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Caracas: o portão do caribe

"Cuidado com Caracas", me disseram todas as pessoas com quem encontrei dias antes de partir. "É a cidade mais perigosa do mundo" diziam. Bolas, ouvi a mesma coisa sobre Johannesburg, sobre a Cidade do México... Mas quem é de São Paulo ou do Rio de Janeiro vai ter medo do que? Já havia visitado a cidade em 1987, época em que fotografei sem problemas. Mas desta vez, todas as pessoas me disseram: "vai com cuidado, a coisa lá está preta..."

Assim, como o tempo era curto (ficaria apenas dois dias) e por já conhecer a cidade, optei em hospedar-me num hotel próximo ao aeroporto. O que seria triplamente interessante: em primeiro lugar, ante ao exposto acima, e por ser mair rápido e mais barato para ir e voltar. É que o aeroporto Simon Bolivar (CCS / SVMI) fica em Maiquetia, cidade litorânea distante 25 km de Caracas. A capital Venezuelana em sí fica no topo de uma serra litorânea, que começa nas praias e sobe até o planalto onde está a cidade. E a viagem muitas vezes costuma levar, com trânsito, quase uma hora. Melhor ficar perto do aeroporto.

Existem algumas opções de hotéis na região. Definitivamente, se você quiser ser prático, fique aqui, que é a primeira dica que posso lhe oferecer. Se não conhece Caracas, então fique na cidade. Bonita e com todos os contrastes e contradições sociais, arquitetônicas, urbanísticas e econômicas a que uma metrópole latino-americana tem direito, por isso mesmo Caracas fascina. Mas o negócio aqui é falar de aviação. E vamos nessa.

Maiquetia tem duas pistas, 09-27 e 08-26, esta última usada pela aviação de pequeno porte, e sobretudo para as decolagens de aeronaves sobretudo de pequeno e médio porte. Para todos os pousos e decolagens de vôos internacionais e intercontinetais, a única pista é a 09-27. Ainda bem: é a que permite melhor observação do tráfego. Vá por mim: só há dois únicos lugares para se ver aeronaves e fotografá-las em CCS: os dois terraços situados nos últimos andares dos terminais domésticos e internacionais. São abertos (e descobertos), principalmente o Terminal Internacional. Dotados de bares, lanchonetes e banheiros, são do tempo que observar aviões era coisa para famílias, desocupados e apaixonados fazerem e não para membros furtivos da Al-Qaeda. Aproveite.

Até porquê os locais o fazem. Aos fins de semana, famílias inteiras vão para lá ver aviões subir e descer, especialmente no Terminal Internacional. Alguns dos bares do terraço vendem bebida, tocam música (mais alto que as turbinas)... enfim, o clima és de fiesta. 

Claro que como nada é perfeito, a presença de fotógrafos levanta algumas suspeitas dos "Guardias locales", especialmente se o seu equipamento fotigráfico (como era meu caso) é profissional. Grandes lentes sempre atraem a atenção: por duas vezes, nos dois dias que lá fiquei, fui convidado a parar de fotografar. De nada adiantou meu espanhol, que é bastante razoável: "no más fotografias, señor, por favor". A mensagem era clara. E claro que simplesmente mudei-me de terminal, indo fotografar no doméstico. Aliás, lá as fotos de pátios ficam melhores e o tráfego é bastante interessante, registrando os velhos DC-9, 727 e 737 da Avensa, Laser, Aserca, Aeropostal...

Do Terminal Doméstico também é possível, com uma lente 400mm ao menos, fotografar os ATR, Dash 8, CN235, Beeches, DC-3 e Bandeirantes dos operadores regionais, cujo pátio exclusivoo fica próximo às cabeceiras 27 e 08. Por sinal, para fotografar aeronaves na pista 09-27, leve no mínimo uma lente deste tamanho. Só no caso de widebodies é que a 300mm é suficiente.

 

Tráfego Interessante

Maiquetia não é um aeroporto movimentadíssimo, mas as companhias e os tipos usados no aeroporto mais do que compensam. As já citadas empresas venezuelanas valem a pena, com aeronaves interessantes como os DC-9 amarelos da Aeropostal ou o vistoso DC-10 da Avensa.

Da América Latina, temos ainda espalhados por todo o dia a Copa (737-200 e -700), Aerolíneas Argentinas (MD-88), Avianca/ Aces, oumelhor, Alianza Summa (MD-88 e A320), Taca Perú (A319), Aerocontinente (727-100) e TAME (727-200) são algumas das empresas que podem ser vistas operando durante o dia. As outras chegam de latinoamérica no período noturno, incluindo-se aí a Varig e LanChile. Do Caribe vêm ainda a ALM Express e BWIA Express, ambas com os Dash 8 (interessantíssimos). Da América do Norte, além da Mexicana (727-200) chegam as yankees Delta, Continental, American (estas com 737 Next Generation) e United com os A320. Bons tempos aqueles em 1987, quando eram usados os L-1011 da Eastern e A300 da Pan Am... para estas "gringas", o padrão de horários é: chegadas noturnas (ou nas primeiras horas da manhã) e partidas antes do almoço.

Da Europa não há muita variedade, mas mesmo assim vale a pena esperar os jatos que invalraivelmente chegam após as 14 horas: os 767-300 da British Airways e Alitalia. Os 777 da Air France, A340 da Lufthansa e Iberia e os MD-11 da KLM. Note que nem todas elas operam diariamente: consulte os horários para não ficar esperando à toa.

Para completar, e falando de carga, há operadores fixos, como a DHL local, Aerosucre, Fine Air... mas nunca se sabe. E os 707 da FAV costumam ser vistos com freqüência.

Quando ir? Recomendo a ida no inverno do hemisfério norte, nos meses entre novembro e fevereiro. É sempre importante lembrar a equação para melhor posicionamento em relação à luz: Inverno no hemisfério norte, fotógrafo no setor sul do aeroporto. Você fica com luz atrás de sí o dia todo, podendo fotografar ininterruptamente. Se você for em junho e agosto, é justamente o contrário: sol na cara quase que o tempo todo, sem contar o calor e as pancadas de chuva.

Bem, e para concluir nossa história: nos dois dias que fiquei nos terraços fotografando, conheci várias pessoas que vieram me perguntar porquê eu estava fotografando, como sempre acontece. Vários eram venezuelanos e conversamos animadamente. Mas um fato me deixou desconcertado. Quatro pessoas diferentes, todas européias (um suíço, um casal holandês e um italiano) tinham sido assaltados a mão armada nos dias anteriores no centro de Caracas! Portanto, repito que Caracas e a Venezuela valem a pena, mas cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém...

 

 

Gianfranco Beting

 

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