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Airbus X Boeing
Boeing e Airbus. Airbus e Boeing. Os dois maiores
fabricantes do mundo travam uma guerra sem fim, com
vitórias expressivas e reveses constrangedores de ambos
os lados. Cada companhia bate no peito e brada aos
quatro ventos suas novas conquistas. A história começa
desde meados dos anos 80, quando a Airbus realmente
começou a ganhar momento.
Primeiro, o ataque ao Boeing 767, desfechado pelo A310.
Depois, foi a vez da Boeing lançar o 777 para vê-lo
disputar cada palo de terreno contra a dupla A330/A340.
Depois seria a vez do sucesso inegável da família A320
enfrentar formidável competição nos Boeing 737 Next
Generation. E em meados da década, a briga ficou
acirrada na categoria peso-pesado: o nascimento do A380
colocou ponto final na hegemonia do Jumbo 747, uma
máquina de fazer dinheiro para a fábrica de Seattle
desde os anos 70. Isso sem falar dos sucessores do A320
e 737. Mas esta outra batalha - uma das mais importantes
- vai ficar para outro editorial.
Quando os quatro ases europeus, A330-200, A330-300,
A340-500 e A340-600 pareciam ganhar terreno contra a
dupla 767/777, a Boeing deu um enorme passo adiante, ao
lançar o ultra-avançado Boeing 787 Dreamliner. A máquina
fez seu "roll-out" na simbólica data de "7/8/7" (oito de
julho de 2007) com a promessa de entrada em serviço em
maio de 2008.
O que todos sabem é que o novíssimo jato, que amealhou
um número recorde de encomendas (914), desde então não
conseguiu sair do chão, estabelecendo outro recorde,
este constrangedor: a aeronave que mais tardou para
fazer seu primeiro voo desde que oficialmente
apresentada em seu roll-out. Seja como for, a Boeing,
que chegou a contabilizar 914 encomendas para o jato -
antes de 49 cancelamentos imputados à crise mundial -
hoje luta para colocar o primeiro 787 em serviço em
princípios de 2010. Um atraso de quase dois anos.
Era tudo o que a Airbus precisava. Coçando a cabeça com
as vendas estagnadas dos modelos A340, o fabricante
europeu tratou de oferecer um concorrente à altura do
787. Nascia então o formidável A350 XWB (Xtra Wide
Body). Concebido desde o princípio como uma família de
três modelos (A350-800, 900 e -1000), os marqueteiros de
Toulouse logo entenderam que o tempo e o mercado
perdidos para o Dreamliner deverim ser empregados para a
construção de uma nova plataforma que incorporasse todos
os ganhos e avanços do 787 e fosse além. De novas
tecnologias de motores a interiores redesenhados; de
janelas enormes, bem maiores que as atuais, à novos
compostos para a construção da fuselagem; de
revolucionários sistemas de navegação a suítes
privativas na "coroa" da fuselagem, o céu parece ser o
limite para os muitos avanços incorporados ao projeto
XWB.
O primeiro modelo, A350-900, deve voar nos primeiros
meses de 2012, com a primeira entrega em meados de 2013,
seguidos depois pelo encurtado A350-800 e pelo alongado
A350-1000. A TAM é uma das clientes das versões 800 e
900 deste novíssimo Airbus.
Propalado pelo fabricante europeu como o "Matador de
777", o A350-1000 deve encontrar uma formidável
oposição. A Boeing fez saber, recentemente, que estuda
uma plataforma completamente nova para enfrentar o A350
e substituir os modelos 777. Nas palavras do executivo
da Boeing, Kostya Zolotusky, o novo modelo (797?) será
simplesmente "vastamente superior" ao A350 XWB. Foi
assim que Kostya referiu-se ao eventual sucessor do
Boeing 777, durante recente conferência da Boeing para
seus investidores, realizada em Londres.
O fato é que esse jogo de pega-pega movimenta muito mais
do que os bilhões de dólares consumidos no desenhos,
logística de manufatura, programas de testes e entregas
de centenas de aeronaves. A indústria aeronáutica é
percebida pelo público em geral como uma das maiores
fontes geradoras de ONB - Orgulho Nacional Bruto. Fácil
perceber: qual brasileiro não bate no peito, olhar
rútilo e perdido no horizonte, quando se lembra do
sucesso da Embraer?
Assim, esse aparentemente infindável dogfight entre
Boeing e Airbus mexe com Washington e, do outro lado da
lagoa, com Londres, Paris, Madri e Berlim. Coloca em
franco antagonismo os parceiros do Bloco Europeu e os
peles-vermelhas de Obama & Cia. Ltda.
Mais do que uma disputa comercial, o que se trava é uma
guerra de nações, ainda que todas estejam
ideologicamente alinhadas. O bloco soviético está fora
do páreo. O asiático, ainda não entrou na disputa.
De toda forma, observa-se que velhas rusgas afloram,
dando livre decolagem ao aparentemente inesgotável
ressentimento europeu diante do sucesso dos
norte-americanos. E à inveja yankee da classe e
savoir-faire do Velho Continente. Daí ee um pulo para
que ataques verbais escalem para ameaças de retaliações
comerciais. Governos, tecnocratas, jornalistas e
apaixonados vão de roldão, alimentando uma pendenga do
tipo rosca-sem-fim, comemorando os fracassos do inimigo.
O programa do 787 está dois anos atrasado? U-lá-lá,
brindam os gauleses. O A350 teve sua fuselagem
completamente redesenhada, atrasando o programa mais um
ano? I'll drink to that! tilintam as taças em Seattle. O
A380 está mais pesado do que o previsto? Great! O Boeing
747-8 não encontra compradores?Wunderbahr!
O fato é que a crise mundial, com seu forte odor de
prolongada e amarga recessão, pode ter diminuído a
capacidade dos operadores em financiar e justificar seus
programa de reequipamento. Mas, paradoxalmente, dá maior
impulso ao fabricantes para que estes desenvolvam
aeronaves cada vez mais econômicas, eficientes,
ecologicamente respeitosas e mercadologicamente
sedutoras a operadores e passageiros.
O A380 está voando. Em meses, será a vez do 787 e logo
depois, o 747-8. Então será a vez do A350 XWB. As
novidades vem vindo aí, alimentando essa nova guerra
comercial. Aguarde os próximos capítulos.
G. Beting
30/05/2009