EDITORIAL  |  REPORTAGENS  |  FLIGHT REPORTS  |  AEROPORTOS  |  AERONAVES  |  COMPANHIAS AÉREAS  |  ACIDENTES

 

Osaka Kansai a ilha

Já devem ter percebido os leitores do jetsite que o Japão é um de meus países preferidos. Em grande parte por ser um país que preza e respeita os fotógrafos de qualquer natureza, não sendo a comunidade de spotters aeronáuticos uma exceção. 

Loucos por aeronaves, os japoneses são uma grande fonte de troca de imagens. Isso sem falar que para o spotter sério, o Japão é o países que mais apresenta "pinturas especiais" no mundo. Por uma razão: o japonês é um povo interessado, fascinado pelas aeronaves que ostentam personagens de cartoons, ou então desenhos e grafismos inusitados. Tanto é assim que as companhias trataram de publicar os "schedules" da aeronaves com pinturas especiais, para permitir às famílias japonesas que levassem seus filhos para ver os jatos coloridos. Igualzinho ao Brasil...

Deixa pra lá. A matéria aqui é sobre o magnífico aeroporto Osaka International - Kansai (KIX). Pois bem: entre todos os aeroportos do país, nenhum é tão dramático, controvertido e espetacular como ele. KIX foi totalmente construído por sobre uma ilha - artificial.

Imagine o tamanho do investimento para se construir uma ilha-aeroporto. Os problemas foram muitos: desde o estudo das marés até a movimentação de terra. Pois bem: foram 15.8 bilhões de dólares despejados no programa. Para fazer o aterro e a ilha artificial foram necessárias a remoção e utilização de duas montanhas do solo japonês (isto mesmo, duas montanhas). Juntas, as rochas e a terra trazidas formaram a fundação sobre a qual ergueu-se o novo aeroporto. Não que tudo tenha saído exatamente como o previsto: desde sua construção, a ilha já afundou mais de 6 metros. Depois de arregalar muitos olhos de engenheiros japoneses, o terreno parece ter finalmente se acomodado. Ninguém precisará de colete salva-vidas para desembarcar, pelo menos por enquanto.

 

Ritmo de Japão Grande

KIX esbofeteia até o mais descolado viajante internacional: mais parece uma obra de arte tridimensional do que um terminal. Símbolo dos anos dourados da economia japonesa, marco de um período em que o Japão pareceia não fazer nada errado, KIX é um triunfo da arquitetura e engenharia mundial. Seu longo terminal apresenta uma seção transvesal que lembra um aerofólio, homenagem do arquiteto Renzo Piano, que o projetou à semelhança das aeronaves. Arejado, amplo, espaçoso, KIX transforma a experiência de trânsito num agradável passeio. Caminha-se por corredores tão amplos e bem iluminados que mais parecem átrios. As lojas são todas dimensionadas para os passageiros entrarem com os carrinhos de mão, uma idéia absolutamente lógica, que no entanto, não se encontra nem nos mais modernos terminais de países ditos de primeiro mundo. A ilha abriga tudo que é necessário para dar apoio à operação do aeroporto: de um terminal de estocagem de combustível a um hotel, de uma estação de trem própria a um (sim, é isto mesmo que você vai ler)EDIFÍCIO dedicado exclusivamente à observação e fotografia para os fãs de aeronaves.

 

Sonho meu

Imagine: uma construção próxima à cabeceira da pista dedicada exclusivamente à observação das aeronaves! Pois é aqui mesmo em Kansai que existe esse supra-sumo do respeito ao hobby alheio. Paga-se por isso, claro: aproximadamente 10 dólares para o pacote que inclui o bilhete no ônibus que parte da estação de trem do terminal (a partir das 10:00 da manhã) mais o ingresso para entrada no edifício. Os visitantes são revistados (nada mais justo) e depois podem subir de escadas ou elevadores os 5 níveis de terraços espalhados para permitir uma ampla visão do aeroporto. Como nada é perfeito, a luz para fotografias só fica boa no período da tarde. Mas mesmo assim, vale cada centavo. 

 

Tráfego

KIX se consolidou como o segundo terminal internacional japonês em importância. Até porque Osaka é um colosso de cidade, com uma pujante economia geradora de tráfego. Além disso, até recentemente, o aeroporto de Tokyo Narita só contava com uma pista, limitada a operações entre 06:00 e 23:00. KIX, por ser no meio da baía, está aberto H24 para operações. 

O padrão de horários para vôos intercontinentais: no período da manhã chegam as européias. A partir das 14:00 chegam os yankees. Asiáticos durante todo o dia, assim com tráfego doméstico. As européias decolam a partir do final da manhã e as norte-americanas após as 16:00. Cargueiros entram e saem o dia todo. Para o spotter brasileiro, trata-se de um aeroporto e tanto para se visitar. 

 

Quando ir?

Boa pergunta. Talvez saiba dizer quando não ir: no verão, quente, úmido e chuvoso demais. Aguentar o frio e a umidade do inverno também não é bolinho de arroz. Dizem os locais que entre abril e junho e entre novembro e outubro as chances de dias mais ensolarados é maior. Abril tem a florada das cerejeiras, uma atração a mais. Outubro tem os vermelhos do outono nas florestas. Você decide. Claro, o Japão é exorbitantemente caro, especialmente com esse dólar lá no alto. Junte o seu rico dinheirinho debaixo do colchão, e quando conseguir observar um calombo no meio da cama, é sinal que já dá pra ir...

 

Aproveite e dê uma esticadinha...

E já que estamos aqui para dar dicas, lembre-se do antigo aeroporto de Osaka: é o Itami (ITM), ainda em uso e localizado no centro da cidade. Vale a pena fazer spotting lá também. É como se estivéssemos num Congonhas ou Santos Dumont: o tráfego é diferente de Kansai, sendo especialmente forte nos vôos regionais e domésticos. Muitas aeronaves que você encontra em um não serão nunca vistas no outro. Confira. Basta pegar um ônibus que liga os dois terminais, que sai de KIX do pier 8 no nível 1F. Custa US$ 20,00 e leva pouco mais de uma hora para chegar a ITM. As duas últimas fotos que ilustram esta matéria foram feitas lá. Lembre-se: o Japão, como tudo de bom nesta vida, custa um pouquinho a mais. Afinal, onde é que se encontra um edifício feito só para fotógrafos, hem? Sayonará!

 

Gianfranco Beting 

Topo da página