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Rolim Amaro: lições do mestre


Dia 14 de março de 2000, aeroporto de Congonhas. Aguardando com meu pai o embarque na sala de trânsito da TAM em Congonhas. Iríamos para uma reunião no Rio de Janeiro na Rede Globo, negociar o projeto do site www.joelmirbeting.com.br que desenvolvíamos então. Eram anos auspiciosos para a internet, antes do estouro da bolha.

Anos ainda dourados para a TAM, que sonhava e faturava alto: a renovação da frota ia a pleno vapor, com o recebimento de praticamente um novo Airbus por mês. Enquanto aguardávamos o embarque, entram na sala o Cmte. Rolim e o engenheiro Falco. Passaram cumprimentando os passageiros. Rolim, vendo a mim e meu pai, nos tirou da fila e com aquele jeito inimitável, foi logo falando: Vem cá, que eu quero mostrar meus "Ér-bús" novinhos procês. - Ô Falco! Pega uma van e vamos direto com eles!

Subimos os quatro numa camionete da TAM e rumamos para "Ér-bús" que faria o vôo JJ906, o PT-MZC, recém pintado nas novas cores da empresa, com as caudas e motores vermelhos. Rolim, orgulhoso, parou na porta e fez um gesto largo, visivelmente satisfeito em mostrar seu novo brinquedo. Não resistindo, virou-se para meu pai e deu uma alfinetada:

Olha só, Joelmir, a vida é cheia de ironias: os aviões da Varig têm as caudas azuis mas voam no vermelho. Os nossos aviões tem as caudas vermelhas e só voam no azul!

Descemos no pé da escada, ele cumprimentou o comandante e a comissária na porta do jato e nos levou, pessoalmente, até as poltronas 1A e 1B. Chamou o comandante, pediu para nos levar para conhecer a cabine durante o vôo. Instruiu o profissional assim: Cuida deles, viu, comandante!

Antes de Rolim sair, perguntei a ele porque a TAM havia escolhido pintar as caudas nas novas cores vermelhas. Me segurando pelo braço, sussurrou no meu ouvido, que era o jeito dele mostrar ainda mais consideração ao interlocutor. Nessas horas, Rolim usava um tom de voz mais baixo, como se confidenciasse um segredo:

Sabe, Gianfranco, na aviação, como no marketing, a gente tem que se diferenciar. O aeroporto "tava" muito azul: Vasp, Varig, TAM, tudo cauda azul. Olha agora: você vê o vermelho e já sabe de longe que é um avião da TAM. Vamos fazer isso nos saguões também. Vai todo mundo colocar camisas pólo como esta minha, vermelha. Dando uma piscada, concluiu: além disso, meu jatos ficam parecidos com os da Virgin. Foi de lá que eu tirei a idéia. Os bons exemplos a gente tem que ter humildade pra copiar, não é mesmo?

Sentei-me na poltrona e fiquei observando Rolim no pé da escada, cumprimentando os passageiros que embarcavam. Ajudou uma senhora com uma mala, brincou com outro passageiro, passando a mão na sua barriga. Outro veio e lhe mostrou um pedaço de papel: ele puxou seu óculos para ler e devolveu fazendo algum comentário que fez o cavalheiro estourar de rir. Enfim, nos dez minutos que ficou no pé da escada, Rolim deitou e rolou. Mostrou como é que se lida com o público. Fez, ele mesmo, a diferença de sua empresa ante os concorrentes.

Meu pai acompanhou com os olhos o comandante Rolim embarcando na van que então voltou para o terminal. Virou-se pra mim e disse: Ele é mesmo uma fera, hem?

Minha resposta foi "Roliniana:" É, pai, ele sabe melhor do que ninguém que "O olho do dono é que engorda o boi."

O A319 começou a taxiar. Fiquei olhando para a linha de vôo, percebendo que o aeroporto estava mesmo muito azul, em se tratando de caudas, mas muito vermelho nos balanços. Vasp, Varig, Transbrasil perdiam dinheiro todos os dias. A única que ganhava voando nas rotas domésticas no Brasil era a TAM. Nos nove anos anteriores, consecutivos, ela havia ganho dinheiro, e muito. Por um bom período, entre 1994 e 1999, o lucro da empresa, limpinho, no bolso, foi de mais de 50 milhões de dólares por mês. A TAM era a empresa aérea mais lucrativa do mundo, então.

Foi meu último encontro com Rolim, que morreria pouco mais de um ano depois. Pensando bem, ele não morreu, não, pois homens como ele não morrem: suas idéias e ideais os fazem imortais.

G. Beting

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