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Nordeste JH5090
O sonho de qualquer empresa, companhias aéreas
principalmente, é as
principalmente, é fidelizar seus clientes. Primeiro,
porque ter um cliente repetitivo economiza à empresa
muito mais do que os custos necessárrios para conquistar
um novo freguês. Segundo, porque clientes cativos acabam
normalmente atraindo novos compradores, funcionando, sem
saber, como "embaixadores" de uma empresa.
Se o sonho da empresa é este, no caso das companhias
aéreas este sonho chama-se "viajante frequente"
justamente o seleto grupo de usuários que normalmente
estão inscritos nos programas de milhagem, o recurso
mais utilizado e conhecido para "fidelizar" clientes.
Nestes programas de milhagem, quanto mais o passageiro
voa, melhor: seus benefícios aumentam com uma maior
repetição dos serviços. O caro leitor deve estar se
perguntando: e o que isto tem a ver com este Flight
Report? Tudo.
Pois bem: nosso vôo começa com minha mulher me
presenteando uma semana em Trancoso, Bahia. O mimo veio
na forma de uma passagem trocada por 10.000 milhas que
ela tinha em sua conta no programa de milhagem da Varig,
o Smiles.
Como profissional ou a turismo, minha patroa sempre
viajou com frequência, o que lhe garantiu o status "Smiles
Gold", um dos mais altos - entenda-se, com maiores
benefícios - do programa. A lógica diria que a
recompensa por essa fidelidade seria, no mínimo, um
atendimento cortês, ou pelo menos, maiores facilidades
na hora de escolher e comprar. Enfim, alguma facilidade
para usar as milhas ou reservar serviços. Assim, foi com
surpresa que relato o que aconteceu em seguida.
No final de novembro de 2003, ou seja, num período
sabidamente movimentado no setor de reservas, começamos
a ligar para o Programa Smiles para reservar dois
assentos no trecho Congonhas - Porto Seguro. Nada menos
que sete (sim, 7) ligações foram feitas para conseguir
falar pela primeira vez com um atendente "Gold", pois a
"facilidade" obriga o passageiro "Gold" a utilizar um
número telefônico exclusivo. Clientes "Gold" falam com
atendentes "Gold", pois a Varig/Smiles acredita que
estará dando um atendimento superior, personalizado,
certo? Mas como diria um conhecido meu, Na prática a
teoria é outra.
Pois bem: depois de passar mais de uma hora e meia na
espera telefônica (sim, 90 minutos pendurada em 7
ligações que depois de 15 minutos de espera, são
cortadas automaticamente) finalmente minha esposa foi
atendida e reservou os dois lugares. Mas foi informada
que precisaria passar numa loja da Varig para retirar um
comprovante impresso. Em tempos de e-ticket e compra por
internet, obrigar um passageiro (ainda mais quando é um
fiel cliente da empresa) a passar numa loja para apanahr
um pedacinho de papel nos parece algo tão natural,
moderno e lógico quanto embarcar para Porto Seguro num
aerobote Dornier Wal. Mas, pílulas, paciência e sorria,
porque você está indo pra Bahia.
O esforço para se manter fiel à Pioneira não terminou
aí. Minha esposa, bebê de 4 meses a tiracolo, aliás, num
carrinho - detalhe fundamental, como você irá ler a
seguir - apresenta-se na loja da Varig no Shopping
Ibirapuera, em São Paulo. Nosso filhote, deparando-se
com uma fila de 15 pessoas à sua frente, protesta no
mellhor estilo dos bebês, abrindo um berreiro daqueles.
Minha esposa, então, aproxima-se do balcão e pergunta ao
atendente se há prioridade para atendimento à
gestantes/idosos/bebês de colo. A resposta é lapidar. O
atendente responde, impávido:
Há prioridade, sim. Mas seu bebê não é de colo: ele está
num carrinho.
Minha mulher fica perplexa. Em segundos, se recompõe e
insiste: Como? E se eu estivesse literalmente segurando
o bebê no colo, ao invés de deixá-lo no carrinho? Aí eu
poderia passar adiante?
Bem. aí sim. Mas como a senhora trouxe o bebê no
carrinho e eu ví, a senhora tem de voltar ao final da
fila.
Bebe DE colo ou bebê NO colo? Para o arguto funcionário
da Varig, aparentemente, isto faz toda diferença.
Acredite, se quiser.
Nosso pequeno continuou em seu vozerio, novamente no
final da fila. O bom senso de algumas pessoas, cedendo
seus lugares na longa fila, fez com que a estada na loja
da empresa fosse de apenas 45 minutos. Tudo isso apenas
para pegar um comprovante impresso em computador em
questão de segundos.
Pois bem. À noite, em casa, minha mulher relata o
ocorrido. Já não começo mais a me surpreender. Pergunto
à patroa se ela havia reservado assentos, como eu havia
solicitado e ela, naturalmente, esqueceu. Então ligo
para a reserva "Gold" do Smiles: mais 3 ligações de 15
minutos cada e finalmente consigo o que queria: 3J e 3L
reservados no ERJ que nos levaria ao sol da Bahia.
Mas não acaba aí. Dois dias antes do embarque, nosso
infante adoece. Por prudência, resolvemos adiar a
partida em pelo menos um dia. Outra seção de esperas de
15 minutos e uma informação passada pela Varig: a multa
aplicável (US$ 50,00) pela mudança de data seria
suspensa caso apresentássemos um atestado médico
comprovando o ocorrido na loja da empresa em Congonhas,
onde também deveríamos trocar o comprovante impresso
anteriormente.
Pois bem: dia 2 de dezembro, uma terça-feira, entramos
as 09:40 na loja da Varig em CGH, portando o atestado
médico solicitado. O tempo passou, passou e nada. Eu
cheguei junto à patroa e disse:
- "Desiste desse reembolso ou vamos perder o avião. Já
são 10:00!"
- "Depois de tudo que eu passei, eu perco a viagem mas
não desisto."
Eram 10:20 quando minha esposa desistiu de brigar com o
pessoal da Varig, que por fim não aceitou o atestado.
Naquele momento, já dava minha semaninha na Bahia como
um Rio Que Passou Em Minha Vida: o horário previsto de
decolagem do JH5090 era as 10:33 e pensei: "com mala
para embarcar, nunca conseguiremos."
Pois a atendente de balcão foi sensacional e conseguiu
nos colocar a bordo do ERJ - e as malas também. Ao
chegar aos nossos lugares marcados, 3J e 3L, eles
estavam ocupados por uma senhora com dificuldades de
locomoção e sua acompanhante. Trocamos para o 4J e 4L.
Nunca foi tão cansativo descansar.
Portas fechadas no ERJ-145 de prefixo PT-SPM, fomos
finalmente tratorados para o pátio as 10:34, 1 minutos
depois do ETD. Motores girando, taxiamos as 10:38 e
iniciamos o taxi para a pista 35. O Cmte. Gerard e a
comissária Kenia Costa eram os responsáveis pelos 40
passageiros embarcados no Nordeste 5090, operado pela
Rio-Sul, ou melhor, pela Varig mesmo - já que,
oficialmente, as três empresas agora são uma só.
Potência aplicada, freios soltos, 28 segundo de corrida
e decolamos as 10:41, com suave curva à direita. As
11:06 o ERJ-145ER estabilizou em sua altitude cruzeiro
de 37.000 pés e apontou sua proa para o litoral bahiano.
Cruzando a 740 km/h, o jato regional da Embraer é
silencioso (pelo menos lá na frente, longe dos motores)
e confortável.
Abri o primeiro dos 4 livros que iria devorar nos 5 dias
seguintes e a viagem correu rapidamente. Aliás, foi bom
ter devorado o livro, pois o lanchinho servido não
mataria a fome de ninguém, como você pode ver na foto.
Na verdade, a aviação comercial e doméstica brasileira
abraçou, no serviço de bordo, o conceito "low-cost".
Pena que não tenha adotado o conceito "low-fare" na hora
de cobrar pelas passagens. Como diria Tim Maia, Eu não
me iludo mais.
Observei o interior do SPM: muito bem mantido no melhor
padrão Varig: bancos de couro, tudo bonitinho e bem
conservado desde a entrega da aeronave à Rio-Sul, em
outubro de 1999. Conversei com a simpática comissária,
que gosta de voar o ERJ e é baseada em São Paulo.
Voltei ao meu assento e minha esposa me deu um olhar 43,
ao mesmo tempo que perguntou: "Quando é que você vai
finalmente sair de férias?" A resposta ela já sabia: "Só
no solo, meu amor."
E isto não tardaria. Eram 12:02 quando os motores do ERJ
foram reduzidos. Os 30ºC que faziam em Porto Seguro
estavam a pouco mais de 20 minutos adiante. Nem isso:
eram 11:17, hora local (ou 12:17 de Brasília) quando o
PT-SPM colocou suas rodas na pista 10 do Aeroporto
Internacional de Porto Seguro, completando a viagem em 1
hora e 36 minutos de vôo. Agora sim a gente sorria, pois
finalmente estava na Bahia. Sem bebê DE colo nem bebê NO
colo.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Nota zero.
Não deu para acreditar na dificuldade e morosidade
enfrentadas para conseguir simplesmente falar com alguém
da reserva. Inconcebível, injustificável, inacreditável.
2-Check-In: Nota 5.
A média formada pela nota zero para a loja da Varig em
Congonhas, que levou 40 minutos para descumprir o que a
empresa prometeu (liberar a multa) e pela nota 10 para a
atendente de balcão que conseguiu nos colocar a bordo -e
nossas malas também - 10 minutos antes da partida.
3-Embarque: Nota 7.
Nossos assentos reservados foram ocupados pela
passageira com dificuldades de locomoção - em que pese o
fato de que nós trocaríamos de qualque modo, a empresa
tinha a obrigação de nos avisar.
4-Assento: Nota 7.
Confortáveis o suficiente para trechos curtos, bem
cuidados e revestidos em couro.
5-Entretenimento: Nota 5.
Apenas a revista Ícaro.
6-Serviço dos comissários: Nota 8.
Atrenciosa e simpática.
7-Refeições: Nota 2.
O suficiente para não levar ninguém à inanição - e poder
cobrar o que cobram sem passar recibo de ser uma empresa
"low-cost".
8-Bebidas: Nota 5.
Idem. Pelo menos ainda não estão cobrando pelas
cervejas.
9-Necessaire: Sem Nota.
Não é distribuída.
10-Desembarque: Nota 10.
Sorria, você está na Bahia e suas malas também.
11-Pontualidade: Nota 10.
Partida no horário e chegada 8 minutos adiantada em
relação ao ETA.
Nota final: 5,90
Puxa, Grupo Varig, o que acontece? Porque duas
experiências tão distintas, uma triste história em
terra, uma experiência agradável - ou quase isso - no
ar? O que nos deixa perplexos é que em pleno ano 2003,
numa era em que as empresas já estão tão carecas quanto
eu de saber como é importante tratar bem o consumidor,
barbaridades como as aqui relatadas ainda aconteçam.
Bebês DE colo ou bebês NO colo? Se para a companhia
aérea a questão é semântica, nas minhas próximas
viagens, eu também vou lembrar que existe uma pequena
diferença entre ser um bebê e ser feito de bobo.
Gianfranco BEBEting