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KLM KL792
Bem-vindo ao primeiro Flight Report no Grupo
Airfrance-KLM. Neste primeiro Flight Check de uma série
de dois, experimentamos a World Business Class (WBC)
entre Guarulhos e Amsterdam, a bordo de um Boeing
777-200ER da Real Companhia Aérea Holandesa ou KLM. O
voo de retorno ao Brasil foi feito a bordo de um
777-200ER, na Classe Affaires, a executiva da Airfrance,
que você vai conhecer em nosso próximo Flight Report.
Voe conosco e perceba as diferenças entre estas duas
grandes empresas coligadas.
Quinta feira, 8 de julho. Véspera de feriado em São
Paulo. Em uma cidade cujo trânsito normalmente é
caótico, dias assim costumam ser especialmente
infernais. Saí de casa 4 horas antes do horário previsto
de decolagem, já prevendo uma jornada longa para o
aeroporto. Se em dias de pouco movimento o trajeto de
minha casa para GRU leva 45 minutos, em vésperas de
feriados como este certamente leva-se mais de duas horas
para completar o percurso. Não dei chance para o azar e,
de fato, duas horas depois, as 17h00, entrei no Terminal
1, Asa 1, onde a KLM faz os procedimentos de check-in.
Fui atendido com extrema agilidade e simpatia. No
entanto, recebi a confirmação que meu assento seria
mesmo o 4E, exatamente um dos cinco dentre todos os 35
assentos na WBC que são posicionados no meio do bloco de
três poltronas juntas. Não teve jeito. Nosso voo sairia
completamente lotado na Executiva e não foi possível
trocar de lugar. Se posso fazer uma crítica ao 777 é
justamente esta: na classe executiva, os assentos são
dispostos em arranjo de 2-3-2. E eu justamente fiquei
com uma destas poltronas. Naquele KL 792, nada menos que
281 dos 318 assentos estavam ocupados. Na configuração
da KLM, 35 são da World Business Class, 34 da Economy
Comfort e o restante, da classe econômica. Há
normalmente 13 tripulantes a bordo, sendo 3 pilotos, 3
comissários cuidando da classe executiva e outros sete
servindo na econômica.
Rumei para a sala VIP da Airfrance /KLM e aguardei com
conforto a chamada para o voo 792, que tinha por horário
publicado de partida 19h00. Um detalhe que apreciei: o
responsável pela sala passou duas vezes anunciando
quanto tempo faltava para o embarque, dizendo a cada
ocupante da sala: "faltam 30 minutos para o embarque" e
"faltam somente 10 minutos para embarcarmos". De fato,
as 18h40 fomos chamados para o portão 10.
O Boeing 777-206ER em que voaríamos levava a matrícula
PH-BQI e o nome de batismo "Iguazu Falls" e fez seu
primeiro voo em 24/11/2004. Fui recebido com cortesia
pela tripulação. Na WBC estariam trabalhando três
comissários, lideradas pelo purser, ou chefe de equipe.
Ocupei meu confortável assento, mentalizando o fato de
que teria que passar por cima dos vizinhos para ter
acesso aos corredores, o que não agrada ninguém.
Constatei que na potrona já estavam a necessaire e os
fones de ouvido. Foi oferecida uma bandeja com três
opções de bebidas como drink de boas vindas, bem como o
cardápio. O comandante então avisou, pelo sistema de PA
(Public Announcement) que o voo iria sair um pouco
atrasado, pois sua tripulação havia ficado presa no
trânsito por nada menos que 2 horas e meia, mas que ele
já havia dado ordens para "retirar" um pouco
(precisamente 1.100kg) de combustível de modo a deixar o
777 mais leve, subir mais rápido e chegar a AMS dentro
do horário previsto. Finalmente, as 19h12, as portas do
PH-BQI foram fechadas.
O push-back e acionamento foram iniciados as 19h22, e,
como o trator desconectado, o Boeing 777 iniciou o taxi
as 19h28. Praticamente não havia tráfego e as 19h30 o "Iguazu
Falls" alinhou na pista 09R. Os motores Rolls-Royce
Trent emitiram seu glorioso e cavo rugido, indicando a
aceleração para nossa decolagem. Foram exatos 40
segundos até as rodas da bequilha se descolarem do
pavimento. Nossas velocidades foram 162, 165 e 171 nós.
Partimos com 288 toneladas de peso, pouco abaixo do MTOW
deste 777 que é de 297.550 quilos. Decolamos cumprindo o
procedimento por instrumentos Surf e antes de tomar o
rumo norte.
Tão logo estabilizamos a 33 mil pés, o atencioso purser
passou perguntando se havíamos tido tempo de "escolher
nossas opções de jantar e café da manhã". A KLM inclui
um pequeno cardápio para que o passageiro escolha o que
deseja comer e beber no desjejum. Isso diminui custos e
desperdícios para a empresa aérea e, de quebra, dá a
agradável impressão que o cliente está no controle da
situação. Antes de falar com o passageiro ao meu lado, o
purser completou o contato comigo de forma
surpreendente, dizendo: "Espero que tudo seja ao seu
agrado. Qualquer, mas qualquer coisa mais que possamos
fazer pelo senhor, não hesite em me pedir." Gostei.
Consultei o elegante cardápio (que incorpora uma breve
mas muito bem cuidade carta de vinhos) e fiquei
favoravelmente surpreso pela opções oferecidas. De
entrada, um timbale de salmão defumado com salada; três
opções de pratos quentes: filé mignon com molho de vinho
e tomilho; peito de frango marinado com risoto de
legumes, cevada e brócolis ao vapor; tortellini recheado
de queijo cottage, alho-poró e escarola, servido com
molho Mornay. Havia três opções de sobremesa: uma torta
"Opera", goiaba recheada com musse de goiaba e frutas e
queijos. Fui no filé e estava realmente tenro. Combinei
a goiaba com as frutas e queijos e igualmente aprovei.
A carta de vinhos também ficou muito além do esperado, o
que é raro nos dias de hoje. A champagne era uma
Billecart-Salmon Brut. Nos brancos, um cremoso Bramìto
del Cervo Antinori Chardonnay 2009; um balanceado
Chardonnay - Pinot Noir Boschendal, da África do Sul,
safra 2009. E um espanhol Altozano 2009 Sauvignon Blanc
que não provei. Dois tintos, um sulafricano de
Stellenbosch, o Vergelegen, Cabernet Sauvignon Merlot
2007; e um velho conhecido, o Chateau St. Michelle Syrah
2008, que nunca decepciona. O destaque vai também para
os vinhos de sobremesa: um porto moderno, Flying Pink da
Croft, muito interessante por ser quase um porto light,
rosé; e um glorioso, aromático e elegante Beernauslese,
o Siegeberre 2009 de Rheinhessen, realmente impecável.
Chá e bombons deram cabo ao momento pantagruélico. O
jantar foi efetivamente finalizado as 21h35, enquanto o
jato sobrevoava Petrolina. Poucos minutos depois, por
volta de 22h10, sobrevoamos a Cidade de Mossoró, RN, e
logo a seguir entramos na parte transoceânica do voo.
Naquele instante, o Boeing 777 cruzava a 950km/h em
relação ao solo, pois o comandante afirmou que manteria
uma velocidade mais elevada para compensar o atraso na
saída. Assim, o PH-BQI manteve uma velocidade de Mach
0.84 durante praticamente toda a viagem, com IAS (Indicated
Air Speed) de 500 nós e GS (Ground Speed) variando de
485 a 535 nós, isto em função dos ventos encontrados.
Havíamos deixado GRU com 88.000kg de JET A-1 nos
tanques, 1.100kg a menos que o inicialmente previsto. O
comandante me informou que esta tonelada foi retirada
para que subíssemos mais rápido, e que este 777 iria
consumir em média 7.200kg de JET A-1 por hora de voo.
O horário de chegada é extremamente importante para
empresas como a KLM, que dependem muito de conexões em
particamente todos os seus voos. Pontualidade é um
imperativo para a empresa, assim como naquela noite era
para mim: ao chegar em Amsterdam, teria menos de uma
hora entre o pouso e a partida do meu voo seguinte, com
destino a Paris. Se este voo chegasse mesmo um pouco
atrasado, certamente perderia minha conexão. Com esta
preocupação em mente, o piloto nos avisou que iria
compensar o atraso na partida e que, efetivamente, este
vôo 792 levaria 11h02, após validar estes cálculos
através da leitura dos computadores de bordo.
Aproveitei o jantar e examinei as opções de
entretenimento. Ou melhor, apenas tentei, pois a
variedade é imensa. Mas, de modo geral, fiquei
satisfeito com as poltronas da World Business Class. Os
monitores são de bom tamanho (12 polegadas) e o sistema
de entretenimento permite total controle da programação
pelo passageiro, que pode escolher e controlar toda a
programação de som, video, games e até mesmo
comunicação. Há um ponto de força no assento de tipo
universal (AC) e, destaque-se, a possibilidade de enviar
mensagens SMS desde a poltrona, embora não tenha testado
a facilidade. Ao invés de testar esta novidade, comandei
a posição de repouso total e ela assumiu uma reclinação
de 180º, ainda que não paralela com o piso. De toda
forma, estiquei-me e dormi várias horas de um sono
reconfortador. Acordei quando o Boeing sobreviava a
Espanha a 36.000 pés.
O café da manhã foi servido. Destaque para um prato de
salmão defumado, uma bela omelete com acompanhado de
frutas frescas, pães, bebidas, iogurte e cereais. Na
vertical da Cidade de Vigo, o Boeing fez uma curva à
direita e tomou a proa de Nantes. Atravessamos o norte
da França antes de prosseguir rumo ao espaço aéreo da
Bélgica, um ponto equidistante entre Haia e Rotterdam e,
só então entrar no pesado tráfego com dstino a
Amsterdam. Iniciamos a descida as 11h00 cravado, ou
06h00 horário de Brasília. Lá fora, um dia perfeito de
verão europeu, o sol brilhava intensamente e banhava
toda a região dos Países Baixos.
Manobramos para o pouso cumprindo a chedada por
instrumentos (STAR) Denut para a pista 18R, onde
finalmente pousamos as 11h30, quando a temperatura local
era de agradáveis 27ºC. A longa etapa de 9.751 km foi
efetivamente cumprida em exatas 11 horas de voo,
cravado. Logo estacionamos no portão F04 e então teria
que correr para apanhar meu voo seguinte, o AF 1441, que
sairia do Pier C, portão 9, uma caminhada razoável.
Consegui chegar a tempo justamente de embarcar. E
note-se, em uma aeronave especial: o primeiro A320-111
(sim, um dos raros A320 da série 100, desprovidos de
wingfences) a entrar em serviço, o veteraníssimo F-GFKA,
número de série 005, que voa desde 08/07/1987. Sim,
naquele dia 9 de julho de 2010, ele completava nada
menos que 23 anos e um dia de uso ininterrupto. Nele
ocupei a poltrona 11F (janela), na saída de emergência,
o que ampliou o espaço para as pernas. Nossa saída,
marcada para as 11h30, acabou de fato ocorrendo as
11h35, com o inicio do push-back. Pouco mais de uma hora
depois, as 12h44, cheguei a Paris, descansado e sem
qualquer contratempo. E o que é melhor: um minuto antes
do horário previsto.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Sem nota.
Feita pela própria empresa.
2-Check-In: Nota 10.
Rápido e muito atencioso.
3-Embarque: Nota 8.
Um pouco desorganizado, pois a WBC não teve o embarque
priorizado.
4-Assento: Nota 9.
Espaçoso, garante privacidade e conforto. Reclinação é
total e quase de 180º. Para ser nota 10, somente se
ficasse a 90 graus com o piso.
5-Entretenimento: Nota 10.
O sistema AVOD em voos longos é fundamental.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Muito atenciosos, simpáticos, prestativos. Perfeitos.
7-Refeições: Nota 9.
Saborosas, receitas inteligentes e sempre bem
apresentadas. Muito bom mesmo.
8-Bebidas: Nota 10.
Hea muito tempo não via uma carta de vinho desta
categoria, nem uma apresentação tão esmerada. Me senti
mesmo em uma Primeira Classe (das antigas).
9-Necessaire: Nota 7.
Sóbria, continha o básico.
10-Desembarque: Nota 10.
Bastante organizado.
11-Pontualidade: Nota 10.
Um pequeno atraso, que ainda assim quase complica minha
conexão. Mas cheguei a Paris antes do horário previsto.
Nota final: 9,30
Duas companhias de enorme tradição na aviação uniram
esforços há alguns anos, criando uma gigante do setor.
Até recentemente, a Airfrance / KLM foi a maior
companhia aérea do mundo, superada recentemente pela
fusão de United e Continental. Ainda que, de fato, a
Airfrance tenha adquirido o controle da KLM, na prática
as duas companhias operam produtos, identidades, frotas
e tripulantes contratados, treinados e decididamente
entregando um padrão de atendimento distinto. Ainda
assim, um produto que tem em comum um notável padrão de
classe internacional. Na KLM, destaco o excepcional
nível de atendimento das tripulações e a carta de
vinhos. Na Airfrance, os pontos altos foram o serviço de
alta classe, bem como a culinária esmerada e o assento
confortável. A nítida impressão após estas viagens é que
ao comprar uma passagem na Airfrance/KLM o passageiro
pode ter certeza de que será muito bem tratado
independentemente de qual parceira escolher.
G. Beting