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Copa CM700



Cheguei ao aeroporto de Guarulhos bem humorado, ainda sob o efeito das férias de fim de ano. Mal o ano começava e já partia para uma viagem para fazer o que mais gosto: fotografar aviões. A missão era clicar aeronaves na Venezuela, Panamá e no México, um trabalho para ser feito para a revista Flap internacional, que me convocou para essa "difícil" missão. Fiquei ainda mais animado quando soube que viajaria na Copa Airlines, Companhia Panameña de Aviación.

Por acompanhar o mercado de perto, sempre tive curiosidade em conhecer os serviços da empresa, que atravessava uma excelente fase. Associada à Continental Airlines, a Copa servia como exemplo de uma empresa que soube se posicionar no mercado e atrair um parceiro importante. E com ele, não apenas conquistou seu espaço, como iniciou uma vigorosa expansão internacional, abocanhando fatias de mercado das competidoras dos países vizinhos, através de atributos como uma frota moderna de Boeing 737-700 e um sistema de conexões rápidas e eficientes desde o hub da Cidade do Panamá, batizado de Hub de Las Américas.

Por tudo isso, lá estava eu na fila do check-in para embarcar no vôo CM700, non-stop entre Guarulhos, o hub Sul-americano e Tocumen, o Hub de Las Américas. Vôo lotado, o CM700 seria operada naquela tarde pelo 737 matriculado HP-1373-CMP, uma aeronave com menos de um ano de uso pela Copa, pois foi entregue novinho de fábrica em janeiro de 2000. Com 124 assentos, numa configuração confortável de duas classes, (12 em classe Executiva), eu enfrentaria as mais de 6 horas de vôo num assento na classe econômica.

Uma agradável surpresa me esperava: ao me apresentar para o check-in, recebi como cortesia da Copa um "up-grade" para a classe executiva da companhia, batizada de Clase Ejecutiva. Muito bom, teria condições de experimentar o melhor do serviço da Copa. Minutos depois, saia com meu boarding pass, remarcado para a poltrona 3C. Ao embarcar, porém, troquei de assento com um passageira, para que ela pudesse sentar-se junto à filha. Finalmente acomodado na poltrona 2E, esperei o horário previsto de partida (14:30) chegar. Antes disso, porém, o comandante fez um breve speech saudando a todos em espanhol e em inglês e anunciando que sairíamos do gate mais cedo, pois estava tudo pronto para nossa partida.

De fato, eram 14:24 quando o CM700 foi empurrado para o pátio em Guarulhos. Motor dois em ignition, o novíssimo e silencioso 737 Next Generation logo tinha seu motor girando e em seguida, o motor um também ganhava vida. Era 14:30 cravados quando a tripulacão aplicou um pouquinho de potência, suficiente para o Copa 700 iniciar seu longo taxi rumo à cabeceira 27R de Guarulhos. Nada menos que 15 minutos foram gastos taxiando, até que as 14:45 o comandante Gonzales aplicou potência aos dois motores CFM56-7B24. Avião cheio, tanques no limite para o longo vôo até Tocumen e a temperatura elevada do início da tarde de verão em Guarulhos, garantiram uma longa corrida de decolagem.

Mas Boeing é Boeing, e o -700 tem potência para dar e vender: cruzamos a cabeceira 09 já bem alto, mantendo uma excelente razão de subida. Gear up, potencia reduzida ligeiramente para climb thrust, o CM700 começou seu balé com os enormes CBs que enchiam os céus da terminal São Paulo. Logo cruzávamos a cidade, deixando para trás o calor do abafado verão paulistano. Rumbo a Panamá!

Os monitores de cristal líquido instalados sob os bagageiros, foram acionados e começou a programação de entretenimento da empresa. Nem bem estabilizamos, e as comissárias responsáveis pela Ejecutiva passaram perguntando aos passageiros qual seria a escolha de prato quente para o almoço: Pollo o carne? Com eu recebi um up-grade, fui o último a poder escolher o prato, como é de praxe. E quando chegou a minha vez, só havia restado frango ou frango. Mesmo em dúvida, escolhi frango.

Cocktails e bebidas foram oferecidos com simpatia, acompanhados por um pratinho de louça cheio de castanhas e nozes quentes. As duas comissárias, embora não estivessem exatamente na "flor da idade", eram bastante simpáticas e solícitas. O uniforme da Copa, de clara inspiração no bonito padrão da Continental, emprestava uma aparência ainda mais profissional às duas, que revezavam-se entre a preparação dos almoços na galley e no atendimento aos 12 passageiros que lotavam a Ejecutiva.

A apresentação da refeição foi feita em louça e talheres de desenho exclusivo, condizentes com a classe. A bandeja apresentava uma salada de folhas e presunto crú, um pouco ressecados. O frango de prato principal trazia batatas e espinafre de contorno e, o indefectível "molho de avião", algo entre o madeira e um demi-glacé, reduzido e untuoso. Desenvolvi ao longo dos anos como passageiro em mais de 130 empresas aéreas uma teoria aero-gastronômica: este molho só pode ser encontrado e consumido a mais de 10.000m. Eu costumo chamá-lo de "molho aerovia", pois só é comercializado à bordo de aviões. Acredito que seja uma fórmula exclusiva (seria patenteada?) e provavelmente tão secreta quanto a fórmula da Coca-Cola, igualmente utilizada no mundo todo. Com uma diferença: ao contrário da Coke, ela consegue ser idêntica e ruim em qualquer lugar do planeta. As carnes submetidas à ela, sejam orginalmente cordeiro, peixe, pato, filé mignon ou frango, sempre ficam com o mesmo sabor, que eclipsa tudo que estiver sob seu manto. Já me acostumei.

Depois do frango com airway sauce, uma torta de limão foi servida, junto com chá ou café e uns chocolatinhos. As bandejas foram retiradas na altura em que começou o primeiro filme de longa metragem exibido, depois de alguns curtas e documentários. A cabine então entrou naquele "ritmo de cruzeiro", que acontece depois que os passageiros estão saciados. Um clima de prostração e silêncio toma a cabine.

É nessa hora que você percebe que estamos num avião cheio de brasileiros. E é muito fácil descobrir quem é brasileiro num vôo internacional, outra teoria desenvolvida com várias horas de vôo: basta reparar que brasileiros não lêem livros. No máximo, revistas estupidificantes do gênero Caras ou Chiques e Famosos.

Pode reparar: se um passageiro está lendo livro, 99% de chance de não ser brasileiro. Ler é Chato deveria substituir, em nossa bandeira, as palavras Ordem e Progresso. Suprema ironia que um povo que não lê seja o único a ter palavras em sua bandeira, uma aberração heráldica, só passível de acontecer na bandeira de um povo que... não lê. Ok, ok, estou ficando velho e ranzinza.

Tergiversações à parte, voltemos ao vôo. O Copa 700 já cruzava a 39.000 pés, aliviado de várias toneladas de combustível, queimados desde nossa decolagem. As asas do 737-700, bem maiores e de aerodinâmica mais avançada que as de seus irmãos das gerações hoje chamadas de Classic (737-100 até 737-500), são otimizadas para maiores velocidades e maior economia em vôo de cruzeiro. E a esta altura, já estávamos mesmo sobrevoando o coração do Inferno Verde, a Amazônia. Lá embaixo, o sol ofuscava a mata, sob o calor da tarde.

Terminado o filme, a cabine ficou ainda mais quieta, pois vários passageiros roncavam. E com 5 horas de vôo, o sol já se deitando, as luzes da cabine foram acesas e a tripulação passou oferecendo toalhinhas quentes, despertando alguns de suas siestas amazônicas. Então, las azafatas serviram um lanchinho: sanduíches quentes, cafés, chás, sucos, iogurtes e um pratinho de frutas. Terminada a refeição, a cabine foi arrumada mais uma vez, já sendo preparada para a chegada. Lá fora, o sol já se deitava e o Copa 700 começou sua descida rumo ao Hub De Las Américas quando eram 20:55, hora de GRU, ou 17:55, hora da Ciudad de Panamá.

Nosso estimado para pouso era às 18:15 e o comandante, num pouso suave, colocou as rodas do HP-1373-CMP em contato com a pista às 18:20, um leve atraso provocado por tráfego na aproximação. O táxi foi rápido e logo estávamos atracando num dos gates do pequeno e movimentado aeroporto: nada menos que 8 Boeing 737 da Copa estavam nos portões, inclusive o que eu pegaria uma hora depois, um 737-200 com destino à Caracas. Mas esta já é outra história.

Avaliação: notas vão de zero a dez.

1-Reserva: Sem nota.
Feita pela Copa.
2-Check-In: Nota 10.
Além da eficiência, o up-grade pesou, é claro. Muchas gracias, Copa.
3-Embarque: Nota 10.
Tranquilo e ordenado.
4-Assento: Nota 8.
De couro, configuração 2+2. Confortáveis, pitch bastante correto.
5-Entretenimento: Nota 8.
Seleção musical com 9 canais, vários curtas e um longa-metragem: um bom padrão.
6-Serviço dos comissários: Nota 9.
Bem treinados, cordiais sem serem intrometidos. Uniforme corretíssimos... faltou apenas um pouco mais de calor humano, talvez.
7-Refeições: Nota 7.
Corretas, mesmo com o airway sauce. Faltou mesmo foi um cardápio impresso.
8-Bebidas: Nota 7.
Tudo que é necessário, mas uma seleção de vinhos bastante pobre.
9-Necessaire: Nota 8.
Corretíssima para uma Classe Executiva.
10-Desembarque: Nota 10.
Rápido e organizado, com vários monitores coordenando passageiros em conexão, como eu. Atitude profissional, prestativa e serena das equipes de terra.
11-Pontualidade: Nota 10.
Cinco minutos num vôo de 06:35 é um atraso desprezível.

Nota final: 8,70

Comentário final: Parabéns a todos na Copa. Este foi o primeiro de 6 vôos feitos num espaço de 8 dias. E à exceção do último deles, entre Panamá e Guarulhos, que teve um atraso técnico de 3 horas (quebra do sistema de steering da bequilha ao entrarmos na pista), todos os vôos foram pontuais, corretos, extremamente profissionais. A atitude de todos na empresa foi sempre positiva e profissional. As aeronaves, mesmo os 737-200 mais velhinhos, estavam bem conservados. A Copa provou em todos estes vôos que pode e deve ser considerada como uma opção mais do que válida para viagens pelas Américas do Norte, Central e Caribe.

Gianfranco Beting

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