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Lufthansa LH711 Airbus A380
Flight Check Lufthansa A380-800 LH 711 NRT-FRA Na sua
melhor tradição de qualidade, o Jetsite brinda você com
mais uma reportagem inédita na web brasileira: a
experiência única de se voar no fabuloso Airbus
A380-800, a maior e uma das mais avançadas aeronaves em
operação. Você vai acompanhar o serviço diário que a
Lufthansa executa entre Tóquio (Narita) e Frankfurt Am
Main. E vai ver porque a empresa alemã continua em
posição de destaque na aviação comercial mundial. Gute
reise! Aquela quarta-feira raiou luminosa e fria na
pequena cidade de Narita, a nordeste de Tóquio. Lá está
situado o maior aeroporto internacional do Japão. O
termômetro marcava apenas 10 graus as 07h15, quando me
apresentei no Terminal 1, corredor D, onde totens de
auto-atendimento realizam o processo de check-in.
Poderia fazer isto sem problemas, pois levava apenas
bagagem de mão. Assim, em menos de um minuto estava com
meu cartão na mão, rumando para o amplo terraço de onde
fotografaria a chegada do voo LH710, com origem em
Frankfurt.
Como previsto, as 08h25 o A380-800, matrícula D-AIMG e
batizado "Wien" pousou no horário programado. Trata-se
do sétimo A380 da companhia e um dos mais novos, tendo
feito seu primeiro voo em 22/11/2010 e entregue à
empresa alemã em 7/5/2011. A matrícula tem uma razão de
ser: "D" designa aeronaves registradas na Alemanha; "A"
é para toda aeronave alemã com mais de 50 toneladas de
peso; "I" é uma escolha da Lufthansa para todas as
aeronaves fabricadas pela Airbus; a letra "M" designa os
integrantes do modelo A380 na frota alemã e "G" indica a
sétima aeronave na frota. A título de curiosidade, os
designadores de fabricantes, pelo código interno da
empresa, são: "B" para a Boeing; "C" para Canadair/Bombardier;
"E" para Embraer; "D" para McDonnell Douglas. Todos os
aviões de passageiros da Lufthansa recebem nomes de
batismo, geralmente cidades e estados (Landen) alemães.
Com os novos A380 veio a ideia de homenagear grandes
cidades do mundo, não necessariamente na Alemanha. O
D-AIMA, novo Flagship da companhia, é o "Frankfurt" em
homenagem ao principal hub da empresa. O D-AIMB é "München"
por ser este o segundo hub da companhia. D-AIMC é o "Peking";
D-AIMD é Tokyo; D-AIME, "Johannesburg"; D-AIMF, "Zürich",
principal hub da Swiss, companhia controlada pela
Lufthansa; D-AIMG é "Wien" em homenagem à capital do
país sede da Austrian Airlines, controlada pela
Lufthansa e, finalmente, o D-AIMH é batizado de "New
York".
Desta forma, o "Wien" passou, majestoso, taxiando em
frente às minhas lentes e foi estacionar no portão 45,
de onde sairia para Frankfurt pouco mais de duas horas
depois. Uma vez registrado para minha matéria a imagem
do gigantesco jato, chegou a hora de me despedir do
Japão. Passei em menos de 10 minutos pelos controles de
segurança e imigração, a despeito do terminal estar
bastante cheio. Afinal, o povo japonês é obcecado por
eficiência, ordem e serviço atencioso. Não poderia ser
diferente no seu aeroporto internacional, porta de
chegada e saída do Japão. Igualzinho a um país
sul-americano...
Enfim, fui para a sala VIP da ANA, que é facultada a
todas as companhias integrantes da Star Alliance. Fiquei
pouco tempo: estava mais interessado em registrar o
movimento de aeronaves no segundo piso do terminal.
Fomos chamados para embarque as 10h00, pontualmente.
Prioridade foi dada para os clientes em Primeira Classe
e em Classe Executiva. Logo ganhava acesso ao corredor
que levava às pontes de embarque. No meio do caminho, já
dentro da passarela telescópica, placas indicam uma
divisão: passageiros em classe econômica (420 poltronas)
embarcam no deck principal; aqueles com assentos
marcados na Primeira Classe (oito poltronas) e Executiva
(98 assentos) devem embarcar diretamente no deck
superior do A380, acessado por rampa conectada
diretamente à porta dois do lado esquerdo. Ao entrar, a
sensação de espaço é evidente. O segundo andar do avião
é dedicado somente aos passageiros da First e da
Business Class.
Minha poltrona, 24K, fica na janela do lado direito, na
última cabine da Executiva. A separação entre fileiras
na Executiva é de 57 polegadas. Em função do tamanho, há
três divisões na cabine desta classe, o que confere
algum senso de privacidade. Não fosse assim, a sensação
de "navio negreiro" que este enorme deck induziria,
seria muito mais presente. É bom lembrar que, no deck
principal, não tem jeito: mesmo com as divisórias, são
tantas poltronas que a sensação é de se estar mais em
uma balsa de que em um avião. Com 10 assentos por
fileira, 3+4+3, é isto o que se senti. Desci durante o
voo e comprovei: da escada de acesso traseira (há duas,
a principal fica na frente da cabine e a secundária, em
espiral, junto à cauda) até o nariz do avião, contei
exatas 66 passadas. Isto já me parece mais tamanho de
navio do que de avião.
A tripulação de 24 profissionais - comandante, dois
primeiro-oficiais, um chefe de cabine (purser) e 18
comissários - era uma verdadeira "ONU" alada: mais de 8
nacionalidades, inclusive vários japoneses. Dois cuidam
da Primeira Classe, oito da Executiva e 10 trabalham no
deck principal, atendendo aos passageiros da classe
Econômica. Todos, impecáveis nos uniformes sóbrios e
elegantes da companhia, recebiam os passageiros,
indicavam os assentos aos clientes, acomodavam paletós e
casacos e, depois, passaram oferecendo os cardápios e
brindes de boas vindas: suco de laranja, água e sekt, o
espumante alemão. Portas fechadas as 10h20, pontualmente
as 10h25, nosso horário de partida, fomos tratorados
para o pátio e os quatro motores Rolls-Royce Trent 970,
de 70.000 lb de empuxo cada, foram acionados. O nível de
ruído é excepcionalmente baixo. O maior barulho na
cabine, sem exagero, era o farfalhar das folhas de
jornal de um passageiro do outro lado do corredor. Para
minha sorte, não havia ninguém na poltrona ao lado da
minha, o que aumenta a liberdade de ir e vir e,
consequentemente, a sensação de conforto. Iniciamos o
curto táxi até a cabeceira 34L as 10h32, pois havia
pouco tráfego à frente. Alinhados na pista de 4.000m,
partimos as 10h42. Levamos 50 segundos para rodar. Nosso
peso era de 502 toneladas, bem abaixo do peso máximo de
decolagem do D-AIMG (MTOW) que é de 560.000 kg. Destes,
150 toneladas eram combustível, que no caso do A380 é
consumido à razão de 11 a 12 toneladas por hora, em voo
de cruzeiro. Segundo cálculos da Lufthansa, a eficiência
energética do A380 é de tal ordem que o consumo de JET
A-1 por passageiro transportado é 80 kg menor do que o
747-400, numa rotação redonda Frankfurt-Narita-Frankfurt.
No total, são quase 27.000 kg a menos de combustível
queimados nestes dois trechos, quando se compara o A380
ao Boeing 747-400. A própria LH divulgou que o consumo
de combustível de seus jatos intercontinentais é o
seguinte, calculado por passageiro voado a cada 100km:
A380-800: 3,4 litros; Boeing 747-8: 3,5 litros;
A340-600: 4,1 litros ; B747-400: 4,2 litros. Outra
operadora da Star Alliance, a Singapore Airlines,
declarou oficialmente que os custos diretos de operação
de seus A380 são apenas 4% maiores do que os Boeing
747-400 que por ele estão sendo substituídos.
Trens recolhidos, tomamos a proa norte, no perfil de
subida por instrumentos Sekyiado 4. Impressionante o
silêncio a bordo, mesmo com os motores trabalhando para
levar o A380 à sua altitude de cruzeiro, que no nosso
caso seria inicialmente de 35.000 pés. O primeiro
oficial fez um ótimo speech e deu as informações
básicas: distância ser voada de 9.800 km em 11h20.
Manteríamos uma velocidade de 860km/h ou 532 milhas por
hora em relação solo. E que o tempo em rota seria
razoável, sem grandes turbulências previstas. De resto,
era relaxar e aproveitar a experiência de voar no maior
do mundo.
Hora de almoçar. O cardápio indicava opções ocidentais e
orientais. Fiquei no ocidente: duas opções de entrada
(carne defumada ou salada de camarões e caranguejo com
molho de manga e maionese (deliciosa); como principais,
músculo cozido no vinho com batas e cenouras (igualmente
saboroso) ou um filé de namorado com molho de laranja.
Sobremesa frutas e queijos (dois tipos) ou um cheesecake,
que evitei. Os vinhos selecionados pelo sommelier da
Lufthansa, Markus Del Monego, não encantaram, desta vez.
Nos brancos tínhamos: Mosel 2010, Peter & Peter,
Riesling; Chardonnay 14 Hands, Washington State, 2008
(agradou!); "Nord-Sud", um viognier do Languedoc, 2009.
Os tintos: 2007 Château Mazails, Médoc Cru Bourgeouis
(apenas razoável); 2008 Zweigelt und Cabernet, Freigut
Thallen, Thermenregion, Áustria. Tinto austríaco?
Confesso que não me arrisquei. O champagne era uma
Piper-Heidsieck, Brut. Arrematei a refeição com um chá
preto e um Bailey's on the rocks.
Hora de investigar a aeronave. Fiz meu passeio pelos
dois decks, fotografando e ocasionalmente conversando
com o purser Hoerber (meio brasileiro, visto sua mãe é
carioca). Também entrevistei algumas comissárias, que me
confirmaram que simplesmente amam trabalhar no A380.
Duas delas, que também serviram nos 747, afirmam que,
para os comissários, o novíssimo Airbus é vastamente
superior ao clássico Boeing. Depois de percorrer o avião
todo, voltei para minha poltrona, muito satisfeito e
impressionado. O cansaço veio junto. Durante minha breve
estadia no Japão, não dormi mais do que quatro horas por
noite, em função do fuso horário. Estiquei o assento na
posição cama - ao toque de um botão no apoio de braço da
cadeira - e constatei que a poltrona reclinada a 168
graus. Com um detalhe: não fica paralela ao piso.
Confortável, sim, mas não se compara à reclinação de 180
graus paralela ao piso, pois esta configuração distribui
o peso do corpo perfeitamente, permitindo maior
relaxamento. O fato é que eu "desabei" por cinco horas,
dormindo como um imperador do "Reino do Crisântemo".
Despertei descansado, pronto para examinar o sistema de
entretenimento. Muito bom, com páginas de navegação
bastante intuitivas. Destaque para as três câmeras
externas que permitem uma visão fascinante do voo.
Canais de música, games, áudio, você já imagina: tem
opções de entretenimento para uns dez voos. Tudo
explicadinho em uma revista dedicada, a Lufthansa Media
World. Aliás, são cinco as publicações disponíveis a
bordo, além desta. Há o Lufthansa Magazin, a revista de
bordo propriamente dita; um guia dedicado a explicar o
funcionamento do assento; o guia de compras de Duty Free
Onboard e, finalmente, o cardápio. Outra excelente opção
de entretenimento foi ver o espetáculo das montanhas
nevadas na Sibéria, como as imagens mostram.
Maravilhosas, banhadas pelo sol da tarde, uma visão e
tanto. E, para aqueles sentados nas últimas fileiras do
avião, também é possível ver os rastros de condensação
de vapor que se formam com os gases que saem dos
motores. Isto também deixa claro o tamanho do avião.
Já era hora do jantar para aqueles que, como eu, ainda
tinham o relógio fisiológico na hora de Tóquio. Havia
duas opções de pratos ocidentais (macarrão com molho
branco ou strogonoff de frango) e uma refeição japonesa.
Almoço ocidental, resolvi me despedir da Terra d Sol
Nascente. Na bandeja, um Zensai (berinjela, camarão,
omelete e feijões pretos), Misoshiro (sopa de tofu),
Omozakana (filé de linguado grelhado com arroz),
Konomono (berinjela com mostarda) e Mizugashi (frutas
frescas). Acompanhei tudo com chá verde. Faltavam agora
menos de uma hora para o pouso e sobrevoávamos o mar
Báltico. A rota de retorno passa pela marte mais
setentrional da Sibéria. Infelizmente, praticamente toda
ela coberta por nuvens. Iniciamos a descida as 21h30 de
Tóquio, ou 13h30 em Frankfurt. Sol e temperatura na casa
dos 9ºC. Trens em baixo as 14h00, precisamente. Com mais
dois minutos, e menos de dois minutos faltando para o
pouso, mais uma emoção: arremetemos, na curta final. O
primeiro-oficial anunciou a "descontinuidade da
operação" e afirmou que em menos de 10 minutos
estaríamos em solo. Novo procedimento iniciado, nova
reta final, trens em baixo. Pousamos as 14h12 na
Startbahn Sud, pista 25L, taxiando lentamente para o
portão C14. Frankfurt é um dos raros aeroportos do mundo
com portões especialmente desenhados para receber o
A380. Desembarquei pelo próprio deck superior, uma
experiência tão particular como voar neste grande jato,
nesta grande companhia.
Avaliação: as notas vão de 0 a 10
1-Reserva: Nota 10.
No melhor padrão da LH: sem qualquer dificuldade.
2-Check-In: Nota 10.
Em menos de 1 minuto, no quiosque de auto-atendimento em
Narita. Como levava apenas bagagem de mão, não teve
erro.
3-Embarque: Nota 10.
Organizado, com acesso ao andar superior dedicado aos
passageiros de Classe Executiva e Primeira Classe.
4-Assento: Nota 8.
Bonito desenho e boas soluções ergométricas. Excelente
monitor. Só não leva nota maior pela reclinação de 168
graus e, quando reclinado, não ficar paralelo ao solo.
5-Entretenimento: Nota 9.
Excelente padrão de programação AVOD. A companhia não
descuida, e tem até uma publicação dedicada para mostras
as milhares de horas de programação de áudio e vídeo
disponíveis.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Absolutamente impecáveis. Dou meu braço a torcer: se em
alguns voos na LH faltava simpatia, aqui a coisa foi
muito diferente. Sobrou.
7-Refeições: Nota 8.
Gostei da qualidade e das quantidades de opções
oferecidas, mas não gostei do prato que havia
selecionado haver acabado. Optei pela segunda refeição
em estilo japonês e... Fiquei com fome.
8-Bebidas: Nota 9.
Aprecio muito o trabalho de Markus Del Monego, e já não
é de hoje. Alguns dos melhores vinho que tomei em aviões
foram na Lufthansa. Este é um craque.
9-Nécessaire: Nota 6.
Básica demais.
10-Desembarque: Nota 10.
Como era de se esperar, foi rápido e bastante
organizado. Porém, Fui o último a sair do avião, pois
tentei uma visita à cabine de comando, recusada pelo
próprio Comandante do voo.
11-Pontualidade: Nota 10
Esperava o que? Deutsches qualität em pleno
funcionamento.
Nota final: 9,09
Comentário final: Voar Lufthansa normalmente não tem
erro. O que você espera encontrar você encontra, sem
surpresas nem decepções. Neste voo, porém, encontrei
mais do que imaginava. E não estou me referindo ao
avião, que é um show à parte. Eu fiquei mesmo encantado
com o tratamento dispensado pelos tripulantes, mais
atencioso do que o normal. O purser também mostrou-se um
profissional acima da média. Mas, é claro, a grande
estrela era o equipamento. O novo A380 estabelece novos
padrões de conforto e espaço pessoal, reescrevendo a
história da viagens de longo curso. Um transatlântico
voador, uma máquina de tamanho e conforto descomunais.
Fácil de constatar: cheguei realmente descansado em
Frankfurt, depois de uma viagem de 11h30 e mais de
10.000km voados. E, com a inauguração da quarta pista no
aeroporto, diminuindo atrasos, bem como as obras em
ritmo acelerado do novíssimo Terminal 3, no sítio que um
dia foi a base aérea de Rhein Main, foi bom constatar
que Frankfurt continua em plena evolução. (Pausa para
longo suspiro de inveja) Com novas instalações, lojas e
serviços que, somadas, Frankfurt se apresenta como um
aeroporto em condição de permanecer competitivo diante
dos melhores do mundo. Tudo isto somado, voar o A380 na
Lufthansa é experimentar o que de melhor a aviação
comercial de longo curso tem a oferecer na atualidade.
Lufthansa LH418 Boeing 747-8I
O Jetsite traz a você, pela primeira vez na internet
brasileira, um relato de voo na novíssima geração do
venerável Jumbo, o Boeing 747-8 Intercontinental. Então
contando com apenas cinco semanas em serviço, fui
experimentar o novo gigante da Boeing em sua primeira e
única rota regular até aquela data: o voo Lufthansa
entre Frankfurt e Washington, DC. Willkommen am bord!
LH 923: London Heathrow - Frankfurt
Nossa jornada naquela sexta-feira, 13 de julho, começou
as 5h30 de uma manhã fria e úmida e verão (verão?)
Londrino. Os termômetros marcavam 15ºC e chovia
levemente quando apresentei-me no setor A do Terminal 1
deste que é o mais movimentado aeroporto internacional
do mundo: London Heathrow. O aeroporto recebe 64 milhões
de passageiros ao ano, ocupando assim folgadamente na
liderança dentre todos os principais hubs
internacionais.
O check-in foi feito com eficiência e em segundos estava
com os dois cartões de embarque em mãos. A imigração
também foi ágil, o que me permitiu desfrutar mais tempo
do excelente Star Alliance Lounge. Uma vez lá, embora o
relógio ainda não marcasse as seis horas da manhã, era
possível desfrutar de um café da manhã completo,
relaxar, checar emails, enfim, aguardar o voo com
conforto.
Rumei para o portão 17, onde estava estacionado desde a
noite anterior o A320-200 D-AIQA. Este, curiosamente,
estava sem nome de batismo. Normalmente, os A320 levam
nomes de cidades alemãs, assim como a maioria dos aviões
da companhia. Uma exceção são os A380, batizados com
nomes de grandes cidades do mundo: Beijing, Tóquio,
Viena, New York, etc.
Embarque pontual e organizado. Ocupei minha poltrona,
4F, e notei que só havia 14 assentos ocupados dentre os
42 disponíveis na Lufthansa Business Class. Ao me
sentar, percebi que este A320, entregue para a empresa
alemã em fevereiro de 1991, já apresentava as novas
poltronas Recaro "Slim", ultra finas. Com a instalação
destes assentos, a Lufthansa leva no total 150 poltronas
por avião, com uma distância entre elas de apenas 30
polegadas. O resultado: para trabalhar com o laptop
ligado, como eu tentei fazer, ficou muito
desconfortável. Ou simplesmente inviável, caso o
passageiro da frente decida inclinar o recosto da
poltrona.
Estávamos prontos para a partida, quando o comandante
avisou que iríamos atrasar: um passageiro fez o check-in
mas não apresentou-se para o embarque. Suas malas
tiveram que ser retiradas e, no processo, acabamos
perdendo quase 30 minutos. Nosso push-back foi as 7h42,
ao invés do horário publicado de 7h15. As 7h47 iniciamos
o taxi para a pista 27R e as 7h54 decolamos, com curva à
esquerda.
Um café da manhã foi servido sem demora e com simpatia
pelas duas comissárias. Várias opções de bebidas
complementaram o serviço, que tinha por "prato"
principal uma salada de frutas. Graças a Deus, bem
madurinhas. Em rota, sobre os céus fechados deste verão
europeu frio e chuvoso, deixamos o Reino Unido
sobrevoando Dover, depois Liége, Bélgica e de lá direto
para a Alemanha. Iniciamos a descida as 08h29, com
alguma turbulência, pois a atmosfera estava bastante
instável. Nosso pouso deu-se as 09h00, cravado no
horário previsto, ou 10h00 local, completando a viagem
com um toque sob chuva pela nova pista do aeroporto (a
quarta!). Sentado do lado esquerdo, é possível ter uma
visão privilegiada tanto do aeroporto de Frankfurt
quanto da principal base operacional da Lufthansa.
Paramos em uma posição remota e, desta maneira, tivemos
que embarcar em um ônibus para chegar ao terminal 1, asa
B.
LH 418: Frankfurt - Washington
Hora de voar no gigante. O voo partiria do portão C15,
em outro terminal. Uma longa caminhada fez-se
necessária. A passagem pelo controle de passaporte e
raio-x foi ultra rápida, sem fila alguma. Então fui para
a sala VIP adjacente ao portão 15, o Lufthansa Business
Class Lounge - a companhia tem alguns laounges
espalhados pelos diversos terminais. Certamente, de
todos os que conheço, este é o que oferece a melhor
visão do pátio e das pistas. Fiquei me deliciando com o
vai e vem de muitas aeronaves enormes e modernas. Foi de
lá que fotografei nosso avião, o 747-8I D-ABYA, "Brandenburg",
o primeiro 747-8I a entrar em serviço no mundo, sendo
rebocado para o portão C15.
Esta matrícula é histórica. Em março de 1970, pousou
neste mesmo aeroporto, o primeiro 747 encomendado por
uma companhia estrangeira: o Boeing 747-130 D-ABYA. A
Lufthansa teve a feliz idéia de repetir as matrículas da
série original dos primeiros Boeing 747 que recebeu há
mais de quatro décadas. Ele está em operação desde 1º de
junho de 2012, quando iniciou os serviços (6x por
semana) na rota que voaríamos hoje. Até a data desta
reportagem, esta continuava sendo a única em que opera
regularmente este majestoso integrante da quarta geração
do carismático quadrimotor da Boeing. Depois, com a
entrega de mais dois 747-8, a Lufthansa levou seu novo
modelo a Deli, Índia.
Quando chegou a hora de embarque, 12h15, outra agradável
surpresa: a sala tem um portão exclusivo, que dá acesso
direto ao avião, sem ter que passar pela confusão de
vencer seu caminho através de um mar de 400 pessoas
querendo embarcar. Ou seja: a experiência em solo foi a
melhor possível. Realmente impecável.
Embarcamos e logo ocupei meu assento, 87K, penúltima
fileira no "Upper Deck" do 747 - de longe, meu lugar
preferido, em qualquer avião comercial. O 747-8I na
configuração da Lufthansa apresenta 362 poltronas: 8 na
primeira classe (distância entre fileiras de 85
polegadas); 92 na classe Executiva (distância entre
fileiras de 64 polegadas) e 262 na econômica (distância
de 31 polegadas). A grande novidade está na nova classe
executiva, que apresenta, finalmente, poltronas que
reclinam 180 graus e se convertem em camas, ainda que
não fiquem perfeitamente horizontais em relação ao solo.
Os assentos, muito elegantes, realmente impressionaram
pelo conforto. Monitores individuais de 15 polegadas
ajudariam muito a fazer da experiência de voar nesta
nova configuração algo especial. Pode falar o que
quiser, me mostrar qualquer outro tipo de aeronave em
uso comercial hoje em dia. Para mim, nem os novíssimos
787 ou o A380 se comparam ao 747, especialmente se você
está sentado no Upper Deck - especialmente nesta nova
geração do venerável Jumbo.
Por falar em venerável, vão aqui alguns dados que
confirmam isto. Desde janeiro de 1970, quando começou a
operar regularmente no transporte de passageiros, os
mais de 1.440 Boeing 747 das várias versões produzidas
transportaram nada menos que 3.5 bilhões de passageiros
- metade da população mundial. O 747 é feito de mais de
6 milhões de partes, que são montadas ao longo de 4
meses de trabalho. Somente a pintura do avião, que leva
mais de 1.200 litros de tinta, consome o equivalente a 5
dias de trabalho intenso dividido entre 14 homens,
trabalhando H24. Aesta nova versão de passageiros,
oficialmente designada 747-8 Intercontinental ou 747-8I,
foi lançada em 14 de novembro de 2005. Desenhada para
transportar até 467 passageiros em três classes, tem
alcance de 8.000 milhas náuticas (15.000 km) voando a
Mach 0.855. Ou seja, é o mais rápido jato comercial em
operação no mundo. Para se ter uma ideia, sobre seu
concorrente direto, o A380, em voos com mais de 12
horas, um 747 pode reduzir em praticamente 1 hora o
tempo total de voo. O 747-8I é o mais longo avião do
mundo, sendo 91 cm mais comprido que o A380. Dois
"enxertos" foram adicionadas à fuselagem padrão do
antigo 747-400. Adiante da asa, um plugue de 410 cm, e
detrás das asas, outra extensão de 150 cm. Assim, o
gigante mede 76,30 metros e pode transportar em média 51
passageiros e mais dois pallets de carga que o seu
antecessor, oferecendo um volume de porão 26% maior em
relação ao 747-400. Os novos motores GEnx são 30% mais
silenciosos, 16% mais econômicos no consumo e,
juntamente a outros avanços e refinamentos construtivos
e aerodinâmicos, fazem com que o "Intercontinental"
tenha custos operacionais diretos 13% menores por
passageiro-milha. Ou, se preferir, praticamente o mesmo
custo total por viagem que um 747-400, ainda que com
esta significativa capacidade adicional.
A Lufthansa é responsável direta por muitas das
características presentes no novo 747. Como empresa
lançadora do programa, encomendando 20 unidades em 6 de
dezembro de 2006 e trabalhou junto à Boeing para fazer
deste um avião de sucesso inquestionável, assim como
foram seus predecessores. Na opinião de comissários,
pilotos e executivos da Lufthansa, entrevistados para
esta reportagem, a Boeing não apenas conseguiu, mas de
fato ultrapassou as expectativas. O jato é uma delícia
para voar, conforme os pilotos da Lufthansa me
confirmaram ao chegarmos a Washington. Estável, potente,
dócil nos comandos, são necessários apenas dois dias de
"ground school" e mais duas sessões em simulador para a
conversão daqueles pilotos com o 747-400 na carteira
para aqueles fazendo a transição ao novo "Dash 8", como
informalmente o avião vem sendo chamado pelos
tripulantes. Os comissários igualmente amam trabalhar
com o avião, opinião confirmada por quatro profissionais
com quem conversei. E, quando disse ao chefe de cabine,
próximo de nossa chegada, que entre o A380 e o 747-8 eu
dava preferência ao último, ele simplesmente sorriu e
concordou, afirmando: "É verdade, eu também penso assim.
Para se trabalhar, este novo 747 é simplesmente
imbatível. Alem do mais, é um Boeing." Ele fez uma
pausa, deu um sorriso maroto e concluiu: "Você sabe,
Boeing é Boeing. Eles me parecem mais 'sólidos' que
qualquer outro avião."
Mas voltemos ao voo 418. Com os 344 ocupantes a bordo,
incluindo-se aí 20 tripulantes (sendo três comandantes
nesta etapa por razões de treinamento), estávamos
prontos para partir. As portas foram fechadas, o trator
engatado e as 13h04, iniciamos a jornada, saindo do
portão. As 13h08 os motores GEnx-2B67, de 66.500 libras
de empuxo foram acionados. São realmente muito
silenciosos. Iniciamos o taxi as 13h08, pesando 368
toneladas, bem abaixo do peso máximo de decolagem de
442.2 toneladas. Levávamos 90 toneladas de combustível,
sendo que os computadores calcularam que usaríamos
76.786kg durante o voo, estimado para durar oito horas e
15 minutos.
Após breve espera, as 13h24 decolamos sob fina chuva
pela pista 25C, a famosa "Startbahn Sud" de Frankfurt.
Nossas velocidades (V-1, V-R e V-2) foram 145, 154 e 162
nós, condições computadas para a pista molhada. Isto
explica uma V-1 menor do que em pista seca, necessária
para permitir ao gigante abortar a decolagem com o piso
molhado, que representa menor eficiência na frenagem.
Também com a potência aplicada, impressionou o baixo
nível de ruído dos motores.
Executamos a saída por instrumentos (SID) BIBTI 3G,
subindo para nosso primeiro nível de voo, 34.000 pés,
seguindo as condições de tráfego pesado que são normais
na Europa. Depois de quase uma semana de chuva,
finalmente o sol brilhava acima da espessa camada que
cobria praticamente todo o continente Europeu. Rumamos
inicialmente para a fronteira com a Holanda, canal da
Mancha, Sobrevoamos Blackpool (Inglaterra) e Londonderry
(Irlanda do Norte) antes de iniciarmos a travessia do
Atlântico Norte. Para aqueles ligados à simulação de
voo, vão aqui os nossos waypoints principais, indicados
pelos próprios pilotos: EDDF, NAT C, HO, ALB e direto
KIAD. Pouco mais de uma hora de voo depois, e consumindo
2.460kg de JET A-1 por motor a cada hora de voo, (ou
9.840 kg por hora de voo em cruzeiro), o 747 ficou mais
leve e subimos para 35.000 pés.
Hora de apreciar as mudanças internas. A arquitetura e
muitas soluções ergonômicas do novo 747-8 emprestam
desenhos introduzidos no novo 787. As janelas, por
exemplo, são idênticas ao do 777: têm os cantos mais
arredondados e são 8% maiores do que aquelas usadas no
747-400. Os bagageiros, de desenho mais elegante, têm
maior acessibilidade e capacidade. A iluminação interna
é toda em LED (Light-Emitting Diode), o que reduz peso e
custos de manutenção, alem de permitir inúmeras
combinações de cores, criando efeitos que impactam
positivamente a atmosfera sensorial para os ocupantes.
A adorável tripulação passou oferecendo bebidas e o
cardápio, aberto individualmente na página onde
encontravam-se as opções de almoço. O cardápio era
assinado por Thomas Bühner, um alemão da Vestfália, dono
de um restaurante 3 estrelas do Michelin em Osnabruck, o
Restaurant La Vie, um dos oito únicos 3 estrelas na
Alemanha. A entrada foi uma caixa tipo "bentô" japonês,
bem moderninha, com salmão marinado em anis, salada de
batatas e pepinos, tandoori de frango com cuscuz
marroquino, iogurte de menta e cominho. Anote aí: foi a
melhor entrada que já experimentei a bordo de um avião.
Simplesmente sublime. Os pratos principais: uma perca ao
forno com avelãs e cenouras, "bulgur" com cream cheese,
abobrinhas e aspargos e um tradicional "goulasch" com
aspargos e talharini, que estava excelente. De
sobremesa, pratinhos de queijo Sbrinz, Camembert e Blue
Cheese. Provei também uma panna cota com abacate e
grapefruit, uma delícia. O sommelier da Lufthansa,
Markus Del Monego, escolheu as seguintes garrafas: os
brancos eram a champagne Duval Leroy Brut; Sauvignon
Blanc Villa Baden, 2011; Pinot Bianco Cantina Tramin
2010 (muito agradável). Os tintos: Château La Raze
Beauvallec, Médoc Cru Bourgeois, 2008; Don Max Reserva
2009, Viña Errazuris (Chile).
Lá fora, o azul do Atlântico Norte recortava
perfeitamente os dois enormes motores GEnx. Voávamos a
570 milhas por horas, (917 km/h), cruzando agora no
nível 360. Estiquei-me e descansei por três horas,
notando para meu descontentamento que faltavam menos de
5 horas de voo. É isso mesmo: minha infelicidade ao
constatar que parte do voo já havia passado. Pois era
essa a sensação a bordo do LH418: eu queria que ele não
terminasse. Acordei a tempo de saborear um rápido snack,
servido em uma bandejinha, com duas opções de prato
principal: uma salada de salsichas ou uma salada de
frango ao curry. Bem alimentado, descansado, só me
restava aguardar o final da viagem. Com pouco tráfego,
descemos direto para o aeroporto de Dulles, cruzando a
cabeceira com uma V-REF de 152 nós e tocando em solo
norte-americano as 15h06, adiantado em relação ao
horário previsto de chegada, 15h35. Cumprimos a etapa de
4.080 milhas (6.566 km) em apenas 7h42 de voo. E para
completar o que já parecia perfeito, a deslumbrante
comissária Jennifer Binder (parecia a irmã gêmea da
estonteante January Jones, a Betty Draper da série Mad
Men) ainda fez a gentileza de pedir aos pilotos uma
visita ao cockpit. Uau, que maneira de fechar com chave
de ouro um voo impecável. Foi mesmo um dia de sorte
aquela sexta-feira, 13 de julho!
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Nota 10.
Sem problemas, emitida pela LH no Brasil e com a
primeira etapa modificada por telefone em Londres, de
forma ágil e prestativa.
2-Check-In: Nota 10.
Rápido e simpático, feito em Heathrow para os dois
trechos. Muito bom.
3-Embarque: Nota 10.
Direto da sala VIP? Não podia ser mais conveniente. Isto
sim que é companhia aérea, gente. (longo suspiro de
inveja e admiração)
4-Assento: Nota 10.
Uma palavra basta: perfeito.
5-Entretenimento: Nota 9.
Excelente padrão, mas a variedade de títulos não se
compara aos sistema de IFE lideres de mercado.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Jennifer Binder e suas colegas deram um show de
eficiência e simpatia. Elegantíssimos na atitude e nos
uniformes da LH, dentre os melhores do mundo.
7-Refeições: Nota 10.
Sou um cabra muito exigente com comida e bebida: a vida
é simplesmente curta demais para se comer e beber mal.
Vai aqui outro redondo 10 para companhia alemã e
sobretudo, para a apresentação imaginativa do cardápio
de Herr Bühner. Wunderbar!
8-Bebidas: Nota 8.
Carta inteligente, como todas aquelas cuidadas por "Herr"
Del Monego. Dos três que provei, o branco italiano
agradou bastante. Os outros estavam apenas corretos.
9-Necessaire: Nota 7.
Compacta e com apenas o básico. Reflete talvez a
necessidade de cortar custos.
10-Desembarque: sem nota.
Fiquei para trás, visitando o cockpit. Quando finalmente
deixei o avião, todos já haviam desembarcado, portanto
não dá para julgar.
11-Pontualidade: Nota 10.
Chegamos quase 20 minutos antes da hora prevista.
Nota final: 9,40
Voos como este LH 418 ficam na memória. É raro encontrar
um serviço perfeito, do começo ao fim, e este foi um
deles. A nota altíssima reflete isto. A Lufthansa e seu
novo 747-8 mostram que não é a toa que a companhia
deverá ser uma das cinco principais empresas aéreas
sobreviventes na Europa. O doloroso processo de
consolidação no setor, bem como a severa recessão
enfrentada pelo bloco europeu, mostram que o mar não
está para peixe, ou melhor, o céu parece não estar para
avião. Mas o fato é que a Deutsche Lufthansa sempre
soube mostrar que é possível aplicar os preceitos
germânicos de qualidade, eficiência e seriedade em cada
voo, em cada novo produto, em cada inovação. Sempre fui
fã da "Lufti", do 747 e daquelas companhias que optam
por trabalhar por um produto de qualidade, acima de
tudo. Sucesso e vida longa aos seus 747-8
Intercontinental, Lufthansa. Pelas próximas décadas, é
assim que o mundo deveria viajar.
Lufthansa PrivatAir 408
A manhã de sábado, 2 de junho de 2007, estava radiante
na Europa Central. Uma frente fria havia recém passado,
deixando o ar fresco e os céus azuis. Perfeito para
voar, mais perfeito ainda para voar com estilo. Com
muito estilo. Hoje seria dia de experimentar um serviço
pra lá de exclusivo: o jato executivo que a Lufthansa
arrenda da Privatair e coloca à disposição dos
passageiros nas rotas Düsseldorf - Newark e Düsseldorf -
Chicago. Ou, oficialmente, para os íntimos, o LCJ:
Lufthansa Corporate Jet. Esse é o Flight Report que o
Jetsite traz agora para você.
Como é que é? Jato executivo da Lufthansa? Sim, é isto
mesmo. A Lufthansa arrenda um ACJ, um Airbus A319
modificado para transporte VIP. A empresa descobriu, há
alguns anos, que seria mais lucrativo arrendar um Airbus
Corporate Jet, a versão executiva do conhecidíssimo
A319, e transportar entre Düsseldorf e New York somente
passageiros de Business Class, deixando o transporte de
passageiros de classe econômica aos cuidados dos
múltiplos serviços da empresa desde seus dois hubs
principais, Frankfurt e Munique.
A Lufthansa então fechou um acordo com a empresa suíça
Privatair, especializada neste mercado, e sub-arrendou
duas aeronaves. Os jatos ligam diariamente, sem escalas,
a cidade de Düsseldorf à New York (Newark) e Chicago (O`Hare)
e vice-versa. Estão equipados com apenas 48 assentos.
Uma fortuna? Não exatamente. A Lufthansa cobra o preço
de uma classe executiva comum pelos serviços. Seria esta
a minha "dura" missão neste sábado: experimentar o
padrão de conforto e exclusividade que somente uma
operação tão única como esta pode proporcionar.
Vamos lá. O check-in foi feito as 06h30 da manhã num
quiosque de auto-atendimento. Em segundos, selecionei
meu assento e recebi meu boarding pass. O único trabalho
a seguir seria depositar minha mala na esteira. Rumei
para a posição dedicada que a Lufthansa tem no enorme
saguão, sinalizada "Lufthansa First Class - Düsseldorf -
New York." O balcão encontrava-se deserto. Apenas uma
jovem e sorridente funcionária parecia me aguardar,
sorriso estampado no rosto, apesar do horário
desgraçado. Recebeu minha mala, conferiu meu passaporte,
sorriu para mim e pronto: tudo certinho.
Fui então para o terraço do terminal de Düsseldorf para
a "caçada"matinal de imagens, pelo menos até as 09h00,
quando deveria passar pela imigração e me dirigir à sala
VIP. Isto também transcorreu rapidamente e pouco tempo
depois adentrava o Senator Lounge, destinado aos
passageiros de Primeira Classe da Lufthansa e, também,
aos usuários do Lufthansa Corporate Jet.
As 09h40 fui para o portão A88 e, em lá chegando, nem
parei: o embarque havia começado naquele instante. Dessa
forma, fui o primeiro a embarcar no A319. Fui recebido
pela Flight Director (purser) do vôo, Mirja Hoerhammer.
Uma simpatia. Competente, muito bem preparada, falando
um inglês impecável, foi uma verdadeira "escorte" até
meu assento, 1A. Apresentou-me seus três colegas
comissários e então ao comandante do vôo, o britânico
Alex Wells. O cmte. Wells não apenas deu-me as boas
vindas como (fato raro) convidou-me para uma visita ao
cockpit (ainda em solo), onde apresentou-me ao primeiro
oficial Chris Gautschi. Mais simpático, impossível.
A aeronave em que voaríamos era o A319CJ de matrícula
D-APAD. Entregue à Privatair em junho de 2003, estava
imaculado. As 48 poltronas, muito confortáveis, também
não apresentavam sinais aparentes de uso excessivo.
Apenas o plexiglass que protegia minha janela poderia
estar mais novo. Não estava sujo, mas sim gasto pela
utilização.
Quando percebi que havia 20 assentos disponíveis no vôo,
resolvi mudar de lugar. Passei a ocupar o assento 6F,
sobre a saída de emergência. Um drinque de boas vindas
foi bem aceito. O embarque de apenas 28 passageiros foi
feito em um par de minutos e logo as portas do D-APAD
eram fechadas e a ponte de embarque desconectada. O
trator empurrou a aeronave para o pátio as 09h58, dois
minutos antes do horário de partida. O motor 2 foi
acionado primeiro, e logo depois, o Nº1. Estávamos
prontos. Ah, se voar fosse sempre tão fácil assim...
Mais quatro minutos e iniciamos o taxi para a pista 05R.
Enfrentamos algum tráfego à nossa frente mas nada de
grave. Precisamente as 10h13, o cmte. Wells, acelerou o
par de motores IAE V2500 e o A319 iniciou a corrida de
decolagem. Exatos 32 segundos depois o vôo 408 ganhou os
azuis céus de Renânia-Vestfália. Pesando 71 toneladas,
4.500 kg abaixo do peso máximo, não foi muito difícil
para o Airbus ultrapassae a VR de 143 nós (a V1 havia
sido de 138 nós). Nossa V2 ou Safety speed nesta
operação foi a mesma que a VR. O D-APAD fez uma suave
curva ascendete para a esquerda, em cumprimento à saída
por instrumentos (SID) Sonen 2.
A tripulação do Lufthansa Corporate Jet aguardava apenas
o apagar do sinal de afivelar cintos para iniciar o
serviço. Quando o Airbus atingiu seu nível de cruzeiro,
360 (36.000 pés) os comissários colocaram-se em marcha e
iniciaram o serviço de bordo. A purser Mirja
supervisionava seus três subordinados. Somados os dois
pilotos, eram 6 tripulantes e mais os 28 passageiros,
perfazendo um total a bordo (POB, People on Board) de 34
pessoas.
Ao contrário da primeira classe, onde a Lufthansa opta
pela personalização absoluta do serviço, no Lufthansa
Corporate Jet são os comissários que decidem quando os
passageiros farão suas refeições e a tripulação deste LH
408 não perdeu um segundo. Logo um cardápio foi
apresentado e uma rodada de bebidas oferecida. A seguir
as entradas foram servidas. Eram duas opções: camarões e
aspargos marinados ou terrina de galinha com alcachofras
e cogumelos. Em seguida, três pratos principais:
bacalhau fresco com um excepcional molho curry frutado,
ragú de legumes e batatas cozidas; peito de frango
grelhado com cogumelos Morel e maças cozidas;
finalmente, um prato vegetariano de massa com molho de
legumes, ricota e cogumelos. Em seguida, um carrinho com
três tipos de sobremesas: uma seleção de queijos, salada
de frutas e uma torta Savarin de maracujá. Café, chás,
biscotti, chocolates e a conta, por favor. Prosseguimos
nosso vôo na Privatair com a continuação do serviço de
almoço.
O A319 cruzava sereno sobre um manto branco que,
infelizmente, cobriu toda a visão durante boa parte da
viagem. Melhor para me concentrar na tarefa de provar o
almoço servido. Hora de escolher o prato principal.
Experimentei os camarões e o bacalhau. Excelentes,
mesmo. Os cardápios da empresa, nos vôos com origem na
Alemanha, são uma atração à parte. A Lufthansa confiou a
preparação das receitas servidas à bordo à chefes
estrelados, profissionais que cuidam das cozinhas de
famosos restaurantes e hotéis do mundo. Neste LH 408,
por exemplo, as receitas foram assinadas pelo chef
Andreas Krolik, do Hotel, restaurante e cassino Brenner,
de Baden-Baden. Gostei muito: leves e saborosas.
A carta de vinhos, assinada pelo sommelier da Lufthansa
Markus del Monego apresentava a champagneJacquart Brut
Mosaique; três brancos excelentes: um Kabinett Trocken,
Schloss Vollrads Riesling 2006, o Chardonnay Valley Oaks
da casa Fetzer, 2005. O outro branco era um chileno
super competente, Baron Philippe de Rotschild, safra
2005. Os tintos eram dois. O francês Château Pédescleaux,
um Cru Classé de Pauillac, 2001, lindo. Da mesma safra,
o merlot Indian Wells Château Les Traverses, Cru
Bourgeois do Médoc e um australiano, o ótimo Presidents
Selection de Wolf Blass, safra 2002.
A carta prosseguia com a seleção de várias outras
bebidas, dentre as quais Johnnie Walker Black Label, o
bourbon Jack Daniel`s, Cxogna Otard VSOP, uma
Kirschwasser (aguardente de cereja típica alemã
Schladerer e o gin Bombay Sapphire Dry. O porto era um
Graham`s e havia ainda Bailey`s.
Findo o almoço, lá fui eu examinar o o sistema de
entretenimento de bordo. O sistema é uma novidade: é um
HD com monitor embutido, auto-suficiente e conectado à
tomada individual que há em cada poltronae batizado de
Lufthansa Mobile Media World. Ele oferece 10 filmes do
tipo "blockbuster" de longa-metragem e 12 canais de
áudio. Há ainda a opção de jogar videogames ou consultar
canais de informação. Tudo funcionou perfeitamente, com
ótima imagem e som digital. Fui ao banheiro e então
utilizei a necessaire oferecida. Bem compacta, com os
ítens de primeira necessidade num vôo: tapa-olhos,
tapa-ouvidos, meias, dentifrício, escova dental. O
básico.
De volta ao assento 6F, configurei minha poltrona para a
posição de reclinação máxima. Não reclina e vira cama,
mas quase. Forma na verdade uma rampa, onde é possível
descansar com bastante conforto. Dormi duas horinhas e
acordei bastante descansado.
Mais uma refeição foi oferecida, difícil de definir. Se
pelo horário da Europa, seria um lanche. Ou um brunch se
os relógios marcassem o horário de New York, que estava
com seis horas a menos que a Alemanha. Seja como for, as
opções eram bem distintas: um prato leve de frios e
peixes defumados com salada, ou um goulasch com vegetais
cozidos. Acertou quem acha que fiquei com a segunda.
Estava muito boa.
Pouco depois de finda essa rápida refeição, o Airbus
iniciou sua descida. Atingimos o TOD (Top Of Descent)
exatamente às 17h15 de Dusseldorf, ou 11h15 em New York.
Uma pena. Este foi outro vôo que não vi passar. A
impecável tripulação comandada por Mirja veio dar o
adeus, com a mesma atitude profissional e simpática
demonstrada durante todo o vôo.
O D-APAD foi negociando sua chegada à Newark, meu
aeroporto preferido para chegar à Manhattan. É menos
congestionado que JFK e para chegar ao sul de Manhattan,
onde costumo ficar, é mais na mão. Sem tráfego pesado,
entramos na reta final para a o aeroporto Liberty
International, cumprindo a STAR Shaff 2 para a pista
22L. Pousamos as 12h06, hora local, cumprindo a etapa de
3.440 milhas náuticas de vôo em 07h53 minutos. E o que é
melhor: chegando bem antes do horário previsto, 12h45.
Cinco minutos depois, numa tarde de muito sol e calor de
30ºC, o D-APAD cortava seus motores no portão.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Nota 10.
Tudo muito simplificado pela adoção de E-TKT.
2-Check-In: Nota 10.
No auto-atendimento, foi super rápido.
3-Embarque: Nota 10.
Perfeito.
4-Assento: Nota 10.
Grande, funcional e confortável. Ótima reclinação.
5-Entretenimento: Nota 8.
Muito bacana o novo "Media Center" distribuído à bordo.
Claro, como unidade individual, é AVOD em sua
programação e controle. Agradou.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Perfeitos. A Flight Director Mirja foi soberba.
7-Refeições: Nota 8.
Esperava mais. Mas descobri que em função do espaço
limitado à bordo, as quantidades não podem ser mesmo
maiores.
8-Bebidas: Nota 8.
Boa variedade, ótimas escolhas feitas pelo competente
Markus del Monego.
9-Necessaire: Nota 6.
Design moderninho, contém o básico.
10-Desembarque: Nota 10.
EWR sempre mostra a que veio: do toque na pista ao taxi
zarpar: 24 minutos! Sem fila de imigração, mala na
esteira, sem andar 40 km entre a aeronave e a calçada.
11-Pontualidade: Nota 10.
Saiu cravado e chegou bem antes do horário.
Nota final: 9,09
Comentário final:
Uma experiência e tanto: atravessar o Atlântico Norte
numa aeronave normalmente usada em vôos curtos, o A319,
não acontece todo dia. Claro, este não era um A319
comum. Nem o serviço: ele pode ser chamado de tudo,
menos de comum. Um padrão excepcional de conforto,
atenção e espaço individual. E a vantagem que sempre é
chegar e sair por Newark, sempre descongestionado, tudo
funcionando. Sim, o Lufthansa Corporate Jet é para
poucos. Na hora de atravessar o Atlântico Norte, não é
difícil pensar neste serviço como um dos melhores e mais
exclusivos do mercado.
Gianfranco Beting
Lufthansa LH503 CLASSE ECONOMICA
Você quer me ver feliz? Então diga assim: Gianfranco,
hoje você vai voar. Você quer me ver realmente feliz?
Então complete a frase: Vai voar de Lufthansa. Tem sido
assim desde o dia 12 de dezembro de 1979, quando nas
asas da empresa alemã fiz meu primeiro vôo.
Inesquecível, claro. Numa tarde escaldante de verão,
lembro como hoje a emoção de garoto louco por aviões.
Saí andando pelo pátio de Viracopos e subi pela escada
num DC-10-30, o coração apertado de emoção: e o choque
de entrar na cabine, gelada pelo ar-condiconado,
prenúncio do inverno europeu do outro lado do Atlântico.
Era o fascínio, o cheiro de novo, de Primeiro Mundo. Lá
fora, na sua fuselagem de alumínio polido, via-se
claramente seu prefixo: D-ADJO. O número do vôo era este
mesmo de hoje: LH503. O garoto de 1979 virou homem,
casou, teve filhos. Só a paixão pelos aviões é que
mudou: aumenta a cada dia.
As comparações são inevitáveis. Nestes anos todos, os
aeroportos servidos pelo LH503 mudaram: apenas o destino
permaneceu o mesmo, Frankfurt, porque naquela época, o
trijato da McDonnell Douglas saía de Viracopos e parava
no Galeão, depois em Dakar, Senegal, antes de chegar à
sua base. Era uma viagem longa e cansativa.
A aviação mudou demais nestas décadas: cada vez mais
eficiente, cada vez mais competitiva. E hoje, quase 23
anos após, constato da minha poltrona no Airbus A340 que
o básico continua o mesmo: voar longos trechos na classe
econômica não é fácil, por melhor que seja a companhia.
Falemos então deste vôo. O LH503 é o quinto vôo non-stop
mais longo de toda a rede da Lufthansa. Com 6093 milhas,
perde apenas para Lima (6665), Manila (6399), Singapore
(6387) e Portland (6277). Não é a toa que toda a
performance do A340-300 seja normalmente exigida, o que
garante quase sempre decolagens de GRU no peso máximo
operacional da aeronave. Consequentemente, o grande
quadrimotor da Airbus, famoso por sua, digamos assim,
conservadora relação de peso/potência, costuma passar os
primeiros minutos no ar parecendo saudoso da terra, como
um filho do colo materno... As subidas são sempre
morosas, especialmente no calor de uma tarde de verão.
Nossa partida de GRU deu-se com o peso máximo, 271
toneladas. O A340-300X de prefixo D-AIGU teimou em
vencer a gravidade: quando o fez, carregava nas costas
uma lotação de 100% dos assentos. Na Lufthansa, o modelo
tem a configuração de 8 poltronas na primeira classe, 54
na executiva e 173 na econômica. Com um número crescente
de passageiros, a empresa alemã já anunciou a volta do
747-400 ao mercado brasileiro.
O nosso A340-300 não era dos mais antigos da frota,
cujas primeiras unidades entregues já contam com mais de
10 anos. Ao contrário, o Golf Uniform foi entregue em
fevereiro de 2000, parte de uma encomenda de 34
aeronaves que faz da Lufthansa a maior operadora do
tipo. Mas não só: pode-se dizer que a empresa alemã foi
a companhia aérea que mais influência teve no desenho da
aeronave junto à Airbus, de quem é a maior e mais fiel
cliente. O A340 deve muito à Lufthansa e a Lufthansa
deve muito ao quadrijato da Airbus.
O check-in foi rápido e cordial, mas sem muita simpatia:
na base do business as usual. Procedi para o Portão 20
num aeroporto de Guarulhos quase vazio. Naquele horário
não há muitas partidas internacionais no Terminal 2, o
que descongestiona e agiliza os procedimentos. Havia
fila sim, mas para embarcar. Porém, com disciplina
tipicamente teutônica, andou rápido.
Entrei na passarela telescópica que me levaria ao grande
quadrijato: a primeira surpresa foi o número de jornais
e revistas empilhados à disposição dos passageiros: nada
menos que 12 jornais, de pelo menos 6 países. Além
disso, no mínimo 10 títulos de revistas foram colocadas
à disposição dos passageiros: da Elle alemã a "Chiques e
Famosos", passando pela Time, Newsweek, Business Week e
outras menos cotadas. Muito bom, coisa difícil de se ver
hoje em dia.
O tempo para nossa partida se aproximava, e o embarque
já estava completo. O speech do Cmte. foi feito em
inglês e alemão, e um comissário completou em português:
a LH sempre tem tripulantes que falam as principais
línguas das muitas rotas internacionais servidas pela
companhia.
Portas fechadas, as 13:56, com seis minutos de atraso, o
trator colocou as 12 rodas do D-AIGU em movimento.
Taxiamos finalmente as 14:01, rumo a pista 27R, um longo
percurso vencido em 13 minutos de taxi. Parados na
cabeceira, era hora de partir. Eram 14:14 quando as
manetes foram abertas. Lentamente o pesado Airbus foi
ganhando velocidade.
Nossa longa travessia começara. A trajetória de nossa
subida foi alterada para evitar o encontro com várias
formações cumulus nimbus, o que fez com que nosso A340
fosse ganhando altura num lento balé com as pesadas
formações. Esta verdadeira dança fez com que fizéssemos
várias curvas, não só durante a nossa subida, mas já na
primeira altitude de cruzeiro, de 33.000 pés. Lá fora,
vários cumulus nimbus obrigavam a tripulação a
constantemente alterar a proa do Airbus. Abaixo de nós,
a imensidão do Brasil se fazia ver numa tarde clara,
límpida. Passamos próximo à Belo Horizonte e depois
tomamos a proa de São Luiz do Maranhão, deixando a costa
brasileira a leste da capital da terra dos Sarney por
volta das 17:00, hora de Brasília.
A esta altura, o serviço de almoço já havia sido
encerrado. Começara um pouco antes das 16 horas. O
service-flow da LH consistiu numa passagem do cart de
bebidas, oferecendo drinks, vinhos ou refrigerantes, sem
qualquer acompanhamento, nem um saquinho de amendoim.
Depois foi a vez da passagem das refeições propriamente
ditas, acompanhadas de mais bebidas.
Uma saladinha de camarões doces, de rio, abria a
refeição, de sabor excelente mas de espartana proporção.
A bandeja de 2/3 do tamanho antigo, nos deu saudade dos
tempos do DC-10-30. Precavido, havia almoçado antes no
McDonald`s do terminal.
Neste vôo, havia duas opções de prato principal: um
macarrão com molho branco acompanhado de peito de frango
ou cubos de contra-filé com legumes e batatas, opção que
preferi. Um cabernet-pinotage 2001, sul africano, fez a
companhia e estava corretíssimo.
Eram 17:20 quando o D-AIGU adentrou no hemisfério norte,
cruzando a linha do Equador e sendo recebido pela
contumaz turbulência moderada, típica dos vôos sobre a
ITCZ (Inter-Tropical Climate Zone). Durante o almoço, o
sistema de entretenimento (centralizado, na classe
econômica) exibia desenhos clássicos de Walt Disney.
Pouco depois, começou o primeiro dos dois filmes
exibidos à bordo. No vôo de hoje, teríamos " Possessão"
com seu áudio em alemão e inglês e " As Manas Rock",
este último em inglês e português.
Com o primeiro filme em andamento, olhei para o relógio
e constatei que ainda faltavam quase oito horas para a
chegada: o vôo havia sido estimado pelo comandante em
11:30 de duração, uma das mais longas etapas da aviação.
Lá fora, estávamos no meio do Atlântico Sul, numa
posição quase equidistante da costa brasileira e da
África.
A noite passou e fomos acordados pela tripulação com o
serviço de café da manhã, embora no meu relógio e no meu
estômago fosse ainda meia noite. Mas no horário alemão,
já eram 04:00 da manhã e faltava pouco mais de uma hora
para a nossa descida. Olhei para fora e fui avistando as
luzes de várias cidades do norte de Portugal, que
reluziam lá embaixo. A noite estava escura, lua nova, e
não havia nuvens: olhar para baixo era ver um mar de
luzes amarelas, marcando as aldeias e pequenas cidades
sobrevoadas. O frühstuck foi servido já sobre a Baía de
Biscaia. Na bandejinha pequena, pães, geléias, frutas,
uma ometete com bacon, iogurte e bolachas competiam por
espaço. Sobrou comida, faltou finesse: a apresentação
poderia ter sido mais esmerada. Ou a bandeja, um pouco
maior. Mas confesso que estava tudo saboroso.
O Airbus cruzava a 36.000 pés, com uma velocidade em
relação ao solo de 600 milhas, quando às 04:58, no
través da cidade de Reims, França, começamos a descer
rumo à Frankfurt, distante outros 295 quilômetros de
nossa posição. Nos monitores espalhados pela cabine, o
sistema de informação de progresso de vôo conhecido como
"Airshow" deu lugar à informações de chegada e conexões
com outros vôos: Na tela aparecia nosso Gate (B42) e os
horários de partida e Gates de vários vôos de conexão
com o LH 503.
Eram 05:20 quando os Speedbrakes entraram em atuação:
eles são utilizados pela tripulação quando se faz
necessária uma rápida perda de altitude. Passados mais
nove minutos, as rodas principais do D-AIGU entraram em
contato com a pista 07L do aeroporto de Frankfurt/Main,
onze horas e quinze minutos depois de deixarem a pista
em Guarulhos. No horizonte, uma tênue barra vermelha
anunciava o começo do dia e o final da longa viagem do
LH503.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Nota 10.
Emissão e escolha de assentos feita diretamente no CTO
(City Ticket Office) da Lufthansa em São Paulo, atendido
com extrema cortesia pelo agente de reservas Périco.
2-Check-In: Nota 8.
Eficiência nota 10, simpatia nota 6: média nota oito.
3-Embarque: Nota 10.
Rápido e eficiente.
4-Assento: Nota 6.
Bancos Recaro, modernos e bonitos, descanso regulável
para a cabeça, pitch correto, mas depois de quase 12
horas... não deixam saudades.
5-Entretenimento: Nota 7.
Pontos altos pelos 12 jornais e mais 12 revistas
oferecidas. Sistema de video centralizado: quem faz a
seleção é companhia, não o passageiro.
6-Serviço dos comissários: Nota 7.
Eficientes, corretas, mas distantes: enfim, alemãs.
7-Refeições: Nota 6.
Saborosas, mas no caso do almoço, porções pequenas
demais.
8-Bebidas: Nota 6.
Correto: cerveja, whisky, vinhos, sucos, refrigerantes.
E um ótimo vinho tinto.
9-Necessaire: Sem nota.
Não há.
10-Desembarque: Nota 10.
Rápido, ágil. Informações de conexões nas telas durante
o vôo sempre ajudam.
11-Pontualidade: Nota 10.
Embora saindo do Gate 6 minutos depois do STD, chegamos
um minuto antes do STA.
Nota final: 8,00
Comentário final: A nota oito exprime o que penso dos
serviços na classe econômica da Lufthansa. Esta é uma
ótima nota, separada de uma nota 10 apenas por detalhes.
Nos meus muitos vôos com a companhia, (antes deste foram
exatamente 50 trechos) ela nunca me deixou na mão:
nenhum cancelamento, atraso técnico, inconveniência,
nada, nunca: sempre operacionalmente impecável. E olhe
que desde 1979, voei em todo tipo de vôo da companhia,
em todo tipo de equipamento: do Fokker 50 ao 727-200, do
747-400 ao 737-100: sempre consistente.
Séria, eficiente, germânica demais? Talvez. Há
companhias com serviço mais caprichado, há companhias
com serviços mais inovadores, há companhias aéreas com
passagens mais baratas. Mas se chegar inteiro e sem
surpresas, sem contratempos, enfim, sem qualquer tipo de
problema é importante para você (e para quem não é?)
então permita-me recomendar a Lufthansa.
Gianfranco Beting
Lufthansa LH527 CLASSE EXECUTIVA
Um sábado glorioso de outono em São Paulo - a mais bela
época do ano na cidade, não, melhor, em qualquer cidade
- deixava o céu de um azul quase obsceno. O sol forte
elevou a temperatura a 30ºC - uma tarde perfeita para
fotografar aeronaves - e mais perfeita ainda para voar
nelas.
Hoje era dia de voar Lufthansa - e na mais longa
aeronave da aviação comercial: o moderníssimo A340-600,
recém introduzido nas rotas do Atlântico Sul da empresa.
Hoje voaríamos direto de Guarulhos para Frankfurt, no
vôo LH 527, serviço que se origina em Santiago do Chile,
faz escala no hub sulamericano da Lufthansa (GRU) e
prossegue para a base operacional da empresa alemã,
Frankfurt, onde chega depois de 11 horas de vôo.
Check-in feito com alguma demora - poucas posições para
atender o vôo - e sem muita inspiração. De qualquer
modo, fui para a sala VIP que a empreesa divide com a
Varig em Guarulhos - nada de especial nela, por sinal -
e aguardei a chamada. Embarque rápido e eficiente, pelo
portão 20. Lá nos aguardava o D-AIHK, um dos mais novos
A340-600 da empresa, entregue apenas 11 meses antes. O
jato, de tão novo, não havia nem sido batizado - uma
tradição da empresa.
Minha poltrona, 10A, ficava na primeria fila da segunda
cabine do jato, logo atrás da porta de embarque
principal. Esta pequena cabine, com apenas 12 lugares de
classe executiva, mais parecia um jato executivo: um
ambiente pequeno, quase privativo. Fomos recebidos com
cortesia e educação, uma característica da Lufthansa. A
cabine, como não poderia deixar de ser num jato tão
novo, brilhava de tão limpa, imaculada. Uma ótima
primeira impressão.
Um Sekt ou suco de laranja para receber os passageiros,
o A340-600 terminava de receber as centenas de
passageiros que iriam lotá-lo à capacidade -um feito
notável, se considerarmos que a Lufthansa agora tem 2
vôos diários entre São Paulo e Frankfurt - outro é o
tradicional LH502/503, operado com o 747-400. Este LH
527 partiu com 66 passageiros na executiva (total 72
assentos) e 258 na econômica e mais quatro crianças
(total 263 assentos).
Embarque completo, o cmte. Fischer saudou os passageiros
e informou que estávamos prontos para a partida. Ao
nosso lado, outro gigante: um A340-600 da SAA South
African, matriculado ZS-SNH, deu a partida pouco antes
do LH 527 chamar o solo GRU e pedir autorização para
push-back e acionamento.
Finalmente, as 18h14, com 9 minutos de atraso em relação
ao STD, o trator empurrou o gigantesco quadrijato pátio
afora. A noite já havia deitado seu manto sobre
Guarulhos; o que restava do dia era um barra vermelha a
oeste, para onde Fischer aproou o gigante, ao inciar o
taxi as 18h23. O A340 decolaria pela pista 09L e a
mudança de pista deu-se justamente pouco antes de nossa
partida - O LH 527 foi o primeiro a sair pela 09 naquele
fim de tarde - Guarulhos operou pela pista 27 por toda a
tarde do sábado, 14 de maio.
Cinco minutos depois, alinhamos na 09L e sob o comando
de Fischer, os quatro silenciosos motores Rolls Royce
Trent empurraram o enorme jato pista afora, acelerando
com notável ímpeto e muito pouco ruído para a potência
gerada. O A340 decolou com folga, apesar de seu grande
peso, e subiu direto, na proa 90, por mais de 5 minutos
até que a potência dos motores foi retirada da posição
de máxima potência. Somente então o comandante
selecionou a posição "climb", o que reduziu a potência,
sim, mas também, o mais importante, reduziu em muito o
desgaste dos motores. Além disso, o nível de ruído em,
solo também foi sensivelmente reduzido.
Muito bem: havia tempo de sobra agora para testar as
novas e confortabilíssimas poltronas/leito da nova
Business Class da Lufthansa. São, segundo a própria
empresa, as maiores em serviço atualmente, reclinando-se
e transformando-se em camas de 2m de comprimento. De
fato, a largura e a disposição delas, seguindo um padrão
normal, isto é, tradicional de layout na cabine, fazem
delas as mais confortáveis que já experimentei em classe
executiva. Assim, é certo afirmar que muitas empresas
venham convertendo suas aeronaves para apenas duas
cabines: essas super executivas, verdadeiras primeiras
classes disfarçadas, e a tradicional classe econômica.
O "Hotel Kilo" estabilizou a 35,000 pés, altitude
inicial de cruzeiro que ele atingiu diretamente - bem
diferente do A340-300, incapaz de subir direto à cruise
altitude. Afinal, os motores Trent fazem toda a
diferença nos A340-500 e 600 - palavras dos próprios
pilotos.
A tripulação então veio distribuir os cardápios, que
apresentavam duas opções de entrada, acompanhadas de uma
salada de folhas; três opções de pratos principais, um
peixe, uma carne e uma massa, essa sendo a opção
vegetariana; e três opções de sobremesas, uma torta de
chocolate, frutas e queijos ou salada de frutas.
Boa carta de vinhos, apresentando opções do Velho e do
Novo Mundo. Fiquei com um Chardonnay californiano
acompanhando minha entrada - um delicado surubim
defumado e um Trapiche Roble 2001 Malbec, Argentino, que
não fez feio, com seu corpo razoável para relaçar o meu
filé mignon com cuscuz de frutas, por sinal bastante
honesto. Chamou muita atenção a quantidade de vezes que
os tripulantes passaram oferecendo-se para completar os
copos, um detalhe muito importante na minha opinião de
bom bebedor. Continuamente, lá vinham eles completando
os copos, fazendo o refil de água e vinho. Contei,
durante o jantar, seis passadas - leia-se , seis copos:
dois de branco, três de tinto, um de porto. E depois,
mais uma, a final, oferecendo chá ou café, chocolates e
várias opções de "schnapps" - os digestivos. Quando
terminou o jantar, acabáramos de deixar a costa
brasileira para trás, sobrevoando a cidade de Mossoró,
RN, e entrando no longo trecho de sobrevôo do Atlântico
Sul.
Aproveitei o jantar para testar o novo sistema de
entretenimento da Lufthansa. Ele segue aúltima
tendência, o padrão AVOD - Audio Video On Demand. Como
já explicado nestas seção, é o passageiro quem controla
a programação: avanço, recuo, parada, seleção de canais,
etc. Fiquei com um clássico, "Easy Rider" com Peter
Fonda, Jack Nicholson e Dennis Hopper. E, depois, um
interessantíssimo documentário do Discovery Channel,
dedicado a mostrar os melhores momentos da história da
"nova" Lufthansa, que completou 50 anos em 1ºde Abril de
2005. Cenas espetaculares de Convairs, Connies,
Viscounts e Boeings 707, tão bem filmadas (a cores) que
pareciam ter sido feitas hoje, fizeram o tempo voar.
Peguei o modesto saquinho de plástico com "ítens de
toucador" - essa é velha - e fui para o espaçoso
banheiro da classe executiva: até janela tem. Hora de
voltar ao assento e comprovar o conforto da cama. Ao
toque de um botão, o assento desliza para uma posição
totalmente horizontal, ainda que num ângulo descendente
em relação ao piso da aeronave. Mesmo assim,
confortabililíssima, o que permitiu cinco horas de sono
ininterrupto. Por sinal, mais do que eu consigo dormir
na minha própria cama, eu que sou pai de dois bebês.
Duas opções de café da manha: omelete ou frios e
queijos. Tudo bem apresentado, correto. Duas passadas de
bebidas e mais duas de oferecendo uma enorme cesta de
pães e a o café da manhã foi retirado quando o Airbus já
sobrevoava Genéve, 45 minutos antes do pouso.
Iniciamos a descida para Frankfurt as 09h49 de uma feia
manhã de domingo. A temperatura local, 10ºC, não faria
supor que já estávamos em plena primavera européia.
Mesmo assim, entramos na longa fila de tráfego antes de
pousarmos suavemente na pista 25R as 10h35,
perfeitamente dentro do horário. Um longo taxi seguiu-se
até pararamos no portão B38. Prossegui para o
desembarque e ao sair da aeronave, conclui mais um vôo
excelente na Lufthansa.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Nota 10.
Feita pela Lufthansa em São Paulo.
2-Check-In: Nota 3.
Deixou a desejar. Lento, impessoal, enfim: abaixo da
média.
3-Embarque: Nota 10.
Foi bem rápido, ordenadamente.
4-Assento: Nota 10.
O ponto alto do novo padrão da Business Class.
5-Entretenimento: Nota 9.
Muitos jornais e revistas, sistema de video individual,
On-Demand: o pax faz a seleção, mas e controla a
exibição.
6-Serviço dos comissários: Nota 8.
Na tradição da LH: muita eficiência e alguma simpatia.
7-Refeições: Nota 8.
Saborosas, bem apresentadas, corretas.
8-Bebidas: Nota 8.
Bom padrão, mas nenhum que tenha realmente brilhado.
9-Necessaire: 5.
A qualidade caiu muito. Hoje é um saquinho de nylon, com
objetos largados dentro.
10-Desembarque: Nota 8.
Rápido. Malas na esteira 30 minutos depois.
11-Pontualidade: Nota 10.
Chegamos cravado do STA.
Nota final: 8,09
Comentário final: você, caro leitor do Jetsite, já sabe
o que penso da "Lufti": quando o assunto é serviço,
encontro algumas empresas mais inspiradas. Mas quando se
trata de viajar com a preocupação de chegar e sair
pontualmente, sem sustos, sobressaltos ou
inconveniências, é difícil pensar numa opção melhor que
a empresa de bandeira alemã. Hoje, um jato da Lufthansa
decola a cada 6 segundos em alguma parte dos mais de 130
países para onde a empresa opera. Mais de 120.000
passageiros ao dia - 50 milhões por ano - optam por voar
com a empresa que traz o grou por símbolo. Só posso
dizer que a Lufhansa entra na sua quinta década em plena
forma: uma cinquentona enxuta.
Gianfranco Beting
Lufthansa LH591 PRIMEIRA CLASSE
O leitor do jetsite já leu nos outros Flight Reports
que, para se avaliar com segurança um serviço de
qualidade, é preciso escolher um vôo cujo tempo de
viagem seja longo, de preferência acima de quatro horas.
Só assim podemos separar o bom do ótimo, o ruim do
péssimo, um pequeno deslize de uma falha de treinamento
ou, até, de concepção dos serviços. Melhor ainda, para
poder avaliar o conforto e ergonomia dos assentos,
assistir a programação de entretenimento e anotar vários
procedimentos e comportamentos da tripulação.
Mas regras existem para comportar exceções. Digo isto
para informar que este Flight Report pertence a esta
última categoria: a Deutsche Lufthansa, em seu vôo LH591
do Cairo para Frankfurt, só precisou de 03:57 minutos
para dar uma verdadeira aula de como tratar seus
clientes.
Pandemônio no Cairo
A partida do Cairo estava marcada para as 03:30 da
manhã, o que significava estar no pavoroso aeroporto da
capital egípcia as 01:30. Aeroporto é bondade: esta
"rodoviária aérea" não faz jus à importância que o
turismo têm para a economia de seu país. Velho,
mal-conservado, apinhado de pedintes e com autoridades
complacentes com uma "indústria de propinas" formada
para estiolar os viajantes e deles arrancar os últimos
dólares antes de sair do país. Vergonhoso. Em resumo: já
esteve numa pocilga? Cheira melhor.
Voltando, esse horário nos impediu de dormir antes do
vôo. Jantamos em nosso hotel em Giza, aos pés das
Pirâmides, e de lá saímos as 00:30, para a viagem de uma
hora até o aeroporto. Ao descer do táxi, em uma fração
de segundo, surgiu do nada um bando que, sem perguntar,
arrancou nossas malas do carro. Outro bando surgiu com
carrinhos - onde jogaram as malas - e nos conduziram ao
pavoroso terminal, que parece justificar o nome
genérico: ele está em ESTADO TERMINAL. Uma completa
desorganização reinava no saguão. Passageiros de várias
companhias, em filas desorganizadas, gente pedindo
esmola, vendendo papiros e outos souvenirs de gosto
duvidoso... Parecia mais um, com o perdão da imagem, um
mercado árabe do que um aeroporto internacional.
Detalhemos o Bando Carregador de Malas, doravante
simplesmente chamado de BCM. Formado por quatro
elementos, mais até do que os volumes de bagagens, os
integrantes do BCM empurraram as malas e o que viram
pela frente (bandos rivais, passageiros, passantes,
xingando em egípcio. Eu e Sharon, minha esposa,
assistimos ao tele-catch estupefatos. E,lembre-se, eram
01:30 da manhã. Finalmente, chegamos num balcão
timidamente marcado com uma plaquinha que indicava
Lufthansa First Class.
Twenty dollars, Twenty dollars! Gritava o chefe do BCM.
Incrédulo, disse a ele que esquecesse. Ele retorquia,
gritando Five per piece! Five per piece! "Forget it!"
disse eu, passando uma nota de cinco. A nota foi aceita
e em seguida devo ter sido, digamos assim, criticado em
egípcio por minha mesquinhez. Respondi sugerindo ao
chefe do BCM, em bom português, que fosse, digamos,
tomar naquele lugar.
O check-in foi caótico. A funcionária do aeroporto
(note-se: contratada pela Lufthansa, e não funcionária
da mesma) estava com o humor de um camelo: não nos
cumprimentou, gritando "passports! passports!" enquanto
discutia (em egípcio) com um colega que atirava malas na
esteira, tentando talvez treinar arremesso de peso.
Incompetente ao extremo, descobri depois que, embora eu
houvesse pedido encarecidamente, ela não creditou no
sistema as milhas do trecho que voaríamos. Fomos para
uma horrível sala VIP, comum à várias empresas e
aguardamos o final de nossa excelente estada no Egito.
Fomos chamados e embarcamos no D-AIBA, o primeiro
A340-200 recebido pela Lufthansa. Embora não fosse novo
(entregue à empresa em janeiro de 1993), parecia ter
saído de fábrica. Impecavelmente arrumado, até cheirava
bem: rosas vermelhas, o símbolo do serviço Senator da
Primeira Classe da LH, enfeitavam o ambiente e eram
distribuídas aos passageiros. De qualquer forma, os
assentos-cama da primeira classe eram, de fato,
novíssimos.
Nos acomodamos nos assentos do meio da aeronave,
dispostos em pares; os assentos da janela são únicos. O
Cmte. deu as boas vindas e senti o sono chegando. Eram
já 03:20 e o cansaço de um dia inteiro passeando pelo
Cairo pesava nas costas. Mas voar é minha paixão e este
seria meu primeiro trecho na First da Lufthansa. Não
queria perder nada. Uma taça de champagne me fez acordar
e aguardar a decolagem no horário ingrato.
Portas fechadas, saímos do gate antes do previsto.
Explica-se o horário ingrato: estes "red-eyes" com
destino à Europa existem pois decolar de madrugada do
Cairo é a única maneira de extrair das aeronaves seu
máximo pay-load: decolar durante o dia, com o calor do
deserto passando dos 45º, penalizaria demais a
capacidade de carga das aeronaves.
Ufa!
O D-AIBA decolou antes do previsto. Em seguida começou o
show de eficiência da LH: e note que nosso último vôo,
alguns dias antes, havia sido na na Primeira Classe de
um 777-300 da Singapore Airlines. Estávamos mal
acostumados. Mesmo assim, a Lufthansa deu um banho.
A começar, claro, pelos assentos-cama. De desenho
exclusivo, inspirado no alumínio corrugado que cobria a
fuselagem do Ju-52, chamam a atenção por serem
atraentes. Além disso, são fáceis de regular.
Confortáveis, viram camas 180º (minha mulher foi
dormindo non-stop até FRA). A configuração escolhida
pela empresa é 8 assentos na First Class, 42 na Business
e 162 na econômica.
Superlativa mesmo foi a atenção e simpatia da
tripulação. Extremamente elegantes no trato, bem
apresentados, bronzeados, e com ótimo humor as 04:00 da
matina, deram uma aula de como é que se trata com o
público. Passaram o dia descansando, isso era visível:
estavam prontos e bem-humorados para lidar com
passageiros.
Necessaire, cardápios e guias de entretenimento foram
distribuídos com presteza e delicadeza, olhando nos
nossos olhos e sorrindo. Outra coisa: o tempo todo nos
chamando pelo nome: Mr. e Mrs. Beting. Nada do que se
faça dá ao passageiro maior sensação de respeito e
deferência do que ser tratado pelo nome.
Tão logo estabilizamos, os tripulantes voltaram para nos
oferecer o café da manhã. Pedi um serviço rápido pouco
antes do pouso em FRA. "Certamente, Mr. Beting - Que tal
40 minutos antes do pouso - assim o senhor teria 15
minutos para tomar o seu desjejum." Sugestão aceita.
Dormi pouco menos de 01:30 e acordei naturalmente. A
cabine estava escura e ao menor sinal do meu despertar,
um tripulante veio e, abaixando-se ao meu lado,
perguntou em voz baixas se desejava algo. pensei: sim,
que todos os meus vôos fossem sempre assim. E pedi um
copo d`água.
Finalmente, o meu típico frühstück foi servido, com
todos aqueles pãezinhos e geleinhas e compotinhas e
comidinhas que fazem o café-da-manhã na Alemanha ser uma
experiência gloriosa. O A340 perdia altura sobre a
Floresta Negra e lá fora, uma linha vermelha no
horizonte denunciava mais um dia chegando.
Pousamos as 06:37, treze minutos antes do previsto. Me
lembrei de um velho provérbio alemão: Pontualidade é a
Virtude dos Reis. Desembarquei em Frankfurt me sentindo
como um. Só posso dizer: Vielen dank, Lufthansa!
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Nota 10.
Feita em Cingapura - eficiente e cortês: mudamos o vôo e
foi tudo fácil e rápido.
2-Check-In: Nota 5.
Só não foi zero porque naquele aeroporto não dá para
fazer melhor: as equipes são contratadas por
terceirização.
3-Embarque: Nota 7.
Sala VIP é ruim. (Equipe de terra terceirizada).
4-Assento: Nota 10.
Lindo, de design que evoca os "Tante Ju". Só por isso já
ganha nota máxima.
5-Entretenimento: 10.
Muito bom e completo nas telas individuais.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Foram perfeitos, simpáticos, atenciosos.
7-Refeições: Nota 10.
Excelente café. O prato quente foi de salsichas alemãs,
uma paixão minha.
8-Bebidas: Nota 9.
Como libações, apenas uma taça de champagne, depois
apenas chá. Não tem café expresso.
9-Necessaire: 7.
Já vi melhores na Primeira Classe. Da marca Gold Pfeil.
10-Desembarque: Nota 10.
Sorte de pegar um Gate no terminal A (reformado). Malas
na esteira.
11-Pontualidade: Nota 10.
Chegamos antes do previsto.
Nota final: 8,90
Comentário final: A nota baixa vai para o check-in. A
Lufthansa, com pelo menos 3 vôos para o Cairo
diariamente, poderia investir em melhorar o treinamento
do pessoal de terra, ainda que sejam terceirizados. No
mais, impecável.
Gianfranco Beting