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Delta DL60



Noite linda na Cidade Maravilhosa, fresca e estrelada, no dia 13 de maio de 2007. Um pouquinho fria para os padrões cariocas, mas perfeita para voar. Desembarquei de um vôo tranquilíssimo da Gol procedente de Congonhas. Peguei minha mala e minutos depois estava no balcão de check-in da Business Elite, a classe executiva da Delta Air Lines. Eram 20h10 quando entrei na fila e 20h15 quando saí, muito bem atendido, por um jovem funcionário, Galleguillos, que me recebeu de forma eficiente e cordial.

Boarding passes finalmente na mão, segui para os procedimentos de imigração: até estranhei. Acostumado com a balbúrdia que é o caótico Guarulhos, em meio minuto já havia deixado os procedimentos burocráticos para trás, de forma civilizada. Como deveria ser. Em seguida, após passar pelo raio-x, segui para a sala VIP da Air France, que é dividida por todas as operadoras da Sky Team, localizada no segundo andar do Tom Jobim. Pequena mas bastante bem equipada, trouxe boas lembranças. E pensar que por aqui, nesta mesma sala, os passageiros aguardavam a decolagem nos vôos de Concorde para a França!

É, o Galeão tem um charme único, que me faz lembrar áureos tempos da aviação comercial. Sim, parte dessa atmosfera única se deve ao seu ar ligeiramente decadente, quase melancólico. Mas é inegável que por décadas, o Galeão reinou soberano dentre os aeroportos brasileiros. Justamente nos tempos em que voar era mais do que um meio de transporte. Era como entrar para um clube, para o "jetset" como se dizia na época. Algo, em suma, muito civilizado. Nesses áureos tempos, a Varig reinava soberana dentre as empresas aéreas brasileiras. Há vinte anos atrás, numa noite como esta de sábado, às 20h30, o Galeão estaria fervendo com dezenas de jatos da Pioneira, partindo para a Ásia, Europa, Américas e África. Hoje, não havia nenhum Boeing da empresa. Aliás, tirando o 767 da Delta, não havia qualquer outro vôo intercontinental partindo do velho e bom T1 do Galeão. É ou não é melancólico?

Fomos chamados para embarque no portão 10 as 21h50. Prioridade foi dada para o embarque dos passageiros da classe executiva, que eram no total 34 dentre os 36 assentos disponíveis. Um deles sempre fica reservado para descanso dosm pilotos durante o vôo. Fui um dos primeiros a embarcar no Boeing 767-332ER, matrícula N197DN, entregue novo em folha à Delta em dezembro de 1997.

Ao entrar a bordo, de cara gostei bastante do novo padrão de assentos da Business Elite. Havia viajado recentemente na executiva da Delta e já havia ficado satisfeito. Agora, com estas novas poltronas, minha expectativa por um excelente serviço ficou ainda mais alta. O interior todo da aeronave estava imaculado. Das divisórias às paredes, os assentos de couro azuis tanto na Business Elite como na classe econômica pareciam saídos de fábrica.

Os passageiros foram muito bem recebidos a bordo, por uma equipe que tinha tanta experiência quanto simpatia. Comandada por Susan, a "Flight Leader" do vôo, a designação adotada pela empresa para seus "pursers" ou chefes de cabine. Susan - e mais duas comissárias e um comissário - iriam cuidar dos passageiros da Business Elite, e uma de suas primeiras funções foi a de oferecer ajuda para acomodar casacos. Depois, passaram distribuindo bebidas de boas-vindas. O tempo todo, foram só sorrisos com todos os passageiros. Realmente muito, muito simpáticos.

A saída do vôo 60 seria mais uma partida pontual, com horário previsto de 22h55. Fizeram melhor que isso: o push-back foi as 22h48, taxi as 22h52, com o 767 pesando 387.893 libras, abaixo de seu peso máximo de decolagem, que é 409.000 libras. Não havia tráfego à nossa frente e logo alinhamos na pista 10. A longa e belíssima 10 do Galeão deveria ser a única pista autorizada para se deixar o Brasil. Fica em nossa mais bela cidade e, do ponto de vista aeronáutico, é perfeita: larga, longa e ao nível do mar. A pista 10, toda acesa à nossa frente, trouxe lembranças de viagens memoráveis.

Voltemos ao Delta 60. Em meio aos meus devaneios, o Boeing iniciou a corrida de decolagem precisamente as 22h57. Nossas velocidades nesta operação foram: V1, 160 nós; V-R, 163 nós e V-2, 169 nós. Corremos bastante terreno: acabamos por sair do chão somente em frente ao antigo hangar da Varig. Trens recolhidos, o 767 subia em frente, cumprindo a saída por instrumentos (SID) Porto 3. Nossa "Clean Speed," a mínima velocidade para "limpar" aerodinamicamente o jato, ou seja, recolher completamente os flaps, foi calculada em 249 milhas para este vôo. Logo depois, estabilizávamos em cruzeiro as 23h15, na altitude inicial de 32.000 pés, o que resultou numa razão de subida de 1.700 pés por minuto, aproximadamente. Tempo estimado de vôo: 09h20, o que nos faria chegar bem próximo ao horário previsto de chegada, 07h20.

As luzes de cabine foram acesas e teve início o serviço de jantar. O cardápio havia sido distribuído ainda em solo. A Flight Leader Susan, havia anotado o pedido de prato principal de todos os passageiros ainda em solo. O menú mostrava o seguinte: para abrir os trabalhos, um amuse-bouche vegetariano, com legumes grelados e acentuados com azeite de oliva extra-virgem. Depois, como entrada, uma salada verde ou sopa de centeio com carne. Pratos principais eram três: filé mignon com molho demi-glacé acentuado por alho, acompanhado por purê de batatas e seleta de legumes; peito de frango recheado com queijo Fontina, batatas ao forno e molho de tomate e azeite; linguine com um molho de Brandy e queijo de cabra, acentuado por estragão e camarões. Este era o prato "assinado" por Michelle Bernstein, a jovem e talentosa Chef responsável pelas criações culinárias servidas nos vôos da Delta. Finalmente, a quarta opção era a mesma sopa da entrada era servida também como prato principal, acentuada por cebolinha.

Depois, opções de queijos e frutas numa bonita apresentação. E para fechar, uma decadente Sundae de baunilha, com tudo o que tenho direito: marshmallow, castanhas, coberturas, o diabo. Fiquei com o filé mignon e estva muito bom.

A carta de bebidas sempre foi um destaque no serviço de bordo da Delta. No menú, que vem juntamente com a carta de vinhos, havia uma lista de seis brancos e seis tintos, mas apenas dois de cada estavam a bordo. O branco escolhido foi um chardonnay espanhol, Pere Ventura, de Penedès. Elegante, com boa acidez, não era nem muito encorpado nem amadeirado demais, este um pecado que parece cada vez mais frequente nos vinhos que se valem desta uva. O outro branco também era um chardonnay, só que italiano, Kaltern Alto Adige, que acabei não provando.

Para acompanhar meu filé, optei pelo tinto australiano, Plunkett Blackwood Ridge, um Shiraz australiano "daqueles": rico, complexo, com muitas especiarias e pimenta. Sensacional com carne vermelha. Como nos vôos que recentemente havia feito na empresa, achei notável a inteligência de Ken Chase, o autor da carta. Mr. Chase privilegiou vinhos modernos, sobretudo do novo mundo, que instigam a curiosidade para o passageiro - e economizam milhares de dólares nas contas do catering da Delta. Destaque também para o Muscat Beaumes de Venise, um belo vinho de sobremesa. Novamente fiquei muito satisfeito com a carta da Delta.

Enquanto o jantar era servido, fiquei da minha poltrona, a 6G, observando o fluxo de trabalho. Dentre as vantagens daqueles que sentam na última fila de uma cabine está a possibilidade de se poder acompanhar o ritmo, a coordenação do trabalho da equipe durante a entrega de serviço. Gostei de ver a dedicação dos quatro comissários da Delta, que trabalharam muio bem em equipe. Destaco sobretudo o fato de que não deixaram copos vazios em nenhum instante. Tanto melhor para se aproveitar a caprichada carta de vinhos da empresa.

No geral, a atitude a bordo foi mesmo excelente, muito simpática e temperada com o agradável "southern drawl" o sotaque do sudeste norte-americano, bem musical. Afinal a tripulação era toda baseada em Atlanta, sede da empresa aérea que mais passageiros transporta a cada ano: a Delta Air Lines.

Hora de dedicar a atenção ao entretenimento de bordo. O N197DN já estava equipado com o novíssimo padrão de entretenimento da empresa, que segue o padrão AVOD - Audio-Video On-Demand. Os videos individuais são comandados pelos passageiros, o que é bárbaro.

Eram 01h30 quando terminou o jantar, depois de voar 2.136 km desde a partida. Aproveitei e testei a poltrona: reclinação satisfatória e espaço entre fileiras excelente. Bastante confortável para vôos longos, sem dúvida.

O assento estava na verdade tão confortável que simplesmente dormi até o início do café da amnhã, quando fui gentilmente despertado por Rayla, a comissária que cuidava da zona onde estava meu assento. Os oito comissários que trabalahm nos 767 da Delta dividem suas áreas de atuação por zonas da cabine. Não fosse pelo gentil despertar da comissária, e teria perdido o café, pois repousava profundamente. Lá fora, o dia já raiava. Sobrevoávamos a Flórida nesso exato instante, passando no través de Fort Lauderdale, que por sinal seria mesmo meu destino final naquele dia.

Tendo queimado em média, por hora de vôo em regime de cruzeiro, 11.400 libras de Jet A-1, (42.000 libras/hora durante a decolagem), o 767 havia ficado mais leve e agora cruzava a 36.000 pés quando iniciou a descida para Atlanta, deixando o nível de cruzeiro precisamente as 07h00. Seguimos a STAR Canuk 4 para a pista 27R, onde tocamos suavemente às 07h20, cravado no horário previsto, tendo voado exatamente 7.621 km em 09h23 minutos desde a cabeceira 10 do Tom Jobim.

Avaliação: notas vão de zero a dez.

1-Reserva: Nota 10.
Perfeita, sem demoras ou esperas telefônicas louvindo aquelas musiquinhas detestáveis.
2-Check-In: Nota 10.
Muito simpático e profissional.
3-Embarque: Nota 10.
Procedimentos rápidos, tripulação super atenta.
4-Assento: Nota 8.
Muito confortáveis, com ótimo espaço para a fileira à minha frente.
5-Entretenimento: Nota 8.
Farta seleção de programas e títulos On-Demand, num padrão excelente.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Foram sensacionais. Nota 10 mesmo.
7-Refeições: Nota 9.
Estavam saborosas e bem apresentadas, nas quantidades certas.
8-Bebidas: Nota 9.
Como sempre, ótima a carta, uma tradição da Delta.
9-Necessaire: Nota 7.
Espartana: apenas o básico.
10-Desembarque: Nota 10.
Rápido, sem complicações. Mas a conexão seria estressante. Filas homéricas na imigração atrasaram demais a chegada ao portão A6 de onde sairia meu vôo seguinte, o DL 753.
11-Pontualidade: Nota 10.
Partida e chegadas mais que pontuais: saímos adiantadose chegamos no horário cravado.

Nota final: 9,18

Dentre as grandes empresas aéreas dos USA, sempre tive grande simpatia pela Delta. A empresa personifica o jeitão típico do povo do sudeste dos Estados Unidos: cordial e direto ao ponto. Pode-se dizer que a Delta tem um espírito de equipe difícil de encontrar em empresas do tamanho dela, que emprega hoje 49.000 profissionais. Mesmo com tantos profissionais, há um forte espírito de corpo, num clima de "grande família". Se hoje a Delta está em plena recuperação, celebrando recentemente sua saída da concordata, essa recuperação deve -se em grande parte ao forte espírito corporativo que se encontra em cada um dos milhares de colaboradores da companhia. E tem mais: com nova identidade visual, ampliando serviços a cada dia, sobretudo nos vôos internacionais, a Delta Air Lines é uma ótima pedida para quem quer viajar com conforto e segurança.

Gianfranco Beting









Delta DL104


Noite chuvosa em São Paulo. O fim de um feriadão garantia um clima tranquilo no caminho a GRU. Em lá chegando, a história era outra: filas enormes nas três posições dedicadas ao check-in da Business Elite, a classe executiva da Delta Air Lines. Eram 20h45 quando entrei na fila e 21h05 quando fui atendido, por uma funcionária mais preocupada em fazer as filas andarem do que em providenciar um tratamento personalizado. Vivíamos o princípio do Apagão Aéreo. Éramos felizes e não sabíamos...

Boarding passes finalmente na mão, fila de imigração para trás, entrei num oásis: o Crown Room da Delta, a sala VIP da empresa localizada no segundo andar de GRU. Espaçosa, bem equipada, catering excelente, uma das melhores de GRU. Fomos chamados para embarque no portão seis as 21h20. Prioridade de embarque para os passageiros da executiva, que eram 34 em 36 assentos disponíveis. Rigorosos controles de passaporte e revista de bagagens na porta do avião e, ufa, finalmente estava eu a bordo do 767-332ER, matrícula N1200K, entregue novo em folha à Delta em abril de 1998.

A bordo, inicialmente o tratamento foi polido e algo distante, sem muita efusividade, na medida. Não se ofereceram para acomodar casacos, nem outras pequenas gentilezas típicas, o que surpreendeu negativamente, sobretudo quando o produto chama-se Business Elite. Depois, com a aeronave em vôo, a coisa mudaria totalmente de figura.

Os comissários logo passaram depois oferecendo Champagne, Suco de laranja ou Mimosa. Pedi Mimosa, a comissária entornou o suco na champagne e voilá, Mimosa pronta. Esperto. Taça recolhida dez minutos depois, a tripulação apressava-se em colocar o vôo 104 no horário, e conseguiu.

Push-back as 10h22, taxi as 10h26, com o 767 pesando 375.464 libras, abaixo do peso máximo de decolagem (MTOW) de 409.000 libras. Alinhamos na pista 09L e a torre autorizou a decolagem as 10h38. Manetes nos batentes, o Boeing iniciou a corrida com as velocidades: V1, 157 nós; V-R, 160 nós e V-2, 166 nós. Trens recolhidos, o 767 subia em frente, cumprindo a saída por instrumentos Surf 9. Gradativamente, ganhamos altitude e logo estabilizávamos em cruzeiro. O speech do cmte. Kopec previa um tempo estimado de vôo em 09h15, o que nos faria chegar antes do horário previsto de chegada, 07h00.

Nivelamos inicialmente a 32.000 pés e já passavamos do través de Belo Horizonte quando as luzes de cabine foram novamente acesas para ter início o serviço de jantar. O cardápio havia sido distribuído ainda em solo, e o chief purser veio pouco depois anotar o pedido de prato principal. Eram frios de entrada, dois tipos de salada para começar (opções) e depois 4 de prato principal. Fiquei com um filé mignon com um molho demi-glacé, batatas rústicas e cenouras. Bem servido, tenro e suculento, tudo bem direitinho. Como sobremesa, um decadentíssimo sundae com cobertura, daqueles que são "Classe A"para entupir de vez minhas já cansadas e atrofiadas artérias e válvulas cardíacas.

As bebidas sempre foram um dos pontos fortes do serviço de bordo da Delta. Entre as cepas apresentadas na carta, havia uma lista de seis brancos e seis tintos, mas nem todos estavam a bordo: a carta deixava isso claro, recomendando perguntar à tripulação o que seria servido. Pedi um branco para começar os trabalhos. Podia escolher entre um Sauvignon Blanc australiano ou um chardonnay chileno. Fiquei na América do Sul e não me arrependi: o vinho era um Doña Dominga, do vale do Colchágua. Encorpado, untuoso, acidez exata, um belo exemplo de chardonnay do novo mundo.

Depois, para acompanhar meu filé, virei para o tinto: entre dois, optei pelo Finca La Celia, um Malbec moderno argentino, que recebeu minha peferência versus um Carmenére chileno, Casal de Gorchs. Analisando os vinhos da carta, chamou a atenção mesmo a inteligência de quem elaborou a carta, onde predominavam vinhos modernos, sobretudo do novo mundo, que instigam a curiosidade para o passageiro - e salvam vários milhões de dólares para as contas de catering da companhia. A única ressalva foi a ausência de champagnes de primeira linha na carta.

Enquanto o jantar era servido, fiquei da minha poltrona, a 6F, observando o fluxo de trabalho. A vantagem de sentar na última fila da classe é acompanhar o ritmo, a coordenação da equipe durante a entrega de serviço. Gostei de ver quatro comissários da Delta trabalhando em equipe. Elegantemente trajados, em azul marinho, faziam uma fina estampa enquanto serviam o jantar. Não deixaram copos vazios, outro detalhe importante, sobretudo para nós, grandes amigos de Baco.

No geral, a atitude a bordo foi mesmo excelente, muito simpática e temperada com o agradável "southern drawl" o sotaque do sudeste norte-americano, bem musical. Afinal a tripulação era toda baseada em Atlanta, sede da empresa aérea que mais passageiros transporta a cada ano em todo o mundo: a Delta Air Lines, mais de 105 milhões, em 2006.

Hora de dedicar a atenção ao programa de entretenimento de bordo, Horizons. Oito canais de video, outros tantos de som, jogos e o sistema Airshow. Pena que o N1200K ainda não estivesse configurado com o padrão AVOD - Audio-Video On-Demand. Os videos individuais dão conta do recado, mas estão num padrão regular: as boas companhias do ramo já operam com sistemas AVOD. De toda forma, não ficou devendo muito. E, nas aeronaves com novos interiores que a Delta está colocando em serviço, o sistema é totalmente AVOD.

Eram 00h30 quando terminou o jantar, no momento em que estávamos no través de Petrolina. Aproveitei e testei a necessaire: simples e completa. Daí, o teste foi mesmo o da poltrona: reclinação boa, pitch de 60" e largura razoável. Confortável para vôos longos, sem dúvida. E espaço individual é fundamental, sobretudo em vôos longos e cheios, como era este DL104: nada menos que 95% dos assentos ocupados.

O assento estava tão confortável que simplesmente dormi até iniciarmos a descida. Não acordei nem com o tradicional cheiro de café na cabine, que normalmente desperta meus sentidos. Desta vez, passei lotado e perdi o desjejum, que oferecia duas opções de pratos principais. Lá fora, noite fechada ainda. Antes do pouso, o cmte do vôo, Fred Kopec, veio trazer pessoalmente o questionário técnico que sempre entrego aos tripulantes de comando. Ficamos conversando uns 10 minutos. Com 42 anos, recém promovido ao comando dos 767, Fred ama o que faz. Aliás, como a vasta maioria dos profissionais da Delta que conheci.

Tendo queimado em média, por hora de vôo, 11.400 libras de Jet A-1, o 767 havia ficado mais leve e agora cruzava a 37.000 pés quando iniciou a descida para Atlanta. Seguimos a STAR Canuk 3 para a pista 16R, onde tocamos suavemente às 06h44, 16 minutos antes do previsto.

Delta 1129

Atlanta é um dos maiores e mais movimentados aeroportos do mundo. Seu tamanho equivale a aproximadamente 12 vezes o aeroporto de Guarulhos. São cinco pistas de pouso e sete terminais. O simples ato de desembarcar já é tarefa estressante, devido aos controles cada vez mais minuciosos do governo norte-americano. Fazer uma conexão é, portanto, uma tarefa que exige ainda mais atenção, boas informações e, sobretudo, longas caminhadas. Saí do terminal E, onde o DL104 havia estacionado, e peguei o trem subterrâneo que liga todos os terminais. Meu boarding pass, emitido no Brasil, dava conta que o vôo 1129 sairia do portão B23. Lá fui eu para o terminal B. Sobe no trem, desce, escada rolante, longa caminhada. até o B23 e... mudança de portão!

Agora o vôo 1129 sairia do terminal T, portão T07. E toca a descer escada rolante, embarcar no term, subir escada rolante, andar, andar, andar... até chegar ao T07: agora sim, lá estava ele, o longo 767-423ER, prefixo N841MH, que voaria sem escalas até Orlando, Flórida.

Mas com todo esse périplo, já eram mais de nove horas da manhã. Mal tive tempo de subir e aproveitar as instalações belíssimas e amplas do Delta Crown Room. Uma pena: com uma vista privilegiada do pátio, daria para passar horas fazendo boas fotos das aeronaves da Delta. Embarquei no 767, lotado até as tampas, e acomodei-me no assento 5F. O interior da First Class, igualmente lotada, era todo em sóbrios tons de azul marinho, mas os assentos de couro já mostravam marcas de uso contínuo, apesar do N841MH ser uma aeronave relativamente nova, entregue em 12/2001 à Delta.

Este é o primeiro Flight Report num 767-400ER. Trata-se de uma versão alongada do Boeing 767, modelo que somente a Delta e a Continental Airlines, ambas parceiras do Skyteam, operam. Na Delta, o 767-400 substituiu o saudoso Lockheed L-1011 Tristar nos vôos domésticos de maior procura. Na Continental o papel do 767-400 foi basicamente subsituir os McDonnell Douglas DC-10-30 em vôos domésticos e internacionais. Esta versão, a de menor vendagem da linha 767, pode ser vista diariamente no Brasil: a Continental usa o "764" nos vôos entre Houston, São Paulo e Rio de Janeiro.

Todos a bordo, portas fechadas, o cmte. avisou que estávamos prontos para sair e que o taxi seria curtíssimo. O terminal T fica particamente encostado na cabeceira da pista 16L, de onde partiríamos. Push-back cravado as 09h25, horário publicado de partida. Mais três minutos, e estávamos taxiando, número 7 na fila de decolagem. Aeronave totalmente lotada: nenhum assento disponível nas 36 poltronas da First Class e nas 251 da classe econômica. Com mais nove tripulantes (sete comissários e dois pilotos) o total a bordo era de 296 pessoas.

Alinhamos e decolamos as 09h44 usando pouca pista. Com pouco combustível para o curto vôo, o Boeing não chegava nem perto de seu peso máximo de decolagem, de 204,117 kg. O 767 subiu direto e manteve-se a 27.000 pés, na proa sudeste, rumo à Flórida. O vôo seria mesmo curto: as 10h20, o Boeing iniciou a descida, após atingir o TOD - Top Of Descent, momento em que abandona a altitude de cruzeiro. Durante o vôo, foram servidas apenas bebidas (ainda no solo e depois, por duas vezes, durante o vôo de cruzeiro) e uma cesta de snacks, com bolachinas, amendoins, cookies e coisinhas do gênero. Gênero engordativo.

O 767 manobrou em meio às nuvens que deixavam feio a manhã de outono na Flórida. Entramos no tráfego e tocamos suavemente a pista 35R do McCoy International Airport, Orlando, as 10h41 minutos, completando o tempo de vôo em exatos 57 minutos. Pouco tempo depois, com mais cinco minutos, o enorme 767-400ER encostava no portão 75 do enorme e funcional terminal da Delta em Orlando. As malas não demoraram a sair e logo estava na calçada, sentido todo o calor e umidade típicas da Flórida. Terminava alí a longa jornada entre o Brasil e Orlando.

Avaliação: notas vão de zero a dez.

1-Reserva: Sem nota.
Feita pela própria empresa.
2-Check-In: Nota 9.
Tirando a fila, foi bastante profissional.
3-Embarque: Nota 10.
Com poucos passageiros, os procedimentos foram bastante rápidos.
4-Assento: Nota 9.
Confortáveis, bons para a categoria, com ótimo espaço para a fileira à minha frente.
5-Entretenimento: Nota 9.
Farta seleção de programas e títulos, garantiram um padrão excelente.
6-Serviço dos comissários: Nota 9.
Foram muito bem, tirando alguns pequenos detalhes, sobretudo no embarque em GRU.
7-Refeições: Nota 9.
Estavam saborosas e bem apresentadas, nas quantidades certas.
8-Bebidas: Nota 9.
Boa carta, uma tradição da empresa.
9-Necessaire: Nota 8.
Muito boa: compacta (o que sempre ajuda) e completa.
10-Desembarque: Nota 10.
Rápido, sem complicações, ajudando a tornar a conexão menos estressante. Excelente sala VIP em Atlanta.
11-Pontualidade: Nota 10.
Partida e chegadas mais que pontuais: saímos e chegamos adiantados.

Nota final: 9,33

Sempre tive grande simpatia pela Delta. A empresa personifica o jeitão típico dos confederados, na região onde está baseada a empresa, o sudeste dos Estados Unidos. A Delta tem um espírito de equipe difícil de encontrar em empresas do tamanho dela, que emprega hoje 55.000 profissionais. Há um clima familiar, mais descontraído mas nada relapso a bordo das aeronaves da empresa. É certo que a Delta já esteve em melhor forma, mas essa parece ser a sina das grandes empresas aéreas norte-americanas. Se hoje a Delta está em plena recuperação, ampliando serviços (sobretudo internacionais), essa recuperação se deve sem sombra de dúvida ao forte espírito corporativo de cada um dos milhares de colaboradores da companhia. Em suma: a Delta Air Lines é uma grande companhia, que merece ser seriamente considerada em suas próximas viagens.

Gianfranco Beting

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