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New Air Zealand NZ019




Mr. Beting, good evening!

A figura grisalha que me cumprimentava destacava-se por sua elegância, vestido num smoking impecável. Estávamos na sala VIP da Air New Zealand, no aeroporto de Los Angeles. O cavalheiro, extremamente polido e sem nenhuma afetação, continuou:

"Sou seu Inflight Service Director no vôo para Auckland nesta noite e lamento informá-lo que poderemos chegar 10 minutos atrasados ao nosso destino. Fora isso, espero que a viagem seja do seu inteiro agrado. Qualquer coisa, me procure. Farei e tuo para que sua viagem seja do seu inteiro agrado. Com licença."

Permaneci sentado, exatamente do jeito que estava, salvo apenas pelo meu queixo caído. Inflight Service Director? Chegar 10 minutos atrasados num vôo de quase 14 horas e 10.479 km? Estaria eu sendo vítima de uma gozação? Nada disso: iria voar numa empresa excepcional, a Air New Zealand (ANZ). E você agora é nosso convidado a ocupar uma cadeira conosco neste Flight Report transpacífico, de Los Angeles à Auckland.

Meus últimos dias haviam sido extremamente fatigantes, com uma quantidade anormal de vôos longos, feitos todos a trabalho. Saíra de São Paulo na sexta-feira 28 de junho (Transbrasil) para New York. De lá fui para Frankfurt (TWA) e então voei para Chicago e Los Angeles (United). Há algum tempo, tinha me dado de presente uma semana de dolce far niente. Iria para Fiji, e para chegar até lá, havia escolhido a Air New Zealand (via Auckland), pois estava careca de ouvir falar bem da empresa. Queria eu mesmo avaliar seus serviços.

Sendo assim, acordei na quarta-feira, 3 de julho, e fiquei o tempo todo fotografando no aeroporto de LAX, o que por sí só já valeu como uma grande terapia. O dia ia terminando e no Terminal 2 de LAX, nada menos que 3 Boeings 747 da Air New Zealand estavam parados lado a lado, suas caudas iluminadas projetando-se de forma imponente contra as luzes do crepúsculo. Uma linda cena.

A reserva havia sido feita para um assento no corredor da Classe Execeutiva, que na ANZ é situada no Upper Deck do 747-400. Esta localização, na "corcova" de um 747, para mim é uma das melhores experiências em vôos longos. A cabine superior do 747 é silenciosa e seu tamanho diminui a sensação de aglomeração e falta de privacidade que a cavernosa fuselagem do jumbo proporciona. É como se estivéssemos voando num jatinho... de 380 toneladas.

Com o espírito elevado, encontrei um balcão de check-in vazio. Cheguei em cima da hora, menos de 60 minutos antes do horário previsto para a decolagem, que naquela noite seria as 22:15. Como não despacharia bagagens, preferi fazer o check-in para o vôo NZ019 o mais próximo possivel do horário da partida.

Fui para a sala VIP. Aguardei a nossa vez de ser chamado: os 3 jumbos da ANZ sairiam em pouco menos de uma hora. Foi quando o já citado Inflight Service Director apareceu e me avisou do atraso de 10 minutos. Como ele sabia meu nome? Porquê dirigir-se aos passageiros para informar de um atraso tão insignificante num vôo de mais de 12 horas? As respostas viriam a seguir: foi um vôo espetacular do princípio ao fim. Sentado na poltrona 8K, fui muito bem tratado por todos à bordo.

O nosso 747, matriculado ZK-NBS, embora não fosse novo (havia sido entregue em outubro de 1990) estava muito bem conservado, mantido de forma impecável. A tripulação tinha ótima aparência e atitude cálida e amistosa para com todos. Estavam bronzeados e relaxados, prontos para nos conduzir através da imensidão do Pacífico Sul. Inspiravam confiança e segurança. O Inflight Service Director corria as cabines, alternando-se em supervisionar o serviço na executiva do Upper Deck e na Primeira Classe lá no deck principal, próxima ao nariz do avião. Com sua gravatinha borboleta, mais parecia um excêntrico diretor de teatro ensaiando uma grande estréia.

Saímos efetivamente atrasados do gate, pois a aeronave se atrasara em sua chegada de Frankfurt. Às 22:33 o trator deu o push-back no ZK-NBS, que sacudiu como que despertando de seu repouso. Motores girando, partimos as 22:45 para a cabeceira da pista 25R. Entramos na longa fila de aeronaves e ficamos aguardando a nossa vez para deixar a Califórnia. Com esse tráfego, somente decolamos às 23:04.

Seguiu-se um jantar excepcionalmente bom. Começamos com finíssimas fatias de cordeiro grelhado, dispostas sobre um leito de salada verde, acompanhado por cubinhos de queijo feta. Como pratos principais, as escolhas variavam entre um filé mignon com molho de vinho tinto e batatas Dauphine. Ou um pato Moscovita num molho de cidra e maçãs. Ou ainda um belíssimo filé de peixe-espada com ervas e um molho de limão e orégano. Tudo cheirava muito bem e a apresentação não poderia ser mais convidativa. Havia ainda uma opção mais light, composta da mesma salada servida na entrada, porém em uma versão "revista e ampliada". Como sobremesa, cheesecake ou uma torta de limão de dar água na boca. Uma rodada de frutas e queijos, acompanhada de um belo Porto e café arremataram este opíparo regabofe. Quando dei por mim, quase um terço da viagem já tinha ficado para trás. Comida é entretenimento de bordo, sim senhor.

A carta de vinhos favorecia seleções nacionais, o que achei muito bom, pois já gostava dos vinhos kiwis. Não me decepcionei: junto com a entrada, provei um delicioso Chardonnay local, amanteigado e amadeirado. Um tinto local foi escolhido para acompanhar meu filé e confesso que estava apenas razoável. Mesmo assim, sem decepções.

Além dos vídeos de bordo, o entretenimento consistia em uma variada seleção de revistas e na própria revista de bordo da companhia, "Pacific Way", que mostrava na capa daquela edição justamente a nova imagem corporativa adotada pela ANZ e que havia sido lançada no mês anterior, batizada de "Pacific Wave".

O vôo prosseguia atravessando o maior dos oceanos com lotação praticamente total. Dos 56 assentos na Business, apenas um estava desocupado. Na First Class, eram 16 lugares, estando metade deles vagos. Lá na econômica, um load-factor acima de 90% nos 326 assentos. Noite de casa cheia.

Mesmo assim, a tripulação dava conta do recado. Era hora de dormir e usei minha necessaire simples e completa. Acomodei-me como pude na poltrona apenas razoável, com 50 polegadas (127 cm) de pitch (a distância entre pontos iguais nas fileiras).

Dormi 5 horas e acordei com fome. A Air New Zealand mantém um bar aberto durante quase todo o vôo, para glutões como eu. Voar aumenta ainda mais meu apetite, que já não é desprezível. Na cabine praticamente às escuras, tomei uma coca light e comi dois sanduichinhos de pickles e roast-beef que estavam muito bons - e fresquinhos.

A diferença de horário é de 5 horas e um dia a mais entre Auckland e Los Angeles. Assim a quinta-feira 4 de julho foi um dia que não existiu para os passageiros embarcados no NZ019. Um ótimo café da manhã, com três opções quentes e frias foi servido pouco antes de chegarmos a Auckland. Pousamos às 05:15, completando a viagem em 13 horas e 9 minutos de vôo, chegando atrasados exatos 15 minutos. E pelo "absurdo" atraso experimentado, o comandante e o já famoso "gravatinha", pediram milhões de desculpas.

Desembarquei impressionado com tanta atenção aos detalhes. Isso sim que é viajar em boa companhia.

Avaliação: notas vão de zero a dez.

1-Reserva: Nota 10.
Sem dramas, feita através de minha agente de viagens.
2-Check-In: Nota 10.
Demorou, se tanto, 1 minuto.
3-Embarque: Nota 10.
A cordialidade doInflight Service Director fez toda a diferença
4-Assento: Nota 6.
Razoável, com vídeos individuais nas poltronas.
5-Entretenimento: Nota 7.
Boa seleção de videos. Na parte musical, a seleção estava fraca, sem imaginação.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Que atitude! Que simpatia! Que eficiência!
7-Refeições: Nota 10.
Das melhores já feitas num avião. Ou melhor, uma das melhores já feitas em qualquer lugar!
8-Bebidas: Nota 8.
Vinhos do mundo novo são sempre bem-vindos e a seleção caseira teve uma grata surpresa.
9-Necessaire: Nota 6.
O básico: tapa-olhos, tapa-ouvidos, escovas, meias, etc...
10-Desembarque: Nota 10.
Rápido. Malas despachadas direto para Fiji.
11-Pontualidade: Nota 9.
Chegamos um pouco atrasados (15 minutos) o que é aceitável e até normal num vôo transpacífico.

Nota final: 8,90

Comentário final: Nenhuma inovação: nem as melhores poltronas, entretenimento, necessaire, nem os melhores vinhos... e daí? O que valeu foi que, apesar de não experimentar nada de novo na Air New Zealand, notei neste vôo (e nos 3 subsequentes) que tudo é esmeradamente cuidado. A atitude de todas as tripulações nestes 4 vôos foi absolutamente impecável, irrepreensível. Comprovou minha tese que não há 777 ou A340 que resista a um mau funcionário, a uma atitude errada. Para comprar um jumbo basta ter dinherio. Para treinar bem um tripulante e motivá-lo a bem servir, de coração, é necessário mais que o vil metal. É preciso talento, seriedade e qualidade.

O pessoal de bordo e em terra da ANZ merece meus sinceros elogios como interessado no assunto e meus mais sentidos agradecimentos como passageiro. Caro leitor: voe na Air New Zealand sempre que for possível.

Gianfranco Beting

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