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Narita: aqui tira foto, né?

Há décadas atrás, mais especificamente nos anos 70, era exibido um filme publicitário do qual nunca me esqueço, um comercial do Vulcabrás 752. Um distinto cavalheiro, usando o sapato, chega a um cerimonioso jantar japonês mas recusa-se a tirar o pisante, mesmo após informado que deveria fazê-lo, como manda o figurino, por uma simpática gueixa que lhe sussurrava ao seu ouvido: aqui tira sapato!

Porque nunca esqueci esse filme, eu não sei. O que posso dizer é que para sempre a frase ficou na minha cuca, e sempre me lembro dela quando o assunto é Japão. O que isso tem a ver com o título da matéria? Outra pergunta sem resposta.

Mas deixando a conversa fiada de lado, o fato é que Narita é uma simpática cidadezinha japonesa, distante aproximadamente 80 km de Tokyo. Seu centrinho velho, com ruas pavimentadas com blocos de granito e velhas (400 anos ou mais) construções de madeira, iluminadas por lanternas de papel de arroz, são verdadeiras jóias que merecem uma visita. Mas pouca gente sabe disso, pois Narita ficou mundialmente famosa por emprestar seu nome a um dos maiores e mais fascinantes aeroportos do mundo: o New Tokyo International Airport, ou simplesmente, Narita Airport (ICAO: RJAA, IATA: NRT).

Minha última visita ao NRT ocorreu em setembro último, quando da Volta-Ao-Mundo pela Star Alliance. Programei 3 dias inteiros neste gigantesco hub, pois seu intenso e fascinante tráfego precisava ser registrado a contento. Minha última visita para fotografar seriamente alí havia sido em 1997, e havia muita coisa nova para ser registrada.

Narita nunca decepciona, pelo menos para os spotters. Certamente discordam desta opinião os fazendeiros que ocupavam a vasta área onde o aeroporto foi construído. Impondo uma feroz oposição à sua construção, levando a confrontos violentos, com gente morrendo, Narita foi construído, é operado e recentemente teve uma segunda pista inaugurada sob um clima que beira a revolta civil. Como resultado, depois de Tel Aviv, o aeroporto é o mais seguro, fortemente vigiado e defendido do mundo, muito antes de 11 de Setembro. 

O que não significa dizer que seja impossível fotografar. Ai de quem impedir um japonês de fazer uma fotografia, um esporte nacional praticado por todos, mas todos os seus habitantes mesmo, dos zero aos 120 anos de idade. Sendo assim, ambos os terminais apresentam excelentes terraços, cercados evidentemente, mas com buracos nas cercas feitos especialmente para fotógrafos introduzirem suas lentes com larga folga. Coisa de primeiro mundo. 

Na terra da Nikon, Canon, Olympus, Fuji Film e tantas outras marcas, não podia ser diferente. E o visitante / spotter que se aproxima dos terraços logo percebe que as autoridades aeroportuárias falam a sua língua. Tudo é sinalizado, banheiros e restaurantes estão à mão e ainda há lojinhas para entusiastas, vendendo maquetes, livros, modelos, filmes, câmeras, baterias. Só não fotografa quem não quer. 

Há ainda um Museu de Aviação nas cercanias do aeroporto, com aeronaves históricas (o protótipo do YS-11 está lá) e uma área que permite visualizar pousos e decolagens. Igualzinho a Guarulhos...

 

Tráfego: o ponto alto

Como base principal da JAL, a segunda maior empresa aérea do mundo, Narita é um colosso de aeroporto. A força da economia japonesa transformou Narita num dos maiores aeroportos de carga do mundo, recebendo diariamente dezenas de vôos cargueiros puros de todas as parte do mundo, mas em especial da Northwest Cargo, Jal Cargo e Fedex. Além destes, todas as principais empresas aéreas de carga são vistas or aqui, e quase sempre com seus equipamentos maiores e mais modernos, normalmente Boeings 747-400F.

Mas é como pólo internacional de passageiros que Narita brilha. Todas as companhias aéreas que se prezam servem o aeroporto. Começando pelos Estados Unidos, depois das 12:00, uma revoada de vôos da United, Northwest, American, Continental e Delta aterrissam nas duas pistas. Da United e Northwest apenas, são quase dez vôos - por dia. A American traz mais uns cinco... 

E o movimento começa bem cedo, por volta das 06:30 da manhã, com a chegada de vários vôos vindos da Europa, Oceania a muitos pontos da Ásia. Companhias aéreas do Oriente Médio e África, bem como da antiga União Soviética também dão o ar da graça. Em resumo, juntamente com New York Kennedy e London Heathrow, pode-se dizer sem medo de errar que Narita é um dos mais prestigiados e prestigiosos aeroportos do mundo.

Ao ponto de levá-lo a saturação. Até dois anos atrás, todo este imenso tráfego tinha obrigatoriamente de passar por uma única pista, o que obrigou a Japan Airport Authority (JAA), a empresa que controla os aeroportos do Japão, a decretar que nenhum novo serviço poderia ser inaugurado por anos a fio, dando origem ao surgimento de portos de embarque alternativos no país, como Nagoya e Osaka Kansai. A Varig, por exemplo, única empresa sul-americana servindo Narita, teve de aumentar seus vôos para o Japão através da utilização de Nagoya como alternativa. 

Se para os operadores é um problema, para o amante da aviação é uma festa: dos 747-SP da Iran Air até os A340-600 da Virgin, passando por tudo quanto existe de maior e mais moderno em tipos de aeronaves, Narita é um espécie de passarela da aviação comercial. Se você não está dentro, então você está por fora. 

Esse congestionamento todo só encontrou algum escape quando, há pouco mais de dois anos, uma segunda pista foi ianugurada, depois de décadas de batalhas contra os agricultores da região. Finalmente aberta, a pista 2 ou mais comumente chamada de New Runway tem capacidade de atender, por suas dimensões, aeronaves no máximo do tamanho de um 777 ou A340 para o pouso e decolagem, desde que não estejam muito pesados. Se o vôo é longo, então estas aeronaves também têm de usar a pista principal, 34L-16R. Portanto, a pista nova resolveu apenas parcialmente a vida dos operadores, mas criou um problema aos amantes e spotters em geral, pois dividiu o tráfego.

Sem dúvida, antes era mais fácil dedicar-se ao hobby. Com a abertura da New Runway, o spotter agora precisa optar por uma das pistas, sabendo que irá perder tudo o que passar pela outra. E isso pode ser frustrante. Mas, para diminuir a frustração, de modo geral, todos os 747 e MD-11 usam a pista velha. Boeings 777 e A340 em geral também o fazem. E tudo que for menor do que isso, (767, A330, 737, A320) usa a pista nova. Mas, é claro que há exceções, muitas exceções. Portanto, é preciso optar por uma pista, ou tentar se informar sobre o tráfego na data da visita. Deslocar-se entre uma e outra só é possível de carro, o que custa caro e mesmo assim, toma tempo. Até porque as ruas em volta do aeroporto são estreitas e congestionadas. 

 

Fotografando

Como visto, há muitas opções de locais para foto, além dos terraços dos terminais. Os spotters locais (são dezenas deles a qualquer dia, hora e estação do ano) optam sempre por ficar nos lugares de fora do aeroporto. Os mais populares são o Hatake Point, que permite fotos de aproximação e line-up quando a pista 34L está em uso (foto do 747 da JAL nas novas cores). Quando a 16R for utilizada, dirija-se ao Sakura Park, de onde se fazem lindas fotos de aproximação, ou à cerca para fotos de line-up (no mapa, a foto do A340 da SAS ou, aqui do lado, o 777 da Egyptair). Mas para esta posição, é necessário uma escada de pelo menos 5 degraus: os muros são de concreto, e bem altos...

Na nova pista, há também ótimas posições, como você pode ver na foto do A330 da EVA ou no CRJ que ilustra o mapa: para chegar até este lugar, compre um mapa local e siga as instruções. Ou fique amigo de um dos locais, o que eu recomendo. 

Época do ano para se visitar? O Japão, como toda ilha, tem um clima marítimo que costuma desafiar os mais científicos prognósticos. Os locais indicam os meses de novembro, dezembro e janeiro como aqueles de céus mais azuis e de ar mais limpo. Contudo, os dias são mais curtos e bastante frios, pois chega a nevar em Tokyo. O período de fevereiro a abril e de julho a outubro são sempre de total incerteza: pode chover todos os dias e por dias a fio. Ou então, você pode dar sorte e pegar três, quatro dias de sol sem nuvens, nunca se sabe. Em resumo: é de sorte mesmo. 

Mas, se chover, guarde a câmera e vá passear em Tokyo ou mesmo em Narita, que são sempre programas excelentes, neste país adorável. E que como se não bastasse, tem um dos melhores aeroportos do mundo para se fotografar: o New Tokyo International Airport, que agora você já pode chamar simplesmente de... Narita, né?

 

Gianfranco Beting 

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