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Céus abertos, aeroportos fechados
Em dezembro
do ano passado, o Departamento de Transportes dos
Estados Unidos - DOT - anunciou que Brasil e Estados
Unidos chegaram a um acordo para a assinatura de uma
política de ampliação praticamente livre de ampliação de
serviços aéreos entre as duas nações. Na prática,
conhecida por política de céus abertos ou "Open Skies".
O acordo eliminará gradualmente as regras sobre os
preços e linhas entre os países e também facultará
direitos de operação em regime de codeshare. O
Secretário de Transporte dos Estados Unidos, Ray LaHood,
comentou quando do anúncio público do acordo que a sua
assinatura traria aos viajantes, transportadores,
companhias aéreas e as economias de ambos os países
benefícios sensíveis, com preços mais competitivos e
serviços mais convenientes. O Brasil será o 101º país a
aderir a esta política com os Estados Unidos.
Adicionalmente, um grande número de medidas, antes
impensáveis, passam a valer. Por exemplo, a operação de
serviços charters por diversas operadoras, inclusive
aquelas com voos regulares.
O acordo de "Open Skies"prevê um incremento gradativo de
serviços e cidades servidas. A partir de outubro de 2011
e até Outubro de 2015, as empresas norte-americanas e
brasileiras serão autorizadas a operar com aumento
significativo de horários. Isto começa agora, com 28
novos voos semanais, sendo 14 para o Rio de Janeiro e os
outros 14 para várias cidades brasileiras, sempre em
serviços sem escalas.
A única exceção são os congestionados terminais de São
Paulo, que não têm mais condição de comportar aumentos
notáveis de capacidade. Assim, a maior economia da
América do Sul se vê privada de novas possibilidades de
transporte e consequente redução de preços nas
passagens. Estrangulados, seus aeroportos já
praticamente não comportam novos voos, salvo em horários
pouco convenientes para os viajantes. Esta situação é
caçapa cantada. Há tempos se sabe que GRU e agora VCP
não tem recebido investimentos para crescer. Está aí o
resultado. Guarulhos recebia, até 2008, nada menos que
80% dos voos entre Brasil e Estados Unidos. Hoje, São
Paulo e Rio, juntos, somam pouco mais de 50% de todos os
voos entre Brasil e USA. Agora, ficou de fora da festa.
Mas tem mais: o Brasil anuncia que acerta os últimos
detalhes para assinar um "Céus Abertos" com a Comunidade
Europeia. Atualmente, o Brasil tem acordos bilaterais de
tráfego com 15 países do Velho Continente. Este número
pode subir rapidamente para 27 nações. Isso sem falara
nos novos voos de outrros continentes, com empresas como
Qatar, Singapore, Emirates querendo ampliar serviços e
até trazer o A380 em linhas regulares para o Brasil.
Será que cabe mais gente sem que se invista na
infraestrutura chinfrim que hoje é a norma desta nossa
nação? Reflita. Eu acho que não. Pois saiba que o Brasil
tem, hoje, acordos bilaterais com 83 países. Destes,
apenas 18 são de "Open Skies"; quase sempre com países
com tímida expressividade em transporte aéreo ou
simplesmente sem empresas de bandeira de grande porte. O
Brasil não lidera o movimento de "Open Skies"; pelo
contrário, mais uma vez segue a liderança da nação mais
ousada e de mentalidade mais empreendedora no
continente: o Chile. Na América do Sul, o país andino é
o maior defensor desta política, que vem experimentando
com excelentes resultados. Sua empresa de bandeira, a
LAN, hoje controla empresas aéreas em vários países do
Continente, incluindo-se na lista o nosso Brasil, onde
tem participação importante na ABSA e TAM. Para o Chile,
este acordo permitirá ainda mais possibilidades
comerciais, pois muitos serviços poderão se valer de
operações triangulares.
Tudo isto seria lindo, não fosse um entrave que tem tudo
para colocar água no chope de viajantes e empresas: a
carência de investimento na infra-estrutura. Sim, se os
céus no Brasil estão abertos, os aeroportos estão
fechados. Falta crônica de um modelo competente de
gestão engessaram os terminais. Sem espaço, qualidade
nos serviços e carência absolutamente básicas como vias
de acesso, transporte público ou mesmo banheiros e
lanchonetes, nossos acanhados aeroportos já são motivo
de constrangimento hoje. Imagine com a chegada de novos
voos, operadoras e com o aumento significativo de
tráfego que as Olimpíadas e a Copa do Mundo hão de
trazer e você tem aí motivos de sobra para imaginar um
verdadeiro tsunami aeroportuário.
A recém criada Secretaria de Aviação Civil parece ser a
última cartada do estado brasileiro, depois de décadas
de indiferença em relação ao setor. Ela foi criada para
assessorar o Ministro de Estado da Defesa na coordenação
e supervisão dos órgãos e das entidades ligados ao Setor
de Aviação Civil responsáveis pela gestão, regulação e
fiscalização, infra-estrutura aeroportuária e
infra-estrutura de navegação aérea.
A Secretaria terá departamentos: o Departamento de
Política de Aviação Civil, o Departamento de
Infra-Estrutura Aeroportuária Civil e o Departamento de
Infra-Estrutura de Navegação Aérea Civil. Dentre as suas
competências, está a elaboração de estudos, projeções e
informações relativas aos assuntos de aviação civil, de
infra-estrutura aeroportuária e de infra-estrutura de
navegação aérea, assessorando a formulação de diretrizes
para a política nacional de aviação civil.
Além disso, a Secretaria exercerá funções de
Secretaria-Executiva do Conselho de Aviação Civil -
CONAC, órgão de assessoramento do Presidente da
República na formulação da política de ordenação da
aviação civil. É muito trabalho e muita coisa a fazer.
Agora a pergunta de um milhão de dólares: ainda resta um
fio de esperança de que algo venha a ser feito a tempo?
Eu quero acreditar que sim, que ainda vai dar tempo de
salvar o pouco que resta de nossa já bastante arranhada
imagem no exterior. Tenho motivos concretos para
acreditar? Realmente não. Sabe aquela velha história que
diz "Eu sou Brasileiro e não desisto nunca"? É o caso.
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