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Azul AD4064 VOO INAUGURAL
Este é nosso primeiro Flight Report na Azul Linhas
Aéreas Brasileiras. Vamos falar de um vôo especial: o
primeiro serviço regular da companhia transportando
passageiros pagantes.
Segunda-feira, 15 de dezembro de 2008. Céus carregados
cobriam o aeroporto de Viracopos. Uma atmosfera de
excitação cercava a área de check-in da companhia, no
saguão do aeroporto. Nos bastidores, um grande número de
profissionais e executivos da companhia certificavam-se
que tudo estivesse saindo de acordo com os meses de
preparação anteriores. Naquele dia, a empresa faria
quatro voos inaugurais: o AD 4064, primeiro a partir,
com decolagem prevista para as 12h00 rumo à Salvador; o
segundo voo seria o AD4061 com origem em Viracopos e
destino Porto Alegre. Os voos de retorno,
respectivamente AD4065 e AD4062, seriam os inaugurais em
sentido contrário.
O check-in foi diferenciado, em função do grande número
de jornalistas cobrindo o evento. A atmosfera festiva
contagiava todos os tripulantes da Azul (designação
adotada pela empresa para designar qualquer um de seus
colaboradores) e Clientes, que é como a empresa trata os
passageiros. Pedro Janot, presidente da Azul, fazia
questão de cumprimentar os primeiros Clientes da
empresa, distribuindo a cada um deles, além de um
sorriso, um brigadeiro de chocolate, com uma pequena
mensagem de agradecimento.
Os procedimentos correram desta maneira até que a hora
limite para apresentação no portão de embarque foi
chegando. Só faltava alguém muito especial: o próprio
David Neeleman. Ele chegava naquela manhã dos Estados
Unidos e, Lei de Murphy a pleno funcionamento, seu voo
atrasou. Afinal, ele acabaria por chegar em cima da
hora. Apresentou-se às 11h40 no check-in, apenas com sua
bagagem de mão, rapidamente procedendo para o portão de
embarque.
Quando finalmente conseguiu chegar à escada da aeronave,
foi cercado por vários jornalistas, que solicitaram uma
parada estratégica para fotografias. Atencioso com a
imprensa, David acedeu. E fez poses, caras e bocas, para
deleite do pessoal das imagens. Então, subiu a bordo do
primeiro E190 recebido pela companhia, PR-AZL, que
levaria 88 Clientes para a bela cidade de Salvador.
Como todo Cliente da Azul, neste ou em qualquer voo da
empresa, David foi recepcionado pelas comissárias Sylvia
Fleck, Tatiana Ferreira e Melissa, recebendo na porta da
aeronave, além de um belo (e emocionado) sorriso, um
copo de água e um lencinho perfumado. Pequenos toques
que mostram a consideração da companhia para cada um de
seus Clientes.
Nos minutos seguintes, Melissa passou verificando a
posição dos encostos de assentos, bem como os cintos de
segurança. Além disso, distribuiu fones de ouvido para
que os Clientes pudessem desfrutar da programação de voo
da companhia, disponível em cinco canais distintos, cuja
programação seria exibida em monitores individuais.
As portas foram fechadas exatamente as 12h00, mas ainda
havia carga e bagagens embarcando. No pátio, o
comandante Miguel Dau, Vice-Presidente Operacional da
Azul, Trey Urbahn, Vice-Presidente de Marketing, além de
vários outros diretores, aguardavam ansiosos a partida.
O comandante Ary Nunes, escalado para fazer a primeira
decolagem oficial, era acompanhado por outro comandante,
Daniel Ferreira, este da Embraer, que nestes vôos
sentou-se à direita no cockpit e supervisionava o
desempenho de Nunes, ainda em período de instrução.
Terminado o carregamento, o comandante Daniel solicitou
e recebeu autorização para push-back as 12h08, ainda
dentro do limite de "voo pontual", que tecnicamente
expira 15 minutos após o STD - Schedule Time of
Departure. A torre de Viracopos respondeu que o Azul
4064 teria de aguardar, em função da movimentação de
outra aeronave no pátio. Afinal, nosso push-back deu-se
somente as 12h13. O trator levou o Azul 4064 até o final
do pátio principal, onde mais uma homenagem seria
prestada: dois caminhões de bombeiros da Infraero
acionaram seus canhões de água, descrevendo um arco sob
o qual o PR-AZL passou taxiando, uma velha tradição da
aviação reservada a voos especiais, sobretudo os
inaugurais ou de despedida.
O cmte. Nunes alinhou o Embraer 190 e lá fomos nós,
correndo pela pista 15. Eram 12h27 quando os motores
foram acelerados e os freios soltos. Em menos de 25
segundos, o comandante Daniel afirmava para Nunes: "Rotate!"
Na cabine de passageiros, palmas e gritos de alegria:
"Voa Azul!" Lá fomos nós, apontando para os céus de
Campinas, tendo por destino a capital baiana. O Brasil
ganhava mais uma companhia aérea.
Logo que estabilizamos, como é padrão na Azul, nossas "Blue
Angels" - apelido carinhoso que nossas comissárias já
ganharam - passaram perguntando a cada Cliente o que
cada um desejaria tomar durante o voo. Os pedidos foram
anotados rapidamente em uma comanda, que serviria de
guia para a preparação das bebidas. A Azul adotou um
critério diferenciado: em todos os voos, os corredores
são mantidos vazios, sem a incômoda presenca dos
desajeitados e pesados carrinhos de bebidas, que além de
atrapalharem a circulação, bloqueando a passagem, ficam
a meio caminho, afastando comissários dos Clientes.
Minutos depois, as bebidas (sucos, chá, refrigerantes e
água) foram servidas. Cada passageiro recebeu sua
própria lata de suco ou refrigerante, além de um copo
com gelo, outro diferencial generoso da Azul se
comparado ao padrão de outras empresas, que servem
direto de garrafas PET nos copinhos de plástico. Para
acompanhar, cinco tipos de snacks foram oferecidos em
simpáticas cestinhas de vime: batatinhas chips,
amendoins, bolachas salgadas; como doces, mini-wafers de
chocolate e mini-rosquinhas de leite completavam a
seleção.
Estabilizados, Clientes servidos, David Neeleman
aproveitou e fez um curto discurso, antes de
cumprimentar cada Cliente a bordo - inclusive alguns
observadores de empresas concorrentes, que compraram e
voaram normalmente, observando e anotando tudo que viam.
Aproveitou e agradeceu a confiança depositada pelos
primeiros Clientes pagantes da companhia. E depois
brincou: "Alguém aí tem saudade da poltrona do meio?
Bem, nem eu!"
O resto do voo transcorreu em condições de tempo calmo,
com a maioria dos Clientes grudados nos monitores
individuais, assistindo a programação de conteúdo
gravado. A partir do segundo semestre de 2009, a Azul
vai disponibilizar 36 canais de TV ao vivo em monitores
individuais aos seus Clientes, um pioneirismo na aviação
latino-americana.
Pouco antes de iniciarmos a descida, pedi uma
autorização especial ao comandante Ary Nunes: registrar,
desde o jumpseat, a primeira aterrissagem de um voo
regular da Azul. Permissão concedida, acomodei-me na
poltrona escamoteável que fica entre as duas principais
do cockpit e, câmera a tiracolo, amarrei-me ao cinto de
segurança. A cidade de Salvador, resplandecente sob o
sol de quase verão, parecia uma jóia envolta em um mar
de esmeralda, como se fosse um prêmio a coroar o
trabalho de quase mil pessoas, dedicadas a fazer daquele
momento uma realidade.
Mil. quinhentos. trezentos. cem.cinquenta. vinte. dez. O
rádio-altímetro a bordo da cabine marcava a altitude do
PR-AZL em relação à pista. Essa espécie de contagem
regressiva, emitida pela metálica voz da gravação
automática do aparelho, mais parecia marcar o batimento
do coração de cada um daqueles envolvidos naquela
viagem-símbolo, que quase paravam de emoção.
O Comandante Nunes fez um pouso "daqueles", deixando o
Embraer 190 unir-se ao solo baiano de um jeito quase
malemolente, como se já estivéssemos entrado no clima da
Boa Terra. Saímos da pista ouvindo so aplausos que
vinham da cabine principal. Já na pista de taxi, a
cabine foi despressurizada e a janela direita da cabine
de comando aberta. Com muito orgulho, Daniel Ferreira
estendeu para fora do jato a bandeira do Estado da
Bahia, uma homenagem da companhia que seria repetida
também na chegada, horas mais tarde, a Porto Alegre.
Lentamente, taxiamos rumo ao nosso portão, sendo
saudados por aplausos do pessoal de rampa, que parou
para fotografar nossa chegada.
Cortamos os motores. Sorria, Azul, você está na Bahia. E
a partir daquele dia, cada vez mais, nos céus do Brasil.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Nota 10.
Feita no website da empresa, em apenas 3 etapas.
2-Check-In: Nota 8.
Um pouquinho mais lento e desorganizado do que o
esperado, em função da agitação natural de um evento
como este.
3-Embarque: Nota 10.
Tranquilo, ordenado, como deve ser.
4-Assento: Nota 10.
De couro ecológico, configuração 2+2. Confortável,
especialmente no Espaço Azul, com 34 polegadas de espaço
em relação à fileira da frente. Não tem comparação com
qualquer outro na aviação brasileira.
5-Entretenimento: Nota 8.
Seleção de 5 canais de video, com conteúdo gravado. Nota
10, só com a TV ao vivo!
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
As "Blue Angels" foram mesmo impecáveis.
7-Refeições: Nota 8.
Cinco tipos de snacks, self-service.
8-Bebidas: Nota 8.
Seleção composta por sucos, água, café, refrigerantes.
9-Desembarque: Nota 10.
Rápido e organizado.
11-Pontualidade: Nota 8.
Saiu 13 minutos depois do STD, chegou 13 minutos depois
do STA.
Nota final: 9,00
Comentário final: Poucas pessoas poderiam ser mais
SUSPEITAS para avaliar este serviço do que eu, certo?
Afinal, trabalho na companhia. Mas o objetivo do Jetsite
é manter sua posição absolutamente imparcial quanto à
aviação e às companhias aéreas no Brasil e no mundo. Não
poderia ser de outra maneira. Meu coração daria um
redondo 10 para cada ítem. Mas o meu compromisso aqui
neste site é com você, leitor. No dia que isso deixar de
existir, que ele se transformar em veículo de propaganda
da empresa azul, verde, laranja ou vermelha, fecho o
Jetsite e vou plantar hortaliças.
Ok?
Então ok. Muito bem: o que eu vi neste primeiro voo foi
uma enorme vontade de acertar. Foi tudo perfeito? Longe
disso. Dá pra melhorar? Ô se dá. Mas vejo que a
companhia começa na direção certa, focada em oferecer
produto e serviços fundamentalmente superiores aos que
hoje existem. Ainda há muito, muito por fazer. Há muito
o que corrigir, acertar, seja no produto como nos
procedimentos. Os fundamentos, porém, estão lá:
compromisso absoluto com segurança e genuíno desejo em
servir. A plena consciência da qualidade e poder de suas
concorrentes dão à cada colaborador da empresa a
dimensão exata de que só resta uma única chance para que
ela possa estabelecer seu espaço na aviação brasileira:
trabalhar direito, sem pestanejar, com garra e
humildade, para prestar um serviço de qualidade
superior, para um público que não apenas deseja, como
merece algo novo.
Gianfranco Beting