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American Airlines AA951 CLASSE EXECUTIVA
Um frio de 2ºC envolvia o 777-200ER da American Airlines
na noite de 11 de fevereiro de 2005. As luzes amarelas
do aeroporto de JFK em NY emprestavam um tom dourado ao
alumínio da fuselagem do gigantesco birreator, orgulho
da imensa frota da American. Parado no gate 22 do
terminal 8, o enorme jato recebia toneladas de
combustível, centenas de malas e uma carga humana que
totalizava os assentos dsponíveis e mais alguns. O vôo
951 estava tecnicamente "oversold" naquela noite de
sexta-feira pós caranaval. Com o vôo lotado, a American
se viu na obrigação de usar todos os assentos
disponíveis. No meu caso, isso significou um Upgrade de
classe, passando da poltrona 39F, penúltima fila, para a
confortável Business Class do jato. Novo assento, 11D e
11E para minha esposa.
Sorte? Nem tanto. O fato de que tenho milhas no programa
da AA conta numa hora dessas. Os agentes de portão
encarregados de "fechar" o vôo levam isso em
consideração. E outro detalhe: as roupas que os
passageiros vestem, sua aparência. É mais fácil
justificar aos passageiros pagantes das classe
superiores a presença de alguém bem vestido do que um
passageiro de jogging, bermudas e sandálias. Pense nisso
no seu próximo vôo.
Não que estivesse de gravata ao algo assim. Mas os
agentes são instruídos a procurar por passageiros que
tenham uma aparência, digamos, compatível com a classe
em que viajarão como convidados. Algumas dicas: jeans,
jamais. Tênis e jogging? Nem em sonho. Um blaser para
homens, e saia ou algo mais Habilée para mulheres e você
já está no topo da lista. E, além do mais, viajar com
roupas mais elegantes (desde que confortáveis) não piora
viagem alguma.
Sendo assim, lá fomos nós para os assentos da Classe
Executiva. Nada mal para este AA951, um vôo que já havia
começado bem: exemplar tratamento em terra, com um
funcionário pra lá de simpático, notável mesmo.
Em minutos nossas malas despachadas, pouco tempo para
passar pelo raio-x e voilá: chegávamos ao gate. Chamá-lo
de gate é bondade: estes três portões, do terminal 8 de
JFK, o 21 , 22 e 23, são absurdamente velhos, sujos e
apertados: chega a ser quase inacreditável pensar que se
está na capital do Mundo. Mas agora que a American
inaugura um novo e moderníssimo terminal em JFK, isso
certamente irá melhorar muito a experiência pré-vôo.
Muito bem, tudo pronto para embarque, quando soubemos de
nosso upgrade -uma bela surpresa para quem ia encarar a
última fileira do 777. Instalados nas confortáveis
poltronas da Executiva, atendidos por uma veteraníssima
comissária, tão gentil quanto voada, a vida ficou bem,
bem melhor.
Aí veio o inesperado: o caminhão de catering abastecendo
a galley dianteira do 777, ao terminar seus trabalhos,
deu uma marcha-a-ré mal calaculada e acabou por dar um
esbarrão na porta de carga de porão do 777. Pelo menos
foi essa a versão que o comandante deu para justificar
nosso atraso. Ao invés de decolarmos as 22h20 como
programado, o 777 de prefixo N776AN acabou sendo
tratorado ao já deserto pátio de JFK depois da meia
noite. Bolas. Afinal, nosso push-back foi as 00h17, o
taxi as 00h20 e nossa decolagem as 00h30.
Mas, paciência, isso pode ocorrer em qualquer empresa.
Durante o período, a tripulação passou oferecendo copos
de água e suco - a abertura do bar só pode ser feita em
vôo, por regulamentos internacionais. Sendo assim só
depois da meia noite é que fomos pensar em jantar.
O cardápio foi distribuido e examinei as opções. Ao meu
lado, a patroa já dormia a sono solto em sua poltrona e
nem sonhou em acordar para a ceia. Meu apetite, no
entanto, era o de sempre. Nossa competentíssima
comissária ajoelhou-se ao meu lado e me disse assim:
Mr. Beting, em função de nosso atraso, o senhor gostaria
de fazer um jantar expresso? Traria tudo junto na
bandeja, agilizando a refeição para o senhor ter mais
tempo para descansar? Bidú!
Assim foi: bandeja no colo, com entrada (uma razoável),
um de prato principal (bom) e o tradicional sundae da
American, bom como sempre, de sobremesa - infalível. O
vinho foi servido junto, era um - não muito inspirado -
e pouco mais de meia hora depois de servido, via a
bandeja ser levada de volta a galley.
Fiz minhas abluções no espaçoso lavatório do 777 e, de
volta a poltrona, estiquei-me e dormi com razoável
conforto por mais de quatro horas. Acordei com o cehiro
de café invadindo a cabine do 777. A patroa, já
desperta, já saboreava seu desjejum com a fome típica de
quem não jantou.
Um prato quente - uma razoável omelete - e os
acompanhamentos de prexe e estávamos prontos para a
chegada, que deu-se na pista 09R as 12h35 - Um
considerável atraso, magnificado pelo fato de que
entramos em pleno trânsito pesado no a cesso à cidade de
São Paulo. Uma experiência que não recomendo a ninguém.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Nota 10.
No excelente padrão de sempre da AA.
2-Check-In: Nota 10.
"New York state of mind" não prevaleceu desta vez: muito
simpatico e eficiente.
3-Embarque: Nota 9.
Ordenado, com prioridade para classes superiores.
4-Assento: Nota 8.
Pitch bom e telas individuais. para quem ia de
econômica, outro mundo!
5-Entretenimento: Nota 8.
Boa seleção musical e de video.
6-Serviço dos comissários: Nota 10.
Nunca espero muito dos tripulantes da American. Mas esta
tripulação foi nota 10!
7-Refeições: Nota 8.
Corretas, o "jantar expresso" foi uma bênção.
8-Bebidas: Nota 7.
Idem. Mas não deu para curtir muito, devido ao adiantado
da hora e atrasado do vôo... 9-Necessaire: Nota 6.
Um kit completo, mas caretão.
10-Desembarque: Nota 8.
Rápido e eficiente.
11-Pontualidade: Nota 0.
Saída e chegada bem depois do horário.
Nota final: 7,63
Comentário final:
Tirando o atraso, este AA951 foi bastante bom - graças à
atuação direta, diferenciada, "beyond the call of duty"
da veterana comissária. Ela, com sua atenção, deu a
volta por cima: transformou um atraso detestável numa
experiência razoável. O upgrade também contou muito para
uma melhor opinião geral. Em que pese o problema
técnico, a sensação ao sair da aeronave - e isso é que
conta - é que esta foi uma boa viagem pela American.
(Gianfranco Beting)
American Airlines AA906 CLASSE ECONÔMICA
O primeiro vôo a gente nunca esquece, não é? Meu
filhotinho vai esquecer o dele. Ou melhor, nem vai
lembrar, pois o danado tinha quatro meses quando
embarcou no AA906, um 777-200ER novinho em folha da
American Airlines, com destino a Miami. Talvez
devêssemos copiar seu exemplo. É o que você verá neste
Flight Report.
Voar na noite do revéillon pode parecer um programa de
índio, e é. Pensando bem, se você é como eu, do tipo que
NUNCA acha ruim andar de avião, pode ser uma boa idéia.
Originalmente eu, minha mulher e meu filho de quatro
meses teríamos partido na noite do dia 25 de dezembro,
mas problemas de saúde com familiares impediram nosso
embarque na data programada. Como estávamos voando numa
tarifa especialmente barata, (US$ 592,00 em 5x sem
juros) o regulamento desta tarifa impunha uma multa de
US$ 100,00 (por bilhete) que seria cobrada em caso de
remarcação, exceto se huvesse uma emergência. Ligamos
para a reserva da AA informando o motivo da mudança e
fomos avisados que deveríamos trazer um atestado médico.
Só conseguimos confirmar nossa viagem no dia 29 e disse
pra minha mulher: "olha, viajando com um bebê de colo,
que tal embarcarmos na noite do dia 31? O vôo vai estar
vazio e a gente aproveita e se estica lá no fundão..."
Dito e feito. A cidade estava deserta na noite do dia
31, quando chegamos num terminal absolutamente vazio.
Nossa tensão, natural aos "pais de primeira viagem", foi
prontamente desfeita pela simpatia das atendentes da
American, que nos deram prioridade na pequena fila e
fizeram nosso check-in imediatamente. E a taxa de US$
200,00 que pagaríamos pela remarcação foi efetivamente
dispensada com a apresentação do atestado médico que
trouxemos. Muito bom.
Fomos para a Sala VIP, pois como possuo um cartão de
fidelidade AAdvantage Gold, o acesso é permitido. Nosso
pequeno Thomas aproveitou a sala deserta e "jantou" sua
mamãe antes do embarque. Alimentado, continuou acordado
e observando aquele mundo estranho, que, quando crescer,
espero que venha a adorar.
Fomos chamados e começamos o deslocamento logístico que
acompanha um bebê em viagem. Carrinho, Bebê-Conforto,
mamadeiras, fraldas, roupinha reserva, reserva da
roupinha reserva, algodãozinho... enfim, uns 300kg de
provisões para quaisquer emergências aero-pueris...
Vamos para a sala de embarque e... surpresinha! Nosso
Boeing 777 estava estacionado, naquela noite, numa das
posições remotas, que delícia! Desce escada, sobe no
ônibus, desce do ônibus, sobe escada... com essa tralha
toda... ufa! Enfim, fomos para uma das últimas fileira
do 777, onde a chance de encontrar assentos vazios é
maior. Mas naquela noite isso não seria problema.
Embarcamos no moderníssimo avião que tinha entrado em
operação há apenas algumas semanas. Fomos aos nossos
assentos, que contam verdadeiramente com um espaço entre
fileiras bastante decente: depois que a AA resolveu
tirar algums fileiras, o pitch voltou a ser condizente
com a raça humana. Como estávamos com o pequeno Thomas,
fomos os primeiros a embarcar. Mais um pouco, seríamos
os últimos também: havia no máximo uma 20 pessoas em
toda a classe econômica, sete na Business e três na
Primeira Classe. A configuração deste 777 da AA,
matriculado N750AN, é de 16 assentos na First, 35 na
Business e 194 na Econômica.
Depois de me acomodar, ouvi um vozerio que vinha da
galley do fundo e fui verificar. Eram os comissários,
que riam e se confraternizavam, fazendo piadinhas sobre
ter que trabalhar numa noite de revéillon. Tudo bem,
descontração total. Daí veio o inesperado.
Eles formavam um grupo e se prepraravam para posar para
fotos, que seriam feitas entre eles. Ao perceber a
situação, ofereci-me para fotografá-los: assim o time
sairia completo nas imagens. Eles me olharam como a uma
cobaia de laboratório e passados alguns segundos de
mutismo, recebi em minhas mãos as câmeras de 3
tripulantes. Em segundos, fiz as três fotos. O melhor
vem agora: ao devolver as câmeras aos respectivos donos,
eles simplesmente pegaram as mesmas, sem dignar-se a dar
nem um mísero Thank You! ao palhAAço AAqui.
Tá certo que eu sou um reles macAAco sul-AAmericano, um
parente simiesco mais próximo, na escala evolutiva, dos
orangotAAngos, mas um mínimo de consideração, até num
gesto automático de quem lhe deposita algo nas mãos, era
esperado.
Ou talvez, eu tenha nascido numa época errada, em que as
relações com estranhos (passageiros) são pautadas pela
pouca educação e desconfiança. Seria eu um membro do
Al-Qaeda? Traria os esporos do Antrax nas mãos? Nada
disso, caro leitor. Devo ser muito ingênuo para esperar
de um comissário de bordo da poderosa American Airlines
Inc. um mínimo de educação. Talvez seja por essas e por
outras é que a AA é chamada pelos funcionários de suas
congêneres yankees de Arrogant Airlines...Voltei com o "tail
entre as pernas" para o meu assento, de onde talvez
nunca deveria ter saído.
Voltando ao vôo: nosso estimado de saída era as 23:20 e
acabamos fazendo o push-back somente as 23:34. Taxiamos
aos 39 e decolamos aos 45 minutos, faltando 15
minutinhos para o ano acabar. Tão logo estabilizamnos, a
tripulação correu e distribuiu um espumante (de origem
ignota) em copinhos de plástico, informando que o
comandante avisaria quando nos aproximássemos da hora H.
De fato, as 23:59 o captain entrou no PA avisando... e
faltando dez segundos, fez a contagem regressiva. À zero
hora, completou, num sotaque texano: "Well, folks,
welcome to 2002 and have a happy new year!"
Brindamos e 2002 começou muito bem: voando. Em seguida a
tripulação trouxe as bandejinhas de jantar, que minha
esposa dispensou prontamente. O glutão aqui pode então
ficar com a chicken dela, pois meu filé mignon não dava
nem pro primeiro tempo. Um vinhozinho argentino na
garrafinha, bebido no copinho de plástico...
O ponto "alto" foi a sobremesa: uma mousse de sabor
indescritível: não saberia descrever se a matéria
orgânica usada em sua composição havia sido (em estado
bruto) animal, vegetal ou mineral. A pasta, de um cinza
uniforme que me lembrou vagamente Ciment-cola Quartzolit,
exalava um odor singular. Poderia ser serragem? Ou
isopor com essência de jabuticaba? O catering nos
aeroportos brasileiros é capaz de se superar.
Seja como for, nosso Tommy ignorava tudo e todos à sua
volta, dormindo o sono dos justos. Isso me deu
tranquilidade suficiente para que eu me esticasse nas
cinco poltronas centrais do 777 e dormisse profundamente
por umas 4 horas. A mãe, na melhor tradição yidish-mame,
não pregou os olhos um único e escasso segundo durante o
vôo, sempre vigilante com seu rebento.
Acordei com aquela cara linda de quem dormiu em avião e
fui conferir a família. Tudo em ordem. Serviram o café
na bandejinha e o comandante fez um speech informando o
STA. As telas individuais dos assentos funcionaram
perfeitamente, distraindo e fazendo a viagem parecer
mais curta.
Quando deixamos nossa cruise altitude de 39.000 pés,
nosso pequeno aviador despertou. Fez um belo serviço,
enchendo sua fraldinha, prontamente trocada pela sua
mamãe. Antes que ela pudesse falar AAdvantage, o infante
deu aquela mAAmada. Satisfeito com seu breakfast, ficou
quietinho até o Triplo Sete tocar a pista 27R de Miami,
as 04:58, completando a viagem em oito horas e 13
minutos de vôo.
Desembarcamos num aeroporto vazio, as malas já estavam
na esteira. Saímos para a madrugada fria e um dia lindo
que vinha raiando. O pequeno Thomas acabara de entrar no
mundo mágico dos AAviões.
Avaliação: notas vão de zero a dez.
1-Reserva: Nota 10
Sem queixas, prontamente mudando a data de nossa viagem
e instruindo claramente as limitações de nossos
bilhetes.
2-Check-In: Nota 10
Mais que perfeito: foram simpáticos, atenciosos com o
"baby" e profissionais.
3-Embarque: Nota 4
Embarque em posição remota com bebê de colo é um sufoco!
Mas a atitude do ground staff foi em geral, bastante
solícita.
4-Assento: Nota 7
Pitch correto e telas individuais melhoram a viagem de
qualquer mortal.
5-Entretenimento: Nota 7
Boa seleção musical e de video.
6-Serviço dos comissários: Nota 0
Não esperava nada dos tripulantes da American. Fiz mais
de 40 vôos com eles, em todas as classes, em curtos
trechos domésticos e longos setores internacionais. E, à
exceção de um LHR-JFK onde fui muito bem tratado (na
Primeira Classe), sei que há um problema crônico de
atitude dos tripulantes, especialmente nos vôos para a
"América Latrina". O episódio das fotos é emblemático.
7-Refeições: Nota 2
Menos que isso só a abstinência.
8-Bebidas: Nota 3
Vinho argentino potável.
9-Necessaire: Nota 5
Um kitzinho com máscara para os olhos, dentifrício e
escova dental. Melhor que nada.
10-Desembarque: Nota 10
Rápido e eficiente no 777 vazio.
11-Pontualidade: Nota 10
Saída e chegada no horário.
Nota final: 6,18
Comentário final:
A American gasta bilhões de dólares em aeronaves
moderníssimas, mas fica devendo no treinamento de sua
equipe de vôo. Só porque voar nos USA é uma coisa
absolutamente cotidiana, desglamurizada, isso não
deveria significar que as relações entre passageiros e
tripulantes merecessem destes últimos tamanho
desinteresse. Eu sei que é desagradável trabalhar em
feriados, mas quem é do ramo se supera numa hora dessas
e trata bem os passageiros, mesmo quando eles são
originários das Banana Republics... So much for "Something
Special in The Air"...
(Gianfranco Beting)