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Pampulha: o coração das gerais

O jetsite traz agora aos seus leitores uma visão do aeroporto de Pampulha em Belo Horizonte, MG. O texto e as excelentes fotos são uma colaboração de dois de nossos leitores, Antônio Carlos de Souza Lima Junior (fotógrafo) e Lucas Moura. 

Esperamos que, com esta matéria, encorajemos nossos leitores de outras cidades do Brasil para que nos enviem matérias sobre seus aeroportos locais. Nosso muito obrigado ao Antônio Carlos e aos Lucas Moura. 

Gianfranco Beting 

 

Pampulha: nasce uma tradição da aviação brasileira

Durante o ano de 1933, a aviação comercial moderna nasceu em Minas Gerais. Foi decidida a criação de uma base de operações de pousos e decolagens, e para tanto, foram desapropriados alguns sítios e chácaras, numa área de aproximadamente 200 mil m2, na região da Pampulha, que tem este nome devido a um bairro de Lisboa (Santo Antônio da Pampulha). Situadas a 9 Km do centro de Belo Horizonte, seria inicialemnte destinada à construção de uma base e aeródromo para o Correio Aéreo Militar. A região era uma planície, um pouco pantanosa, é verdade, mas ainda sim apresentando boa visibilidade. Assim foi o início da história do Aeroporto da Pampulha.

Várias melhorias foram feitas e já em 1934 havia estrutura suficiente para encerrar as operações no perigoso campo do Prado Mineiro, onde até então operavam pequenas aeronaves experimentais em sua curta pista de 200 metros. A primeira aeronave a pousar na Pampulha foi um Waco C.S.O. n° 21, que passou a cobrir a linha do C.A.M. entre o Rio de Janeiro e Fortaleza (com 14 escalas!). Segundo o pioneiro Major-Brigadeiro Doorgal Borges: "A pista era um pântano... depois que eu abri as valas e aterrei, deixei secar e testei com o caminhão. Como ele não afundou... imaginei: está bom também para avião." 

 

Linhas Aéreas: o começo 

Tendo a VASP feito em 1935 um vôo experimental para o Aeroporto da Pampulha, em 23 de março de 1937 pousava o primeiro vôo comercial regular em Belo Horizonte no Aeroporto da Pampulha, chamado oficialmente de "Aeroporto de Belo Horizonte": a primazia coube ao bimotor Lockheed 10E PP-PAS da hoje extinta Panair do Brasil, que teve a missão cumprida na curta pista de 720x20m. A linha regular era Rio - BH - Rio. 

No início da década de 40, com o desenvolvimento industrial da cidade, ocorreu um aumento da demanda pelo transporte aéreo e uma conseqüente demanda de ampliação do aeroporto, que ocorreu, embora esbarrando em problemas burocráticos e numa disputa com o Aeroporto Carlos Prates, na região Noroeste da cidade e que hoje funciona como aeroclube, que também operava vôos comerciais. 

Era grande o desenvolvimento da região da Pampulha naquela década: a construção da Cidade Universitária (atual Campus da UFMG), a Lagoa da Pampulha e seu complexo arquitetônico assinado por Oscar Niemeyer e a construção da Avenida Antônio Carlos, ligando a Pampulha ao centro, são alguns exemplos. Assim, foi natural que o Aeroporto da Pampulha tivesse maior êxito na disputa, até por ser de expansão territorial mais fácil, ao menos até aquele momento. 

Em 1947 já operavam no Aeroporto da Pampulha mais de dez empresas comerciais, entre elas as na época gigantes Panair do Brasil, NAB, Aerovias Brasil e Aerovias S/A de Minas Gerais, essa última sendo fundada por Israel Pinheiro, importante figura política mineira da época.

Na década de cinqüenta, a aviação comercial, apresentava grande ímpeto, sobretudo devido ao desenvolvimento tecnológico e às modernas aeronaves, espólio da Segunda Guerra Mundial, vendidas a ótimos preços, isso sem falar num grande contingente de pilotos. A guerra também dotou várias cidades brasileiras, especialmente no Nordeste, de campos de aviação, depois transformados em aeroportos, construídos pelos EUA. 

O Aeroporto da Pampulha, tendo na época como estação de passageiros uma espécie de "barracão" sem nenhum conforto e uma pista sem balizamento noturno e curta, exigia reformas, defendidas com unhas e dentes pela Associação Comercial de Minas.

 

Crescimento no Pós-Guerra

Com muito custo e insistência, foram feitas algumas reformas e o tráfego aéreo foi se intensificando, até que em 20 de abril de 1954 a barragem da Lagoa da Pampulha se rompeu devido a um vazamento, inundando o aeroporto. Por sorte os prejuízos não foram de monta, apesar da água ter alcançado os 2 metros de altura, pois o campo havia sido evacuado e todo o material militar e tráfego aéreo transferidos para Lagoa Santa, no aeródromo da antiga Fábrica Nacional de Aviões, atual PAMA-LS e o próximo à área do atual Aeroporto Internacional de Confins. Em cinco dias a Pampulha já voltava a operar.

No início da década de 60, foi feita uma nova ampliação na pista do aeroporto, que passou a ter o seu atual comprimento (2.540m) e com isso autoridades do aeroporto, da cidade e do estado iniciaram a luta pela homologação do mesmo como de categoria internacional, passando a poder receber vôos internacionais regulares, apesar de já receber aeronaves internacionais quando do fechamento dos aeroportos do Rio de Janeiro e São Paulo, sendo inclusive uma operação muito complicada, devido à falta de maior infra-estrutura. Porém, com algumas melhorias, o aeroporto conseguiu tal feito, apesar de ter sido por pouco tempo.

Haviam no aeroporto, não raras vezes, alguns casos no mínimo notáveis, como quando não havia ainda sido instalado balizamento noturno e algum vôo atrasava, funcionários distribuíam lampiões pela pista para dar uma mínima orientação para os pilotos. Porém, enquanto os funcionários estavam de um lado da pista, moradores de favelas adjacentes ao aeroporto roubavam os lampiões já colocados do outro lado. Houve também o caso, em 1955, da colisão de uma aeronave da VASP durante a decolagem com um vaca que invadiu a pista. Com o trem de pouso travado, provavelmente por um chifre, ou mesmo a cabeça da vaca, a aeronave voou em volta do aeroporto para esvaziar os tanques e pousou "de barriga" na pista.

Contudo, com o início do regime militar, várias empresas foram fechadas em todo o país e o movimento da aviação teve grande queda, o que contribuiu para que o Aeroporto da Pampulha fosse excluído da categoria internacional. A situação no decorrer dos anos ficou delicada, levando ao fechamento ou fusão de 56 empresas de aviação existentes até então no país para apenas 4 sobreviventes. Esse longo ciclo só começou a melhorar no início da década de 70, com a retomada do crescimento no país, decorrente do chamado "milagre econômico". 

 

Os anos a jato

Em 1973 foi criada a Infraero, que passou a administrar o Aeroporto da Pampulha e vários outros no país, introduzindo uma série de significativas melhorias no aeroporto, que já era forçado a suportar grande movimento de aeronaves maiores, já a jato, como o 727 e DC-8. Tais melhorias se constituíram por exemplo em reforma da rede elétrica, instalação de rede apropriada de água e esgoto, reforma no balizamento da pista, construção da atual varanda panorâmica e reforma do restaurante.

Já em meados da década de 70, com a cidade tendo "abraçado" o aeroporto e tendo tornado impossível uma necessária ampliação da pista e/ou instalação de um ILS para operação de vôos internacionais com as grandes aeronaves que já estavam por vir ou em operação, como o DC-10 e o Boeing 747 para até 400 passageiros, começou a se cogitar a construção de outro aeroporto. Assim, entre 1978 a 1984, nascia o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, numa área a oeste da Base Aérea de Lagoa Santa, que inclusive chegou a ser cogitada para sediar, após as devidas reformas, o almejado Aeroporto Internacional.

Durante algum tempo, no início de suas operações, acredite-se, Confins passou a absorver cerca de 75% do movimento de aeronaves e 95% do de passageiros de Belo Horizonte, deixando o Aeroporto da Pampulha "às moscas", destinado apenas à ainda pequena aviação regional. Com o tempo, porém, o usuário ficou incomodado com a grande distância de Confins até a cidade, que inviabilizava o uso daquele aeroporto àqueles usuários para os quais o tempo é algo fundamental. Começou uma crescente pressão para o retorno dos vôos que ligassem Belo Horizonte às principais capitais para a Pampulha, bem mais próxima do centro.

Com isso, tendo essa tendência se apresentado também em outras capitais com mais de um aeroporto comercial, foram criados os conhecidos VDCs (Vôos Direto ao Centro) e com isso o Aeroporto da Pampulha voltou a crescer, alcançando grandes índices de movimento de passageiros e aeronaves e voltando a dar lucro em 1992, após 8 anos no vermelho.

 Essa inversão de quadros tem seu lado negativo, pois após consumir centenas de milhões de dólares em investimentos, Confins se encontra hoje praticamente abandonado e Pampulha novamente apresenta níveis operacionais próximos da saturação, que aumentou ainda mais em 1998, quando da liberação da concorrência e dos vôos em aeroportos centrais. 

A situação de Confins ficou ainda pior a partir do início de 1999, com a crise econômica pela qual passou (e passa) o país, crise que não influenciou muito o movimento da Pampulha, mas cancelou várias operações domésticas e internacionais em Confins, que opera atualmente a menos de 10% de sua capacidade.

A aviação militar no Aeroporto da Pampulha hoje se caracteriza principalmente pelo CIAAR - Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica, que é uma unidade voltada para o ensino militar de atividades voltadas à aeronáutica, inclusive à FAB, formando moças para enfermagem, supervisores de taifa, controladores de tráfego aéreo, entre outras profissões e profissionais. Além disso, há atrás do terminal de passageiros uma vila de oficiais e soldados da aeronáutica, ligada ao CIAAR. O CIAAR também promove uma vez por ano seu conhecido evento "Portões Abertos", quando o público em geral pode conhecer um pouco de seus equipamentos, atividades, além do próprio aeroporto, contando com exposição de aeronaves, visitas à torre de controle, entre outras atividades.

Atualmente operam no Aeroporto da Pampulha as empresas: Varig, Vasp, Tam, Total, Rio-Sul, Nordeste e Trip, além de 11 empresas de táxi aéreo. O aeroporto se consolidou como um dos maiores centros de manutenção de aeronaves executivas do Brasil, com 13 oficinas homologadas, algumas de grande porte, como a Chamone e outras, além de vários hangares, como o da Polícia Militar de Minas Gerais e o do Governo do Estado.

Em maio de 1997 o aeroporto recebeu algumas melhorias em seu terminal, como aumento e melhoria do conforto da sala de embarque. Tais melhorias se devem, em parte, ao Encontro das Américas realizado na cidade, que reuniu autoridades da política e da economia para as conversações sobre a criação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA).

No final de 1998 reformou-se a sala de desembarque, foram feitas reformas de caráter estético no interior do terminal e instalados monitores informativos de partida e chegada de vôos, trazendo mais benefícios ao crescente número de usuários.

Hoje, inserido na vida de Belo Horizonte como o que muitos chamam de "sala de visitas" da cidade, o Aeroporto da Pampulha se firma como um dos mais importantes e movimentados do Brasil, ligando a cidade aos principais pólos econômico-administrativos, promovendo uma integração da mesma ao cenário nacional (e, junto com Confins, ao internacional) e colaborando com o conforto e qualidade de vida de turistas, habitantes da cidade, homens de negócio e usuários do transporte aéreo em geral, devendo ainda ajudar a "fazer história" por muitos anos.

 

Lucas Moura e Antônio Carlos de Souza Lima Junior

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