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A força da marca


TAM, Gol e LAN disputam o controle da Nova Varig. Porque os três maiores grupos de aviação comercial do continente mostram-se tão interessados numa empresa que não detêm nem 5% do mercado aéreo brasileiro? A resposta: elas disputam a força de uma marca que levou 80 anos de trabalho para ser construída.

Quando a velha Varig atravessou os mais agudos momentos de sua crise, em meados de 2006, não houve um único brasileiro que não tivesse uma opinião apaixonada a respeito: vende, deixa quebrar, fecha, fusiona com TAM, passa a borracha e recomeça. Passado o vendaval (e não é este o tema do editorial) a Varig comprovou, mais uma vez, que apesar da situação terminal em que se encontrava, possuía um bem tão valioso que poderia ser mesmo considerado seu ativo mais precioso: a força de sua marca.

As cinco letras que um dia formaram a sigla de "Viação Aérea Rio Grandense" e a imagem da Rosa-dos-Ventos (erronea mas popularmente conhecida como "estrela" da Varig) mostraram-se capazes de permitir, ainda que sob nova direção, controle acionário e participação de mercado, o que todos os brasileiros torciam para acontecer: a sobrevivência da empresa.

Hoje, de um ponto de vista absolutamente racional, a Varig, tal como a conhecemos um dia (líder, pioneira inconteste, símbolo de organização, qualidade e eficiência), já não existe mais. Trata-se de uma empresa aérea modesta: frota antiquada; 20 e poucas cidades servidas; 5% do principal mercado onde atua; excluída das grandes alianças aéreas globais. Mas no coração de cada brasileiro, ela é, e provavelmente será, por pelo menos mais uma geração, o verdadeiro sinônimo de companhia aérea no Brasil. Sua imagem é de empresa aérea grande. A despeito de, na dura realidade competitiva da moderna aviação comercial brasileira, não mais o ser.

É justamente isso que seduz as três gigantes: o direito de explorar - e eventualmente, expandir - o respeito, admiração e até mesmo amor que a marca Varig desperta no público. Claro, as rotas, slots, e sobretudo, a excelência do time de quase 2.000 funcionários da Velha Varig que ainda hoje carregam a empresa e a marca com seu trabalho também contam. Mas é mesmo atrás do peso da "Estrela Brasileira" que todos estão atrás. A compra de uma marca poderosa não chega a ser novidade no setor. Vide a saudosa Pan Am: o nome e logomarca da companhia foram vendidos por muitos milhões de dólares; foram então "ressuscitados" nada menos que três vezes, por grupos diferentes, que tentaram capitalizar (em vão) o prestígio da imortal marca.

Em que pese o inegável sucesso de TAM e Gol, essas duas jovens empresas ainda não têm, junto ao público viajante, uma imagem comparável à da velha e boa Varig. E esse atributo não se compra. Ele precisa ser construído com muito trabalho duro e dedicação. O cruel, como a crise recente da aviação comercial nos lembra, é que a reputação, que tanto tempo pode levar para ser construída, possa ser perdida da noite para o dia.

Num negócio que ainda assusta 1/3 dos usuários (33% dos passageiros têm medo de voar, embora nem todos confessem), a imagem de uma empresa aérea é tudo. Sobretudo nos últimos anos. De uns tempos para cá, a "comoditização" das empresas aéreas diminuiu drasticamente as diferenças entre os competidores. Aeronaves, serviços, uniformes, táticas comerciais, estratégias e canais de distribuição tornaram-se muito, muito parecidos entre sí.

A imagem da marca torna-se então um poderoso e decisivo diferencial entre as empresas. Isso não é opinião. É fato. Estudos realizados nos Estados Unidos mostram claramente a relação direta entre a imagem de uma companhia aérea e a qualidade de sua receita média (yield). Quanto mais poderosa a imagem de uma companhia aérea, maior sua capacidade de transformar essa vantagem em resultados financeiros palpáveis, alí, na boca do caixa.

A força da marca pode levantar uma empresa. Ou permitir que ela continue, contra todos os prognósticos, a voar. Se isso não tem preço, agora resta saber quem - e por quanto - deve comprar o passe da "Estrela Brasileira".

G. Beting
01/03/2007

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