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A380: uma nova era
Decolou esta semana em Toulouse o avião que vai ser
responsável por boa parte dos lucros da Airbus neste
milênio. Com o A380 no ar, a empresa européia tem um
trunfo inquestionável em sua eterna luta contra sua
arqui-rival Boeing.
Se existem dúvidas sobre o sucesso do A380, é bom
lembrar que quando o Boeing 747 fez se primeiro vôo em
1969, ele não havia vendido nem a metade dos 154
gigantescos quadrijatos já comercializados pela Airbus.
E é bom lebrar também que o 747 representava um aumento
de 100% na capacidade sobre o maior jato de então, o DC-8-61.
O A380 representa um acréscimo de apenas 35% sobre o
Boeing 747-400: são 555 lugares contra 400 do venerando
quadrijato norte-americano.
Se pensarmos que a área de piso do A380 é 49% maior que
o 747, então temos, só nesse cálculo raso, nada menos
que 14% a mais de espaço disponível (entenda-se mais
conforto aos passageiros). Com maior economia tanto na
operqção como na manutenção, menor emissão de ruídos e
poluentes, o A380 é o grande vetor de consolidação da
vertiginosa arrancada da Airbus rumo à liderança no
setor.
A Boeing não acreditava na existência de mercado para
aeronaves maiores que o 747 e errou feio. É claro que
não pode admitir isso publicamente, mas apostamos que
antes da década acabar, a Airbus já terá mais de 300
jatos A380 vendidos. Bastam 250 para cobrir os custos do
programa, segundo dados fornecidos pelo fabricante. E
como deverá estar sozinho nessa faixa, a Airbus não terá
que conceder descontos significativos nos A380. Que por
sinal, custam entre 260 e 295 milhões de dólares cada
um, dependendo da configuração escolhida pelo operador.
A Boeing teve décadas desse segmento exclusivamente para
sí: o Boeing 747 foi responsável por grande parte dos
lucros do fabricante por muitos e muitos anos. Em breve
vai ser a vez da Airbus sentir essa maravilhosa
sensação: a simples presença do A380 num determinado
mercado obrigará as empresas que ainda não compraram o
jato a tomarem o caminho de Toulouse e entrar na fila do
caixa. Foi assim com o 747, será assim com o A380.
Se a Boeing não dá o braço a torcer em relação ao A380,
por outro lado, suas apostas no 787 Dreamliner estão
mais do que confirmadas. As vendas recentes conquistadas
junto à Air Canada e Air India não deixam margens a
dúvidas: o 787 vai fazer um estrago nas vendas dos
Airbus A350 e A330, com quem compete frontalmente. O
fato é que no seu segmento, o 787 representa o mesmo que
o A380 no nicho de ultra-larga capacidade: ambos são
produtos inovadores, que trazem em suas asas os últimos
avanços da tecnologia aeroespacial.
E avanços não são poucos: do uso extensivo de materiais
compostos, mais leves e resistentes, a novos sistemas de
navegação e pilotagem, que tornarão o transporte aéreo
ainda mais eficiente e seguro. O 787 promete ser um
avião com grandes novidades em seus interiores,
incorporando mais opções de entretenimento e conforto
para os passageiros. Por exemplo, as janelas serão
"fechadas" através de polarização, dispensando as
cortinas tradicionais. Isso significa redução de peso,
simplificação de manutenção e um fator cada vez mais
importante: um ítem que, para o passageiro comum, fala
mais do que mil speeches a respeito da modernidade do
equipamento - e, de tabela, da empresa aérea que o
opera.
O fato é que a imprensa erra ao questionar quem está
vencendo a batalha: Boeing 787 ou A380? Eles não
competem entre sí, pois atenderão mercados distintos.
Ambos, em seus nichos, são vencedores. São duas
aeronaves magníficas, que trazem em suas asas toda a
tradição e engenho das empresas que os produzem. Nem a
Airbus nem a Boeing chegaram aonde estão por acaso. São
duas empresas brilhantes, com aeronaves magníficas em
seus portfolios. São duas empresas vencedoras, e isso é
o que interessa: a discussão de quem ganha essa guerra
serve apenas para vender jornal.
No fundo, quando vejo um gigante desse decolar e
inaugurar uma nova era na aviação, fico com inveja de
meus filhos. Eles vão ver o Boeing 797, o Boeing 808, o
Airbus A360, A370, A390 em seus vôos inaugurais. A
aviação se renova mais rápido do que a maioria das
indústrias. Empresas, operadores e profissionais do
setor que não compreendem isso ficam na saudade.