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Air France AF454



Voamos agora o serviço AF 454 entre CDG-GRU a bordo de um moderno 777-300ER da Airfrance. A jornada de regresso ao Brasil começou com um voo de conexão, partindo de Londres Heathrow em um A319 (F-GRHH) da Airfrance (AF). Cheguei no terminal 2E e a conexão foi feita através de um ônibus, que rapidamente transferiu os passageiros para o terminal 2F, de onde sairia o voo 454 rumo ao Brasil. Ao chegar ao 2F, fui diretamente ao lounge da Airfrance reservado para os clientes da Affaires. Sua galley estava muito bem estocada de bons vinhos, queijos e pães, como era de se esperar.

Aguardei confortavelmente e quando o horário previsto de saída aproximou-se, rumei para o portão F49. Lá estava o F-GSQB, segundo 777-328ER recebido pela Airfrance e naquela noite encarregado da longa travessia de 9.381 km até a cabeceira 09R de Guarulhos. Entregue novo de fábrica em 14 de maio de 2004, externamente mostrava sinais de desgaste, como rebites sem tinta e até mesmo pontos de descascamento claramente visíveis desde o portão. Embora seja uma aeronave moderna, sua conservação externa deveria ser mais cuidadosa.

O portão estava lotado: o embarque já havia começado há algum tempo, mas, com 325 passageiros por embarcar, o processo foi talvez mais moroso do que deveria. Finalmente ocupei minha poltrona, 8A, ao lado do gigantesco motor 1 do magnífico jato. A enorme Classe Affaires tinha seus 67 assentos ocupados, bem como as 250 poltronas da classe "Tempo" (Econômica) e as oito suítes da "Première", a Primeira Classe da AF. Drinks de boas vindas: champagne, suco de manga e água circularam enquanto o embarque era finalizado. Nosso horário de saída, 23h30, passou e as portas permaneceram abertas. Discrepâncias na contagem dos passageiros retardaram o processo, informou o comandante. Finalmente, o trator empurrou o gigantesco 777 para o pátio, àquela hora praticamente vazio. O voo 454 teria início.

Motores girando, o Boeing foi desconectado do trator e iniciou o seu taxi para a pista 27L, de onde alinhamos e partimos executando a SID LGL 1D exatamente as 00h05 do dia 24 de julho. Motores rugindo, o 777 pesava 332 toneladas, 12t abaixo de seu peso máximo de decolagem, 344.5 toneladas. Nossas velocidades foram 163, 173 e 179. Rodamos com 50 segundos desde o "Brakes-Off." O rugido dos motores GE 90-115B ao meu lado me deixou encantado. E a visão nos minutos seguintes, ainda mais: a gloriosa Paris, a Cidade Luz, estendendo-se por quase todo o campo visual. O Arco do Triunfo, a Torre Eiffel, toda a glória da mais majestosa cidade do mundo, perfeitamente visível da janela. É sempre um "grand finale" deixar a Europa por Paris. Lembrei-me de outra partida noturna assim, em fevereiro de 1987, a bordo do PP-VMB, DC-10-30 da Varig. Fica para o "Cantinho da Saudade". Estabilizamos em nossa primeira altitude de cruzeiro, 31 mil pés. O Boeing desenvolvia uma velocidade em relação ao solo de 510 nós, ou 944km/h.

Cardápios foram distribuídos tão logo estabilizamos, mas nenhum drink ou castanhas para começar. Era exatamente uma hora da manhã quando o jantar foi servido. Foie Gras e melão, uma combinação perfeita, acompanhada de salada verde, era a única entrada, ainda que estivesse excelente. Quatro opções de prato principal: costeleta de vitela; filé de galinha d'Angola com mel; arroz ao estilo paella; vieiras sauté em azeite, acompanhadas de arroz com açafrão. Fiquei nesta última e estava saborosíssima. De sobremesa, um trio pequeno e elegante composto por uma terrina de frutas silvestres, um bolo fondant de chocolate e uma torta shortbread de damasco. Muito saborosos.

Carta de vinhos sucinta: Champagne Ayala Brut Majeur e o branco, um Limoux Terroir de Haute Vallée 2007. Tintos foram dois: Moulin-À-Vent 2006 Georges Duboeuf e Château Tour Séran 2007 Jean Guyon, um cru Bourgeouis que acabei não experimentando. Para encerrar, pedi um chá. Foi-me oferecida uma caixa-livro do Fauchon, com oito variedades para escolher, uma apresentação finíssima. Toalhas e guardanapos de puro linho, copos e talheres elegantes, completaram a experiência de jantar a bordo do avião do país que ensinou à humanidade os mais elevados conceitos de etiqueta e educação. No fundo, nos menores e mais sutis detalhes, não há nada parecido. São centenas de anos de classe e educação, que fazem sim, uma baita diferença na arte de servir.

O sistema de entretenimento agradou bastante, bem como a poltrona de couro bege e azul marinho, espaçosa, com controles lógicos e bem posicionados. Dormi pesadamente por sete horas. Durante a noite, à medida que o 777 queimava o combustível à razão de 9 toneladas por hora de voo, ele ficava mais leve e ganhava altura. Nossa rota nos fez sobrevoar Santiago de Compostela, depois atravessar o Atlântico, sobrevoar os waypoints NELSO e KENOK, para depois entrar sobre território brasileiro na vertical da cidade de Fortaleza. Acordei a tempo apenas de tomar o café da manhã. Estava muito bem apresentado e saboroso. Então seguimos uma proa direta até Pirassununga, iniciando a descida as 05h30 cravado. Pousamos na 09R de GRU as 05h57, oito minutos adiantado em relação ao nosso horário previsto de chegada.

Avaliação: notas vão de zero a dez.

1-Reserva: Sem nota.
Feita pela própria empresa.
2-Check-In: Nota 10.
Rápido e especialmente atencioso, feito no terminal 4 de Heathrow, na ala reservada para passageiros da Primeira e Executiva. Excelente mesmo.
3-Embarque: Nota 5.
Desorganizado, uma bela bagunça, bem brasileira.
4-Assento: Nota 9.
Espaçoso e confortável. Reclinação é total e quase de 180º. Como na KLM, para ser perfeito, somente se estivesse a 90 graus com o piso.
5-Entretenimento: Nota 10.
Outro sistema AVOD de ótima qualidade.
6-Serviço dos comissários: Nota 8.
Elegantes e prestativos, mas ficaram devendo no quesito simpatia. Profissionais.
7-Refeições: Nota 9.
Muito boas mesmo, gostei.
8-Bebidas: Nota 7.
Pouca variedade: 1 branco só? Realmente ficou devendo.
9-Necessaire: Nota 7.
Elegante e concisa, sem exageros nem nada faltando.
10-Desembarque: Nota 10.
Ágil e organizado.
11-Pontualidade: Nota 10.
Chegada um pouco antes do horário.

Média Airfrance: 8,50

Duas companhias de enorme tradição na aviação uniram esforços há alguns anos, criando uma gigante do setor. Até recentemente, a Airfrance KLM foi a maior companhia aérea do mundo, superada recentemente pela fusão de United e Continental. Ainda que, de fato, a Airfrance tenha adquirido o controle da KLM, na prática as duas companhias operam produtos, identidades, frotas e tripulantes contratados, treinados e decididamente entregando um padrão de atendimento distinto. Ainda assim, um produto que tem em comum um notável padrão de classe internacional. Na KLM, destaco o excepcional nível de atendimento das tripulações e a carta de vinhos. Na Airfrance, os pontos altos foram o serviço de alta classe, bem como a culinária esmerada e o assento confortável. A nítida impressão após estas vagens é que ao comprar uma passagem na Airfrance/KLM o passageiro pode ter certeza de que será muito bem tratado independentemente de qual parceira escolher.

G. Beting







Air France AF243



Eles inventaram o savoir faire, o savoir vivre, o laisser faire. Imagine se eu não tinha altas expectativas ao embarcar na primeira classe do vôo AF243, non-stop entre Guarulhos e Paris. Era o terceiro dia de março de 1996 e o país ainda não havia se recuperado do choque causado pelo desastre ocorrido algumas horas antes com o Learjet que transportava o conjunto Mamonas Assassinas. Era uma hora sombria para todos. A tristeza era visível no aeroporto de Guarulhos, terra natal dos integrantes da banda, destino final do vôo que nunca chegou, explodindo numa colina a alguns quilômetros da pista.

Estava indo acompanhar meu chefe, o comandante Omar Fontana, atendendo a um convite do VP de Vendas da Airbus, Rafael Alonso, que na época negociava com a Transbrasil a venda de 15 Airbus A319/A320 e mais 6 A340-300, com os quais a Transbrasil estudava uma renovação de frota que por fim, não se concretizou.

Como convidados da empresa, voávamos eu e o Cmte. Omar na primeira classe da Air France. Na época, os assentos-cama eram uma grande novidade, e seria minha segunda experiência com este conceito sublime de conforto, lançado pela British Airways.

Encontramo-nos no balcão de check-in. Como em todas as minhas viagens a negócios, nunca embarco malas. Não foi execeção, nem ao Cmte., que em décadas de vôos jamais checou bagagens. "Executivos de aviação que se prezam jamais despacham malas" trovejava ele quando alguém que o acompanhasse em viagens a negócios caía no erro de checar bagagens. Se alguém quisesse vê-lo irritado, essa era uma das maneiras mais fáceis.

Sendo assim, nosso check-in levou segundos. Nossos assentos eram o 1J e 1K, na única fileira da nova primeira classe da Air France. Voaríamos no A340-313X de prefixo F-GNID naquela tarde, configurado com 6 assentos na Primeira, 42 na executiva e 204 na econômica.

Fomos para a sala VIP e começamos a conversar sobre aviação, nossa paixão em comum, que transcendia as necessidades e obrigações de nosso trabalho. Pelas próximas seis horas, eu e o Cmte. Omar só falamos sobre aviões e aviação, sem parar. Omar conversava e prestava atenção em cada ruído, em cada parafuso, em cada peça dos aviões em que voava. Neste vôo então, ele era só atenção ao Airbus A340, aeronave que poderia estar comprando nos próximos dias para a sua Transbrasil.

Embarcamos no horário previsto na diminuta cabine da primeira classe. Com uma única fileira de seis assentos, um balcão de bar adiante e uma divisória trás, mais parecia que voaríamos num jatinho particular. Isso também porque só havia mais uma passageira, sentada na janela oposta.

O Cmte. deu as boas vindas em francês, saudando a todos e explicando os waypoints principais que sobrevoaríamos no longo trecho até a Cidade Luz. Estimou em 11 horas de vôo nossa jornada e desejou a todos uma boa viagem. Passou então para um inglês excepcionalmente bom para um gaulês. E arrasou ao iniciar seu speech numa terceira língua, um alemão que me pareceu bastante razoável. Pelo sobrenome (de origem alemã) concluí que nosso skipper naquela tarde-noite deveria ser no mínimo alsaciano.

Portas fechadas, push-back tratorando o A340-300 de sua posição rumo ao pátio dois minutos antes do STD, quando chega a chefa de cabine e nos informa que por problemas de catering em paris, as necessaires que deveriam ter sido embarcadas lá para o vôo de retorno não o foram... e ela lamentava muito. Incroiable! Bem, paciência. Apelamos para nossos próprios flight kits, trazidos nas malas... não fosse isso, seria uma noite de abluções incompletas.

Taxiamos as 18:05 para a cabeceira 09L. Alinhados na pista, o Cmte. aplica potência nos quatro motores CFM, que só então se fazem ouvir na cabine. O A340 em "idle power" é impressionantemente silencioso. Então começamos uma corrida de decolagem que para os não iniciados, chega a assustar. Conhecido jocosamente como "rolha de aerovia" em alguns círculos aeronáuticos e notoriamente menos potente que outras aeronaves de sua classe, o A340 tem um desempenho na pista que lembra jatos de primeira geração. Ao final de quase um minuto correndo no asfalto, e já nos 500m finais da 09-27, o A340 finalmente vence a gravidade e vai subindo vagarosamente, permitindo aos passageiros uma visão panorâmica de Guarulhos e adjacências. Olho para Omar, que me fita de soslaio e levanta uma sobrancelha. Não precisou falar mais nada.

Os cardápios, distribuídos ainda em terra, são examinados e revelam uma entrada apenas, foie gras, e nenhum caviar à vista. Esperava mais da Air France. A seleção de pratos quentes revelou 4 opções: filet mignon maitre d`hotel, supremo de frango ao manjericão, filé de pirarucu à bahiana e até um tutú a mineira. Pontos para a AF, que explorou bem as delícias da cozinha brasileira. Fui no filé e estava bastante bom, acompanhado de um gratin de batatas excelente, champignons silvestres e favas.

A apresentação foi maravilhosa. Louças francesas lindas, de limoges, em temas aeronáuticos. Um serviço de toalhas e guardanapos de extremo bom gosto, num linho azul excelente, com motivos que evocavam toda a tradição de bravura e a rica história da Aeropostále e da Air France. Lindamente complementados por talheres clássicos de prata, tudo com a cara de uma velha e charmosa Europa que se perdeu...

A carta de vinhos não podia fazer feio e não fez. Três brancos da borgonha: Chablis 93 Les Vaucopins e Mersualt 92 Les Bouches Chères, ambos premier crus e mais um Puligny-Montrachet 93. Tintos da borgonha eram um Gevrey Chambertain 90 La Justice, um Chambole Musigny 92 e um Nuits-Saint-Georges 91. Os bordeaux eram quatro chateaux: Cantemerle 90, La Gaffelière 92, Clarke 90, La Louvière 92. Perdoe-me o leitor, mas está difícil escrever, estou molhando com minha baba todo o teclado...

Nada menos que 8 champagnes completavam os vinhos. Quatro eram bruts (Pommery Royal, Piper-Heidsieck, Mumm Cordon Rouge e Veuve Cliquot e mais 4 Cuvées spéciales: Taittinger 86, Louise Pommery 87, Perrier Grande Siècle 85 e Belle Époque 88 da Perrier Jouët. Fantastique!

Mas o fígado era um só e fomos bebendo mais ou menos até a metade do caminho, quando o sono se apresentou. Coloquei-me no pijama oferecido aos passageiros da primeira classe, o que provocou risos no Cmte. Omar. Estiquei-me na poltrona-cama e só fui despertado pela ação firme da aeromoça, que me acordou a tempo de me empurrar o Petit Dejeneur à la Européenne goela abaixo.

O que me chamou a atenção desfavoravelmente foi a presença de uma embalagem de iogurte (nacional) no meio da bandeja, numa apresentação que embora seja prática, é absolutamente deselegante. No meio de todo aquele linho, um potinho de plástico não tinha nada a ver e destoava completamente. Se querem servir iogurte, que o apresentem numa vasilha, já servido. Ou se tem classe ou não tem: quem senta naquelas poltronas está pagando US$ 8.000,00 e não aceita estes tipo de "praticidade"...

Seja como for, na Primeira da Air France existem dois tipos de serviço. Pode ser o Tradition (o que escolhemos) ou o Express, servido de uma vez só na bandeja e ideal para quem quer descansar um pouco mais ou trabalhar. No desjejum foi a mesma coisa. O mais rápido é servido uma hora antes do pouso e o Petit Dejeneur Chaude, é servido 90 minutos antes da chegada.

A atitude da tripulação deixou um pouco a desejar. Embora estivéssemos na primeira classe, não houve nenhuma manifestação mais calorosa para nós três passageiros. Os comissários mais pareciam autômatos, programados de forma a se auto-destruírem caso abrissem um sorriso.

Seja como for, o F-GNID navegou a noite toda, atravessando o Atlântico Sul e nos deixando, sãos e salvos, antes do horário previsto (STA 08:00, pouso 07:58) no moderno terminal da Air France em Charles De Gaulle. Depois de 10 horas e 47 minutos de vôo, desembarcamos e fizemos uma rápida conexão para Toulouse, onde fica a fábrica da Airbus. Mas esta já é outra viagem...

Avaliação: notas vão de zero a dez.

1-Reserva: Nota 10.
Perfeita.
2-Check-In: Nota 10.
Perfeito, sem demora, tratamento simpático e cortês.
3-Embarque: Nota 10.
Boa sala VIP, aeroporto vazio naquela hora.
4-Assento: Nota 10.
Que grande invenção essas camas. Mais uma vez, obrigado, British Airways!
5-Entretenimento: Nota 8.
Boa seleção musical e de video, exibida em telas individuais.
6-Serviço dos comissários: Nota 5.
Esperava muito mais da equipe. Deveriam ser todos parisienses, para voar com um humor desses...
7-Refeições: Nota 9.
Pra ser 10, só faltou o caviar.
8-Bebidas: Nota 10.
Se pudesse, dava nota 20.
9-Necessaire: Nota 0.
Não distribuída... vergonhoso!
10-Desembarque: Nota 10.
Rápido e eficiente, conexão para um 737-300 da L´Aeropostale.
11-Pontualidade: Nota 10.
Tudo no horário e chegada antecipada.

Nota final: 8,36

Comentário final:

A expectativa era bastante alta e a experiência atingiu resultados satisfatórios. Mas no fundo, saí com a sensação de que nos detalhes, a Air France ficou devendo.


(Gianfranco Beting)

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