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Tudo muda o tempo todo


Em 23 de janeiro, a alemã Cirrus fechou as portas. No dia 27 do mesmo mês, a Spanair, quarta maior empresa aérea da Espanha, com mais de 13 milhões de passageiros transportados no ano anterior, ficou no chão. A companhia voava desde 1986. No dia 3 de fevereiro, foi a vez da húngara Malev dizer adeus. A companhia de bandeira magiar voava desde 1946 e era um símbolo nacional, respeitada e querida em seu pais e elo vital para a economia local. Ainda assim, o governo húngaro desligou os aparelhos financeiros que lhe davam uma sobrevida. A companhia vinha sangrando o erário público há décadas.

Em novembro, o pedido de concordata (não confundir com falência) da American Airlines chamou atenção no mundo todo. Até tu, Brutus? Até a então inatacável AA, a única das grandes empresas aéreas norteamericanas que não havia embarcado no "Chapter 11", o regime de proteção aos credores, pediu arrego e precisou pedir pouso no caixa-prego. Segundo a Air Transport Association, trata-se da centésima empresa a declarar-se inapta a honrar seus compromisso desde 1990. Muitas destas, como se sabe, após entrar no "Chapter 11" evoluíram à óbito, declarando falência e entrando no temido "Chapter 7" (liquidação) segundo as regras da US Fedreal Courts.

Na Europa, adeus para a Spanair e Malev. Nos Estados Unidos, a American foi a última a entrar em concordata. Outras virão. Em breve.

No mundo todo, em qualquer setor da economia, empresas nascem, crescem, fulguram, entram em decadência e morrem. Na aviação, nossa área de interesse, este ciclo costuma ser mais curto, em função dos desafios inerentes ao setor. Ou, se preferir, a "mortalidade infantil" na aviação é maior do que em outros setores estratégicos da economia. Se levarmos em consideração que a empresa mais antiga aérea em operação ininterrupta, a KLM, tem 92 anos de idade (fundada em 7 de outubro de 1919) então constatamos que, de fato, longevidade não é um fator comum dentre companhias aéreas, grandes ou pequenas, privadas ou estatais. Não estamos levando em consideração que em 2004 a KLM foi adquirida pela Air France, mas isto faz parte da vida corporativa.

Em comum, e este é o tema deste editorial, está o seguinte fato: companhias aéreas vão sempre nascer, crescer, errar, fechar. E serão substituídas por outras novas, por antigas que mudam de nome, ou se amalgamam, ou se separam, ou criam divisões ou sub-marcas.

Veja o exemplo do Brasil. Volte o relógio 10 anos: estamos em 2002. Você seria capaz de dizer que, em cinco anos, Varig e Vasp iriam desaparecer, que empresas novas como a Avianca Brasil, Azul, Mais, Rio, Sideral, Air Brasil estaria voando? E que no intervalo de tempo de menos de uma década, companhias como a NoAr, Sol, Brasmex, Skymaster, Air Minas, TAF, teriam nascido, crescido e morrido?

Pois mais do que seja espantoso, o quadro mostra apenas o quão dinâmico é o setor. E quão darwinianas são as leis que regem esta selva. Os mais aptos sobrevivem e se alimentam dos mais fracos. A recente paralisação definitiva de outro nome tradicional da aviação brasileira, a Variglog, apenas confirma que a palavra "transitória" aplica-se com precisão para definir o estado da mera existência das companhias aéreas. Com a paralisação da Variglog, mais uma empresa aérea cargueira brasileira deixa de voar. Com isto, novas oportunidades de negócios se abrem para as empresas sobreviventes e novas oportunidades apresentam-se para que novas empresas - ainda a serem formadas - criem coragem e ganhem asas. O setor de carga é especialmente marcado por companhias de ciclos vitais curtos. Ano passado, por exemplo, foi a vez da MTA bater as botas.

Justamente esta é uma das características que mais fascina aqueles que acompanham o setor. É como olhar para o mar desde uma janela: se você olhar 70, 700 ou 7000 vezes, cada visão será diferente. A cada vez, encontrará matizes diferentes, cores e tons que você jamais havia visto antes. E, provavelmente, jamais voltará a ver.

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