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Lima fantasma e múmias incas
A capital dos Incas talvez tenha mais múmias que o Egito. Mas com certeza tem um aeroporto cheio de fantasmas: vamos conhecer o Jorge Chavez International em Lima, Perú.
Perú e sua companhia aérea secreta
Cheguei no vôo da TACA Perú, uma companhia típicamente latino-americana no que diz respeito à marketing: faz o mais difícil e erra na hora de bater o pênalti. Você sabia que ela voa para o Brasil? Que são 4 vôos por semana? Que são feitos em moderníssimos A319-100, com duas classes de serviço? Se não sabia, a culpa não é sua: é da empresa, que permanece "secreta".
Sim, porquê a maioria das empresas (aéreas ou não) de nosso continente devem acreditar que marketing e comunicação são dois cabeludos palavrões. Talvez por isso é que não invistam para se tornarem conhecidas (e desejáveis) nos mercados em que atuam. Mas não; fazem o mais difícil: arrendam novas e modernas aeronaves, treinam tripulantes, pagam taxas, combustível, seguros... e voam vazias. Vai o recado: caro não é fazer marketing, comunicação, propaganda. Caro é voar vazio!
Deixa pra lá. Enfim, foram assim os meus vôos, tanto na ida como na volta: batendo lata, com no máximo, 20% de ocupação. E olhe que o avião estalava de novo, a tripulação era bem simpática, comida razoável, operação pontual... que pena.
Desci do Airbus e fui imediatamente procurar o chefe de turno no aeroporto. Fui muito bem tratado e logo consegui acesso à pista. Era um sábado de manhã. Passar pela segurança para entrar no pátio é que foram outros 500...
Simplesmente uma hora de espera porque a máquina de raio-x quebrou. E uma revista pessoal? "No se puede, señor...". Toca a esperar... Claro que, quando finalmente ganhei o pátio, boa parte dos aviões havia saído. Murphy`s law...
Impossível fotografar
Finalmente livre, o tempo não ajudou: um denso nevoeiro abateu-se sobre o aeroporto. Mesmo assim, o Sr. Daniel, chefe de turno, desdobrou-se para ajudar-me. Ele foi claro:pode ir onde quiser, menos na Base da Força Aérea: eles não gostam de "periodistas". Por supuesto...
Aprendi que não há posiçõs para se fotografar de fora do aroporto: o excelente terraço que dominava todo o andar superior do terminal foi fechado por razões de segurança. Agora, quem quiser fotografar em Lima, ou consegue acesso ao pátio ou tem que fazer fotos nas cabeceiras, que ficam numa zona pouco amistosa. Ou seja, não tente...
Fantasmas Incas
Fomos então ao impressionante "Corrosion Corner" de Lima. A cidade é famosa porquê é uma das mais secas do mundo: as vezes, passam-se anos sem que chova na capital. Sendo assim, os aviões estacionados no canto sul do aeroporto ficam cobertos por uma poeira grossa, tipo talco, que se acumula por meses ou anos. Todos eles acabam tingidos pelo fino pó, ficando com um aspecto surreal, qual esculturas modernas. São testemunhas caladas do tempo, relíquias do início da era do jato.
Algumas delas são mais antigas até, como o Electra OB-R-945 da extinta empresa peruana LANSA. Depois de abandonado, atearam fogo à aeronave, que ardeu e ficou retorcida, calcinada por dentro. Entrei nela, mas não avancei muito: a estrutura cedia sob meus pés a cada passada. Depois, fui fotografá-la por fora. Encontrei-a guardada por uma coruja, plantada sobre a cabine de comando. A ave me olhou longamente, com seus olhos amarelos, até que resolveu decolar. Pareceu-me uma silenciosa guardiã dos restos da aeronave, colocada ali pelo destino como para evitar maiores insultos à carcaça queimada.
Algumas empresas extintas, tais como a Faucett, têm muitos residentes neste canto do aeroporto. Outras aeronaves de empresas atuais, como a Aerocontinente, também foram largadas aqui. Enfim, de Antonovs a DC-8s, de Tupolevs a Boeings, há um pouco de tudo neste cemitério aeronáutico.
Pássaros raros
Continuei meu tour pelos hangares, onde peguei alguns aviões bastente raros. Comecei pelo DC-8 da TCB em manutenção, já nas suas cores atuais. Voltei ao terminal e tive sorte de pegar um raríssimo 737-200 da "nova" Aero Perú. A aeronave com matrícula americana, estava parada lá, esperando uma autorização para começar a voar, que pelo visto nunca chegou.
Agora, raridade mesmo foi o DC-3 Spectre, o ZS-ASN, fotografado lá em missão... secreta? Sabe-se lá o que fazia este raríssimo avião por estas paragens. Outras figurinhas difíceis foram os Antonovs 72 com matrículas africanas (S9-BOU)... e os An-32 das empresas domésticas peruanas.
Saí do aeroporto e passei dois dias na cidade, que tem grandes atrações: o museu do ouro e suas múmias incas, o Museu Nacional, a Catedral de Lima e sua catacumbas... tudo muito interessante. Combinando o spotting e o turismo, foi um grande fim-de-semana. Recomendado.