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Spotterland Zurich

Um pouco de história

Em 1946 um plebiscito popular decidiu pela construção de um novo aeroporto internacional na região de Zürich, numa planície entre as vilas de Kloten e Rümlang. O aeroporto de Dubendorf, usado então, não comportaria a operação de aviões maiores, além de ser usado por operadoras civis e Força Aérea.

A área escolhida era usada para treinamento de tiro e teve que ser solicitada junto ao Governo, o que demandou alguma negociação (e quem sabe um ou dois plebiscitos). Antes das obras começarem, foi feita uma grande operação de limpeza na área, encontrando-se mais de 150 morteiros não detonados. 

Em junho de 1948 foram feitos os primeiros vôos em caráter provisório, com apenas uma pista (10/28) de 1900 metros em operação. 34 barracas de campanha serviam como terminal. Até o final do ano foi inaugurada a segunda pista (16/34, 2.600m) equipada para pousos por instrumentos. 

Em novembro de 1950 foi lançada a pedra fundamental do novo terminal de passageiros e pátios, com capacidade para receber até 30 vôos por hora, numa época em que o movimento de passageiros era estimado em 800 por dia. Finalmente entre os dias 29 e 30 de agosto de 1953, deu-se a grande festa de inauguração, contando com 14 empresas operando regularmente em ZRH. 

 

Em operação

Com o passar dos anos, a neutralidade suíça, sua economia sólida como os Alpes e principalmente o crescimento da Swissair, empresa baseada em Kloten, fizeram do aeroporto um importante ponto de conexão dentro da Europa. A própria política de rotas e conexões da Swissair fez com que o aeroporto se moldasse às necessidades do público viajante, na melhor tradição suíça de eficiência.

Hoje são dois terminais, com o terceiro em fase de conclusão. O Terminal A é dedicado à Swiss e suas coligadas e o terminal internacional, ou Terminal B, de onde partem os vôos das empresas internacionais que servem Zürich. Ambos são interligados, permitindo tempos mínimos de conexão entre vôos.

Apesar do grande número de movimentos da Swiss, o aeroporto não pode ser comparado a grandes geradores de tráfego internacional, como Frankfurt e Amsterdam. Ainda assim, o aeroporto é um dos meus preferidos, opinião compartilhada por vários outros fotógrafos. E os motivos não são poucos. 

 

Respeito ao Spotter

O que Zürich não tem em variedade e quantidade é compensado pela atitude e respeito que as autoridades tem em relação ao aficionado em aviação, goste ele de fotografia ou não. A começar pelo terraço, localizado no teto do Terminal B, ao ar livre e sem vidros. Paga-se pelo acesso (a incrível quantia de dois francos suíços), e em seguida todos são submetidos à uma revista e scanning pelo detector de metais,medidas adotadas desde antes da Guerra do Golfo. Aliás, por falar em Guerra, nenhum dos conflitos recentes fez com que o terraço fosse fechado. 

Ainda no Terraço o visitante tem a oportunidade de fazer compras na lojinha da Buchair, conhecida editora de postais e livros de aviação. Claro, o maior atrativo é a proximidade com os aviões, e as boas fotos que podem ser feitas até as 13:00. Pode-se fotografar tanto o tráfego dos pátios próximos e as partidas dos vôos de longa distância,que decolam obrigatoriamente pela pista 16, iniciando imediata curva a esquerda. Para as fotos de aviões taxiando lentes de 50 a 100mm são suficientes. Para as decolagens, em torno de 200mm fazem o serviço.

 

Spotterland

Antes de partirmos para o lado oeste do aeroporto, uma segunda opção de fotos no período da manhã merece ser comentada no lado leste. Saindo do Terminal A à esquerda chega-se a um edifício garagem, conhecido como Parkhaus F, reservado aos funcionários do aeroporto. Ainda assim a entrada de pedestres é livre e subindo até o último nível tem-se uma visão privilegiada da pista 28. Esta, de menor comprimento, é usada principalmente por vôos europeus e de médio alcance. Aqui a luz é ideal até aproximadamente 13:00. Uma lente média é mais do que suficiente. Raramente a 28 é usada para pousos, mas quando este é o caso, a localização do Parkhaus permite fotos no mínimo espetaculares, com os aviões fotografados com um bucólico cenário de suiço como pano de fundo. Alias, o cenário é seguramente um dos pontos altos de ZRH.

Partindo para o lado oeste do aeroporto descobrem-se duas áreas feitas especialmente pela administração do aeroporto para a observação do tráfego. Para chegar lá, quase em frente ao Parkhaus F existe um ponto de ônibus. Pegue a linha 510 (que passa pontualmente aos 55 minutos de cada hora) e desça na estação de trem Rümlang Banhof. De lá segue-se a pé, (10 minutos) passando por baixo da estação de trem e seguindo o caminho em uma passarela por cima da estrada e por fim numa trilha entre algumas árvores. 

 

Encha o bucho...

Uma dica, próximo a estação há uma padaria com ótimas tortas salgadas. Porém alimentação não é um problema, como veremos em breve...Voilá! Chega-se a um estacionamento feito ao lado da cerca do aeroporto. A cerca tem buracos feitos especialmente para facilitar a fotografia. Como se não bastasse, foram instalados banheiros portáteis para os freqüentadores.

Ah, e como saco vazio não para em pé, existe um trailer/lanchonete vendendo Bratwurst, Brezel e bebidas...Detalhe: o dono do trailer adora aviação, faz fotos e ainda por cima empresta escadas para aqueles que não querem depender dos buracos para fotografia. Dá para imaginar que o lugar é bastante popular entre a comunidade local de spotters, que se reúne com freqüência por lá. Mas não estamos aqui apenas para comer ou para conversar, e no que se refere as fotos, trata-se seguramente de um lugar excepcional, sem exageros.

 

...e os filmes.

Poucos aeroportos tem tal infraestrutura montada tão perto da pista. Um MD-11 decolando,ou melhor, dramaticamente decolando quase no final da pista, pode ser devidamente registrado com meros 80mm de lente. Aviões pousando pela 16 saem da pista também praticamente na sua frente, alguns ainda com as conchas do reverso abertas, e tudo isso com o sol aonde ele deve estar, ou seja, atrás de você. Como fica-se oposto ao terminal, todo o tráfego taxiando também pode ser feito sem maiores dificuldades. Uma lente de 400mm é mais do que necessária para os aviões menores. O mesmo vale para os aviões que decolam pela 28, porém apenas durante o inverno(europeu) a luz fica ideal para essas fotos. 

O segundo ponto ideal para fotos, também no período da tarde, é a aproximação para a pista 16 e/ou 14. Da mesma posição consegue-se fazer fotos de vôos chegando em qualquer uma das pistas(veja no mapa), porém pela distância, a situação mais ideal é a aproximação para a 14.

Trata-se na verdade de um estacionamento especialmente feito pela administração do aeroporto, que faz enorme sucesso não só entre os aficionados, como também com famílias que se deslocam aos finais de semana para ver o sobe e desce dos aviões. Um pouco mais a direita deste estacionamento há um pequeno morrote quase de frente para a cabeceira 16, onde boas fotos de aviões pousando ou alinhados para a decolagem podem ser feitas, em ambos os casos, sem a necessidade de grandes milimetragens. Desvantagem desta posição é que ela não é facilmente alcançada com meios de tranporte público, sendo ideal um carro, ou bicicleta.

Terminando nosso tour pelo perímetro de ZRH, chegamos ao ponto indicado para fotos pela manhã, oposto ao estacionamento na cabeceira 16, próximo a cabeceira 14. Aliás, quase toda extensão da pista 14 é perfeita para fotos, pois há uma ciclovia seguindo o a cerca, basta escolhera melhor posição. Seguindo-se a mesma ciclovia pode-se chegar de volta à cabeceira 28 e ao Parkhaus. Um ótimo remédio contra Bratwursts e Brezels em excesso, além de um belo passeio. 

É bom demais para ser verdade? Sim, mas existe um ponto negativo. A meteorologia. Localizada no centro da Europa e cercada por montanhas, Zürich não é um daqueles destinos ensolarados no Caribe. A regra é simples, os meses de verão(junho-agosto) são os melhores, com mais chances de tempo bom e mais horas de luz. No inverno se o clima ajuda, estará excelente, a alta latitude e limpeza do ar proporcionando uma luz de qualidade fantástica. Se estiver ruim, estará péssimo e provavelmente pelos próximos dias.

Ao longo dos anos Zürich tornou-se um de meus destinos prediletos, talvez pela minha afinidade com a cultura germânica, talvez pelas ótimas condições de fotografia, ou pela geografia de cartão postal do lugar. Um destino que recomendo, talvez não como único em uma viagem de fotos, mas nada como alguns dias por lá durante uma viagem maior. Grüezi Zürich!

Renato Salzinger

 

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