nota 7.
Apenas correto.
5-Entretenimento: Nota 7.
Idem.
6-Serviço dos comissários: Nota 8.
Vôo curto e lotado: não dá pra fazer muito melhor.
7-Refeições: Nota 8.
Muito bem servido, acima das expectativas.
8-Bebidas: Nota 8.
Idem.
9-Necessaire: Sem nota.
Não é distribuída.
10-Desembarque: Nota 9.
Organizado, bem melhor que o embarque.
11-Pontualidade: Nota 10.
Saída no horário e chegada dois minutinhos atrasado, por
conta do tráfego.
Nota final: 7,87
Comentário final: Um verdadeiro show da BA num vôo
curtíssimo. 183 passageiros muito bem servidos, aeronave
moderna, tripulação com atitude excepcional. No último
vôo pela British Airways em nossa volta ao mundo, ficou
mais uma vez comprovado: a BA é uma tremenda companhia
aérea. No nosso próximo Flight Report, você vai conhecer
outra excepcional empresa: a Finnair. Aguarde.
G. Beting
A Finlândia é uma jóia de país e sua empresa aérea, a
Finnair, espelha perfeitamente sua nação: pequena,
eficiente, bárbara enfim. Essa foi a sensação ao
desembarcar do A321-200 da companhia que me levou de
Paris - Charles de Gaulle ao principal hub da companhia,
Helsinki.
Domingo 5 de março de 2006 amanheceu esplendoroso em
Paris. CAVOK, cinco graus de temperatura, céus azuis
limpíssimos. Apresentei-me no terminal 2D, de onde
chegam e saem a maioria das empresas européias. O
check-in foi feito em segundos, por duas amáveis
atendentes, que me trataram como um príncipe. Logo fui
para a espaçosa sala VIP da Air France onde tomei um
café da manhã enquanto colocava os e-mails em dia. Nem
vi o tempo passar até a hora do embarque, 10h15. Lá
estava ele, no portão 72: Prefixo OH-LZF, entregue em
abril de 2004. O jato azul e branco começoua receber os
160 passageiros que iriam voar até a Escandinávia.
Lotação quase total, pois o A321-200 na Finnair tem 181
assentos em duas cabines: executiva com 25 assentos,
dispostos 2+3, e 156 assentos na econômica.
O embarque novamente não fez distinção entre classes, o
que achei negativo. Será o espírito de Liberté, Egalité,
Fraternité? Pra cima de moi, ao menos, não. Pagar quase
tres vezes mais deveria vir acompanhado de todos os
benefícios, no ar e no solo. O meu pirão primeiro.
Seja como for, lá estava eu entrando no A321. Recepção
escandinava: educada e distante. A comissária Brigitta
Nevalainen ofereceu-se e pendurou minha capa num armário
gigante, próprio para uma aeronave que serve países que
passam boa parte do ano com temperaturas abaixo de zero.
Por sinal, notei também que a galley do A321 é a maior
que ví numa aeronave de fuselagem estreita da Airbus.
Outro sinal da qualidade dos serviços da companhia.
Depois de findo o embarque, portas fechadas, saímos do
portão as 10h51, um minuto depois do STD. Mais três
minutos e estávamos taxiando para a pista 27L, saída por
instrumentos Nurmo 1A. Peso de decolagem de 79.700kg,
abaixo do MTOW desta aeronave, que é de 89.000kg.
Motores rugindo, decolamos as 11h03 com as seguintes
velocidades: V1, VR e V2 de 138, 156 e 159 nós,
respectivamente.
O nosso A321 ia subindo e sobrevioando a região a
nordeste de Paris ao lado de um A330-200 da Air France
que havia partido rumo ao Brasil, na pista paralela.
Como eu sei? Minha patroa estava a bordo e me informou o
horário exato de decolagem: 11h03!
Estabilizamos a 35.000 pés e para minha satisfação,
recebi um cardápio, coisa rara eneste dias em que
gentilezas como esta oparecem saídas de obras de ficção.
Sou da época anterior ao "frango ou carne?" disparado
insidiosamente contra incautos passageiros por essa
geração de comissários-autômatos que voam por aí.
Na Finnair, não: estava tudo bem cuidadinho. Drink antes
do almoço e lá veio a bandejinha, bem montada, com
pratos que privilegiam a culinária escandinava, que
junto com a japonesa, é minha preferida. Salada de
cogumelos, carne de rena fatiada fibninha, como um
presunto, salmão como prato principal. Tudo muito
saboroso.
Fiquei grato ao ler uma matéria sobre Nagoya, na boa
revista de bordo da Finnair, Bluewings, que a Finlândia
é considerada o "Japão" da Europa. A explicação é longa,
mas considerei convincente.
Lá embaixo, uma massa de alta pressão mantinha os céus
claros e a paisagem visível. Voávamos a 861km/h,
informação obtida pelo sistema Airshow, exibido nos
pequenos monitores de LCD espalhados pelas cabines. Foi
exibido um curto e bem produzido vídeo sobre o país,
"Destination Finland", que me fez ficar com ainda mais
vontade de chegar.
O A321 da Finnair possui duas cabines: executiva com 25
assentos, dispostos 2+3, e 156 assentos na econômica. Na
primeira fila o espaço para pernas é maior, mas
aproveitei que apenas 11 dos 25 assentos estavam
ocupados e expertimentei a poltrona da última fileira:
espaço decente, um nível de conforto compatível com a
classe.
Após o almoço, li um pouco mais a revista e,
apresentando-me, conversei com a purser Brigitta e com a
Senior Purser Peggy Sarkanen. Muito simpáticas, fiquei
fazendo minhas perguntinhas e falando sobre viagens,
países e sobre a profissão. Recebi junto com o
questionário técnico que enviei ao comandante um bilhete
muito simpático, assinado por nossa comandante do vôo,
Ilkka Sarjala. Nesse questionário, peço aos tripulantes
técnicos que completem alguns dados técnicos do vôo, que
depois incluo nos Flight Reports. Apresento junto uma
carta de recomendação da Oneworld, que ajuda a
tranquilizar os tripulantes a respeito de minhas
intenções. E responde à questão que todos fazem: "Ah!
Então era por isso que você estava fotografando tudo!"
Com apenas duas exceções nesta longa viagem, todos os
comandantes responderam sem problemas o questionário com
20 perguntas.
Voltei ao meu assento e pela movimentação, logo notei
que a tripulação passaria mais uma vez com outra rodada
de bebidas antes de nossa chegada. Estava mais
preocupado com anotar os waypoints: depois de
decolarmos, sobrevoamos Amsterdam, Arhus (Dinamarca),
Linköping, Stockholm e Vaxholm (Suécia) e então,
diretamente para Hanko e Helsinki.
Iniciamos a descida as 14h15 na STAR Pexen, para a pista
4R, onde Ilkka colocou com gentileza feminina as rodas
do A321-200 as 14h35, num total de 02h32 de vôo.
Chegamos na verdade bem antes do horário previsto,
14h50. O desembarque foi rápido e ágil, e a Senior
Purser Sarkanen foi bastante simpática ao se despedir:
"Tenha dias maravilhosos em Helsinki!"
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela LAN em S. Paulo.
2-Check-In: Nota 10.
Simpático, ágil, cordialíssimo.
3-Embarque: Nota 6.
Desordenado, sem prioridade por classes.
4-Assento: Nota 7.
Correto, primeira fila ajuda com mais espaço para as
pernas.
5-Entretenimento: Nota 7.
razoável, com monitores de teto.
6-Serviço dos comissários: Nota 8.
Frias, distantes, mas muito educadas.
7-Refeições: Nota 9.
Muito bem servidas.
8-Bebidas: Nota 8.
Idem.
9-Necessaire: Sem nota.
Não é distribuída.
10-Desembarque: Nota 10.
Organizado e ágil.
11-Pontualidade: Nota 10.
Saída no horário e chegada bem antes do previsto.
Avaliação final: 8,33
Comentário final: tinha uma boa dose de expectativa em
relação à Finnair, de quem já havia ouvido comentários
positivos. O padrão encontrado neste AY872 em nada
deixou a desejar, mesmo para passageiros exigentes.
Aeronave, serviços, comissários e pessoal de solo. Tudo
redondinho, eficiente e elegante, como quase tudo que
veria nos dias seguintes na Finlândia.
G. Beting
Fazia sol em Helsinki no dia 7 de março. Mesmo assim, os
termômetros marcavam oito graus negativos quando entrei
no moderno e agradável terminal para iniciar meu
regresso ao Brasil, colocando um ponto final na longa
jornada de volta ao mundo pela OneWorld. Nosso Flight
Report agora tratará dos trechos
Helsinki-Stockholm-Madrid pela Finnair. Este é um vôo
internacional que opera no sistema de sexta liberdade:
passageiros suecos ou espanhóis podem comprar passagens
entre a Suécia e a Espanha nos vôos da empresa
Finlandesa. Esse é mais um dos exemplos de liberalização
dos céus europeus. O fato é que o AY 891 estava lotado:
nenhum assento disponível na classe econômica e apenas 4
na Business Class.
Um Airbus A320-200, prefixo OH-LXB (em operação desde
maio de 2001) cumpriria o vôo. Impecável por fora e por
dentro, lá estava ele no portão 25 quando fomos chamados
para o embarque. Ocupei meu nassento, 1A, e aguardei. O
horário de saída, 16h10, aproximava-se e não havia
sinais de nossa partida, com as portas abertas. O cmte.
Juha Pitkänen deu as boas vindas e anunciou um pequeno
atraso, devido à lentidão no carregamento do porão. Vôo
cheio: ao final do embarque, 145 poltronas ocupadas
dentre as 150 disponíveis.
Finalmente deixamos o gate 25 as 16h21 e os dois motores
logo foram acionados, produzindo fumaça visível na baixa
temperatura que dominava Helsinki. As 16h24 iniciamos o
taxi para a pista 22R, seguidos por um Embraer 170
(OH-LEF), uma visão bacana: uma aeronave 100% brasileira
operando com eficiência e segurança em condições
extremas.
Alinhamos e decolamos as 16h30, as 65 toneladas do A320
facilmente erguidas pela força dos motores. Logo depois
estabilizamos a 27.000 pés, pois a etapa até a capital
sueca, de apenas 398 km, seria cumprida em questão de
minutos. Um lanche / almoço frio, um wrap de carne de
veado (muito bom, por sinal) foi apresentado. Bebidas
quentes e frias para acompanhar. Quando terminei a
refeição, o cmte. Pitkänen já haia reduzido a potência
dos dois motores IAE, iniciando a aproximação para
Arlanda.
Uma linda tarde de sol e temperatura mais amena, apenas
2ºC abaixo de zero, nos receberam na Suécia. Pousamos
suavemente as 16h06 (horário local) e pouco depois os
motores eram cortados no portão 66. Passageiros com
destino a Madrid permaneceram a bordo. A escala foi
rápida, ajudando a tirar o atraso na saída de Helsinki.
Apenas 40 minutos depois de tocarmos no solo sueco, o
OH-LXB era empurrado de volta ao pátio, motores
acionados e iniciava o taxi rumo à cabeceira 19R, subida
Nosli 3G.
Com 73 toneladas de peso, decolamos as 16h55, subindo
diretamente para o nível 350, nossa altitude de cruzeiro
até Madrid. O peso máximo de decolagem deste A320 é 75.5
toneladas. Logo as duas comissárias cuidando dos
passageiros da executiva apareceram oferecendo um drink
e um cardápio. A seguir, uma refeição quente foi servida
e estava mesmo muito saborosa, embora não houvesse
opções nem de entrada nem de parto quente.
Um salmão e uma salada de cogumelos, uma ótima carne de
panela, cozida longamente e depois prensada, acompanhada
de legumes marinados no vinagre. Realmente muito
saborosa e típica. Parte do encanto de viajar está em
conhecer usos e costumes locais. E quando a culinária é
escandinava, então, o prazer é redobrado.
Um parfait de morango delicioso, chá e licores fecharam
os trabalhos. No monitor da cabine, um filme de longa
metragem era exibido e, depois, as informações do
Airshow, que davam conta de nossos waypoints: depois de
decolarmos, proa direta para Hamburgo, Alemanha; Berna e
Genebra, Suíça; Toulouse, França; Zaragoza e Cuenca e de
lá, direto para Madrid. Iniciamos a descida as 19h53 e,
tão logo o comandante abaixou os trens de pouso, a
câmera instalada na bequilha começou a exibir as imagens
captadas nos monitores da cabine. Por lá foi possível
ver a nossa aproximação final e pouso em Madrid, as
20h20, vinte minutos antes do horário publicado,
completando o trecho em 03h25.
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela LAN em S. Paulo.
2-Check-In: Nota 8.
Frio e eficiente.
3-Embarque: Nota 6.
Desordenado, sem prioridade por classes.
4-Assento: Nota 7.
Correto, primeira fila ajuda.
5-Entretenimento: Nota 8.
Boas opções de programas.
6-Serviço dos comissários: Nota 8.
Frios e educados.
7-Refeições: Nota 9.
Muito bem servidas e, sobretudo, saborosíssimas.
8-Bebidas: Nota 8.
Idem.
9-Necessaire: Sem nota.
Não é distribuída.
10-Desembarque: Nota 10.
Organizado.
11-Pontualidade: Nota 10.
Chegada bem antes do previsto.
Avaliação final: 8,22
Comentário final: Minha primeira experiência na Finnair,
dois dias antes, havia sido muito boa. O padrão
encontrado neste AY891 foi extremamente satisfatório.
Tudo impecável. A chegada 20 minutos antes do previsto
deixou uma excelente impressão final sobre a companhia
aérea de bandeira da Finlândia.
G. Beting
Nosso último Flight Report desta série especial de volta
ao mundo é também nosso primeiro na Iberia, a empresa
aérea de bandeira espanhola. Começa com a chegada ao
monumental, gigantesco e deslumbrante novíssimo terminal
4 de Madrid. Obra de 6 bilhões de euros, dois terminais
novos (de quase 1.000m de comprimento!) praticamente
dobraram a capacidade do aeroporto de Barajas, que já
não comportava adequadamante o intenso tráfego que por
ele passa.
Os novos terminais ampliam a capacidade de barajas de 45
para 70 milhões de passageiros por ano. São mais 600.000
metros quadrados de granito, aço, vidro e bambú -
surpreendente e belíssima solução arquitetônica usada no
teto. Duas novas pistas elevam a capacidade de operação
de MAD de 78 para 120 operações por hora. Enfim, um
triunfo, digno de um país que sabe tratar e cultivar
como poucos sua vocação turística. (Longo, longuíssimo
suspiro de inveja.)
As monumentais dimensões cobram um preço: caminhar
longamente. O vôo AY 891 parou no portão 670, teminal 4,
e para chegar à zona S, onde deveria me apresentar, o
tempo de caminhada é de quase 30 minutos, incluindo um
passeio no trem subterrâneo que une os dois novos
terminais. Inteiramente envidraçado, esse novo terminal
vai proporcionar excelentes oortunidades para fotos. Mas
não agora, que já era noite fechada. Após o controle de
passaporte, dirigi-me para a gigantesca sala VIP da
Iberia, Velazquez, onde me apresentei e fui muito bem
recebido.
Tomei um longo banho, num banheiro tão novo como o
terminal, que tinha menos de 30 dias de uso. Tudo muito
bem montadinho, produtos L`Occitane à disposição dos
usuários. Uma bela barbeada, talquinho nas partes, água
de cheiro em pontos estratégicos e estava pronto para
encarar as mais de 10 horas de vôo do IB6823, serviço
sem escalas entre a realeza de Madrid e a dureza de
Guarulhos. (Longo, longuíssimo suspiro de inveja - Parte
2)
O horário deste vôo é ingrato: para permitir máxima
conectividade, a Iberia escala a decolagem do IB6823 as
01h40 da manhã. Plena madrugada. Em compensação, a
empresa tomou uma decisão tão simples quanto sensata:
montou um restaurante dentro da sala, com refeições
idênticas àquelas servidas a bordo. O serviço está
disponível para todos os vôos com saída nestes horários
ingratos, o que vale dizer: São Paulo, Rio de Janeiro,
Ciudad de México, Johannesburg, Buenos Aires e Santiago
do Chile.
Aproveitei e jantei em solo, uma versão espanhola de
"Coq Au Vin". Apenas razoável. Melhor estavam os queijos
e frutas secas que derrubei depois. Gostei muito desse
serviço da Iberia. Assim, de barriga cheia, teria mais
tempo para descansar durante o vôo, que tem sua chegada
prevista para as 08h35 em Guarulhos. Ocupei meu tempo
navegando na internet e escrevendo os Flight Reports.
Quando dei por mim, já estava mesmo na hora de embarcar.
Ver o tempo passar assim é um sincero elogio para a
Iberia.
No portão S1, suprema ironia: num terminal de 6 bilhões
de Euros, com dezenas de gates vazios, nós tivemos de
embarcar num ônibus, pois a aeronave estava numa posição
remota! Tanto melhor para fotografar o belo Airbus. Após
o curto trajeto, ouvindo impropérios dos contribuintes
espanhóis - furiosos com a desconfortável viagem de
coletivo - finalmente chegávamos frente à frente com
este novo "El Gigantón" que, para os mais novos, era o
apelido que a Iberia dava aos seus DC-8-63. No pátio,
iluminado pela branca luz dos refletores e pela lua, lá
estava a última aeronave em que embarcaria nesta longa
jornada de volta-ao mundo: o A340-600, de prefixo
EC-JCY, batizado de Andrés Segovia. Jato novo, entregue
à empresa espanhola em janeiro de 2005, estava
imaculado.
Fui recebido com cortesia e logo ocupei meu
assento-cama, 7L, na classe executiva da empresa, a
Business Plus. Fiquei impressionado com o interior do
jato: belíssimo, em sóbrios tons de bege e castanho.
Tudo muito bonito. Um drinque de boas vindas, embarque
demorado, vôo lotado. Dois passageiros não deram as
caras e provocaram um adicional atraso na partida.
Recebi o cardápio e uma ótima necessaire (a melhor da
viagem) continuaram passando uma ótima impressão da
Ibéria.
Finalmente, portas fechadas e as 02h17 iniciamos o taxi
no desértico pátio. Alinhamos na pista 36R e o Cmte.
Massó empurrou aos batentes as quatro manetes de
potência. Os quatro motores Rolls Royce Trent rugindo,
lá fomos nós rumo a mais uma travessia do Atlântico Sul.
O A340 levou 45 segundos para decolar, com peso de
342.000 kg, 24.000 abaixo de seu máximo. Trens em cima,
ruído reduzido junto com a potência, para diminuir
também o desgaste dos motores, subimos cumprindo a SID
Monto 1Z.
Após curvas à esquerda, atingimos para nossa altitude de
cruzeiro inicial, 33.000 pés. No monitor individual,
acompanhei fascinado a decolagem, através de uma câmera
instalada na cauda da aeronave: sensacional é dizer
pouco. O sistema de entretenimento, atravees do Airshow,
indicava nossos waypoints: Sevilha, depois sobre
Atlântico até chegar sobre solo brasileiro em Recife.
Depois Salvador, Contagem, Poços de Caldas, São Carlos,
direto para o Pico do Jaraguá e para a 09L de Guarulhos.
Como já havia jantado em solo, hesitei em fazê-lo a
bordo, embora ficasse curioso com a apresentação. O
dever jornalístico falou mais alto e apreciei um consomé
e um excelente club sandwich. Então o sono falou mais
alto: estiquei-me na poltrona-leito e dormi por seis
horas, perfeitamente.
O café da manhã despertou-me com seus aromas. Lá fora,
dia claro, sobrevoando Salvador. Foi servida uma bandeja
com frutas, pães, cereais, iogurte e os maravilhosos
embutidos ibéricos, sem prato quente. Apresentação e
sabor bastante corretos. O sistema de entretenimento do
A340 da Iberia é tão moderno quanto se espera de um jato
que hoje é o flagship da companhia. On-Demand, telas
enormes, programação variada com 15 canais de video, 12
de áudio. Não tive mais tempo para aproveitar o sistema,
pois as 08h03 minutos iniciamos a descida para
Guarulhos, que estava no seu melhor estilo: enquanto o
sol brilhava em todo o resto da região sudeste do
Brasil, GRU estava com seu tradicional e feioso
nevoeiro. Ê, São Paulo.
Entramos no tráfego nesta que é a hora de maior
concentração de chegadas, sobretudo internacionais, e
pousamos na pista 09L (STAR Tuca 09) as 08h24, 11
minutos adiantados em relação ao horário programado,
08h35. Mais algum tempo, estacionamos no portão G02.
Minha quarta Volta-ao-Mundo chegava ao fim. Mas já tenho
planos para a quinta viagem ao redor do globo: na
próxima, quero voar na Skyteam. E você vai ver cada
detalhe aqui no Jetsite.
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela LAN em S. Paulo.
2-Check-In: Sem nota.
Feito em Helsinki.
3-Embarque: Nota 5.
Desordenado, de ônibus... um pega pra capar.
4-Assento: Nota 10.
Maravilhoso: lindo, confortável, elegante e vira leito.
5-Entretenimento: Nota 9.
Excelente padrão.
6-Serviço dos comissários: Nota 9.
Quase perfeitas. Pecaram apenas na apresentação pessoal.
7-Refeições: Nota 9.
Muito corretas para o horário do vôo. Café da manhã
poderia ser mais reforçadinho.
8-Bebidas: Nota 9.
Num avião espanhol não poderia ser diferente.
9-Necessaire: Nota 10.
A melhor da viagem.
10-Desembarque: Nota 10.
Organizado.
11-Pontualidade: Nota 10.
Saída atrasada mas chegada antes do previsto.
Avaliação Final: Nota 9,00
Comentário final: As impressões de uma viagem de avião
dependem, mais do que se imagina, da qualidade dos
serviços em terra, antes e depois do vôo propriamente
dito. Sob este aspecto, pode-se dizer que a Iberia
superou todas as expectativas. Claro, o novíssimo
terminal de Madrid ajudou muito. As salas da empresa são
enormes, completas, bem decoradas, elegantes. A bordo,
fui tratado muito, muito bem. As malas foram embarcadas
em Helsinki e chegaram (não muito rapidamente) na minha
mão, em Guarulhos. A conectividade na Oneworld funcionou
perfeitamente, assim como a Iberia, diga-se. Donde só
posso concluir que, com sua frota sendo constantemente
renovada e agora, finalmente, um excepcional HUB
(escrito assim mesmo, com maiúsculas) a Iberia ocupa
definitivamente uma posição de destaque como
transportadora aérea global. Como dizem em Espanha:
¡Vale!
Gianfranco Beting